E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quinta-feira, 14 de março de 2013

Biscates ilustres

Do dicionário informal que o google me mostrou: Biscate - Mulher fácil, que fica com vários homens. Vadia. "A menina que ficava com todos os garotos do colégio era chamada de biscate." Todos estamos familiarizados com esse termo, todos conhecemos, xingamos, e amamos uma biscate. Durante a vida consegui discernir dois tipos distintos de biscate, e como não sou dicionário informal, ei-los como eu os percebo: 1- a Biscate assumida (assim, com B maiúsculo) - garota que se sente bem com o próprio corpo, dotada de boa autoestima, sabe lidar com a sua sexualidade desde muito nova. A maior característica da Biscate assumida é a desenvoltura que tem para beijar garotos que se colocam a sua disposição em fila indiana. Pessoas de bons costumes a apontam na rua e afirmam que ela não valoriza o próprio corpo. A Biscate prontamente responde, "como vocês mesmos dizem, o corpo é próprio, é meu", e ela tem certeza absoluta disso. 2 - A santa do pau oco - expressão que vem de um fato histórico, quando traficantes usavam santos vazios para esconder ouro e outras jóias ilícitas, longe dos olhos da lei. A santa do pau oco é uma personagem mítica, alguns desconfiam de sua existência, os homens a deixam passar batido, é preciso ser mulher, ou um homem muito sensível para notar a presença dela. Ela normalmente veste-se angelicalmente, e mais que tudo, fala baixinho, usa tons pastel, e cores claras de esmalte na unha. Ela tem relacionamentos longos, ou cisma mesmo com um cara que quer muito ter e não consegue. Sua principal característica é dar mole e moral pra todo par de calças que lhe atravessa a frente, sem jamais chegar às vias físicas. Ela dá mole e sai, dá mole e sai. Ela gosta principalmente de parecer sempre linda e insinuantemente doce, para os namorados das amigas, irmãs, enfim, a santinha não tem limites para sonhar. Pessoas de bons costumes a apontam na rua e comentam como gostariam
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que o filho arrumasse uma moça daquelas, ou que a filha fosse mais parecida com ela. A santa do pau oco responde com um sorriso feliz e autêntico, por que é insegura por demais e todos os elogios do mundo não lhe bastam: "imagina..."
A literatura já nos presenteou com biscates célebres: Madame Bovary e Belle de Jour ambas burguesas lindas e muito bem casadas que escolhem trair seus maridos em busca do bom e velho tesão que eles não lhe oferecem. Isso resumindo as histórias de forma bem leviana, em outra instância seus criadores, Gustave Flaubert e Joseph Kessel, explicitavam a falta de opção e do sonho fadado à submissão que era imposta às mocinhas. Flaubert foi julgado pela autoria do livro e se defendeu dizendo que ele era a protagonista "Emma Bovary c'est moi". A bela do dia, eternizada nos olhos delineados de Catherine Deneuve no filme do surrealista Buñuel, era um personagem difícil de engolir, tinha dinheiro, um marido gato, mas mesmo assim escolhia se prostituir nas tardes parisienses. Venho falar de biscates, principalmente as do primeiro tipo, por que me peguei pensando nelas e comentando com a minha mãe que com olhos esbugalhados ouvia essa minha teoria, como as admirava pelos tipos autênticos que são. Essas mulheres que abraçam o desejo que sentem e correm atrás dele como se tivessem direito, o que na verdade elas têm, como qualquer homem. Falei tanto de biscates e me peguei pensando que esse termo tende a desaparecer, pelo menos na fase adulta, não existem mais biscates, existem mulheres que lutam por seus próprios desejos, ou em tempos de falta de toque que não seja o clique do smartphone, elas reconhecem o desejo que sentem. E que sejamos mais biscates nesse sentido em todos os âmbitos da vida, porque ela é curta.

 

Aufwiedersehen!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Vulneráveis e veneráveis

Hoje é dia internacional da mulher. Essa data passou a ser pleiteada no começo do séc. XX, rolava a primeira guerra mundial e começava em paralelo a segunda revolução industrial. Enquanto os homens guerreavam, as mulheres deveriam manter a industria funcionando e tiveram que ir em massa e por necessidade, para o chão da fábrica. A ideia inicial da comemoração foi para pedir melhores condições de trabalho, para depois adormecer o motivo que seria reinventado em 1960 no contexto das discussões feministas. Isso foi há 50 anos, e hoje? Foi sem coincidência que eu peguei para ler o famoso "O segundo sexo" da eminente filosofa e ícone do feminismo, Simone de Beauvoir. O feminismo tem esse peso pejorativo, imagina-se logo mulheres bravas com buço protuberante bradando por igualdade, às vezes imagino esse termo tão démodé quanto "burguesia", eles fazem parte de outra época. No meio de tanta fumaça de sutien, ter nossos direitos assistidos tornou-se o mesmo que aspirarmos à igualdade masculina. No contexto atual, o dia internacional da mulher deveria ser enxergado como um dia para pensarmos em nossas qualidades específicas, nas neuras também, por que não. Viemos em um pacote com todos os acessórios de fábrica: ansiedade, muita ansiedade, e é por isso que gostamos de ter um follow up nas nossas relações, é por isso que morremos de medo de levar um gelo, tomar um chá de sumiço por tabela. O pacote inclui insegurança e a luta contaste que travamos contra a baixa auto estima desde os tantos da adolescência. Precisamos de truques para nos sentir bonitas e invariavelmente essa resposta vem do espelho que são os homens, não deveria ser assim, mas é. Somos vulneráveis mas não nos mostramos assim, e eu acho que podemos aproveitar esse dia para assumirmos isso. Às vezes, do alto dos nossos saltos vamos precisar correr para o banheiro do trabalho e tirar dois minutinhos de choro abafado para assim desabafar. Às vezes esse choro vai sair assim mesmo em público, em um reunião, depois de muito stress e noites mal dormidas para agradar um cliente. Olho em volta e vejo mulheres inteligentes, cultas, viajadas, com um humor ácido que era antes só deles, que sabem apreciar uma boa cerveja e comentar um lance específico de futebol. Vejo mulheres bonitas, cheirosas, com depilação em dia e ainda com tempo para serem bem sucedidas. Vejo homens perdidos no meio dessas mulheres. Eu não acho que Simone previu que chegaríamos tão longe, ou tão próximas deles. Então, no dia de hoje eu desejo que sejamos mulheres, que sejamos ansiosas na medida boa do equilíbrio, por que não conseguiríamos evitar. Que sejamos vulneráveis e que sejamos cuidadas, bem cuidadas. E quer saber, se nós podemos e devemos transparecer vez por outra essa vulnerabilidade que não é feminina só, ela é humana, vamos agora permitir que eles também a mostrem. Se a mulher pode ser macho e chefiar departamentos com o mesmo salário (que ainda não é o mesmo, mas chegamos lá), que os homens possam deixar de carregar o fardo que muitas vezes vem de nós, da cobrança de serem machos 24 horas por dia. Que a eles seja permitido também um pouco de neura, um pouco de ansiedade e insegurança, por que nesse equilíbrio podemos deixar, às vezes, eles serem mais fortes, por que eles o são fisicamente e não tem problema. Que os deixemos abrir as portas do restaurante e escolher uma mesa, que os deixemos ser o que eles são, para que possamos ser o que somos, mulheres, com toda a graça e força que consigamos ter. Fiquem com Simonão, que disse tudo isso em 1949: "As mulheres de nossos dias estão prestes a destruir o mito do "eterno feminino": a donzela ingênua, a virgem profissional, a mulher que valoriza o preço do coquetismo, a caçadora de maridos, a mãe absorvente, a fragilidade erguida como escudo contra a agressão masculina. Elas começam a afirmar sua independência ante o homem; não sem dificuldades e angústias porque, educadas por mulheres num gineceu socialmente admitido, seu destino normal seria o casamento que as transformaria em objeto da supremacia masculina.(...) Os dois sexos são vítimas ao mesmo tempo do outro e de si. Perpetuar-se-á o inglório duelo em que se empenham enquanto homens e mulheres não se reconhecerem como semelhantes, enquanto persistir o mito do "eterno feminino". Libertada a mulher, libertar- se-á também o homem da opressão que para ela forjou; e entre dois adversários enfrentando- se em sua pura liberdade, fácil será encontrar um acordo." Aufwiedersehen!

quarta-feira, 6 de março de 2013

RIP Chorão

"As vezes faço o que quero, às vezes faço o que tenho que fazer". O vocalista da banda Charlie Brown Jr, Chorão, santista de coração, eterno skatista bravo e de grande porte dos nossos sonhos de adolescente rebelde, estava com quase 43 anos quando foi encontrado morto aqui perto de casa, em seu apartamento em Pinheiros na zona oeste de São Paulo. Engraçado esse sentimento de perda, é um sentimento egoísta, não penso na falta que o Chorão vai fazer em minha vida, mal pensava no cara há anos, mal ouvia as músicas do Charlie Brown do tempo do começo da Internet, nos meus 15, 16 anos, entretanto escuto agora em alto som a uma coletânea daquelas músicas que organicamente misturaram-se com aquela fase da minha vida. Esse sentimento egoísta me transporta para os pensamentos daquela época e as frases antes cantadas em uníssono no show, os pulos e os palavrões gritados a plenos pulmões que pareciam ser algo superficial, algo que mal entendíamos por que afinal, éramos apenas crianças, hoje as escuto novamente, essas frases no meio das músicas do Charlie Brown Jr, e elas me parecem perfeitas, agora que eu entendo da vida? Simples e reais, os medos de crescer, a revolta com causa, a primeira paixonite, essa sensação de desconforto própria de quem está crescendo e a insegurança, quanta insegurança. Eu não tenho irmão mais velho, toda vez que o Chorão xingava o cara da música "Papo Reto", e falava que ele não sabia valorizar a garota da música, que então "Já era!", na música ele vai aproveitar o vacilo do cara pra conquistar a menina, mas eu sempre a lia com um quê meio revolucionário para as mulheres, eu sentia que ele nos protegia, que ele enviava uma mensagem necessária para os meninos, quando mais se evidenciava a distância de maturidade das garotas em relação aos eles. Foi uma boa época, com uma bela trilha sonora. RIP Chorão. Aufwiedersehen!

segunda-feira, 4 de março de 2013

Sobre mim

Fiquei de falar sobre mim, assim objetivamente, sem devaneios, espero que funcione, que dê pra começar a entender, pelo menos um pouquinho (falo isso pra mim mesma). "Uma mulher inquieta do interior apesar da aparência desencanada de garota da metrópole. Tão apaixonada pela família, pelos amigos, pelos romances e pela arte, que em boa parte do tempo trava e fica tímida ao tentar elaborar tamanho sentimento que nutre em cada partícula da alta estatura. Acredita no poder revolucionário do trabalho e da disciplina, para assim poder gozar os prazeres do tempo livre, das viagens físicas, além das mentais de todo dia. Não se incomoda em pensar a vida pela escrita e assistir a bons filmes vez ou outra, além de tomar uma boa cerveja livre de cereais não maltados com bate papo que varia do ultra pop ao erudito, quando muito." Aufwiedersehen!