E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Um 2014 com alguma descompostura e desequilíbrio

Eu quebrei o braço andando de bicicleta com o meu irmão em 1995. Na época nós perdemos o controle da situação titubeante da estrada de terra, e enfim, caímos. Foi uma quase fratura exposta, que não se expôs, mas como explicar aquela dor? Eu tinha 10 anos, e eu soube que nada mais seria igual dali pra frente, eu achava difícil sentir uma dor assim, tão horrível, e talvez no decorrer da minha vida, eu estivesse "procurando" por algo tão marcante. Se eu estava mesmo, por algum motivo estranho, procurando por uma sensação extrema, foi nesse ano de 2013 que eu a "encontrei". Logo no começo, assim sem mais nem menos, minha avó morreu. Ela estava doente há alguns anos já, e não tinha mais por que ela continuar sofrendo, mas algo aconteceu comigo, era abril. Eu não esperava por aquela dor, e eu sabia que não havia nada que eu pudesse fazer pra que aquilo passasse, eu só tinha que sentir, sentir aquela dor até o fim, até que ela fizesse parte de mim, dali pra frente eu nunca mais seria feliz da mesma forma, a felicidade sempre viria com uma quebra, a quebra de não ter minha vó. Essa dor permaneceu em mim, e vez por outra ela me pega, e eu apenas a recebo, como quem recebe fantasmas a noite, e depois a deixo ir. 2013 foi o ano das despedidas.Começou com um decisão das mais difíceis que eu já tomei: sair de um lugar que eu amava, com pessoas que eu tinha aprendido a enxergar todos os dias como extensão da minha família. Até hoje eu sinto falta do meu primeiro emprego sério, aquele que formou minhas bases profissionais, mas eu não me arrependo da decisão. Em uma das últimas conversas com a minha vó, enquanto eu passava um creme em suas pernas inchadas e contava sobre isso, lembro que ela me apoiou, e eu vi em seus olhos a confiança de que eu ia dar certo - seja lá o que certo é. Em 2013 eu tive que abrir mão de várias coisas, lugares, pessoas, de certa forma eu me desvincilhei de todos para ficar comigo mesma, pra entender direito quem eu era. Então, eu trabalhei, trabalhei, aprendi muito, aprendi tanto que minha cabeça doía no final do dia. Nessa busca da solidão para encontrar um sentido, eu ainda não sei direito quem eu sou. Agora, no final do ano estou desempregada, à procura, vulnerável, aprendi a chorar pelo menos uma vez por semana, assim alto, sem conter nada, para depois acordar com esperanças renovadas. Eu fui furtada, tive diversos problemas com conexão e telefonia, para depois re-aprender a me conectar de verdade, sem contar os tocos que eu levei, algumas tentativas frustradas no amor, energia dispensada ao vento, que ficarão para a história. O último (espero), do ano foi um torcicolo que me paralisou de dor e medo, tensão de final de ano, das contas que chegam sem pena junto com o papai noel. Nesse ano, a pessoa que eu achava ser, diplomática e ponderada deu lugar a alguém bem diferente - ou seria, ao meu eu verdadeiro? Aprendi que nessa vida nós precisamos de rompantes de emoção, de falta de cautela, de palavrões gritados, algo não muito encorajado em cartilhas de felicidade e sucesso, mas eu aprendi, na marra, que são os extremos que nos colocam nos trilhos, nos tiram da inércia anestesiada que a rotina, e nós mesmos produzimos. Se eu acho essa dinâmica inteligente? Na verdade não, mas não me cabem as regras, eu bem que tentei ir seguindo no pianinho, no riso afável, nas gentilizas, mas não é que o mundo é podre ou os seres humanos são maus, nós somos apenas humanos, e o nosso sistema precisa de um tecla de reiniciar, de um desligamento geral de vez em quando. Eu usaria 80% de ponderação para 20% de falta de compostura. Aproveite o erro, o desequilíbrio, o grito desesperado, a falta de finesse em 2014!
Até o final dessa atualização eu continuo desempregada, com resquícios de dor no pescoço, com muitas saudades da minha vó, mas, curioso, eu simplesmente amei esse ano.

Aufwiedersehen!!

Eis os sobreviventes de uma aventura, felizes da vida!
Eu esqueci de contar que meu irmão caiu de cara no chão e assustou a mim e muitas criancinhas até arrumar o rosto.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O mundo em mim

E se eu te contar, rapaz, que tudo  de ruim que tem no mundo, eu sorvo através de cada um dos poros da minha pele? Qual o meu problema? O meu problema é não ter escolha, é assim que eu fui feita. E se eu te contar ainda, que toda essa sujeira vaga dentro do meu corpo, e depois é devolvida como luz e flores? Não rapaz, eu não sou boa, sou só extremamente pura, e a pureza me faz sofrer, ela dói, e eu preciso senti-la até o fim, para que eu consiga extirpá-la de mim, pra fazer tudo de novo depois.

Aufwiedersehen!

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Sem sinal - parte 2

Outubro de 2013 no Brasil e o meu companheiro de jornada pifa. O cenário atual é repassado em minha cabeça: não tenho como arcar, nesse momento, com um brinquedo novo, posso de repente comprar um celular comum? Ou emprestar de algum amigo, mas a réplica vem na sequência: “como vou falar com as pessoas?”, “e os milhões de grupos no whatsapp?”, “hoje em dia ninguém mais se liga, SMS então, o que é isso?”, “como vou chegar aos lugares sem o googlemaps/waze”. Impossível. Deve haver uma solução! Foi quando me vi entrando em um relacionamento sério, pluriamoroso com os atendimentos da Apple. Lucas, Victória, Gustavo. Lucas foi o primeiro amor. Ele foi tão atencioso, acompanhou-me em todos os primeiros passos onde eu tive que dissecar cada pedaço de data antigo do meu companheiro de jornada. Foram-se os contatos, foram-se os aplicativos todos, claro, não sem a grande mão protetora do backup segurá-los antes da queda. Depois de muita conversa a sentença final: eu teria que trocar o celular e receber outro, com alguns custos extras e atrativos. Era o adeus. Acelerei o processo no sentido de me desfazer do companheiro antigo, tive que despi-lo a fim de manda-lo como virgem à nave mãe. Ele que me acompanhou por todos os lugares, me apoiando quando eu me perdia, me colocando em contato com tudo quando eu estava sozinha, e até mesmo, me fazendo rir quando eu estava triste. Saudosa Siri com seus gracejos pré-produzidos.
Fiquei com um celular comum, com chip grande, esperando a Apple me restituir o dispositivo.
Depois de enviá-lo, o celular,  me peguei pesarosa, refletindo e tentando lembrar se tive notícias ruins nos últimos tempos, e nada. Alguma apreensão? Não. Era a crise de abstinência, pura e simples. Hábitos arraigados, pensar em algo para compartilhar na sequência, perder-se no próprio bairro e não ter a localização na palma da mão, observar a luz natural que incide em uma janela que eu acho tão poético e não tirar fotos? Tive apenas que sentir a poesia sem dispersá-la ao universo da rede. Peraí, sentir? Eu sinto algo, seria um alívio? Um certo desespero? Acho que é uma sensação de atenção que vai voltando, como de quem acorda. Como um sedentário que volta a se exercitar. Você deve estar se perguntando, essa menina realmente encontrou seu lugar, ela se diferenciou da grande massa de olhos sem vida fixados na tela do demônio que separa pessoas, ela é uma vitoriosa! Mas, na realidade, depois de esperar pela Apple, que acabou me ferrando totalmente - o celular sem wifi se tornou o celular irretocável devido à catástrofe anterior, e me foi devolvido sem ligar, quebradão, mas isso é outra história que vocês podem ver ilustrada no singelo poema abaixo - a grande questão, e eu percebi isso depois de uma semana isolada, sem whatsapp ou qualquer outra conexão no celular, seguida de uma crise de choro acompanhada da sensação de isolamento plus tpm, é que eu não tinha por que me sentir envergonhada por querer me conectar. Eu sou um ser comunicador, eu amo estar em contato o dia todo, a qualquer momento com todos os meus amigos, eu amo poder tirar dúvidas profundas de indagações passageiras andando na rua, olhando no google, e mais do que tudo, eu gosto de soltar as minhas ideias loucas ao vento, pelo menos elas não ficam dançando na minha cabeça, ou qualquer que seja o meu motivo: não tem nada errado com isso!
Ao lado das grandes revoluções de massa sempre existe um tipo de consenso comum pré determinado - por que sempre vai ter o contra tudo que a massa gosta e faz - e que julga e condena sua existência, e menospreza as pessoas que aderem a certo estilo de vida, as taxam rapidamente de alienadas.
Eu agradeço esse momento de desconexão, por ter me lembrado de valores importantes, mas eu não voltaria atrás, eu aceito o hoje com gratidão, e agora posso dizer que me sinto mais feliz sim, só que com um android.


Sobre esse assunto:

O tal do poema:

Uma história sobre a apple quero contar,
Não é a fruta em língua inglesa, e sim a
empresa que inspira cultos por todo lado;
inclusive o meu, até semana passada.
Da Apple um celular adquiri, 
e com ele fui feliz por 20 meses,
até seu wifi parar de funcionar.

Como consumidora consciente, busquei o
atendimento deles, que a mim pareceu um
bom amigo com quem poderia contar.
Elogiei-o no facebook e para amigos afins,
dele recebi a promessa, um novo celular ganhar,
por um preço abaixo do mercado.

Feliz fiquei, bom negócio achei ter feito,
mesmo depois de uma semana de testes
E de stress com backups e reparação.
Meus aplicativos e contatos guardei,
Para depois, com novo celular, pegar de volta.

Meu antigo celular mandei, a fim de ser
reutilizado e um novo celular receber.
Qual não foi minha surpresa quando
ao receber um e-mail, saber que o celular
reparado não podia ser, e que o mesmo
reenviado seria, depois de todo o lenga lenga de semanas.

O antigo celular que funcionava bem,
Tinha, no linguajar deles, “problemas catastróficos”,
e agora não liga, e só faz apitar.
Apple nunca mais consumirei, apenas a fruta.
Amém.

Aufwiedersehen!!

 

 

 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Sem sinal - parte1




O wifi do meu celular parou de funcionar, aconteceu aos poucos, até ele extinguir de vez.
Corta cena, ano de 2012, maio, no final de uma gloriosa caminhada pela quinta avenida de Nova Iorque (eu moro em Perdizes, uma longa reta é sempre gloriosa), era fim de tarde e artistas de rua tocavam jazz na calçada, eu comprei um iphone 4S.


Garoava, então, eu não sei se por causa disso, ou pela química perfeita que arranhava de maneira luxuriosa a minha pele, eu me senti em casa. Fazia frio, mas eu não me importava com a falsa promessa da primavera, eu realizava um sonho. Eu tinha chegado até aquele lugar facilmente, não sem confirmar com alguns transeuntes no caminho a localização do cubo transparente que é a Apple Store, mas eu tinha chegado sozinha. Na época eu usava blackberry,e essa teia gigante chamada whatsapp ainda não tinha nos abraçado. Saí da Apple me perguntando quão smart eu realmente seria para o meu phone, nunca fui muito afeita à tecnologia, tenho uma boa certeza dentro de mim que as máquinas não vão muito com a minha cara. Esse pequeno dispositivo, no decorrer da viagem de 10 dias, foi se tornando o centro do meu universo. O meu investimento principal era a câmera, eu não tenho paciência para máquinas fotográficas, a minha digital das antigas já dava sinais de falência, então pensei que com a máquina moderna do iphone eu juntaria o útil ao agradável. Lógico que eu não me tornaria uma daquelas pessoas...Como eu estava nos EUA e não tinha o chip brasileiro, eu apelava para as redes wifi dispostas por todos os cantos da cidade, e não tinha parque ou pub, que me tirasse a necessidade urgente do touch, da conexão. E quando não havia wifi, vinha uma sensação de estar perdendo algo, alguma oportunidade, era o tal do FOMO (Fear Of Missing Out), http://goo.gl/MM0kDl.

(To be continued...)

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Acho poético

Janelas.
Varal com roupas coloridas penduradas ao ar livre.
Varal em frente a janelas.
Cafeterias.
Padarias.
Banca de jornal.
Margaridas.
Tranças.
Pés.
Lantejoulas.
O vento.
O mar.


Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Não necessariamente nessa ordem

Gente cafona;
gente barraqueira;
gente rabugenta;
Woody Allen;
Pedro Almodovar;
Harry Potter;
Wolverine;
Bruce Wayne;
quando minha mãe diz que confia em mim;
quando meu pai enche os olhos d´água;
quando minha irmãzinha prodígio pede conselho;
quando meu irmão prepara a playlist perfeita, de acordo com o meu gosto musical bipolar;
de abraço apertado;
de andar de mãos dadas;
trabalho com prazo;
férias;
de cerveja com bastante lúpulo e sem cereais não maltados;
de pizza;
de berinjela;
rir alto;
ler;
escrever;
observar;
dormir;
de quem me empurra ao limite;
de quem me encara de frente;
de falar besteira;
de falar coisas sérias;
de cantar;
de dançar;
de caminhar em uma noite de verão;
de nadar no alto mar;
de beijar.

Gosto.

Aufwiedersehen!


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Enxoval moderno

Eu fui morar sozinha.
Era um sonhinho, como eu gostava de dizer há alguns meses na primeira vez que o reconheci, aquela coisa muito almejada, uma resposta para o que se procura em determinado momento, uma promessa de um começo. Eu morei com meus pais e irmãos no interior durante 18 anos. Aos 18 caí em uma outra cidade do interior um pouco maior. De Araras para Bauru, que pra mim, há 10 anos era o mundo, algo que me aconteceu sem muito, ou nenhum planejamento. O meu anseio escondido de independência era saciado com bebidas nas tardes de segunda-feira, novos paqueras, irmãos que eu fui encontrando em amizades loucas, naquele desbravamento da pura liberdade rodeada de atributos interessantes. Aos  22, formada, voltei para a casa dos pais. Aquela independência extravagante já estava distante, vinha outro tipo de responsabilidade com quê de melancolia, essa melancolia que se tornaria tão presente, quase uma segunda pele na vida adulta. Lá não tinha cerveja na segunda a tarde, uma cerveja que eu nem queria mais. Querer era um verbo que eu reaprendia por que o tradicional plano educacional traçado estava cumprido, na medida do possível, o superior tinha passado e eu me perguntava, como tantos outros, o que fazer na sequência, momento para o qual pouco se prepara para viver.
Aquele era somente um dos muitos perrengues e rebolados que eu teria que fazer na vida, como os equilibristas que somos, sempre em busca de um eixo, de um ponto fixo para nos manter eretos na travessia. Ao tomar essa grande decisão hoje, ao mudar o rumo, ao comprar o enxoval que era só pra mim, eu comecei a entender melhor o que eu queria para cada momento. Eu comecei a valorizar as pequenas conquistas e aprendizados que não se perdem, que aprendemos na prática com o corpo, e que por isso permanecem marcados. Uma tatuagem doída, que demora para ser concluída, mas que vale a pena mostrar e se orgulhar mais tarde. Esse meu grande ritual de passagem aconteceu assim, sem alarde, meio que só pra mim mesma. Era o meu momento, a minha escolha de sofá, e só eu sabia a importância de finalizar aquele pequeno detalhe que eu esperava encontrar ao lado da porta. Por sobre a cama. Aquela panela para refogar legumes. Tudo tinha uma graça da concretização, do sonho que sai do papel e vai acontecendo.
Vivenciei outra coisa nova, descobri que até mesmo a realização gera ansiedade, e mais uma vez, quando eu achei que tinha tudo o que eu precisava, eu tive que parar, respirar fundo, para entender que aquilo era só o começo, um problema resolvido que dava lugar a outro problema, um problema sonhinho. Talvez estejamos mesmo fadados a resolver problemas fantasiados de sonho. Talvez não tenha problema, enquanto saibamos qual o sonho e de onde ele veio. Se veio de dentro, lá do âmago, o negócio é curtir a ansiedade que logo passa, e assim a vida continua.

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O corpo

Queria desligar a cabeça


Pra pode sentir o que eu sinto com o corpo


Pra ter claro que o que o corpo quer é o que ele precisa


Em uma revolução social vou descobrir que a cabeça é tapada e que a nova tendência do verão é seguir o que o corpo quer


O corpo não é bom por que agradável e ingênuo


O corpo é bom pra sobreviver bem e melhor

Um modelo à prova de decepção

A primeira vez que eu me senti realmente adulta e livre das fantasias infantis foi quando eu percebi que eu ia amar as pessoas e que elas iriam, invariavelmente me decepcionar. Eu tenho me decepcionado, e como na vida temos que nos adaptar, eu fui entendendo que a decepção não é o fim. Eu criei personagens e situações ideais na minha cabeça e até muito pouco tempo atrás eu mantinha essa fantasia. Fantasia, uma palavra que quando aparece já se torna inexistente. Já se afirma inexistente. Eu percebi que da decepção se gera um conhecimento profundo do ser humano que é imperfeito, da mesma forma que o tombo nos ensina a não cair. Eu falo de decepção ironicamente para falar de uma das pessoas que eu mais admiro, minha amiga de infância, de sonhos, de aventuras, minha amiga a prova de decepção, a minha Bijon. Um ser humano puro que se emociona com a vida hoje aos 27 anos, como há 14 quando nos conhecemos na terceira série. Como não amar alguém assim? Com ela aprendi o que é ser companheira, por que ela sempre esteve lá por mim.  Com ela aprendi a amar alguém que não é da minha família, como tal. Então a Bijon é daquelas mulheres que passa pelo mundo sem fazer muito alarde, que sempre sempre ouve a sua historia para depois contar a dela. Que sente a felicidade do outro realmente como se fosse dela, assim como as tristezas. Há dois meses eu perdi minha vó, o amor da minha vida, e a Bijon me abraçou no velório, e no meio de tantos abraços eu senti o que é uma amizade perfeita, e que eu sou uma privilegiada.

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Carta a uma menina de 15 anos

Oi menina, eu já fui o que você é hoje, então permita desculpar-me, oi moça. Você já não se sente como criança, apesar de ainda ser vista dessa forma. Ou seria o contrário? Seria você ainda uma garotinha como há poucos três anos atrás, que brincava de bola, e pulava no colo de adultos do sexo masculino sem restrição de comportamento? Seus sentimentos estão misturados, há essa fervurinha no estômago que vem e volta, ou seria um pouco mais abaixo do estômago talvez? Shhhhh...fique tranquila, você está segura nessa conversa, lembre-se, somos iguais, ou já fomos, ou ainda seremos. Eu sou você amanhã, para o bem ou para o mal. Você está perdida menina – permita-me continuar a chamá-la de menina, cá entre nós? Assim consigo afastar-me dos seus problemas atuais, tão próximos ainda dos meus, e salvá-la talvez, quem sabe? Eu sei que você é bonita. Queria que você soubesse disso também. Você deve gostar de roupas, de sapatos, ou de jogar bola e videogame, quem sabe? Você ainda está descobrindo o que realmente gosta, ou se já sabe, você tem muita sorte.
Os garotos, esses começam a ter uma importância tal, que te deixa de mãos atadas. Eles estão no momento mais apetitoso do que jamais serão, os garotos mais velhos, os de 18 anos, os universitários. Eles assemelham-se a deuses no Olimpo. Tão distantes. Shhh...não fantasie tanto com a vida menina, esse Olimpo ainda vai ser seu, se você quiser, lá você vai perceber que
pode andar ao lado deles. Ah...você não quer andar ao lado deles, você quer ser amada. Me desculpe menina, já superei esse desejo, ou finjo superá-lo todos os dias para poder ser objetiva. Falo de carreira, contas, investimentos, satisfação, reconhecimento, mas não entrarei mais nesse mérito. Hoje o assunto é você. Somos comparsas, eu já perdi muitas partidas, mas quero que você as compense começando direito, deve haver um jeito, um guia, uma fórmula para conseguir o que
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eu quero que você consiga: você deve amar a si mesma. Isso. É por esse amor que você deve lutar, ele é difícil de conseguir, você vai encontrar barreiras quase intransponíveis de insegurança, e a maldita, a desnecessária, o invento do diabo que é a comparação. Menina, olhe para as amigas que você tem hoje, junte-se a elas, observe-as de perto tentando manter certa distância- isso é possível. Perceba o tipo de mensagem que elas te passam, pequenos comentários, pequenos avisos, demonstrações de parceria. Cuidado menina, cuidado com as mulheres. Nós podemos ser perigosas. Nós nos auto-sabotamos, somos cruéis com as outras, para depois sermos cruéis com nós mesmas. Seja forte menina, reconheça a sua luz e não deixe que ninguém assopre a sua vela. Shhh....desculpe-me menina, desculpe te desanimar. Saiba que a tristeza vem, o desespero, mas que você não pode e nem deve fugir deles. Abrace-os, eles vão se acalmar para depois partir, deixando-a mais consciente, primeiro de uma forma ruim, depois de uma forma maravilhosa.
Você deve estar cheia de sonhos, a tão desejada independência se aproxima. Seus pais que você não suporta se provarão os melhores amigos do mundo. E eu vou ter que te dizer uma coisa, prepare-se, vai doer: sua mãe está certa.
Boa sorte menina. Que seu corpo através do cérebro que decodifica essa carta, apreenda algo e guarde para um momento oportuno. O seu
corpo está urgente agora e não vai conseguir processar tudo isso. Desculpe-me novamente menina, não é a hora, nem o momento de deixar a fantasia pra trás. 

Aufwiedersehen!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

08.08.08

No último dia 08 de agosto, esse blog fez exatos 5 anos. Abaixo o post no redondo dia - 08.08.08
Notas: a garota que escreveu esse post acaba de completar 23 anos, é recém formada e está viajando para um ano de intercâmbio estudando e trabalhando como babá na Alemanha. Ela nem imagina tudo o que vai passar de ruim, todo o perrengue. A parte boa ela prevê e acerta quase em cheio. Ela tem muitos sonhos e se acha no direito de criticar coisas que ela mal conhece. Ela é ousada, eu a invejo. Ela usa reticências, exclamações e sua redação ainda tem muito o que melhorar. Confissão: eu às vezes sinto falta dessa garota.

POST 1

Bom...começo hoje, nesse dia ensolarado de inverno no Brasil a tentar passar para o computador um pouco do que se passa aqui nessa minha mente perturbada...espero que seja satisfatório ler sobre isso, espero que haja um pouco de humor,e quem sabe com a ajuda de Deus algo realmente profundo que valha a pena ser gravado na rede mundial...quem sabe!!!

Bom, eu nunca fiz isso, vou tentar um brainstorming!Ontem a noite eu tinha mil idéias enquanto eu delirava graças à providencial infecção alimentar que me acometeu na madrugada de domingo...não sei o que acontece comigo, mas sempre que eu vou dormir e fico pensando - por que durante a minha vida eu venho travando essa batalha para deixar minha mente ao alcance da minha cabeça, mas ela sempre insiste em voar para outras planícies menos povoadas de tempos em tempos - vêm à minha cabeça coisas interessantíssimas pra escrever, mas a minha preguiça muitas vezes é maior para levantar e pegar um caderninho..enfim, onde eu estava?

O que se fala no primeiro post de um blog, que diga-se de passagem eu espero grandes emoções...eu acho que daqui dos "sinceros devaneios", pode-se esperar a minha experiência estando fora do país, como eu posso e vou aprender no observar diário de outra cultura, e pricipalmente o que mais me interessa, no observar o comportamento humano em especial...nessa jornada terei como companheira uma criança, e já, posto isso, pode-se esperar descobertas sem prescedentes, já que o mundo deles é o da descoberta, e é muito maluco!

Vou falar também de cinema, como uma cinéfila e aspirante a cineasta quem sabe, com dicas e boca no trombone para o que eu considero uma porcaria...já tenho alguns em mente. Hoje não estou nos melhores dias, mas queria dar o pontapé incial, sejam bem-vindos!Mais detalhes sobre mim e a minha viagem nos próximos posts!

Obrigada!

ps:amanhã estou partindo e me sinto muito feliz!

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O que eu já acho que sei?

Vinte e oito anos, uma idade deliciosa, se é que a delicia vem da idade previamente fixada pelo universo, ou vem mesmo daquilo que você resolve entender da sua vida em determinado momento. Eu tô muito a fim de assumir a bagagem que eu juntei, por que ela é tudo o que eu tenho. Considero meu estágio concluído, apesar do processo de aprendizado ser talvez o que a vida tem de mais perene. Aos 28 eu aprendi que é a maior perda de tempo sentir culpa. A culpa existe quando não se pede perdão, seja pra você mesmo, seja pra outra pessoa. Aprendi que a pretensão nunca levou ninguém a lugar nenhum, pelo contrário, foi a despretensão que impulsionou as maiores criações da humanidade, veja a pizza*. Aprendi na sequência, que junto com a despretensão um ingrediente mais certeiro ainda é a ação de não subestimar. E esse feito não tem contra indicação, não devemos subestimar exatamente ninguém ou qualquer coisa. Não subestimar é mais uma ação de afirmação que negação, você deve tê-la em mente em todos os momentos, e eu prometo que você só tem a ganhar com isso. Outra coisa que aprendi foi que a auto piedade serve como aviso de que algo vai errado, muito provavelmente nosso modo de viver e ler o mundo e as pessoas. Isso é sério, mas tem sempre volta, é só dar uma passo pra trás e se colocar no lugar do outro. Aliás, não tem nada de errado com isso: dar uma voltinha pra trás,  fazer uma revisão. Isso é, mais do que o uma atitude de humildade, uma atitude esperta.
Aprendi principalmente que a vida realmente se encarrega de arrumar o nosso caminho da melhor forma, e que invariavelmente esse caminho é muito mais interessante que aquele outro que sonhávamos. Essa conclusão seria maravilhosa se não tivesse um pequeno fator guardado e com qual temos que lidar para o resto de nossas vidas: a ansiedade, a pressa. Aprendi que a procrastinação, não aquela da preguiça, do deixar pra outro dia, mas aquela do stand by, de maturar o assunto, deixá-lo na primeira gaveta da cômoda, é a melhor atitude, na maioria das vezes. Ela anda junto com a intuição, o lazer, a confiança e o bate papo desinteressado. Aprendi, não sem muita resistência, que amigos temos poucos mesmo, aquela pessoa que te agrega, que sorri e chora com as suas conquistas, mesmo que ela esteja em um momento ruim, por que você também agrega à vida dela. Amigo é mão dupla, é atemporal, é confiança, é não ter que dar explicação. É um puta encontro. Aprendi finalmente, que estamos sozinhos com nós mesmos, esse é o grande aprendizado, é com isso que vamos lidar a vida toda, e que essa conclusão não é de forma alguma triste, que talvez, entender que essa é na verdade uma conclusão das mais alegres, seja o grande segredo da vida. Eu ainda não consegui isso. Talvez aos 30. 

Aufwiedersehen!

*The Romans developed placenta, a sheet of dough topped with cheese and honey and flavored with bay leaves. Modern pizza originated in Italy as the Neapolitan flatbread.(wikipedia)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Ser adulto

Eu tive um choque. Não o choque da realidade comum no linguajar cotidiano. Eu tive um choque nostálgico de um sonho possível. Criamos uma vida que parece nos eixos e que deve estar equilibrada tanto emocional quanto financeiramente. Para a realização adulta devemos seguir o binômio do mente tranquila, saldo positivo. Fora o grande desfile de expectativas criadas por diferentes grupos que nos enlaçam, desde a família aos amigos mais próximos. As referências são tantas que poucas vezes conseguimos abaixar a poluição sonora e desafinada de fora pra conseguir ler o que dizemos lá dentro. E sempre sai um som tão baixinho, mas tão baixinho. Esse som se eleva em momentos de sonho, de inspiração, essa fração de tempo em que temos certeza do que almejamos na vida. Seria apenas uma fração de segundo, ou será que nós mesmos que abaixamos o som que toca dentro de nós para colocar a culpa no barulho dos outros. E se, o dito barulho dos outros não passasse de um som baixinho que aumentamos para evitar ouvir o nosso próprio e perceber que a felicidade é tão óbvia e portanto tão próxima?Melhor não, seria uma conclusão estúpida. Ou pior, correríamos sério risco de perder o equilíbrio emocional e o que pode sair disso? É a sensação da queda iminente, é adrenalina, fúria, tristeza, amor, paz, tudo em um caldeirão quente para o qual nos preparamos a vida toda até morrer. Nos colocamos em banho maria enquanto inventamos regras e desculpas para nós mesmos.Eu me contento com a calma e em deitar a cabeça no travesseiro a noite e saber exatamente o que vai acontecer amanhã. Contentar-me seria suficiente? E o que é realmente suficiente, isso sequer existe para nós eternos insatisfeitos? Eu preciso me entender comigo mesma, dentro das duas pessoas que coexistem em mim. Eu já estou preparada. Eu quero deixar de me surpreender com o que eu posso fazer e até onde eu posso ir. Eu quero usar, seja lá o que eu guardo de bom à exaustão, sem guardar uma gota até onde der. E doa a quem doer. No caso. Eu.Aufwiedersehen!


sexta-feira, 14 de junho de 2013

O que eu acho?

Eu não consigo me interessar por política. Já tentei, não consigo. Aprendi na escola, principalmente na época do vestibular, como era importante conhecer os tais dos "assuntos gerais", então eu tentei por diversas vezes ler o pouco prático jornal. Mais tarde com a Internet e os portais de notícia consegui ter acesso resumido e com mais facilidade ao geralzão do que acontece no mundo e no Brasil. Esse geralzão que lemos, como é patente no trending topic do momento, as manifestações que têm ocorrido na capital paulista e outras grandes cidades do país contra o aumento na tarifa do transporte público. Como aconteceu com o assunto, por hora deixado de lado, do "Feliciano não me representa", e sobre o qual, pelo menos na minha timeline, falaram e protestaram a respeito sempre com a mão no mouse e no teclado, assim como eu faço agora, sinto medo desse discurso geral em uníssono que acaba se perdendo.
Acho interessante como todos estão cientes da imparcialidade dos jornais, acho emocionante todas essas pessoas na rua, pensar que nós brasileiros não somos um povo passivo, como gostamos de dizer, mas infelizmente, nós brasileiros somos sim um povo desorganizado. Eu não entendo de política, mas sou formada em relações públicas, trabalho com comunicação, talvez sobre isso eu saiba um pouco mais e possa opinar.  Em termos de comunicação, temos várias vozes sobre esse assunto, mas pode-se dividir duas em especial: a que diz "Estamos cansados de tanto descaso, de tanta palhaçada do governo", e outra que diz: "São todos filhinhos de papai da classe média, desocupados destruindo o patrimônio público enquanto gritam por causa de 20 reles centavos". Vi também falarem que esse protesto não trata apenas dos famigerados 20 centavos, vi falarem que esses protestos seriam o vômito de tudo o que passamos durante anos, enquanto os políticos fazem a festa - desculpem-me a generalização tosca, eu ainda chego em algum lugar.
Procurei saber se há um grupo organizado para tratar das reivindicações e dos protestos que vêm parando a cidade, e achei o grupo tido como centralizador, o Movimento do Passe Livre (MPL) - o que já entra em uma incoerência, ruído gerado pelo nome, passe livre. Tive acesso pelo site do Estadão, a uma entrevista concedida por seu representante, Caio Martins é a "cara" do lado aclamado/odiado do momento, seria ele o mocinho ou o bandido?Ideias divergem. O que eu sei é que Caio, nos seus vinte e pouco anos, franzino e pouco articulado, responde às perguntas do jornalista do Estadão com os resquícios e a nostalgia de uma época, de uma ideologia que pra mim não cabe mais nos dias atuais. Há dogma no discurso dele, inflexibilidade e poucas possibilidades. Falta diálogo. Falta representação e organização de uma plataforma de pedidos. O povo protesta só pelos 20 centavos? Ok, deixe claro isso. O povo protesta contra o descaso, a corrupção ou seja lá o que for dos políticos? Deixe claro e prepare um discurso coeso, preferencialmente falado por alguém que aparente maturidade, articulação, com um discurso estudado e treiando. Vivemos em um mundo de aparências e precisamos de aliados de todos os lados, pais, políticos, e todas as pessoas do suposto "outro lado" se quisermos chegar em algum acordo, algum lugar. Se não houver organização, uma mensagem clara, todos esses protestos estarão no lodo junto com Feliciano, já na próxima semana.
Desejo sorte a todos os lados. 

Aufwiedersehen!

Resumos dos últimos acontecimentos e entrevista com Caio Martins.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Onde está o x?

Desde pequena eu tento desvendar uma grande charada: o que é o amor? Aquele clássico mesmo, que os poetas cantam, aquele pelo qual as donzelas suspiram fugindo do enfado, aquele dos sinos, da batedeira cardíaca que os médicos prescrevem, das borboletas batendo asas frenéticas no estômago. Sabe qual? Pois é, eu não sei. Aliás, trabalho sobre o tema há anos, desde muito nova. Em tempos acadêmicos eu já seria pós doc. Do que o amor é formado? Como acontece? Passei por várias teorias sobre como reconhecê-lo. Tudo começou com uma primeira suposição, na época eu tinha uns 14 anos e já filosofava sobre temas espinhosos, partindo de uma teoria pragmática um tanto quanto matemática, apesar de não fazer ideia do que seria isso, cheguei a uma fórmula mais ou menos assim:
Amizade + atração física = Amor
Como eu cheguei nessa fórmula? Simples, eu tinha vários amigos do sexo masculino e eu gostava muito da companhia deles, sempre gostei, eu não poderia ser mais feliz que os momentos em que eu estava com algum bom amigo, rindo e falando besteiras. Esse era o relacionamento homem mulher ideal, e eu vivenciava aquilo, para mim era essa a raiz da solução que eu buscava, mas faltava algo, faltava beijo na boca, faltava vontade, algo que eu ia descobrindo aos poucos nas novelas e através da vida das minhas amigas que já ensaiavam seus primeiros compromissos sérios, enquanto eu treinava meu saque por cima e pulando no vôlei.
Fórmula pronta, defesa da tese ok, fui eu com 15, 16 anos testar essa proposta, uma cobaia viva e totalmente parcial solta nesse mundão.
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Depois de alguns tropeços eu fui percebendo que a fórmula era furada, não fechava a conta, percebi que enquanto atraídos, fica difícil para homens e para mulheres manterem a mesma relação antes desinteressada. Com ajustes, cheguei a uma nova versão da fórmula anterior inacabada, mudava-se a ordem, era algo mais ou menos assim:
Atração física + amizade + x = Amor
O que era esse "x"? E então eu me deparei com uma nova tentativa, o "x", esse algo necessário para um bom relacionamento homem mulher, seria a admiração, era isso, só podia ser. Então voltei a campo, buscando por cobaias que me suscitassem admiração, homens inteligentes, com ótimo senso de humor, honestos, alguém que possuísse uma característica muito importante para mim. Fracasso novamente.
Eu havia chegado a um ponto em que essa busca constante teórica misturada com a minha vida pessoal entrou em colapso, eu já não conseguia entender os meus próprios atos, mesmo depois de deixar toda a pesquisa na geladeira, já fazia 10 anos. Foi quando eu cheguei a uma conclusão que não teria volta, eu precisava de ajuda profissional, eu precisava de um teórico dos bons pra me ajudar, tio Freud, e a história dai pra frente pode ser lida nesse mesmo blog, desde o ano que eu costumo chamar de o ano da tormenta revolucionária, em 2011, quando eu me encontrei cara a cara com a psicanálise e as descobertas assustadoras que escondemos em um pedacinho do nosso cérebro chamado carinhosamente de ID.
A análise me permitiu dar uma folga para as divagações teóricas e uma licença exclusiva para veja bem, simplesmente viver, essas sessões me apresentaram a um ícone muito importante na vida de qualquer ser humano, o desejo, que não é tão e somente o tal do tesão, mas sim
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algo transcendente à simples vontade, algo que não tem recebido a devida importância nos nossos tempos ansiosos, por que o desejo demanda sensibilidade, humildade sobretudo.
Eu resolvi voltar para a minha fórmula, e somar um novo ícone:

Desejo + Atração física + amizade + x = Amor

Arrumei a fórmula e a deixei assim, eu acabei desistindo, aquele x nunca seria encontrado e eu poderia viver com isso, rezei e esperei que o grande amor fosse algo tão fabuloso que me trombaria de cara, um eclipse em toda essa lógica e racionalidade milimetricamente pensada a que eu havia me acostumado, eu simplesmente saberia, e assim continuei vivendo, bem, um dia após o outro, até hoje, amanhã já não sei. 

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 7 de maio de 2013

Aulas x conhecimento


Mês passado me peguei surpresa percebendo um fato, eu não gostava de aulas. Eu havia me proposto a fazer um curso de atualização - já que sou uma "senhorinha" obsoleta há seis anos graduada - voltado para Comunicação, em uma escola célebre, já que a minha querida Unesp no interior paulista não primava pela boa educação em Comunicação em se tratando de métodos práticos de ponta. Lá o ensinamento é mais voltado para o pensamento, para o abstrato.
Fiquei muito feliz na primeira aula do curso semanal que duraria apenas dois meses, meu cérebro formigava como que saindo de um estado de letargia. Termos técnicos voltavam a fazer sentido e eu me sentia empolgada e até emocionada com toda a possibilidade de aprender mais. Foi já na segunda aula, que a triste constatação caiu amarga sobre mim, relembrei meus tempos de escola, principalmente, e com trauma, lembrei-me do terceiro colegial. Tínhamos uma turma deliciosa de amigos que cresceram juntos, mas fora as bagunças e a grande expectativa para a viagem de final de ano para Porto Seguro, lembro-me com enfado daquelas cinco horas dentro da sala, ouvindo, veja bem, ouvindo, Geografia, Biologia, Química, Matemática...fora uma vez por semana quando ficávamos também a tarde na escola. Era penoso, não fazia sentido pra mim. Já na faculdade, a mesma coisa, eu ficava agitada na sala, pensando no bar, mas não como alcoólica - tão e somente -  mas pensando no bar como o lugar que ele era, um espaço livre dos melhores debates filosóficos da minha vida universitária. Lá percebíamos que estávamos chegando em algum lugar. Não na claustrofóbica sala de aula. Na época eu me auto enganava como tendo tendências à vadiagem, ou como alguém que não gostava do “positivismo” imposto pelas carteiras, mas foi naquela época que eu comecei a enxergar tudo diferente, sob as lentes maravilhosas da Sociologia, Antropologia e Filosofia, as “fias” que se transformariam, não sem o crédito devido aos adoráveis e apaixonados mestres responsáveis, na base de como eu enxergo a vida hoje em dia.
Eu tenho uma paixão crônica pelo conhecimento, assim bem amplo mesmo, adoro saber um pouco sobre tudo, mergulhando eventualmente nos temas que realmente me interessam, tudo assim, de graça, sem prova no final do mês, sem trabalho, faço sozinha, no meu tempo livre, por puro prazer. Participei também, na época da faculdade de um grupo de estudos sobre a teoria da complexidade, e hoje orgulhosamente faço parte de outro grupo aqui na cidade grande. Ou seja, eu amo estudar, mas eu não gosto das aulas, elas são taxativas, esmagam minha imaginação, ou melhor, minha imaginação corre solta principalmente nessas horas, só que ela fica inutilizada, lá, quatro ou cinco horas dentro de um cubículo com ar condicionado - ou não.
O que eu quero dizer é, cada um tem um jeito particular de aprender, temos talentos, todos nós, só que eles vão sufocando nesse percurso de quase vinte anos de aulas forçadas e nada optativas Para tentar reverter essa situação, depois de três anos no emprego que não te faz feliz, em que você inutiliza boa parte do seu talento natural, o negócio é não desistir de ousar, não desistir de recuperar aquela criança sapeca adormecida em algum canto cheio de poeira do nosso cérebro, junto com os outros sonhos menos ortodoxos.
Aproveito pra indicar uma palestra do melhor evento social do momento, o TED "ideas worth spreading", essa em especial sobre educação, na figura engraçada do inglês Ken Robinson que fala coisas muito especiais, como só as coisas óbvias podem ser, e me faz sentir quase raiva pela limitação do que podemos realizar quando postos nesse formato quadrado educacional, só espero que não seja tarde.



Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O poder de não subestimar


Eu tenho uma teoria, acho que descobri o segredo do sucesso profissional, seja na arte, seja no cinema, seja na área empresarial mesmo, acredito que um talento se sobressai, o da não pretensão. Veja bem, eu estou falando de pessoas bem sucedidas, não estou falando de gênios e talentos excepcionais. A não pretensão é o minimalismo dos temperamentos. É colocar o seu objetivo como prioridade dentro de todas as variantes de um meio, sem pensar se aquilo reflete a sua cara. A despretensão é esquecer do ego, esquecer do espelho para apenas realizar. Tal é o esquecimento do ego, que quando o despretensioso alcança sucesso na sua empreitada, mal consegue entender os louros que lhe são entregues, afinal de contas, ele estava apenas fazendo o seu trabalho. Na mesma linha do minimalismo, do clean, da despretensão, tenho pensado em um exercício constante de não subestimar o outro. Li uma entrevista com os humoristas genias do grupo Hermes e Renato, precursores dessa comédia  deliciosamente bobalhona da nossa adolescência, só que em nível profissional. Eles, como vários bons humoristas de canais fechados que migraram, em um exercício de tentar alcançar mais pessoas, com mais verba, para um canal aberto, comentaram sobre a censura que vem da diretoria da rede de TV mais tradicional, e que deriva dessa ideia de que a grande massa que assiste à TV aberta não "entenderia" algumas piadas, invariavelmente as melhores que eles faziam, e na entrevista eles falavam quão arrogante era esse pensamento. 
Eu pensei nisso, em como somos arrogantes em relação a diversos assuntos, o que não deixa de ser um tipo de insegurança, como se nos apoiássemos em uma especialidade e a apreendêssemos como algo especial nosso, e que as outras pessoas não conseguiriam entender.
Eu percebi ainda, por outro lado, que esse comportamento, o da "subestimação alheia", digamos assim, é um tiro no pé, deixamos muitas vezes de nos comunicar, de incluir, de somar, na suposição de que o outro não é capaz. Não seria mais fácil apostar no contrário? 

Aufwiedersehen!!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Até mais Cacá

Tenho feito um exercício de colocar palavras feias em perspectiva,tentando enxergar egoísmo, orgulho e inveja por exemplo, como sentimentos humanos exacerbados de auto preservação, auto defesa e insegurança respectivamente. Nesse aspecto eu posso dizer que Deus estava inseguro. Deus precisava de um anjo a mais lá em cima, a melhor pessoa que eu já conheci lá pra perto Dele. Uma senhorinha de 1,60m que pariu e criou seis homens, o mais baixo com 1,80, outro com 1,90, ate o Junior com uns bons 1,95m. Um dos meus maiores amores, a minha parceira de café, que me ensinou que pizza é a melhor comida do mundo, dona de talentos diversos, a melhor cozinheira, costumava transformar atum ralado em caviar, uma enfermeira natural com seus chás milagrosos e as milhares de farpas de madeira q ela já retirou do meu dedo, sempre o mesmo dedo na infância, sem eu nem perceber, além de ser conhecida como o rouxinol de Araras, com um agudo afinadíssimo que louvava todo domingo no horário nobre a Deus. Pudera mesmo Ele ter inveja de nós. Eu a tive, muito próxima de mim durante esses 27, quase 28 anos, imagino que ela sorriu ao ver uma menina nascer, sua neta primogênita depois dos 6. Sem ela eu já não sou mais eu, vou ter que inventar outra, não menos feliz, só menos completa. Ela escolheu morrer quietinha às 14:30h de uma sexta-feira, pra poder ser enterrada no sábado de manhã, típico da dona Cacilda, fazendo o que podia pra não atrapalhar a rotina das outras pessoas.

 A pedido dela o trecho da sua amada Bíblia: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé."

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Uma poltrona

E no meio de todo o caos que é a minha vida nesse momento - e do caos não reclamarei, é a primeira vez que nos batemos de frente, depois de um leve flerte "pós" graduação e dele faço grandes revelações depois de desajustes que se rearranjam eventualmente - uma poltrona me lembrou de algo muito importante sobre mim mesma, sobre quem eu sempre fui mas que acabei esquecendo, e sobre como eu funciono, como eu funciono bem. Tudo começou quando eu senti a necessidade, há alguns meses, de um local apropriado para leitura. Como moro com mais gente, normalmente não tenho um local salubre para concentração, e no meu quarto resta-me apenas minha cama, o lugar mais aconchegante do mundo, o que só me fornece concentração para o sono no caso. No canto vazio do quarto vislumbrei a chance de uma poltrona que conforte e que sustente a postura, tudo assim ao mesmo tempo. No momento eu que eu pensei nessa possibilidade, algo como um esboço dessa minha futura amiga de leitura tomou uma forma em minha cabeça, ela teria personalidade e traria algo de velho, retrô, não sabia dizer como. Parti então à sua procura e como estou dura, mantinha a esperança de ganhá-la de presente, resgatá-la de um dono que não a estivesse valorizando em algum lugar, por que na minha cabeça ela já me pertencia. Propostas não existiram, então eu deixei essa vontade na espera ao lado de tantas outras. Conversando outro dia com a minha prima sobre valores de móveis, algo que não me ocorria, uma vez que os únicos móveis que havia tido não eram comprados, e sim doações desde o cemitério de Bauru até móveis antigos da vó. Eu havia encanado com a ideia, há tempos eu não encanava com uma ideia, até que subindo a tradicional teodoro sampaio, vislumbrei uma unidade estampada, assim quase que solta na calçada, ela era florida, ela era antiga, podia imaginar que cheirava a naftalina, o xerox daquele esboço de antes. Entrei na loja à procura de uma vendedora, assim meio descrente que poderia pagar por tal belezura, até conferir o valor que guardava o anúncio que depois vi de "promoção". A vendedora que era a dona da loja me disse o preço, que estava abaixo do que minha prima tinha falado. Conversei mais um pouco com ela, ponderei que precisaria pedir a opinião a alguém antes de decidir pela compra, afinal, eu nunca tinha comprado móveis antes, e o look da poltrona não era dos mais convencionais, quando em uma iluminação vinda dos recônditos escondidos do meu ser, eu decidi por fim bater o martelo - não sem antes convencer a dona a dividir no cartão o valor que deveria ser pago a vista. Ao ser entregue três dias úteis depois, e posta no quarto, exatamente certa para o canto - algo que eu duvidava - combinando com o edredon e a mesinha antiga, eu tive a confirmação de uma lembrança, essa costumava ser eu, a menina que de pequena escolhia os sapatos só de apontar já na vitrine para a mãe. Eu tinha esquecido dela, talvez por um bom motivo, tenho ouvido a todos, tenho estudado e tentado apreender o máximo sobre a vida, como uma esponja. Essa poltrona me mostrou que já está mais do que na hora de voltar a tomar as minhas decisões. Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 14 de março de 2013

Biscates ilustres

Do dicionário informal que o google me mostrou: Biscate - Mulher fácil, que fica com vários homens. Vadia. "A menina que ficava com todos os garotos do colégio era chamada de biscate." Todos estamos familiarizados com esse termo, todos conhecemos, xingamos, e amamos uma biscate. Durante a vida consegui discernir dois tipos distintos de biscate, e como não sou dicionário informal, ei-los como eu os percebo: 1- a Biscate assumida (assim, com B maiúsculo) - garota que se sente bem com o próprio corpo, dotada de boa autoestima, sabe lidar com a sua sexualidade desde muito nova. A maior característica da Biscate assumida é a desenvoltura que tem para beijar garotos que se colocam a sua disposição em fila indiana. Pessoas de bons costumes a apontam na rua e afirmam que ela não valoriza o próprio corpo. A Biscate prontamente responde, "como vocês mesmos dizem, o corpo é próprio, é meu", e ela tem certeza absoluta disso. 2 - A santa do pau oco - expressão que vem de um fato histórico, quando traficantes usavam santos vazios para esconder ouro e outras jóias ilícitas, longe dos olhos da lei. A santa do pau oco é uma personagem mítica, alguns desconfiam de sua existência, os homens a deixam passar batido, é preciso ser mulher, ou um homem muito sensível para notar a presença dela. Ela normalmente veste-se angelicalmente, e mais que tudo, fala baixinho, usa tons pastel, e cores claras de esmalte na unha. Ela tem relacionamentos longos, ou cisma mesmo com um cara que quer muito ter e não consegue. Sua principal característica é dar mole e moral pra todo par de calças que lhe atravessa a frente, sem jamais chegar às vias físicas. Ela dá mole e sai, dá mole e sai. Ela gosta principalmente de parecer sempre linda e insinuantemente doce, para os namorados das amigas, irmãs, enfim, a santinha não tem limites para sonhar. Pessoas de bons costumes a apontam na rua e comentam como gostariam
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que o filho arrumasse uma moça daquelas, ou que a filha fosse mais parecida com ela. A santa do pau oco responde com um sorriso feliz e autêntico, por que é insegura por demais e todos os elogios do mundo não lhe bastam: "imagina..."
A literatura já nos presenteou com biscates célebres: Madame Bovary e Belle de Jour ambas burguesas lindas e muito bem casadas que escolhem trair seus maridos em busca do bom e velho tesão que eles não lhe oferecem. Isso resumindo as histórias de forma bem leviana, em outra instância seus criadores, Gustave Flaubert e Joseph Kessel, explicitavam a falta de opção e do sonho fadado à submissão que era imposta às mocinhas. Flaubert foi julgado pela autoria do livro e se defendeu dizendo que ele era a protagonista "Emma Bovary c'est moi". A bela do dia, eternizada nos olhos delineados de Catherine Deneuve no filme do surrealista Buñuel, era um personagem difícil de engolir, tinha dinheiro, um marido gato, mas mesmo assim escolhia se prostituir nas tardes parisienses. Venho falar de biscates, principalmente as do primeiro tipo, por que me peguei pensando nelas e comentando com a minha mãe que com olhos esbugalhados ouvia essa minha teoria, como as admirava pelos tipos autênticos que são. Essas mulheres que abraçam o desejo que sentem e correm atrás dele como se tivessem direito, o que na verdade elas têm, como qualquer homem. Falei tanto de biscates e me peguei pensando que esse termo tende a desaparecer, pelo menos na fase adulta, não existem mais biscates, existem mulheres que lutam por seus próprios desejos, ou em tempos de falta de toque que não seja o clique do smartphone, elas reconhecem o desejo que sentem. E que sejamos mais biscates nesse sentido em todos os âmbitos da vida, porque ela é curta.

 

Aufwiedersehen!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Vulneráveis e veneráveis

Hoje é dia internacional da mulher. Essa data passou a ser pleiteada no começo do séc. XX, rolava a primeira guerra mundial e começava em paralelo a segunda revolução industrial. Enquanto os homens guerreavam, as mulheres deveriam manter a industria funcionando e tiveram que ir em massa e por necessidade, para o chão da fábrica. A ideia inicial da comemoração foi para pedir melhores condições de trabalho, para depois adormecer o motivo que seria reinventado em 1960 no contexto das discussões feministas. Isso foi há 50 anos, e hoje? Foi sem coincidência que eu peguei para ler o famoso "O segundo sexo" da eminente filosofa e ícone do feminismo, Simone de Beauvoir. O feminismo tem esse peso pejorativo, imagina-se logo mulheres bravas com buço protuberante bradando por igualdade, às vezes imagino esse termo tão démodé quanto "burguesia", eles fazem parte de outra época. No meio de tanta fumaça de sutien, ter nossos direitos assistidos tornou-se o mesmo que aspirarmos à igualdade masculina. No contexto atual, o dia internacional da mulher deveria ser enxergado como um dia para pensarmos em nossas qualidades específicas, nas neuras também, por que não. Viemos em um pacote com todos os acessórios de fábrica: ansiedade, muita ansiedade, e é por isso que gostamos de ter um follow up nas nossas relações, é por isso que morremos de medo de levar um gelo, tomar um chá de sumiço por tabela. O pacote inclui insegurança e a luta contaste que travamos contra a baixa auto estima desde os tantos da adolescência. Precisamos de truques para nos sentir bonitas e invariavelmente essa resposta vem do espelho que são os homens, não deveria ser assim, mas é. Somos vulneráveis mas não nos mostramos assim, e eu acho que podemos aproveitar esse dia para assumirmos isso. Às vezes, do alto dos nossos saltos vamos precisar correr para o banheiro do trabalho e tirar dois minutinhos de choro abafado para assim desabafar. Às vezes esse choro vai sair assim mesmo em público, em um reunião, depois de muito stress e noites mal dormidas para agradar um cliente. Olho em volta e vejo mulheres inteligentes, cultas, viajadas, com um humor ácido que era antes só deles, que sabem apreciar uma boa cerveja e comentar um lance específico de futebol. Vejo mulheres bonitas, cheirosas, com depilação em dia e ainda com tempo para serem bem sucedidas. Vejo homens perdidos no meio dessas mulheres. Eu não acho que Simone previu que chegaríamos tão longe, ou tão próximas deles. Então, no dia de hoje eu desejo que sejamos mulheres, que sejamos ansiosas na medida boa do equilíbrio, por que não conseguiríamos evitar. Que sejamos vulneráveis e que sejamos cuidadas, bem cuidadas. E quer saber, se nós podemos e devemos transparecer vez por outra essa vulnerabilidade que não é feminina só, ela é humana, vamos agora permitir que eles também a mostrem. Se a mulher pode ser macho e chefiar departamentos com o mesmo salário (que ainda não é o mesmo, mas chegamos lá), que os homens possam deixar de carregar o fardo que muitas vezes vem de nós, da cobrança de serem machos 24 horas por dia. Que a eles seja permitido também um pouco de neura, um pouco de ansiedade e insegurança, por que nesse equilíbrio podemos deixar, às vezes, eles serem mais fortes, por que eles o são fisicamente e não tem problema. Que os deixemos abrir as portas do restaurante e escolher uma mesa, que os deixemos ser o que eles são, para que possamos ser o que somos, mulheres, com toda a graça e força que consigamos ter. Fiquem com Simonão, que disse tudo isso em 1949: "As mulheres de nossos dias estão prestes a destruir o mito do "eterno feminino": a donzela ingênua, a virgem profissional, a mulher que valoriza o preço do coquetismo, a caçadora de maridos, a mãe absorvente, a fragilidade erguida como escudo contra a agressão masculina. Elas começam a afirmar sua independência ante o homem; não sem dificuldades e angústias porque, educadas por mulheres num gineceu socialmente admitido, seu destino normal seria o casamento que as transformaria em objeto da supremacia masculina.(...) Os dois sexos são vítimas ao mesmo tempo do outro e de si. Perpetuar-se-á o inglório duelo em que se empenham enquanto homens e mulheres não se reconhecerem como semelhantes, enquanto persistir o mito do "eterno feminino". Libertada a mulher, libertar- se-á também o homem da opressão que para ela forjou; e entre dois adversários enfrentando- se em sua pura liberdade, fácil será encontrar um acordo." Aufwiedersehen!

quarta-feira, 6 de março de 2013

RIP Chorão

"As vezes faço o que quero, às vezes faço o que tenho que fazer". O vocalista da banda Charlie Brown Jr, Chorão, santista de coração, eterno skatista bravo e de grande porte dos nossos sonhos de adolescente rebelde, estava com quase 43 anos quando foi encontrado morto aqui perto de casa, em seu apartamento em Pinheiros na zona oeste de São Paulo. Engraçado esse sentimento de perda, é um sentimento egoísta, não penso na falta que o Chorão vai fazer em minha vida, mal pensava no cara há anos, mal ouvia as músicas do Charlie Brown do tempo do começo da Internet, nos meus 15, 16 anos, entretanto escuto agora em alto som a uma coletânea daquelas músicas que organicamente misturaram-se com aquela fase da minha vida. Esse sentimento egoísta me transporta para os pensamentos daquela época e as frases antes cantadas em uníssono no show, os pulos e os palavrões gritados a plenos pulmões que pareciam ser algo superficial, algo que mal entendíamos por que afinal, éramos apenas crianças, hoje as escuto novamente, essas frases no meio das músicas do Charlie Brown Jr, e elas me parecem perfeitas, agora que eu entendo da vida? Simples e reais, os medos de crescer, a revolta com causa, a primeira paixonite, essa sensação de desconforto própria de quem está crescendo e a insegurança, quanta insegurança. Eu não tenho irmão mais velho, toda vez que o Chorão xingava o cara da música "Papo Reto", e falava que ele não sabia valorizar a garota da música, que então "Já era!", na música ele vai aproveitar o vacilo do cara pra conquistar a menina, mas eu sempre a lia com um quê meio revolucionário para as mulheres, eu sentia que ele nos protegia, que ele enviava uma mensagem necessária para os meninos, quando mais se evidenciava a distância de maturidade das garotas em relação aos eles. Foi uma boa época, com uma bela trilha sonora. RIP Chorão. Aufwiedersehen!

segunda-feira, 4 de março de 2013

Sobre mim

Fiquei de falar sobre mim, assim objetivamente, sem devaneios, espero que funcione, que dê pra começar a entender, pelo menos um pouquinho (falo isso pra mim mesma). "Uma mulher inquieta do interior apesar da aparência desencanada de garota da metrópole. Tão apaixonada pela família, pelos amigos, pelos romances e pela arte, que em boa parte do tempo trava e fica tímida ao tentar elaborar tamanho sentimento que nutre em cada partícula da alta estatura. Acredita no poder revolucionário do trabalho e da disciplina, para assim poder gozar os prazeres do tempo livre, das viagens físicas, além das mentais de todo dia. Não se incomoda em pensar a vida pela escrita e assistir a bons filmes vez ou outra, além de tomar uma boa cerveja livre de cereais não maltados com bate papo que varia do ultra pop ao erudito, quando muito." Aufwiedersehen!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Date e o nano-romantismo

Do dicionário informal que o google me mostrou: Biscate - Mulher fácil, que fica com vários homens. Vadia. "A menina que ficava com todos os garotos do colégio era chamada de biscate." Todos estamos familiarizados com esse termo, todos conhecemos, xingamos, e amamos uma biscate. Durante a vida consegui discernir dois tipos distintos de biscate, e como não sou dicionário informal, ei-los como eu os percebo: 1- a Biscate assumida (assim, com B maiúsculo) - garota que se sente bem com o próprio corpo, dotada de boa autoestima, sabe lidar com a sua sexualidade desde muito nova. A maior característica da Biscate assumida é a desenvoltura que tem para beijar garotos que se colocam a sua disposição em fila indiana. Pessoas de bons costumes a apontam na rua e afirmam que ela não valoriza o próprio corpo. A Biscate prontamente responde, "como vocês mesmos dizem, o corpo é próprio, é meu", e ela tem certeza absoluta disso. 2 - A santa do pau oco - expressão que vem de um fato histórico, quando traficantes usavam santos vazios para esconder ouro e outras jóias ilícitas, longe dos olhos da lei. A santa do pau oco é uma personagem mítica, alguns desconfiam de sua existência, os homens a deixam passar batido, é preciso ser mulher, ou um homem muito sensível para notar a presença dela. Ela normalmente veste-se angelicalmente, e mais que tudo, fala baixinho, usa tons pastel, e cores claras de esmalte na unha. Ela tem relacionamentos longos, ou cisma mesmo com um cara que quer muito ter e não consegue. Sua principal característica é dar mole e moral pra todo par de calças que lhe atravessa a frente, sem jamais chegar às vias físicas. Ela dá mole e sai, dá mole e sai. Ela gosta principalmente de parecer sempre linda e insinuantemente doce, para os namorados das amigas, irmãs, enfim, a santinha não tem limites para sonhar. Pessoas de bons costumes a apontam na rua e comentam como gostariam
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que o filho arrumasse uma moça daquelas, ou que a filha fosse mais parecida com ela. A santa do pau oco responde com um sorriso feliz e autêntico, por que é insegura por demais e todos os elogios do mundo não lhe bastam: "imagina..."
A literatura já nos presenteou com biscates célebres: Madame Bovary e Belle de Jour ambas burguesas lindas e muito bem casadas que escolhem trair seus maridos em busca do bom e velho tesão que eles não lhe oferecem. Isso resumindo as histórias de forma bem leviana, em outra instância seus criadores, Gustave Flaubert e Joseph Kessel, explicitavam a falta de opção e do sonho fadado à submissão que era imposta às mocinhas. Flaubert foi julgado pela autoria do livro e se defendeu dizendo que ele era a protagonista "Emma Bovary c'est moi". A bela do dia, eternizada nos olhos delineados de Catherine Deneuve no filme do surrealista Buñuel, era um personagem difícil de engolir, tinha dinheiro, um marido gato, mas mesmo assim escolhia se prostituir nas tardes parisienses. Venho falar de biscates, principalmente as do primeiro tipo, por que me peguei pensando nelas e comentando com a minha mãe que com olhos esbugalhados ouvia essa minha teoria, como as admirava pelos tipos autênticos que são. Essas mulheres que abraçam o desejo que sentem e correm atrás dele como se tivessem direito, o que na verdade elas têm, como qualquer homem. Falei tanto de biscates e me peguei pensando que esse termo tende a desaparecer, pelo menos na fase adulta, não existem mais biscates, existem mulheres que lutam por seus próprios desejos, ou em tempos de falta de toque que não seja o clique do smartphone, elas reconhecem o desejo que sentem. E que sejamos mais biscates nesse sentido em todos os âmbitos da vida, porque ela é curta.

 

Aufwiedersehen!

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A comédia romântica e o imaginário feminino

Ele é encantadoramente vulnerável e corre com um sorriso bobo pelos corredores de um aeroporto ao seu encontro, por que ele não poderia aceitar a ideia de esperar você voltar de uma viagem dali a duas semanas pra dizer que descobriu que te amava todo aquele tempo. Descobrir que aquele amigo que estava sempre ao seu lado, na verdade é magicamente o homem da sua vida? Essas imagens são particulares? Essa ideia de que existe algo para ser achado, e que só precisamos prestar atenção para pegar o que nos pertence, algo pronto e reluzente. Esse sentimento arraigado, essa meia esperança que não confessamos, é familiar? Ouso dizer que a maioria das mulheres participa do imaginário coletivo da comédia romântica. Eu faço uso desse gênero há muitos anos, esse produto desenvolvido para fazer o consumidor se sentir bem, de alguma forma abraçado, a tal da esperança que como um bom chocolate está para a tpm naquele propósito pontual, mas a longo prazo acarreta celulite, como as comédias românticas estão para a saúde dos relacionamentos posteriores. Ficamos buscando aquele clique, aquela conexão dos céus, quando na verdade esse clique é uma construção cotidiana, uma vontade recíproca de estar juntos, uma parceria. O que me levou a pensar nisso foi a sequência de uma nova leva de filmes do gênero, esses mesmos direcionados ao público feminino que não acabam no tradicional beijo do happy end, tenho visto filmes enveredando por outro lugar, um lugar incomum na ficção, mas paralelo à vida real dos foras, da falta de química, da falta de assunto e de tudo que é meramente ordinário. Tenho visto filmes de entretenimento com essa pegada, séries inclusive, o público feminino agora tem uma voz factível, acredito que muito pelo fato de as mulheres estarem escrevendo mais. É uma nova mensagem enviada, e que pode mudar muito a longo prazo. Saberemos esperar pelo cara comum, de carne e osso, poderemos ver o glamour em atravessar a rua de mãos dadas sem pedir por uma super produção? Talvez. Aproveitemos os filmes de romance mais realistas como bons chocolates diet. Ver no blog de cinema as minhas observações sobre o filme "Bacherolette" (2012). Aufwiedersehen!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Um conto

A viagem estava marcada há três meses. Conseguimos passagens baratas na vigilia das promoções de horas incomuns à compra. Na casa o total de 19 jovens adultos promissores. Amigas da Má, amigos do Junior, a irmã e prima da Tais, além de outros figuras esparsos se misturavam para formar essa ilha deliciosa de seres desconhecidos em comum. Primeiro dia e o frio na barriga do reconhecer os rostos com os quais passaríamos a conviver nos próximos cinco merecidos dias de descanso no litoral, quando me é apresentado Max. Mas tinha a expressão de um surfista que se desgarrou no berço para morar na capital sem mares e cheia de rios podres. Um rosto de quem ainda esperar pelas ondas que nunca vêm, e mesmo assim não reclama. Não era bobo, de forma nenhuma. Quando conversava me olhava nos olhos e sorria de segundo a segunda mostrando os brancos dentes. Com os dias, sua pele começou a pegar o verniz de um dourado que só os dotados de boa melanina mostram, o que jogava para o mundo ver os olhos de um castanho bem claro, quase amarelo. Na cabeça, o resto que a máquina 4 deixou de cabelos para contar história, o que ressaltava o ângulo quadrado do rosto. Um nariz grande confirmava a teoria que os bons homens de personalidade usam. Educado, esperava sua vez de falar, sempre depois de todos, para invariavelmente dizer algo gentil. Gostava em Max principalmente de sua barriga, algo redonda e à mostra divergindo com o resto do corpo bem formado. Aquela barriga que o Men's Health entendia como falha, era para mim a certeza de que Max era real, um ser humano. Eu amei aquela barriga por exatos 5 dias. Max é um personagem fictício inspirado em caras que me encantaram, e um cadinho em algum sonho que eu um dia tive. Aufwiedersehen!

sábado, 19 de janeiro de 2013

O ontem que vive no hoje

Texto de agradecimento recuperado do meu trabalho de conclusão de curso. (Unesp Bauru - nov/2007). Fico feliz de ler algo que eu escrevi há cinco anos e ainda me reconhecer nessas linhas. "São pessoas maravilhosas, esses indivíduos que fortuitamente eu encontrei na caminhada da vida, e que espero encontrar na potencial evolução da profissão escolhida. Formei uma família querida, dividi tormentos que só me ajudaram a amadurecer, momentos ícone da minha vida. Foram apenas mais de 1200 dias, porém dias que com certeza marcaram minha identidade impreterivelmente. O sentimento que carrego é de orgulho, de felicidade e respeito que ficarão para sempre. Aos meus queridos e talentosos colegas, eu agradeço a tudo que pude compartilhar, e ao enriquecimento decorrente da observação de cada um deles. Ás mulheres maravilhosas, ao modo característicos de cores fortes e frias, cada uma a seu modo, com as quais eu percorri esse caminho, minhas amigas e colegas queridas (“Nossos destinos foram traçados na maternidade!”).Às minhas companheiras de república, agradeço pelas discussões, pelos debates calóricos durante a tarde, pelo delicioso pós-balada, pelo ombro acolhedor, pelas chamadas de atenção e sinceridade, e por compartilhar comigo de suas potencialidades especiais. Amo vocês do fundo do meu coração e é pra sempre. Aos muitos amigos, obrigada pelas risadas, pelas tardes à toa, e pelos encontros que foram e ainda virão." Aufwiedersehen

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Sóbria

Seria 2013 um ano de sobriedade? Não aquele principio de sanidade alcoólica - mesmo que seja interessante exercer essa atividade depois do aumento da multa da lei seca - falo de um ponto crucial na vida de um adulto, quando este se sente formado como tal, um adulto. Estarei eu, sóbria? Depois de passar pela segunda puberdade, fase que devia ser mais estudada pelos especialistas em crescimento, e fenômeno que pude assistir de camarote dentro da minha cabeça e também do lado de fora através de amigos e familiares, depois que a euforia do término da faculdade passa, depois de cair no mundo real e ver que a vida não se resolve quando se tem dinheiro no bolso e uma rotina confortável. Eu vi um prenúncio da era da gula que mistura com a dúvida, muita dúvida, a confiança com a insegurança, é uma oscilação entre o que já fomos e o que queremos ser, o presente fica lá, meio solto, já não somos mais invencíveis, muito pelo contrário. A ideia de formar a sua própria família começa naturalmente, senão biologicamente, a fazer parte dos pensamentos. Passamos a nos perguntar onde estaria um companheiro perfeito. Perfeição, sempre essa bandida. Esses são temas sobre os quais tenho debatido a exaustão com a minha analista, minha couch do viver, e ela bate sempre na tecla do constante abandono da fantasia, algo muito presente na vida de uma garota que sempre curtiu viver no mundo da Lua. As idealizações caem, o principe desce do cavalo branco que agora assemelha-se mais a um jegue magrelo, a alma gêmea é apenas a esperança de encontrar alguém que segure a sua mão. Eu sinto uma renovação cansada, como se agora eu resolvesse uma equação super complexa. O mundo é isso mesmo que eu vejo, e nada mais. Não tem feitiço, não tem mistério, não tem nem um pouco de glamour, são apenas várias pessoas interessantes ou não, com muitos defeitos e pasme, tantas ou maiores dificuldades para levar uma vida que considerem realmente boa. Tem mais essa, existe um mundão pra fora de nós mesmos, isso é desanimador. Sinto uma grande nostalgia de enxergar esse mundo sob a antiga ótica fantástica, mas como em uma cirurgia de miopia pareço enxergar tudo exatamente do jeito que é, e não tem como voltar atrás. Inês é morta. Estamos no Matrix. Enfim. Aufwiedersehen!