E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

terça-feira, 19 de abril de 2011

Morada

Peguei o primeiro ônibus depois o segundo ônibus. Uma hora sem atraso depois estava em casa. Do ponto mais uns 100 metros no escuro da noite, eu vou ignorando a segurança, empunhando uma chave como escudo protetor placebo de menina na cidade grande. A rua escura me abraça e me empurra novamente e me salva pra dentro do prédio. Um prédio que mais parece um sobrado de cortiço arrumado. Esse cortiço que nos providenciou boa localização, bom preço e conforto por um ano. Dentro das paredes verdes bebê nos adaptamos mais uma vez nessa vida.
Na necessidade, a casa do sobrado foi perfeita. Tinha metrô, supermercado, amigas irmãs, e era grande de apartamento antigo como a gente queria. Tinha TV que nunca pegou bem e uma antena que se esforçava e quebrou nosso galho. Tinha também barulho de ônibus, claridade no rosto, um sono ruim que chegou uma hora que não deu mais.
E dai, como quem acorda exigindo champagne com queijo bree, não suportei mais a distância, as duas corridas de transporte coletivo, o moço vizinho que não fazia nada alem de ficar parado na frente da porta pra ver quem vai e volta, o menino parecido com o desenho do Pequeno Principe que cruzava comigo toda manhã voltando da natação, o supermercado mais próximo que era sujo, a locadora que funcionava no horário ruim, e tudo o mais me irritava.
Era vespera da mudança pra casa nova e pro quarto que só seria meu. Pela última vez eu peguei os dois ônibus, pela última vez eu subi os lances de escada, o mesmo lance que me derrubou por duas vezes a machucar meu popô. Pela última vez eu passei pela Igreja no sentido contrário ao metrô e cheguei na Academia de Natação, e abracei minha professora, falei da vida, da mudança e das finanças, e agradeci por ela ter deixado nesse quase um ano eu nadar sem pressão e sem série de oito.
Me despedi.
O comichão da mudança, aquela página vasta e em branco me consumiu e eu sorri.

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mana

Lembro que te conheci há sete anos, era março. Você era uma menina magrela com jeans altos meio antiquados pra época do cofrinho aparente, tinha os cabelos em um tom loiro escuro presos em coque, usava brincos delicados e dourados mais uma corrente de ouro por cima da blusinha comportada, onde balançava a metade de um rosto. Ao seu lado, outra corrente idêntica pendia com a parte que faltava. Seu escolhido de hoje, ontem te completava em um abraço. Aquela cena está gravada, assim como a evolução das impressões desse dia até nosso relacionamento na vida adulta.
Dificil pensar em alguma coisa que não fizemos juntas. Tantas vezes nas minhas repetidas histórias contadas, esqueço de te incluir no discurso, e você me chama a atenção e me diz “Eu tava junto!”. Inútil pensar que você estava, quando por boa parte desses últimos anos você se tornou um extensão de mim e vice e versa. Uma dupla, uma parceria, uma coisa fraternal. Duas irmãs grandes e muito jovens escolhendo uma casa para morar. Duas irmãs chorando ao perceber como o mundo é complicado, e como pagar contas dá trabalho, pra em seguida tomar uma cerveja assistindo à sessão da tarde. Duas irmãs se divertindo, e rindo, e dançando esquisito, e rindo mais um pouco. Duas irmãs procurando emprego, e trabalhando juntas pra ganhar nada.
Os conselhos antes de dormir, a ansiedade na época de ir embora, de deixar pra trás aquilo que se tornou o nosso sonho possível e realizado, a faculdade que pode não ter sido a certa, mas que no final das contas juntou os nossos caminhos. Matão, Araras, Alemanha, Estados Unidos, São Paulo.
Parece um presente, esse presente que fez do nosso medo maior em 2007, uma coisa que não deu certo. A nossa separação.
Sete anos se foram, e que orgulho, e que felicidade, e só um tiquinho de nostalgia ao pensar em tudo que a gente viveu.
Você escolheu um futuro lindo. Aquele que já estava traçado há 10 anos, ao lado do melhor homem. A mim agora, cabe dizer te amo e boa sorte, tudo de mais lindo no começo dessa nova caminhada.
Hoje te vi sair da casa que era nossa, perfumada e sofisticada com seus cabelos lisos, repicados e soltos. Agora continuamos, cada uma no seu quarto depois de seis anos juntas.

Aufwiedersehen!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os mesmos devaneios...

É uma manhã nublada com a garoa típica da Paulicéia desenfreada. Tenho medo desse trânsito que não anda. Acidente?Reforma na pista?Não...é muito carro.
Um paradinho atrás do outro no cúmulo dos nove milhões. Uma cidade de carros, uma cidade grande.
Do fim de semana trago bons fluídos...amigas, risadas, cerveja e espetinhos, nem o Faustão pra estragar tanta coisa boa e de qualidade.
Ah como seria bom se tudo isso bastasse!Mas bicho esquisito que somos, bicho nunca completo, ainda mais na qualidade feminina, sentimos alguma falta em algum
momento. A falta do Falo cochichou minha Psicanalista. Tá bom Freud, tá bom. Sentimos falta sim, de carinho, de cuidado, e de algo ainda mais simples,
mas que não pode ser encenado: interesse. Nossos amigos querem ajudar, nos aconselham, contam, pedem que tenhamos paciência, que não pressionemos ninguém que
seja, apenas solícitas, sem deixar de curtir a vida, que esperemos por eles ao modo das mulheres que esperavam com um prato de comida extra todas as noites por seus maridos
que lutavam pela Terra. Eu daria uma péssima mulher de soldado. Eu quero presença, por mínima que seja. O nosso conselheiro não sabe, que da falta de interesse alheia, surge a nossa. De repente tudo faz sentido. Eu posso querer mais. Eu posso não querer esperar até que surja um interesse. Eu quero querer mais!
As mídias sociais que nos separam de lados opostos e mecânicos, que na constante comunicação cria ruídos sutis que acarretam tardiamente em problemas maiores de mal
entendidos permanentes, também podem ser utilizadas para o bem. Um ex bonitão no msn, conversas de "catching up", besteiras necessárias de lisonja, ele acaba de contar do namoro e mesmo assim me convida pra uma cerveja qualquer dia desses, homens...tudo no vazio, tudo superficial, quanto mais melhor...
Eu não quero essa cerveja sem base, eu não quero esse interesse torto.
Eu quero mais.

Aufwiedersehen!