E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Dobrar o tempo

Foi ouvindo ao episódio "Socorro!Eu faço tudo ao mesmo tempo!", do Podcast "É nóia minha", da Camila Fremder, que não foi possível fazer tudo que eu pretendia naquela manhã de quinta-feira. Tudo começou quando eu consegui marcar a muito custo uma massagem gratuita, que eu supostamente teria direito mensalmente através do meu aplicativo de academia de ginásticas, uma espécie de Gympass aqui da Espanha. No grande dia acordei em cima da hora e fiz questão de revisar um texto que eu estava fazendo para o Delirium Nerd sobre a Vampira dos X-Men. Eram 10:50h quando eu finalmente consegui sair de casa para ir rapidinho ali na academia enquanto ouvia ao podcast, fazia um pouco de bicicleta, musculação, e claro, aquela sauna seca básica antes de correr para a massagem. A sauna estava maravilhosa e eu talvez tenha ultrapassado cinco minutinhos que estragaram tudo na sequência, e ainda tive que passar em casa no caminho para que minha amiga pudesse jogar o cinto que eu tinha esquecido de colocar na mochila da academia, e a minha calça já estava quase na metade da bunda mesmo. Quando olho para o relógio, são meio dia em ponto, e o cálculo para chegar na massagem é de dezoito minutos a pé. Ando rapidamente, querendo ultrapassar todas as previsões do google maps, fazendo travessias perigosas nos sinais fechados de grandes avenidas, mas chego no que seria o número do local de massagem. Nem sempre se vê a numeração dos prédios em Barcelona, e nesse caso eu estava na maior avenida a Gran Via, e na cidade existem essas esquinas cestavadas que quase formam uma pequena rua em cada travessia. Através da minha visão horrorosa de mapa no google, supus estar em frente ao prédio correto, e nesse momento já eram 12:20h. Enquanto eu tentava me localizar,  meu massagista já indagava onde eu estava, que era em frente ao prédio. Ele então me orienta a entrar porque a a porta já está aberta, eu obedeço e entro em um lugar antigo e belíssimo, com uma espécie de vitral nas janelas, e somente escadas. Subo os quatro andares lembrando que existe o entresuelo, então na verdade a massagem fica no quinto andar que eu tento subir o mais rapidamente possível depois de fazer musculação e correr até ali, contendo o grande impulso de tirar fotos naquela escada tão bonita. Chegando no quarto andar completamente sem fôlego, tento tocar a companhia, vejo que não há ninguém, e então meu massagista as 12:24h pergunta no whatsapp: "Você está mesmo no 662"? Eu não sabia, não tinha número, só parecia pelo google maps. Desço correndo e busco pelo estacionamento que ele diz ter em frente ao local da massagem, que fica exatamente na esquina cestavada maldita, entro e encontro uma senhorinha na recepção, um elevador Glória a Deus, agora vai! Ao encontrar o massagista já um pouco irritado com os quinze minutos de atraso, ele me avisa que temos de dar entrada no aplicativo de academias antes de começar. Tento sem sucesso e o aviso, esse aplicativo está fatal! Ele me olha como quem não pode me ajudar, e eu insisto: acabei de entrar na academia com ele. E então ele me dá a sentença: você não pode dar duas entradas no mesmo dia nesse aplicativo. Como em "Corra Lola, corra!", penso em tudo que eu andei e subi de escadas em câmera lenta e rewind. Quero chorar? Um pouco. Mas não tem problema, isso acontece, e peço para marcarmos um novo horário: "No tengo más citas". 

E aí tem a virada da maturidade. Desci as escadas pensando como ele era grosso, e que ótimo que uma pessoa com energia tão ruim não me massageou, mas vamos combinar, porque eu quis fazer tudo isso? Existe uma espécie de urgência minha de dobrar o tempo, de sentir que eu tenho alguma agência sobre as coisas que acontecem, e eu confesso que algumas vezes sim, consegui fazer tudo que queria - mas não tentem isso em casa. Claramente não foi o caso naquela quinta-feira, e enquanto eu senti o suor escorrendo pelas minhas costas e virilha depois de toda a correria, um choro saiu bem triste no início para terminar com uma risada de pura autoironia. Fiquei pensando nas tantas vezes que  literalmente me espatifei no chão porque queria atravessar o tempo, para além das minhas capacidades. Pensei no último ano e em como eu me senti irrelevante frente aos acontecimentos, como era inútil estar na minha pele e em como aquilo estava me sugando a energia, mas sim, foi um grande exercício de modéstia. Não farei as pazes com as lições do universo e continuarei desafiando o tempo porque essa sou eu, mas posso dizer que aprender a rir quando acontece o inevitável e dá merda.

A única foto que eu consegui tirar do prédio abandonado cujas escadas eu subi


Aufwiedersehen!!