E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

domingo, 26 de dezembro de 2010

Cidão

Era uma janela aberta. Do lado esquerdo a imagem de uma santa. Ouço minha mãe aconselhá-la sobre a ceia, que participe, que esteja, mesmo a despeito da vontade. Minha vó em frente ao companheiro de mais de meio século deitado na cama, um homem guloso da vida que agora se alimenta por uma sonda que insiste em incomodá-lo no nariz.Essa senhora quase octagenária veste a camisa rosa listrada que acaba de ganhar. Seus olhos, os quais eu gostava de descrever orgulhosa quando criança serem verde piscina, brilham no bom humor desse rosto que teima ser belo. No chão chinelos modernos contrastam com a madeira que cobre a casa que na infância serviu de morada para as nossas brincadeiras de esconde esconde e a gritaria dos primos. Ele, agora deitado em um sono que não imaginamos, esbravejava na época, ele podia e queria assistir a televisão. Ele chama por alguém. Meu irmão? Não entendemos, não há o que entender. O homem forte, progenitor, o patriarca é vencido pela vida, dizem que pelo cigarro. Ficamos a contemplá-lo com uma nostalgia besta, daquelas que nós ingênuos que somos, sentimos ao ignorar (ou esquecer), o triunfo que foi, que é, estar e ter. Ele continua...

Aufwiedersehen.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Terça de manhã - conto

Tenho me surpreendido em como alguns (ou a maioria), dos textos tendem a melhorar com o tempo deles. A gente escreve de uma vez, e deixa o doc. lá no desktop, esquecido mesmo, e depois de um tempo o re-lê e re-descobre com alguns ajustezinhos sempre necessários. Depois de toda essa propaganda ergo as expectativas pra esse conto que escrevi um dia desses...

Eu perdi a noção! Meu desconfiômetro já era! Acordei contrariando as leis da medicina para o bem viver do meu corpo. Comi a pizza da véspera!Sim, esse foi o meu café da manhã. Dois pedaços previamente aquecidos nas microondas com todo aquele catupiry curtido do dia anterior, escorregando em cima do vidro redondo suporte. Sim, coloquei a pizza desse jeito, sem prato, sem pano, sem nada, sozinha dentro do aparelho. E Levei na mão, andando pela casa. Liguei o rádio, tocava algum tipo novo de funk, e eu que pensava que não tinha como eles falarem ainda mais palavrões. Pizza em uma mão, e um copo com coca-cola sem gás na outra. Dancei, agachei até o chão, e quando vi, a janela do vizinho estava aberta junto com a minha. Ri alto, mais alto que o MC com nome no diminuitivo. Olhei o relógio da cozinha, cinco minutos pro horário limite que me impus - há cinco anos esse era o timing para sair de casa para chegar em ponto no trabalho. Lembrei de uma coisa, esse relógio é adiantado!Exatos 10 minutos, enganação subjetiva a que me colocava todo santo dia meu Deus! Esperta me senti por lembrar disso justo hoje, por que noção já não tenho mais, eu ainda tenho 10 minutos pra mim! Joguei a borda da pizza que já não me agrada no lixo, não me custa nada. Lambi meus dedos do resto do catupiry, desliguei o rádio. Pensei em um banho, olhei pra banheira. Uma peça bonita, dava ar sofisticado pro banheiro. A banheira do banheiro que eu só usei uma vez, quando eu e ele chegamos da lua de mel. Que safada que eu fui naquele dia! Não parecia eu, não parecia o que eu acabei sendo, cheia de responsabilidade, cheia de rotina e horário. Dizem que brasileiro é desorganizado, largado, atrasado, quisera eu ter um tiquinho disso que fosse na minha vida. De tanto me organizar, ta ai meu resultado, uma bela banheira branca, nem acumular o pó que lhe é digno, por que deixar sem limpar não deixo. Pois bem, peguei lá embaixo do meu armário as essências que eu ganhei no aniversário de dois anos atrás, sem saber direito, joguei tudo com água quente, e vi logo que era impossível não acertar. Entrei. Senti cada molécula do meu corpo, tenho certeza. Deixei estar ali, quando lembrei de uma foto de revista, de uma mulher com uma taça na banheira. Fiquei louca de vontade de fazer isso, assim, em uma terça de manhã, eram tantas as deliciosas infrações! Corri nua, ensaboada, com espuma pelo apartamento, arranjei uma taça com vinho (a champagne tinha ido na última vez que comemorei como minha mais uma promoção dele, e de que me adianta, agora que ele estava com outra, e eu podia perder a minha noção). Voltei, tomei um gole e me toquei, e me lembrei novamente de mim. Esqueci da noção, mas precisei lembrar dela, o celular tocava, logo a campanhia tocava, e eu precisava sair.

Aufwiedersehen!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Mais um conto que eu escrevi

Esse tinha como tema algum dos 10 mandamentos, ou mais...eis o que me veio, esse sem título:

Ana Marie esquiava no ladrilho há 12 cm do chão. Tinha marido, empregada, um Closet, e um pequeno dog alemão. No rastro do perfume caro andava Cleunice, um sorriso de pessoa. Ana Marie pedia, gritava, Cleunice obedecia. O expediente era-lhes divertido da mesma forma. Ambas observavam as esquisitices do tratar-se, do conviver e do mal dizer. Por vezes Cleonice ouvia as reclamações de Ana Marie daquelazinha do departamento jurídico, daquela outra do RH, e sentia-se parte, como umazinha querida por ouvir, pois se ouve, não se lhe é falado. Toc toc toc, Ana Marie vem em cima dos seus centimetros, e não pelo barulho, muito pelo jeito que vem, é reconhecida. Mulherão! Isso que é exemplo, bem feita, chique, elegante, toda posuda. Cleonice expirava enfim voltando para os seus. Shish shish shish, a rasteira marrom de guerra ia pelo paralelepípedo do bairro. Mamãe chegou! Desodorante vencido, criançada pro banho, ela levanta as pernas. Música ao fundo, um tom acima do audível, buzinas ao longe não chegam a atrapalhar.
Ela segue sempre primeiro ao lavabo, extirpa a sujeita dos outros, da rua. Vinho tinto? Prefiro o branco, tenho dor de cabeça. Massagem senhora? Deixe-me só. Calma!Espere! Ele ligou?Vem?Ok, obrigada, boa noite. Ela toma seu chá de camomila, e lê o romance do último pocket book que comprou na banca. Gostou de aprender mais do inglês, um livro pro bolso, que não cabe no bolso. Ela riu. Bem prática essa idéia, quem teve deve bem estar rico. Rica. Ela usa a máscara azul toda quarta. Era sexta. Uma gota azul cai no boudoir de seda bege. Ela o tira e olha-se no espelho. Ri. Chora.
Novo dia, segunda-feira. Ana Marie passa como quem não vê. Burburinho geral, ela tem em uma das pernas a meia rasgada. Risos, o dia começa bem para o resto. Cleonice não vê graça. Dona Ana, Seu Antônio te ligou, sobre aquele orçamento. A senhora chora? As persianas descem, as duas desiguais estão juntas e longe daquelezinhos. Cleonice, você é feliz? Sou sim. Tem umas horas que eu fico sim, com o coração apertadinho, aquela preocupação que a gente tem, mais quando é mãe. Então, se você não tivesse filhos você não teria nenhum aperto? Dona Ana Marie, eles são minha vida, eu não sei te dizer se ele são o porquê de eu ser feliz ou infeliz, eu acho que cada um tem a sua vida e tenta fazer dar certo, não é? É sim querida. Obrigada. Retorne a ligação pro Antônio, por favor. Sim senhora.
Cleonice sentia-se estranha, como se alguém olhasse a vida dela. Dona Ana Marie continuou a semana como sempre, era quinta e parecia que não havia chorado na segunda. O que será que faz alguém como ela sofrer? Será mais difícil ser feliz quando é rico, será que a felicidade é mais sofisticada? Sorriu de seu pensamento, aqueles livros a faziam pensar coisas que não imaginava. Domingo. Cleonice católica fervorosa preparava-se para a missa. Celular tocando. Quem seria em um domingo? Dona Ana Marie. Cleonice, preciso de você agora no escritório. Sim senhora, daqui uma hora estarei lá. Ela beijou as crianças que comemoraram por não ter que ouvir o sermão do padre naquela semana. Cleonice sentou no escritório, atendeu uma ligação e voltou pra casa.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Devaneios de um dia de sol

Quando adolescente de cidade pequena, pensava o inferno de São Paulo. Cidade de lixo, transformadora cotidiana de almas de boa índole em duros individuais do clichê sem escrúpulos. Fumaça, mais carro, gente, cinza. Nessa vida a gente não deve pensar nada. Tocou o alarme hoje, sou cidadã ainda com índole boa, talvez um tico que seja obsequiosa. Na fumaça, nos carros, no xing ling, encontrei o verde, azul, amarelo, o pink por que não? A música cantada, o paladar peculiar de um mundo. No meio desse mundo, encontrei a mim mesma e a todas as delícias do pertencer. Não há onde não se possa estar. Vejo pela vida do dia o bom agouro que é o transporte coletivo, quando se chama Sacomã, reflexo da lembrança da floresta, dos índios que um dia fomos, e na bonança do homem cidadão, e de mim em minha jornada particular até a porta do meu apartamento, mais pra um sobrado dividido e antigo na Vila Mariana, quase chegando no Cambuci.

Aufwiedersehen!!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Um ano

Pequeno ou grande. Essa é a nossa medida geral desde crianças, quando fica aquela impressão de grandiosidade, aquele olhar pra cima, tudo em volta enorme, casa, adultos, cadeira de balanço, cachorro. Essa é a perspectiva de quem vê pela primeira vez, e aos poucos vai se acostumando. Nós não criamos experiência, são as coisas que diminuem. Lembrei-me do dia em que cheguei a estação principal de trem e metrô de Munique, capital da Bavaria e terceira maior cidade da Alemanha, e aquilo era gigantesco, eu não conseguiria me localizar, e que sensação maravilhosa essa, a do momento em que chegamos em um novo cenário, totalmente desconhecido, assim como as crianças, não sabemos por onde começar. Estou há um ano em São Paulo. Sou desse estado, minha cidade é há 200km daqui, posso dizer que morar aqui não é lá tão ousado e desbravador como eu queria/conseguiria, mas quando cheguei aqui, de verdade para morar, isso sim era enorme, essa cidade que é a sexta maior do mundo! Ônibus, metrô, caos, chuva, mas também cinema e livrarias e parques e museus pra todo lado. Hoje tenho meus cantos espalhados e aleatórios, que são como refúgios nos quais escrevi meu nome. Como uma senhorinha idosa, pego um cheesecake com cobertura de abóbora, um café com leite, já munida de um bom livro ao qual leio boas páginas de graça, sento-me em uma das mesinhas individuais ao lado de uma janela de vidro, assistindo à vida que passa lá fora, na Paulista, de dentro da cafeteria da Livraria Cultura, no Conjunto Nacional. Vejo, observo a tudo pequenininho, do jeito de quem conhece, acostuma-se. Faz bem. Conforta. Mas é um tempo pra curtir, curtir, até que chega a hora de tentar voltar a ver tudo grande, imenso, impossível!

Aufwiedersehen!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pra tentar explicar

Pra explicar o quanto eu amo vocês. Só assim, escrevendo, maneira inquilina de mim que se prontifica a querer mostrar, única faceta aberta, que sangra só por extremos, lugar puro, inabitado mas que canta ao coro de mil vozes, lugar temperado de superego ou seja lá o que Freud uma vez disse. Pra tentar entender o quanto eu amo vocês, só encarando bem fundo na superfície exposta que quase se toca, só alcançando o som inaudível dos pássaros que sem saber direito seu canto, imitam-se uns aos outros, e nunca sabem quem começou a cantar. Só mergulhando no fundo de um olhar de criança, que ainda não aprendeu que amar não é brega, que chorar em público constrange, e que abraçar sem sentido precisa ter sentido.
Para ter alguma noção que seja do amor, do orgulho que eu sinto por vocês, só me desconhecendo para depois conhecer melhor, só me apagando, para depois em uma rua qualquer e virgem me encontrar pura e simplesmente.
Pra explicar o quanto eu amo vocês, só deixando pra lá essa coisa de falar, só sentindo, olhando, retribuindo, agindo. Agir é amor. Palavras o são para organizar a vida, as idéias, que podem ser lindas e ocas. Palavras não provam. Pode-se dizer e desdizer, dizer por dizer, dizer sem querer dizer. Ação é amor, e então, para explicar o quanto eu amo vocês, eu ajo, eu ando, eu corro, eu faço.

Aufwiedersehen!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O cão moralista - Parte 02 Final

Dona docinho deu um sorriso que eu nunca tinha visto, e uma batidinha na minha cabeça. A moça da roupa preta me segurou. Eu já estava olhando pra ele primeiro. Me desculpe, me desculpe, não queria atrapalhar a senhora, a benção. Eu só gostei muito dele, e tô tão solitária. Eu também tinha gostado dele. A dona docinho veio no meio das duas, a primeira mulher parecia estranha, e eu não entendia por que ela me apertava, enquanto a segunda mexia no cabelo da minha cabeça, era gostoso. Aquelas duas mulheres me queriam. Um cheiro forte vinha da segunda, e quando menos percebi, espirrei na cara da mulher vestida de preto. Ela me jogou no chão, mas a segunda mulher me pegou no ar. Ele não fez por mal, coitadinho, deve estar resfriado. Posso ficar com ele?Não!Veja bem, bem, senhora e senhor...a?Dona Docinho estava esquisita. Eu não faço isso normalmente, mas existem casos e casos, e gostamos de pensar o melhor para os nossos peludinhos, o que vocês acham de ficar um dia cada um...a, com o nosso queridinho, de todas nós, para que ele escolha? Eu escolher?A primeira mulher, a do colarzinho de bolinhas em uma das mãos, me puxou da outra senhora da voz grossa, me apertou e devolveu. Pode ficar com ele meu filho. Filha, senhora, por favor, nasci mulher, aqui dentro sou mulher. Tá certo, Deus te abençoe. Amém senhora, muito obrigada! Senti gotas pesadas cairem na minha cabeça. E a segunda mulher me apertava contra seu peito pontudo. Naquele mesmo dia saimos juntos, mas eu logo voltaria para a casa da dona docinho.
A segunda mulher me carregava sempre no colo, não importava o lugar, eu nunca saia correndo, ou andava, na verdade eu gostava daquilo, por que nunca fui muito de liberdade. Eu fiquei dois dias com a segunda mulher. Contei esse tempo, por que eu ficava com ela até tarde na rua, e vi o sol cair lá em cima duas vezes, e ela gostava de me ensinar essas coisas da vida, que o sol era o dia e a lua era a noite. Sabia das coisas essa mulher. Eu gostava da noite com ela, mas o dia, de dia um monte de olho acompanhava o nosso caminho, um olho que me lembrava do olho da primeira mulher. Olho de quem olha, e olha, e não faz cafuné na cabeça. No comecinho do dia depois dos dois dias, sem querer muito todos aqueles olhos, eu sai correndo, devagarzinho do jeito de quem nunca corre e tenta correr. Quando eu corri muito, sem chegar muito longe, ainda olhei pra trás, a mulher que me antes me segurava forte no peito pontudo me olhava, mas estava parada. Senti um enjoo no estômago, mas não estava com fome então não entendi. Continuei andando até chegar à porta da dona docinho, que me olhou esquista, e colocou na minha caixa de antes, mais pro fundo, em um lugar que não dava pra ver a janelona de vidro. Chorei alto, mas continuei lá, até que o sol amarelo se colocou pela última vez.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O cão moralista - Parte 01

Escrevi o seguinte micro-conto para o curso de Criação Literária. Publico agora a primeira parte, depois a segunda.

Eu nasci a pouco tempo, não consigo ter idéia de quando exatamente foi que eu sai junto com a cachoeira de semelhantes meus do buraco enxarcado de sangue que era a minha mãe. Nesse mesmo dia todos os tantos pequenos e molhados filhotes ficaram perto dela, e ai de quem chegasse perto, mãos de criança, mãos pintadas, todas afastadas no reflexo do rugido daquela cadela pequena. Menos eu. Eu fiquei em um canto sem que ela visse, ou quisesse ver. Fiquei lá, do lado de uma boneca grande, com cabelo amarelo e meio esquisita. Uma mão pequena e branca chegou perto de mim, tateou, e quando eu achei que ia ser pego, lá se foi a mulher de plástico. Dormi o meu primeiro dia, e ao acordar sentia meu estômago ranger, quase como minha mãe rangia contra quem quisesse pegar um dos meus companheiros de barriga. Acordei em um lugar claro, luz pra todo canto, e dentro de uma caixa com buracos enfileirados. Eu não sabia que ali eu ainda ia ficar por um ano.
Nesses tantos dias que eu não sei ao certo quanto são, (só soube que um ano tinha ido, por que ouvi um dos homenzinhos que trabalham nesse lugar, comentarem que eu estava lá há um ano, e que isso já contava despesas), pude conhecer bem esses animais com costumes bem peculiares que são as pessoas. Olhei, ouvi bastante coisa, foi até divertido. O dia que mais me lembro foi o dia em que eu fui embora do lugar claro, mas antes de contar tudo dessa história, tem uma coisa importante para saber sobre mim, eu sou feio. Até hoje não sei exatamente o que isso significa, aparentemente não têm muita sorte nesse mundo animal de pessoas quem é feio. Bom, a sorte vem lenta. Nesse dia chovia muito. Chovia tanto que latas vermelhas e folhas grandes voavam direto na janelona que ficava bem à minha frente. Eu amava essa janela, através dela olhei as coisas mais divertidas de se olhar. Fêmeas e machos caminhando, filhotinhos pessoas chupando coisas coloridas que derretiam, uma fêmea que passava em frente a um outro lugar que estava crescendo ainda, e fazia todos os machos descerem para olhar, coisas interessantíssimas. Nesse dia tinham essas duas mulheres, e pela segunda vez em todo esse ano, alguém se interessou por mim. Vi outros como eu, sairem felizes no braço de outras pessoas, eles talvez tivessem idéia de onde iriam, ou apenas sorriam por serem bonitos, por que aparentemente isso é uma coisa boa, apesar de que eu não via diferença nenhuma entre nós, quer dizer, eu latia, eles latiam, eu ia lá pro canto dos jornais e fazia o que tinha que fazer, igualzinho a eles. Essa foi a minha segunda vez querido, depois do filhote pessoa de óculos escuros que tentou me segurar, mas foi puxado por alguém. A primeira mulher tinha uma roupa pesada, toda preta, e um colar de bolinhas com algo pendurado na ponta, enrolado na mão. Ela parou e olhou para mim. Ouvi ela soltar ar e falar algo como: pobre criatura. Não entendi o que ela quis dizer com criatura. A mulher que cuidava da gente chegou, chamava ela na minha cabeça de senhora docinho. Ela trazia comida pra gente e sempre cheirava a alguma coisa doce e visquenta. A senhora docinho veio pra perto da primeira mulher, meio pulando, e fazendo assim com a mão. Foi quando a outra moça de voz grossa e músculo esquisito no pescoço chegou. Ela falava alto, por isso dei um pulinho. Olha que bonitinho que ele é, ai moça, quanto que custa?De tão feinho que é, fica bonitinho, você não acha? Quando disse isso de mim, não entendi direito também, cada um falava uma coisa de mim que eu preferia não saber, por que eu não conhecia aquela gente.

To be continued.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Simonal

Acabei de ler “Nem vem que não tem: A vida e o veneno de Wilson Simonal”, de uma prosa deliciosa escrita por uma autoridade na questão musical riquíssima do Brasil, o diretor de redação da revista Época Ricardo Alexandre. Na nossa geração o nome Wilson Simonal soa invariavelmente como um eco de um nome conhecido da atualidade, mas nem tanto assim, Simoninha. Wilson Simoninha, cantor e irmão de Max de Castro um cantor inventivo da nossa MPB Cult atual que se mistura e reinventa com Seu Jorge, Maria Rita, Luciana Melo, dentre outros. Curioso ver os frutos atuais dos cantores do passado, Maria Rita e Pedro Camargo Mariano filhos de Elis, Luciana Melo e Jair de Oliveira filhos de Jair Rodrigues, dentre outros, e o mais curioso ainda, como tudo que envolve o show business é entender que por mágico ou glamouroso que seja, o mercado musical e artístico nada se difere desse mercado no qual trabalhamos, sem os holofotes, todos os dias. Wilson Simonal foi o pai de Simoninha, Max e Patricia, crioulo de família humilde e mãe solteira (o pai foi viver sua vida), como a maioria dos crioulos do começo da década de 40, foi o maior cantor que o Brasil já teve. Não digo isso pelo meu gosto particular, mas pelos diversos depoimentos desse livro, fora o documentário lançado há pouco tempo por um caceta Claudio Manoel e os irmãos Conspiração Filmes “Ninguém sabe o duro que dei". Surpreendi-me ainda mais ao conhecer sua participação na criação do que se conhece hoje por samba rock, um estilo pós nhem nhem nhem da bossa nova (eu amo bossa nova!), resultado de um pedido calórico de “veneno” no ritmo acústico dos samba canções. Simonal, o Simona era parceiro de Jorge Bem Jor, que todos conhecemos, por que contina vivo e não teve o azar de cair no ostracismo como seu amigo, cuja história eu li perplexa, sobre uma idéia que surgiu de suposições e algumas rixas, em relação a um cara abertamente folgado (conhecido como rei da pilantragem na época). A "idéia" que destruiu sua carreira e como sequela sua vida, era uma suposta relação que ele tinha com os órgãos opressores da Ditadura, tido como delator de artistas. Esqueci que lia a algo que realmente aconteceu e pensei que lia a mais um conto fictício que pretende imaginar o que os piores sentimentos da humanidade são capazes de cometer como mazelas. Fico triste, decepcionada, enfurecida por que isso acontece todos os dias. Não da forma como aconteceu com Simonal, começando com uma “piadinha” de “O Pasquim”, jornal esquerdista da época da Ditadura, acusando-o de dedo-duro e fazendo uma charge dele suicidando-se em público e ai sim finalmente conseguindo aplauso novamente, mas com o escracho, com que o responsável pelo jornal, mais tarde comentando a repercussão da charge, disse que “Eles haviam destruído a carreria de Simonal”, de forma irônica, como se eles não fossem capazes de sozinhos, acabarem com a carreira de um artista desse porte. Não vou entrar na questão da Imprensa e de seu enorme poder, mas sim levantar a questão para nós reles mortais no nosso dia a dia pouco noticiado, quando passamos informações não comprovadas, fofocamos besteiras para impressionar, temos inveja e complexo de inferioridade do outro, esses sentimentozinhos que permeiam a nossa vida, todas as horas, e evitamos aceitar que existem, tudo começa ai, nessa sensação transitória de grupo, de ideologia, como eu já disse antes. Vocês do departamento financeiro, vocês da produção, vocês da assistência técnica, vocês sócios da empresa, as subdivisões com suas questõezinhas vão enfraquecendo não somente nosso julgamento racional, como também nossa capacidade de empatia humana, por que não. Sinto-me triste, por que um Simonal poderia facilmente hoje, ser novamente julgado e colocado no ostracismo por uma fofoca, campos de concentração poderiam ainda ser criados, tudo começando a partir da cabeça de alguns, e de uma idéia mal concebida ou muito bem concebida, que encontra em nós eco, todos juntos e sem personalidade, e acaba por seguir em frente.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Epitáfio

Os Titãs, depois de toda loucura dos anos 80, chegaram a um ponto do que eu chamaria sabedoria musical. Não apenas pensando na melodia, nos ritmos e afins, mas pensando na poesia de suas letras. Há a música “Epitáfio”, “Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol se pôr....”, que todos nós conhecemos bem. Sempre pensei que essa música devia ser ouvida, uma vez por mês pelo menos, pq no final das contas, o epitáfio, principalmente nesse caso, é a conclusão invariavelmente tardia (deixando Chico Xavier de lado nesse caso), a respeito de tudo que precisávamos ter feito. Nem entro muito na questão do arrependimento, como é dito na sabedoria popular, (ou na sabedoria das amigas bêbadas de balada), melhor se arrepender do que fez, do que não fez, então penso assim, o que a gente ainda precisa fazer? Tive uma leve apoteose no ônibus, ouvindo o querido crooner mafioso Frank Sinatra, com seu adorável “My way”. Como sempre acontece com música, ainda mais para certas pessoas sensíveis como moi,o “I did it my wayyyyy” de Sinatra despertou algo em mim. Pensando nesse “eu fiz do meu jeito”, na má tradução, como sempre são todas as traduções de músicas, por que são fiéis apenas à sua língua mãe que canta, senti uma força imensa para seguir o meu próprio caminho (tum dum tis!). Vivemos em sociedade, fato consumado. Temos uma família, um grupo bom de amigos, ou apenas um ou dois bons gatos pingados. Temos um trabalho, religião, internet, e tudo o mais que conhecemos bem, até demais. As vezes me choco pensando no que realmente fiz do meu jeito, por uma vontade intrínseca pura e nascida comigo, sem nenhuma interferência externa. Não quero ser xiita, mas quantos de nós em nosso epitáfio poderemos cantar, não como velhos (esperamos) turrões , mas sim como pessoas de grande personalidade e presença de espírito “I did it my wayyyyy!”?

Aufwiedersehen!

PS: My Way
And now the end is near
And so I face the final curtain
My friend, I'll say it clear
I'll state my case of which I'm certain

I've lived a life that's full
I traveled each and every highway
And more, much more than this
I did it my way

Regrets, I've had a few
But then again, too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exemption

I've planned each charted course
Each careful step along the byway
And more, much more than this
I did it my way

Yes there were times, I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all when there was doubt
I ate it up and spit it out

I faced it all and I stood tall
And did it my way

I've loved, I've laughed and cried
I've had my fill, my share of losing
And now as tears subside
I find it all so amusing

To think I did all that
And may I say, not in a shy way
Oh no, oh no, not me
I did it my way

For what is a man, what has he got?
If not himself, than he has naugth
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels

The record shows, I took the blows
And did it my way

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Figuras...

Ontém começamos um novo tema dentro do curso de criação literária, a poesia. Nunca fui muito afeita a ler poemas, ou escrevê-los, mas ouvindo à introdução do professor a respeito dessa arte, não pude deixar de pensar no efeito que esses princípios podem ter na minha vida real. Lembrei-me de minhas aulas de literatura, de quando aprendíamos sobre comparação e metáfora, as figuras de linguagem, hipérbole, o eufemismo, tudo muito presente. Pensei na diferenciação de comparação e metáfora, a professora costumava dizer: "em comparação você usa o 'como', 'Essa mulher é bela como uma flor', a metáfora deixa isso implícito, sem o 'como'". Lula usa muito, e conquistou multidões por causa do alcance do seu carisma (não se pode negar), mas também por esse discurso ilustrativo que é a metáfora (sou contra o Lula, para deixar claro). Todo esse poder de tornar palpável o que se quer falar, sem conscientemente querer falar, essa luta entre o objetivo e o abstrato. Pensei que quem conseguisse dominar os poderes da metáfora, bem podia dominar o mundo. Pensei mais um pouco em uma piscina semi olímpica de 25 metros, que ao nadar mais rápido acabo não sentindo tanto cansaço e dor imediatos, que ao limpar meus óculos consigo enxergar melhor, mas eles logo ficam embaçados novamente...que mesmo cansada, eu preciso seguir nadando até completar o que a professora pediu que eu fizesse e que isso no final valeria a pena. Tudo isso eu pensei nadando...

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Balzac, chiclete, massa e roupa

Comecei meu curso de Criação literária, e tem sido um desafio "estimulante" toda segunda e quarta conseguir chegar com menos de uma hora de atraso. Minha pálpebra tem pulado muito, com espasmos contínuos que vêm e voltam, acredito que por esse stress da metrópole, de estudar, trabalhar, e fazer esportes...vou aos poucos até dominar todas essas atividades. O primeiro exercício do curso se consistia em um desprendimento do escrever, um exercício bem interessante de concentração. Partia com uma música, duas músicas, às quais deveríamos escrever a letra, e aos poucos irmos nos desprendendo delas, para assim escrever o que viesse à nossa cabeça. O escrever pra mim, muito menos que um tipo de arte ao qual almejo, sempre foi uma necessidade latente. É o modo que eu encontrei para me expressar mais profundamente. Nesse jeito meio Brainstorming de escrever, acabo chegando a certos recônditos aos quais não teria acesso se não fosse pela escrita..uma aventura diferente, e que por vezes me dá um certo medo. Eis o que saiu dessa primeira excursão mais séria:

Como será que Balzac escrevia...
Ele tomava muito café,
minha cabeça dói, é fome.
Vou jogar fora meu chiclete.

Chiclete que faz mal pra digestão.
Chiclete ao invés de escovar.
Chiclete pra beijar o menino,
chiclete que ele tirou no beijo,
a primeira coisa a tirar.
Chiclete dado pro amigo,
de hortelã, chocolate, ou de ontém.
Apenas chiclete, quem sabe convite.

A massa é uniforme.
O cara ficou burro, a mulher pior ainda.
Ninguém se diferencia, e se um esbraveja,
já se foi, tudo sequência, vira holocausto.
Se sai da massa vira monge.
Monge não come nada, e aí...
não vale a Pena, a Vida.

A roupa que te veste
não é a roupa que você compra.
Você veste a roupa que te colocam
até o momento em que você ama,
ai você rouba a roupa do corpo do outro
e depois nem lembra como é ficar pelado.

Eu quero jogar fora meu chiclete,
tirar a roupa do dia todo,
a roupa que me colocaram.
Quero comer quiném gente
dentro da minha casa estragada de antes,
minha comida feita pra mim.
Um amor sempre cai bem,
mas hoje fico feliz só,
minhas idéias só mais um chá de abacaxi,
como eu amo abacaxi!
Já que eu não amo mais ninguém...
Por que amar, de verdade mesmo,
só se ama a si mesmo,
e se não assume que ama,
ai finge amar a toda gente e ao mundo,
e tropeça, e ama errado, por que não assume.
Não assume que é humano.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Passou e eu nem vi...

Hoje faz um ano que eu voltei da Alemanha, da minha grande aventura pelo mundo (Europa no caso), meu mergulho mais profundo dentro de mim mesma, o grande teste de sobrevivência (com casa, comida e roupa lavada, mas mesmo assim um teste vai...), e enfim, a viagem que marca um ponto na grande (espero..), jornada que será minha vida. Tal qual a Revolução Francesa para a linha histórica mundial, eu tive a minha pequena revolução alemã, mas especificamente minha revolução bávara (estado que me acolheu, lá no sul, do lado da Austria, durante quase um ano...três meses estive um pouquinho mais pro sudeste, em Baden-Würtemberg). Nesse um ano depois do meu retorno, consegui realizar o sonho que eu nutri lá no velho continente...ironicamente, voltar para o Brasil. Lógico, queria voltar falando alguma coisa de alemão e com boas histórias pra contar. Conheci bem a Alemanha de sul a norte (nessa ordem), um pouco da subestimada Austria, mais um bom bocado do norte da Italia até a hors concours cidade de Roma. Teve também a Holanda e a personificação da Netherland na capital Amsterdã, a fria (no final de Dezembro), Praga, Dublin e os milhares brasileiros que ali vivem, os clássicos Londres e a fog permanente, Paris a cidade que deve ser vista a noite, e pra fechar a tão familiar para nós povos do Sol, Espanha. Nada mal...Passou esse ano, aqui no Brasil, em uma nova aventura na maior cidade do país (o que no final me pareceu um tiquinho mais simples), eu sonhei muito com a Alemanha, com a vidinha pacata que eu levava, com aquela neve insuportável, com o constante maravilhamento, natural em uma viagem como a que eu fiz, torci pelos chucrutis na Copa do Mundo, depois do Brasil claro, suspirei pelos alemães (não se pode negar), e enfim, vivi aqui no Brasil, pensei comigo mesma, agora chega. Foi um ano inesquecível, mas chega a hora de pensar na próxima aventura.
Engraçado que mais do que conhecer todos esses paises, eu tive o tempo pra conhecer um pouco mais de mim mesma. Demora-se para aprender a conviver em paz de maneira solitária, estar sozinha, respirar, comer, sem aquela ansiedade da espera, apenas ser, ir, continuar, dependendo somente de você. Posso até dizer que como todo hábito, estar só vicia, ai vale ter cuidado com o individualismo burro.
E em uma dessas coincidências da vida, talvez nem tanto, inicio hoje uma nova etapa, tentar levar a sério essa coisa de escrever. Vou me aprofundar nas letras, viajar na poeira dos livros, tentar encaixar esse meu estilão meio despojado de ser a algum tipo de leitura que agregue e entretenha, tudo que eu procuro fazer nessa vida...essa coisa que eu entendi melhor lá naquele ano, quando podemos ser autênticos, mas na tentativa de conquistar alguma forma, método, bem àquela forma germânica. Disciplina não é cool, definitivamente, mas é o que eu preciso.

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Inferno astral?

Eu não acredito em Astrologia. Pode ser ignorância da minha parte, posso estar por fora do esquema de comprovar certa atitude com um "sabe como é, eu sou canceriana, e tal....", sei lá, respeito (do meu jeito), meio que a contragosto, por ser algo tão arraigado no nosso dia a dia, no nosso bate papo, no nosso molde de personalidade (supostamente). Daqui a quatro dias faço aniversário. Será uma dessas idades clássicas, bem marcadinhas, 25 anos, o tal um quarto de século. Penso nos meus 15 anos, lá atrás, foi uma festa surpresa, e eu não gosto de surpresas, mas dessa eu gostei. Fico pensando em mim, e se eu realmente mudei, ou continuo sendo aquela caipiria do interior, invariavelmente tímida, e por incrível que pareça, e apesar de ninguém acreditar, de cima dos 1.79m (nada mais por favor!), não gostar muito de ter a atenção para mim. Me dizem o contrário, e exatamente graças ao zodíaco, sempre me dizem, "aiii leãozinho"...é o signo egocêntrico, mandão, dominador, e tal...e eu não tenho escolha mesmo, mesmo sem acreditar, eu sou. Estranho isso...meio chato até. Meu dia de aniversário não vai mudar, o zodíaco, os astros e estrelas e tangentes e ascendentes e descendentes não vão mudar. O que eu queria mesmo discutir era o lance do inferno astral, esse termo que eu fiquei conhecendo realmente hoje, antes eu achava que se tratava de um período invariável quando tudo costuma dar errado, época depressiva e tal..mas soube que se trata normalmente dos 30 dias que antecedem o nosso aniversário. Eu ando realmente reclamando de tudo...ando desanimada sim...por mim nem comemoraria nada, mas os amigos insistem e eu sei que no final sempre vale a pena...mas pensando nos meus trinta dias anteriores (26 pra ser mais exata, ainda tenho quatro...), pelo menos pra mim, no meu mundinho, eu, eu, eu, leãozinho...tive momentos ótimos, e depois de analisar, considerei (jamais concluo), que a única coisa que eu sinto é tédio, cansaço, e frustração por que às vezes não tenho tempo de fazer nada, e eu sempre preciso fazer nada. Então é isso, meu inferno astral é não ter tempo de fazer nada. Simplificando assim, fica tranquilo...
Just for the record, no ano passado, trinta dias antes do meu aniversário, se é que existe o termo, eu estava no meu "paraíso astral"...sorte, viagens, e outras coisitas mais...

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O pulso ainda pulsa...

Só que sem muita inspiração...

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Balzac e o espírito humano

Desde muito nova apaixonada pelos livros, mal conseguia esperar o momento de aprender a ler, antes mesmo de começar já sonhava com os lugares para os quais um bom livro poderia me transportar, sempre as melhores viagens, sem dúvida (mais baratas também). Dentro dessa paixão, pretendi conhecer os já consagrados escritores do nosso tempo, passeei por Agatha Christi, ainda muito nova...tentei Miguel de Cervantes, mas sem muito sucesso, Goethe, Machado de Assis, Dostoiévski....mas se tem um lugar especial no meu coração para um escritor, esse lugar é do Honoré de Balzac.
Acabo de terminar um livro que conta a história do que conhecemos hj através dele como a idade que inicia a era mais iluminada da mulher: "A mulher de trinta anos". A linguagem dele vem muito do romantismo, com a descrição característica dos ambientes, situações, mas principalmente e o que fascina mesmo em Balzac, é que ele é mestre na descrição da mulher tanto física como psicológica, impressionante testemunhar o entendimento profundo que um homem um dia teve da alma feminina, se é que ainda há alguém. Um ser apaixonado pelo nosso sexo, que conseguiu nos enxergar sem julgamento de valor moral, mas apenas da forma realista e consequentemente peculiar e complexa que fomos, somos e sempre seremos formadas. E pensar que isso foi lá na início do séc XVIII...O amor, a amizade, a frustração, a maternidade encontram todas as suas nuances muitas vezes feias através dele, nosso egoísmo é palpável, mas alcança um certo valor mais próximo do comodismo, de algo que esteve lá e sempre estará, com Balzac nada é o que aparece, mas isso também não precisa ser um grande drama.
Vou guardar essa passagem quando for pensar em lamuriar-me de meus problemas, do padre que vai tentar colocar um pouco de perspectiva no ponto de vista da marqueza de D'Aiglemont: "Pensou um pouco na infinidade dos sofrimentos humanos? Ergueu os olhos para o céu? Viu nele essa imensidão de mundos que, diminuindo a nossa importância, esmagando nossas vaidades torna menores nossas dores?"

Olhamos esse gordinho, com essa mãozinha no peito, essa imagem meio que cômica de homem (quando cômica mesmo são a sociedade e todos nós seres humanos), e mal entendemos o caráter genial de Honoré de Balzac.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O tempo...

Chego a um divisor de águas agora nesse meio de ano...daqui algumas semanas, comemorarei um ano que eu voltei da Alemanha, e aí chega de ficar sentindo nostalgia da vida no primeiro mundo, por que já passou mais de um ano. Tem também meu 25o aniversário, ou um quarto de século, ou como queiramos chamar.
Essa consciência de tempo vem oscilando muito pra mim, 25 anos é uma ótima idade, acredito que estou no trilho certo de alguma forma, não exatamente onde eu queria estar, imaginava-me talvez um pouquinho mais à frente, mas eu sempre fui meio atrasada, e não considero isso uma coisa ruim, por que eu aproveito cada fase de uma forma tão intensa, que eu quase não olho pra trás com melancolia, por que já foi. Esse "atraso" começou quando minha mãe decidiu que não me adiantaria na escola, (eu poderia por ser do mês de agosto). Por isso, sempre fui mais velha entre meus colegas, e não sei se por meu Q.I. (se é q essa sigla diz alguma coisa), ou exatamente por esse tempo maior de amadurecimento, nunca tive muita dificuldade na escola, nunca fiquei de recuperação e nunca colava (achava uma idiotice não assumir que você não sabe alguma coisa). Eu vou assim, no meu tempo, e não costumava me preocupar muito...até uns três ou quatro anos atrás...E nesse vai e vem, nesse questionamento de tempo de vida, eu fico pensando... Eu sou muito nova, pra entregar as pontas (acho q esse fator permanece até os 90 anos, depois pode entregar...), muito nova pra me lamuriar dos meus problemas...muito nova pra me irritar com coisas pequenas, muito nova pra usar Natura Chronos, pq ainda me dá espinhas...Em compensação, já estou velha sim, pra aceitar joguinhos com o sexo masculino, pra aceitar "aquilo que eu quero ouvir", mesmo não sendo a verdade, estou velha pra ir em balada que toca um som que eu não curto, estou velha pra fazer fofoquinha, pra ficar magoadinha, e também estou velha pra algumas roupas coloridas e de malha.
No meio de tudo isso posso me contentar com algumas doçuras atemporais...eu sempre poderei chorar com uma comédia romântica tonta ou um filme de animação, eu sempre vou poder reler e assistir aos filmes do Harry Potter, eu sempre vou poder beber com meus amigos e falar um monte de besteira, eu sempre vou poder soltar em alto e bom som alguns palavrões queridos, e vou poder deitar no colo da minha mãe e assistir TV enquanto ela faz cafuné, ou poder conversar sobre a vida, o mundo, política e fofocas de celebridades com o meu pai. Eu sempre vou poder brigar com a minha irmã por causa de roupa, ou argumentar contra uma certa simpatia que meu irmão nutre pelo comunismo e que ele não assume...eu sempre vou poder sentar com as minhas amigas pra relembrar o nosso passado, e todas as besteiras q a gente já fez, e rir alto de novo, e do mesmo jeito de sempre com a história repetida....ahhh.. e desse jeito o tempo nem parece tão assustador.

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Continuando...

Relações Públicas, a profissão para a qual eu preparava um projeto de conclusão, ainda era algo obscuro para mim. Na verdade eu simplesmente não me interessava muito por ela. Acho que como todos, no decorrer da faculdade, meio que instintivamente eu foquei minha atenção naquilo que realmente me interessava, e isso era (e ainda é), a parte teórica. Eu amo a teoria, o conhecimento pautado pela observação, estudo, pesquisa. Posso estar errada, e posso estar desfavorecida no mundo atual que pede a prática, a mão na massa, mas eu continuo tentando...Em meio a tanta teoria, logo no começo da faculdade uma historiazinha de Filosofia me marcou, era o conto do filósofo Pirro de Éllis. Esse cara que viveu lá no séc IV. a.C acabou sendo uma grande inspiração pra mim, aqui no começo do séc XXI, quem diria! Tratei do caso do Ceticismo Pirrônico. Uma teoria anti-dogmática, ou seja, uma teoria que acredita que ainda não chegamos à essência de uma verdade, que não possa ser contestada com a mesma coerência de argumentos. Uma teoria que leva em consideração os diversos fatores que podem determinar o juízo sobre algo, a partir de diversas fontes, e por isso mesmo a fragilidade de se afirmar algo como absoluto. Resumindo, a verdade existe, mas ainda não conseguimos alcançá-la, e possivelmente nunca a encontraremos, e em meio a todo esse imbróglio, o "pirrônico", no caso, escolhe pela não perturbação, o chamado "suspender o juízo".
Vou parar um pouco na explicação e considerar o que vocês devem estar pensando. O que tudo isso tem a ver com RP? A princípio nada, mas estudando muito, e acreditando cada vez mais em Pirro, consegui alcançar um paralelo, uma brecha que poderia ligar o ceticismo pirrônico à atividade de relações públicas, e como ao achar o resultado de uma equação lógica (foi exatamente essa a sensação), consegui fechar meu raciocínio através da premissa: a convivência em sociedade, mesmo que não haja uma verdade absoluta, é pautada por uma série de regras e costumes, que através dos tempos, foram convencionados como o melhor a ser feito. Simples assim.
Lembrando de Pirro, do ceticisimo, penso que a linha que sigo para escrever e viver se pauta, até hoje, muito nessa "sigla" que curzou o meu caminho em 2007.
Por que sofremos tanto?Por que somos tão ansiosos, se na verdade quase nunca entraremos em um consenso (tirando as deliciosas discussões na mesa de bar)?E quanto entramos, vamos curtir, e vamos sim, muitas vezes deixar pra lá, aquela briga, aquela discussão de relação, aquela fofoca, vamos suspender nosso juízo e viver de acordo, viver bem com as outras pessoas, por que no final, a vida é isso mesmo.

Aufwiedersehen!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Siglas...

Eu odeio poucas coisas nessa vida. Minha mãe sempre me alertou quanto à força desse verbozinho odiar: “ódio é uma palavra muito forte filha”, mas eu odeio siglas! O meu problema com elas na verdade, tem fundamento, acho-as simplistas, ambíguas e excludentes (cada classe conhece a sua, fortalecendo as tão fadadas divisórias...). São três características das piores que existem. Considero o argumento da facilidade de se usar apenas as primeiras letras de um conceito, mas não acho que isso ajude tanto assim. Enfim, o que quero dizer, é que dentro dessa regra, há uma exceção, e existe sim uma sigla que eu gosto e sobre a qual quero falar: TCC = Trabalho de Conclusão de Curso, mais conhecida como a tão temida monografia necessária para graduação na maioria dos cursos superiores. Esse trabalho, a minha "tese" determinou um momento chave da minha vida, em relação à formação de minha personalidade e idéias. Entrei nova, e o mais inexperiente que se possa imaginar na faculdade, despreparada mesmo. Penso até hoje no que deixei de fazer para a minha formação pessoal, aquela lacunazinha que não precisava estar ali no meu currículo. Durante três anos e meio, eu conversei muito com as mais diferentes pessoas, passei da fase do eu sou uma universitária foda, até eu sou um lixo do governo. Fui em muitas aulas, lembro-me de 10% delas (a faculdade tende a ser abrangente demais!), mas a partir do começo daquele segundo semestre fatídico de 2007, algumas mudanças foram se concretizando em minha vida, nada macro, ou algo que se pudesse notar, mas aqui dentro de mim, eu começava a fazer algum sentido. No final, desse vendaval de acontecimentos que é a Universidade, se eu eu tive um desfecho de honra, e se eu posso citar alguma coisa que eu fiz com muito orgulho, eu devo isso a uma sigla, o TCC.
Continua...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dogma


Pela wikipidia Dogma é resumido em: uma crença estabelecida ou doutrina de uma religião, ideologia ou qualquer tipo de organização, considerado um ponto fundamental e indiscutível de uma crença. O termo deriva do grego δόγμα, que significa "o que parece uma opinião ou crença"[1] ou senão da palavra δοκέω (dokeo) que significa "a pensar, supor, imaginar".

Uma descrição bem ampla desse termo (mais pra um fator), tão presente no nosso dia a dia. Não aquele dogma que estamos acostumados a ver e ler todos os dias nos noticiários, aquele dos fundamentalistas, sejam eles do talibã, ou os militares americanos, ou o Hugo Chaves, ou os forasteiros judeus/palestinos, penso naquela razão dogmática presente em todos nós. O dogma para mim, deixando de lado por um momento os fatores religiosos, macro ideológicos e esportivos, é a nossa parte na divisão dos bens humanos, no caso do capitalismo, a nossa classe. Pertencemos a diversos times, e estamos, consequentemente por causa disso, cercados por seres afins. Nós mulheres formamos um time, que joga contra os homens. Nós operários formamos o time contra os patrões. Acadêmicos contra empresários, e assim vai. Não é uma guerra física, e muito menos uma guerra fria, ela está tão implícita e introjetada em nossas vidas, que nem mais parece uma guerra de ideais, mas o é. Entendemos os lados, a oposição, mas o que eu quero olhar especificamente nesse texto, é para a influência dessa nossa relação com o meio, na maneira como vemos e entendemos o nosso habitat.
Isso cai um pouco na questão do post anterior, sobre vida em sociedade. É complicado nos habituarmos com o nosso "quadrado" de tal forma, que nos colocamos como vítimas, não somente os subalternos, a classe inferior economicamente, mas tbm os proprietários, os patrões, e isso é uma tremenda perda de tempo, para todos os lados. Em um dado momento, pelo hábito, ficamos cegos, constantemente olhando para o nosso umbigo e para as ações contra o nosso crescimento.
Não existe o ideal no mundo em que vivemos. Não se trata de nos conformarmos com a nossa situação, e é também pedir demais ficar se colocando toda a hora na situação do outro, pq afinal de contas, a gente não tem a mínima noção do que não vivenciamos!O que conhecemos é a nossa realidade, a nossa vida, o nosso meio e ponto.
A questão é: a vida é nossa, as escolhas são nossas, e graças a Deus ainda temos o livre arbítrio, então vamos encarar essa nossa realidade sem heróis e vilões, apenas como a uma vida inevitavelmente cercada de outros seres humanos, e invariavelmente por causa e graças ao capitalismo, dividida por classes. Todos erram, todos estão pensando neles mesmos, e ninguém tem a mínina noção do que realmente se passa no limite das fadadas divisórias. Ficamos ou saimos fora, essa é a nossa decisão, pq no mais, lutar contra o abstrato, contra a cultura em que vivemos é um esforço inútil.

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Nem esquerda, nem direita. Centro.

Se tem uma coisa que eu curto nessa vida, são os chamados paradoxos. Duas versões de uma mesma realidade contrapostas, interagindo dinamicamente, em uma loucura de prós e contras, e contras e prós. Ultimamente tenho me revoltado, e o blog é testemunha, com essa nossa gentileza forçada, com essa relação superficial do "me fala o que eu quero ouvir", o que só nos faz perder em relação à nossa tentativa de evoluir, elogios nem sempre fazem bem. Mãs...ontém voltei a pensar em um assunto que até fez parte da minha tese de conclusão de curso, o "como" viver em sociedade. Ontém assisti finalmente ao Alice do Tim Burton, e logo na primeira cena conhecemos a subversiva protagonista, em sua versão mais velha, com 19 anos, que conversa com sua mãe quanto à ambiguidade do termo adequado/apropriado, (proper), "Se colocar um objeto (não lembro o que era), na cabeça fosse apropriado, você colocaria?"
Em um primeiro momento pensamos, que personalidade tem essa garota!E é verdade, é extremamente saudável se perguntar sobre a validade ou mesmo inteligência das nossas convenções, mas outros fatores devem ser colocados em perspectiva, nós escolhemos viver em sociedade. Tudo tem um equilíbrio, uma grande questão de respeito, algo como o seu interior é seu, seus pensamentos, suas crenças, mas no exterior você precisa dividir o seu espaço. Ontém me peguei cometendo uma gafe. Estava em uma loja, e entrei no provador com cinco peças, voltei com quatro. Não, eu não roubei a loja, mas na saída, a atendente contou as peças, e achou estranho e perguntou ao colega o que fazer nesse caso, eu respondi espontânea e sem nenhuma maldade "Você quer olhar minha bolsa?", de que fui respondida protamente com um "Não, magina!Lógico que não." Em minha "sinceridade honesta", na verdade, eu fui muito desagradável. E é nessa flexibilidade de comportamento e não de caráter, que precisamos tentar viver bem e melhor, até um dia talvez, lá no final, encontrarmos a perfeição.

Aufwiedersehen!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Perto demais...

A arte é algo genial, poucos discordam disso, mesmo por que há vários tipos por ai, vários veículos, se é que assim podemos chamá-los.
Um homem, um artista dos melhores contemporâneos, escreve uma peça teatral. Essa peça faz um sucesso enorme na Inglaterra, ele a adapta para um roteiro cinematográfico. Trabalho praticamente pronto, o bobo diria. Closer, perto demais. Um filme de 2004 que deveria ser visto o máximo de vezes possível, para nós seres humanos, idependente de gênero, nos lembrarmos que podemos pedir sim, muito mais. Para alguns também, assistirem à ilustração de sua covardia e falta de caráter, sua flexibilidade doce sair como um tiro pela culatra ou, pelo contrário, envaidecerem-se de saber exatamente o que querem e não precisarem mentir. Woody Allen muitas vezes relatou em seus filmes, que a pessoa infiel, corrupta, nem sempre é pega ou paga pelos seus erros, o que é um fato. Closer nesse caso, não aponta culpados, maus, bons, inocentes, vítimas, Closer, na figura de dois “coadjuvantes”, escancara algumas “verdades” na nossa cara. Verdades, muitas das quais não queremos saber, por que, como diz a coadjuvante Alice, “Everbody loves a big fat lie” (todos amam uma grande mentira, ou algo do tipo), por que isso nos faz continuar, isso faz a sociedade seguir em sua órbita, em seu suposto equilíbrio. Temos dois estereótipos masculinos, o doce e educado Dan e o “brucutu” grosseiro, Larry. Caricaturas são boas porque palpáveis, mesmo quando não estão em voga, quando pessoas de múltiplas nuances interessam mais, nesse filme vê-se extravasado, os homens que me perdoem, uma tendência a que venho assistindo, uma covardia latente masculina. Porque trair é um ato de covardia, é o ato de mentir em potencial, é falta de força, é falta de convicção, por que a nossa sociedade feliz, ou infelizmente é monogâmica, um fator social que já está tão impregnado no nosso imaginário, que sempre faz magoar quando desrespeitado. Alice representa muitas das mulheres que vejo todo dia, mulheres divertidas, lindas, inteligentes, que se apaixonam, e vivem essa paixão por esses homens covardes, e também estão erradas, por que aceitam essa fachada perfeita, quando o amor não está lá. Como a própria Alice diz, "eu ouço o seu amor, algumas palavras, mas eu não o vejo, eu não o sinto". E é isso, não há culpados, mais uma vez nos habituamos com a covardia, com manter as aparências, cada vez mais, para continuarmos em uma big fat lie, por que a mentira invariavelmente nos deixa felizes. Nesse filme a redenção é dada ao sincero, corajoso e decidido Larry (e seus meios não ortodoxos, um plus de diversão para os telespectadores), e às muitas Alices soltas por ai que continuam vivendo a verdade, por mais difícil que seja.

Aufwiedersehen!

PS:Ver maiores detalhes sobre o filme "Closer" em http://cinemaporvaneide.blogspot.com

terça-feira, 1 de junho de 2010

É o que tem pra hoje!

Idéia desmerecida da gente, sol escondido na nuvem, homem que não quer ser decente, amiga fazendo um monte de picuinha, pai e mãe na cola, uma pedra no meu sapato no meio da correria, um moço com o som alto no busão tocando Raça Negra, pessoa erra e não assume, cerveja quente no churrasco, fui na festa não chamei minha amiga, minha amiga nunca sai de casa, chove chuva na calçada, friozinho bom pra dormir, mas chato pra acordar, contas, contas e mais contas, meu celular não recebe chamada, meu celular acabou a bateria, minha amiga só fala dela, celular não recebe mensagem, só minha mãe liga no meu celular, eu não tenho amigas, meu amigo me xavecou, eu não tenho amigos homens, bebo bastante àgua pra celulite, eu faço muito xixi, almocei fora outro dia, a comida não tava gostosa, o metrô tá lotado as 10 da matina, o faustão já não é mais gordão, perdi meu brinco preferido, aquele e-mail ficou sem resposta, meu trabalho tá muito parado, meu trabalho me deixa até tarde, corri a pé pra alcançar o menino, confundi era outro depois, tomei café que já tinha açúcar, porra moço, eu não gosto de açúcar!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O sexo frágil

Quem são os nossos meninos de hj em dia? Posso dizer alguma coisa das meninas, como menina contemporânea, mas há algum tempo, dentro desse fascínio pessoal que é o sexo masculino, tenho me surpreendido com algumas novas demandas. O senso comum reza que as mulheres precisam constantemente de um comentário positivo sobre a sua aparência ou personalidade ou talento para bem cuidar da tão volúvel, presente, perene, insuportável auto estima. Já os homens, seres auto-suficientes que são, conseguem passar batido sobre essa questão de auto-afirmação, muito pela sua racionalidade inata, muito pelo seu desligamento do mundo, ou ambos. Acontece que nos últimos tempos, daqui de cima, do nosso clubinho feminino isolado, e extremamente complexo, onde trocamos figurinhas sobre quanto a vida deles é fácil, e sobre o quanto eles nos fazem sofrer, tenho notado algumas mudanças. Começou com um pedido básico de atenção. Estão bonitos? Pq certa garota ainda não ligou? Pq ela não respondeu aquele e-mail? São vários avisozinhos de que alguma coisa anda diferente (ou sempre esteve?). Os nossos queridos brucutus "desprovidos" de sentimentos, afinal têm coração. Gosto muito de pensar, imaginar, tentar entender, como todas as mulheres, esse mundo obscuro dos machos. Algumas coisas com certeza não mudam, os comentários sentimentais com uma troca básica de assunto pro "E o corintia?" continuam, a tal flexibilidade masculina.

Aufwiedersehen!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

As mulheres do novo milênio

Eis um pouco das mulheres da atualidade. Nos seus vinte e poucos quase muitos anos, elas começam a vida por elas mesmas. Elas fizeram aula de inglês, natação, ballet, finalmente um curso superior, algo que escolheram aleatoriamente no ensino médio, ou cismaram que queriam realmente em algum cursinho na cidade grande. Elas cresceram dançando a lâmbada de Beto Barbosa, brincando com seus vestidos de babados escorregando no meio das pernas dos primos, fizeram bailinho na festa da amiga com um menino mais abusado aos 13, ouviram Spice Girls, apaixonaram-se pelos Brackstreet Boys e suspiraram ainda mais pelo Leonardo de Caprio lá no comecinho, em Titanic. De Brasil, essas meninas curtiram muito pagode, a mudança do sertanejo pra algo diferente Daniel e Bruno e Marrone e suas vozes másculas, tudo bem brega, mas naquela época era muito cool. Essas meninas conheceram a Internet na adolescência, começando com o chat da UOL, uma super descoberta, até o advento do ICQ, e da fuga da timidez pelo xaveco virtual. A Internet era discada e com hora marcada, curta e muito esperada.
Elas foram pra Faculdade. As máquinas fotográficas não eram digitais, um luxo para poucos, costumavam trocar os negativos, para terem todas as fotos da galera. Elas se formaram, e cairam no mercado de trabalho, momento em que percebem que toda a farra, e melhores anos da vida acabaram, que ainda tinham os pais, mas que a casa deles, não era mais a delas, por maior que seja o amor e o conforto. Sairam fora, erraram, fizeram más escolhas, talvez foram pra outro país pra fazer trabalhos secundários e tentar um pouco de auto conhecimento, talvez trabalharam em uma loja na cidade natal, fora da sua área de formação ou correram pro primeiro emprego na área que apareceu mesmo, e acharam um saco. Elas ainda não reconhecem o seu sonho real, mas sentem o cronômetro correr.
Além de tudo isso, um aperto lá no peito, algo ainda mais crítico começa a ter procura: um companheiro real, um amor pra vida toda, e elas pensam: "Ainda mais essa!" É emprego ideal, é casa ideal, é cidade ideal....
O interessante dessas mulheres, é que elas lutam diariamente não pela necessidade, elas têm a base financeira familiar, elas tem um lugar para voltar, mas elas têm a consciência de que agora a vida é delas e continuam tentando conquistar o seu pequeno espaço no mundo.

Aufwiedersehen!!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Agir

Não é comum dizermos: Eu TENHO que fazer algo. A nossa vida em sociedade nos impõe sabiamente, uma rotina que aos poucos se torna confortável, por que previsível. São hábitos que nos fazem bem, e trazem familiariadidade ao nosso dia a dia. Gosto bastante dessa sensação, entretanto, essa rotina não responde a uma necessidade real de desejo, algo que realmente TEMOS, e não precisemos fazer. Os verbos são similares, mas guardam diferenças importantes. Temos o costume de colocar as coisas em perspectiva, principalmente nós brasileiros com toda a nossa louvável (70% das vezes), flexibilidade. Ganhamos muito por sermos naturalmente cortezes, agradáveis, mesmo quando deixamos de lado a sinceridade. Fazemos muito bem ao evitarmos entrar em atrito, para mantermos a paz, a eterna vizinhança de boa camaradagem. Somos um cultura do “talvez”, do “meio”, do “quase”, do “tudo bem”. É bonito ser feliz, sociável, carinhoso, querer estar a maior parte do tempo em grupo, e para os jovens, estar sempre disposto a cair na balada, “causar”. Isso tudo é realmente bonito e saudável, quando feito por vontade. Aprendemos a criar uma máscara social, enquanto formigam por baixo nossas inquietações e o que realmente queremos, usamos o artifício do “deixa pra lá”, “não foi nada”, “releve amiga”, “logo melhora”, e o pior “não pense só em você”. Pois eu digo, isso é impossível. Nós somos seres egoístas, nascemos e crescemos tentando disfarçar isso. A pessoa que eu amo é também o reflexo do amor que ela sente por mim. Os meus queridos amigos são bons, também por que estão ao meu lado. É um engano pensar o contrário quando o que sempre procuramos é a nossa própria imagem refletida no lago. Vale gostar, vale chorar, vale tentar se aceitar. Passamos muito tempo presos em nós mesmos para não entrarmos em crise por alguns momentos. É por isso que por vezes mudamos, não os nossos valores, e a personalidade, mudamos nosso jeito de agir, mudamos nosso ponto de vista (posso mudar até a minha idéia a respeito desse post amanhã), por que isso não é feio, é simplesmente da nossa natureza, estamos sempre nos adaptando. O amor, a amizade, a empatia são autênticos, e são concomitantes, só nos falta um pouco de franqueza. Não somos maus, de forma alguma, só somos frequentemente fracos.

Aufwiedersehen!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre a introspecção e o hábito

O equilíbrio nas relações humanas é algo muito difícil de se conseguir, principalmente em se tratando de algo que rege a vida de todos nós. Há pessoas que passam a vida toda sozinhas, e vivem muito bem dessa forma, bem como aquelas que dependem quase que organicamente da presença de outros, de companhia. Como tudo na vida, ainda mais que uma questão de personalidade, penso no hábito. Por um ano estive longe de minha família, e criei um modo de vida basicamente voltado para mim mesma, e o que eu precisava fazer naquele momento. Muitas vezes empacamos em situações facilmente remediáveis, por causa do hábito, e ontém eu tive um exemplo disso. Fui embora do trabalho correndo, peguei ônibus, metrô, corri pra Academia que me custa um dinheiro doído, sentei no vestiário e comecei a me trocar para a aula de yoga. Ao meu lado noto uma garota chorando. Que situação social mais complicada! Eu não conheço a menina, nunca a vi antes, preciso entrar em minha aula, será que ela quer conversar? Vivo contradições dentro desse convívio "forçado", principalmente das grandes cidades, por vezes sinto minha intimidade e sossego invadidos, quando por exemplo algum esperto resolve ouvir seu celular mp3 sem fone de ouvido no ônibus...mas também por outras sinto uma frieza a que nos acostumamos, um distanciamento afetivo da pessoa que está ao nosso lado, e não acho saudável.
Voltando ao assunto da garota, depois ela atendeu o celular e falava com uma amiga sobre um namorado que a havia traído, algo do tipo. Bom, penso eu dentro do meu conflito interno de ser humano, que não era nenhuma tragédia familiar pelo menos...a menina continuava chorando, e olhava para os lados (eu estava bem ao lado dela me trocando, inquieta), ela definitivamente queria conversar com alguém, mas infelizmente eu estava travada diante de tal problema, sou mulher, e não achava tão necessário nesse caso ajudá-la, pq sei que sofremos 96% das vezes relativas a homens por besteira, por quem não merece (mas mesmo assim continuamos sofrendo), e eu não conhecia a menina!!Desisti, não com a mente tranquila, mas certa de minha decisão, eu não ia puxar assunto com a menina desconhecida que chorava no vestiário feminino da academia e ponto! Eis que minhas preces são ouvidas, uma das professoras, daquele tipo que anima e conquista a simpatia de todos a sua volta, entra e pergunta o q acontece com a menina, de uma maneira leve, de boa mesmo...sai dali tranquila que ela estaria em boas mãos. Não foi dessa vez, intimidade realmente não se força.

Aufwiedersehen!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Amizade antes de tudo

Como é boa uma relação sem sobrecarga. Aquele lance natural que rola entre duas pessoas. Uma relação, antes de ser taxada de algum nome, uma relação de pura amizade. A amizade é um fator que é sempre aconselhável, ser a base de qualquer relacionamento (do termo profissional) interpessoal. Seja entre mãe e filha, irmãos, avós, seja entre chefe e subordinado, seja entre marido e mulher. É algo só nosso, do ser humano. Animal acasala tbm, animal lidera tbm, é mais forte também, mas na amizade somos iguais. E nesse mesmo contexto, penso eu, em que momento nossas relações se tornaram tão difíceis, pesarosas, ensaiadas? Principalmente quando se trata de amor. A ditadura dos sexos é o produto mais democrático da atualidade. Não adianta nós mulheres pensarmos que somos as únicas a sofrer com os jogos do amor. Os meninos tbm sofrem, e às vezes mais que a gente. Precisamos pedir licença a todo momento. A minha teoria é homens e mulheres sofrem, mas por motivos diferentes. Homens tendem a ser mais confiantes, e mulheres a terem a auto-estima baixa, só esperando pelo momento irremediável do fora e/ou sumiço. Ser feliz é perigoso, pq é o que costuma preceder a queda. Não podemos e nem devemos ficar vulneráveis e demonstrar um sentimento...dentre outros costumes recorrentes...
Acontece, no final das contas, que nessa preparação do que pode vir a ser um relacionamento real, o hábito da trava de sentimentos se solidifica, e dai pra frente, já dentro de uma relação, essa "mania" besta tende a permanecer, dentro de uma troca emocional sem abertura.

Aufwiedersehen!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Analogia Cinematográfica - Edição/Parte 2

Nessa analogia pensarei principalmente o fator "captura" da edição. Existem aquelas cenas que o diretor separa como as "valendo" dentre todos os takes, elas ficam como opções dentro da cena, para que o editor escolha como montar o filme com as melhores.A nossa vida é uma junção de milhões de takes, que vão se montando em nossa memória. Nesse caso somos os roteiristas, diretores, e montadores...no caso da montagem/edição, comecei a ponderar melhor, especialmente depois do fim de semana.
Pela primeira vez participei de um casamento, em que o casal em questão, fez parte de quase toda a minha vida. Pude presenciar cada momento deles, do começo, quando o amor começa a ser descoberto...passando pela faculdade e outras tormentas, até a hora perfeita e pronta da maturidade, quando decidi-se e consegue-se passar o resto da vida juntos. Esses momentos, da entrada da noiva querida em direção ao altar, a nossa formatura, o nosso primeiro emprego, são involuntariamente "capturados" em nossa memória, sem aviso prévio. Quase cheguei a sentir o aviso de REC na minha cabeça. A nós somente nos basta, deixá-lo (o aviso) rodar...

Aufwiedersehen!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Analogia Cinematográfica - Roteiro/Parte 1

Estou nas últimas, não da minha vida espero eu, mas terminando um tipo de sonho que eu tenho já há algum tempo, estudar cinema. N ão foi nada formal como uma faculdade, ainda não posso citar vertentes e doutrinas cinematográficas, mas nesses quase dois meses de estudo, pude sentir que esse meu sonho de cinema é muito mais viável do que eu imaginava. Fora isso, como tudo que começa a fazer parte da nossa vida, meio que involuntariamente há de se fazer algumas analogias.
Escolhi fazer o curso de roteiro e edição. O de roteiro, algo mais próximo do meu terreno comum, que são as idéias, algumas poucas divagações, mas principalmente o meu esforço físico, com alguma ajuda das máquinas (diferente da edição de imagens no caso), tornou-se, como esperado, a menina dos meus olhos. Lá aprendi que o roteiro não é uma forma de arte, mas sim um tipo de ficha, uma receita com os ingredientes e o modus operandi necessários para a feitura de um filme. Um roteirista, como dita um dos primeiros passos para a feitura de um roteiro, deve ter desapego de sua obra, mas mais que isso, ou também isso, deve ser um indivíduo que exerce diariamente a sua humildade. É sobre aquilo que ele escreve que mais se comenta no final de uma produção, a história, o que acontece. Mas ninguém se lembra dessa pessoa. Essa pessoa, o roteirista, passa meses, as vezes anos, debruçado sobre uma história que torna-se parte da vida dele, tudo isso para facilitar o serviço de muitas pessoas, as vezes milhares, que usarão essa sequência de dados (que é o roteiro), para executar o seu trabalho. O roteirista, como poucos sabem, não conduz o olhar da câmera, ele quase nunca resolve sobre o look de determinado personagem, ou época. Ele surpreendentemente tem pouco a ver com o ritmo da história. Para tudo isso existem, respectivamente, o diretor de fotografia, o figurinista e o montador...pra citar alguma das coisas.

Voltando à analogia, como em qualquer boa receita, os ingredientes devem ser coerentes, por mais diferentes que sejam entre si, para que o resultado seja interessante. Claro que a velha receita do arroz, feijão e carne de panela sempre caem bem no começo, quando ainda não conhecemos muito bem a forma, o mais sensato seria conhecer a forma para depois seguir com receitas mais ousadas.
Vemos tbm que como na vida, muitas palavras são desnecessárias, podemos cortar frases inteiras na maioria das vezes, mantendo o principal do que queremos comunicar, ainda com a ênfase no que é realmente útil para aquele momento.
Outra coisa interessante...muito mais do que palavras e diálogos (com todo o respeito para os existencialistas), o cinema é ação, não necessariamente aquela do Silvester Stallone, mas a sequência de imagens e movimentos que o tornou a notória sétima arte, e não mais uma vertente qualquer. Como aprendizado, façamos mais e falemos bem menos...continua...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Crash

Eu comecei a escrever uma postagem para o meu blog de cinema, mas quando me vi imersa em meus devaneios, percebi que a mídia utilizada se equivocava para o meu fim atual.

A última noticia do mundo futebolístico diz respeito ao tratamento tido como racista (e porco, de cuspir) do jogador do Palmeiras, Danilo em outro jogador do Atlético, Manoel, por ter chamado um homem negro de "macaco".
Curiosamente, ontém assisti novamente a um dos neo-clássicos do cinema, Crash: no limite (2004 - dir. Paul Haggis), com roteiro baseado em história do próprio Paul Haggis, roteirista também. Foi em 2004, que o posterior ganhador do Oscar de melhor filme (além de roteiro original e edição), cutucou fundo na ferida de toda a sociedade, e quando eu digo toda, eu quero dizer TODA. Três anos após o 11 de setembro, um americano escreveu e filmou a história de nossas vidas.
Trata-se dessa coisa contraditória que temos de repelir e ao mesmo tempo atrair pessoas. O detetive negro Graham (aqui, como na vida, são essencias as características fisicas), interpretado pro Don Cheadle, logo nos introduz, na primeira cena do filme com o seu devaneio sobre as pessoas, algo como: "Aqui ninguém te toca. Essa sensação de toque, nós sentimos tanta falta disso, que nós nos esbarramos uns nos outros para que possamos sentir algo."
E nessa odisséia de negros, chineses, coreanos, iranianos, mexicanos, brancos, ricos, e pobres, encontramos muitas pessoas totalmente diferentes, com o mesmo pensamento de diferenciação, quando a luta interna, contra o racismo se torna ainda mais perigosa que o próprio racismo. Não já vilãos ou heróis, há pessoas de carne e osso, há nós mesmos lutando contra nossas falhas de caráter ou falhas da nossa própria formação segmentada pelas diferenças, ou talvez pelo próprio ser humano..quem sabe. O filme apenas mostra a verdade que insistimos em não aceitar. E ao mesmo tempo que é feio, nos é quase inato, nasce conoscoDe alguma forma indolor acaba penetrando em nosso temperamento, personalidade e está ai, em cada um de nós, sem distinção.
Mas o filme mostra algo a mais..como todo bom enredo, há um outro lado, sempre há. O ser humano, em Crash, não nasce mal ou bom, ele nasce contraditório, uma junção do ruim e do bom ao mesmo tempo, em um jogo de ação reação quase que involuntário.

O jogador de futebol foi tão racista assim, tão mais racista que todos nós, ou talvez menos racista que o negro que foi chamado de macaco? Os sentimentos em aplitudade, praticamente nos retiram a razão, e o que aparece normalmente não é agradável, é o mundo de crash, às vezes nem há um culpado...
Aufwiedersehen!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Delicias familiares...

Semana de volta de feriado prolongado...rola aquela preguiça, aquela saudade de casa (no meu caso), da calma do interior, mas enfim, o novo e atual lar me aguarda na selva de pedra. Esse foi um feriado especial com a família. O que eu tento fazer, acumulando o maior número de visitas a familiares e amigos foi muito bem sucedido no fim de semana. Pude lembrar-me (e nunca é tarde), da riqueza de família gigante que eu tenho. Todos os elementos estavam lá, os velhos costumes e piadas familiares, a personalidade de cada um, enfim...O tempo implacável simplesmente não afeta as relações verdadeiras, e eu já tive prova disso desde a minha volta da Alemanha.

Penso no momento sobre essa nossa cultura brasileira das refeições. É praxe no mundo todo, não importa a cultura, esse hábito do encontro, da reunião, a "comida" tornou-se através dos tempos como que um bode expiatório para a união, e eu como bom garfo, estou longe de criticar esse costume.
Agora pensando em Brasil, e mais particularmente na minha família, é comida que não acaba mais! O jantar da minha vó, com seus seis filhos, (faltando um), esposas, netos, etc vinha com o pretexto de um belo dourado na chapa, no forno a lenha, daquele jeitão bem avó de ser, e über delicioso como se espera. O grande prato, no caso, estava acompanhado, de uma bela macarronada, churrasco de carneiro, linguiça, maminha e para completar uma torta de palmito...lógico que eu não preciso citar saladas e afins...Essa "sustança" simboliza o tamanho, a quantidade de amor presente nessa família, o alimento primordial, acima do bode expiatório alimentício, é o encontro, a reunião, o não deixar pra outro dia...

No dia seguinte almoço, lasanha e bife a parmegiana, a mesa italiana dos sonhos, enquanto mãe e tia argumentam a respeito da delicia da salada de acelga e de folhas verdes...tudo na coerência do non sense familiar. VIDA!

Aufwiedersehen!

sexta-feira, 26 de março de 2010

A selva molhada de pedra

É sexta-feira. Pela primeira vez na semana, resolvo me dar ao luxo de almoçar fora e me encontrar com uma amiga que há tempos não via (uma semana). O almoço árabe estava ótimo como sempre, pausa para um café em um lugar charmoso, aii...a metrópole. Lá fora de repente nota-se uma movimentação diferente. As pessoas andam depressa, há euforia no caminhar, um tipo de alarme corriqueiro, se é que isso existe. Uma urgência cotidiana para os paulistanos. O céu parece anunciar o fim dos tempos, o apocalipse, ou qualquer outro filme hollyoodiano. É o aviso de chegada da chuva.

Gosto muito, e acho genial o termo usado pelo rei, Bob Marley em uma de suas músicas, "Concret Jungle", um tipo de selva de pedra, nosso habitat não tão natural, mas tão, ou mais perigoso do que a "Nature Jungle".
Desenvolve-se um certo instinto nesse ambiente, em alguns momentos não sei como conseguimos atravessar uma grande avenida, mesmo na faixa de pedestres, mesmo no sinal vermelho para os motoristas, sem sermos atropelados. Há motos por toda parte. Um vento leve na nossa nuca pode significar sinal de perigo, um hábito comum de colocar a bolsa, em qualquer situação junto ao nosso corpo, os vidros dos carros se fecham naturalmente, e assim por diante.

Hoje, no meio de um temporal, e daquela chuva tradicional que vinha de baixo, as ruas eram verdadeiros riachos com ondas, os semáforos estavam quebrados, o caos, mas ao olhar os rostos dessas pessoas na rua, eu não via desespero, medo, nem raiva. Havia aquela fisionomia de quem já se acostumou, de que se resignou e de quem espera a tormenta passar pra continuar a vida. Esquisito foi, me pegar assim como eles, tranquila, no meio de um rio sem fim, na selva de pedra, apenas esperando para continuar o meu dia.Sobrevivida.

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 18 de março de 2010

A perspectiva só nos divide, coloca o amor de fora

“Take the chances, make it happend!” – A perspectiva só nos divide, coloca o amor de fora. (Aconteceu em Woodstock - Ang Lee - 2008)

Eu tatuei há alguns anos atrás a seguinte frase em meu corpo: "Bona Fides". Posso até me arrepender de tê-la feito talvez pelos trocadilhos maldosos de meus amigos a respeito dela, mas tá ai algo que rege a minha vida: A boa fé.

Somos criados de tal maneira, rodeados por tanto medo e tristeza, bombardeados por toda sorte de tragédias humanas...a mensagem que nos é passada é de o mundo é feio, as pessoas são más, interesseiras e só querem se dar bem, não se deve confiar em ninguém, o perigo está a espreita a cada esquina e por ai vai. Você gosta de fulano?Sicrano é simpático?Vc é ingênuo, não sabe q cobra q é sicrano...ingenuidade? Desde quando tentar enxergar o lado bom é ser ingênuo? Aquela pessoa é interesseira, invejosa? Pois q se dane! Eu aposto com vc q em alguns bons momentos no dia dela ela pode ser muito engraçada, ou muito bondosa, ou ela simplesmente sofre muito pro dentro. Não interessa!

Eu escolho tentar viver simplesmente a minha vida! E a fofoca, e a vida alheia? Estou longe de ser a mulher maravilha das boas ações, ou uma das Helenas do Manuel Carlos, mas eu prefiro, pura e simplesmente por esperteza, enxergar a parte bonita da existência. “mas...(muitos diriam), vc não sobrevive, isso é conformismo, é bonito assim pra vc pq vc é da classe média, queria ver lá na favela,...” Eu acho mesmo q a questão não é essa...Entramos em um circulo vicioso muito estúpido. A lei regente escondida sob o asfalto das grandes cidades reza q trabalhar muito, dormir pouco, divertir-se pouco dá status. E não venha me dizer q não há um certo prazer ao chatear-se com um amigo, por exemplo, reclamando do seu volume extenso e inacabável de serviço acumulado! Ou do pouco tempo q vc tem pra ler um livro, assistir a um filme! Tudo o q o mundo grita em torno de mim me diz q trabalhar no q gosta é luxo, q ganhar dinheiro demanda sacrifícios e um pouco de “flexibilidade moral”, q não existe amizade com colegas de trabalho, só inveja...e de q tbm não existe amizade entre mulheres, só interesse e falsidade, e entre homens e mulheres então, só interesse sexual.

Pode ser verdade em uma grande porcentagem das vezes? PODE. Mas só por hj, só por teste vamos pensar q amizade existe, e tende a melhorar com os tempos, pq todos nós a estamos redescobrindo, ironicamente, com o advento das tecnologias. Vamos imaginar q o dinheiro vem, e ainda em maior quantidade ao ser conquistado através do seu empenho puramente passional, fazendo aquilo q vc ama fazer. Vamos sonhar com um grande amor lindo, inteligente e bom, tudo no mesmo pacote. Vamos sonhar com reencontros anuais dos colegas da faculdade, e com o contato eterno de amigos antigos. Vamos rir no trânsito ouvindo uma música brega dos tempos antigos e cantar alto sem vergonha do pessoal de fora. Vamos simplesmente parar de rosnar e simplesmente viver. Pq essa moda é muito chata, vc pode dizer q algo é a regra, e q eu assisto a muitos filmes de ficção? Eu digo q eu continuo pensando nisso por hj, e se não der certo? A MINHA vida continua...

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 16 de março de 2010

Quem é falso aqui?

Caramba, olhando o meu painel da blogosfera pessoal, vejo que o "Sinceros..." já possui 187 postagens.
Não posso deixar de assumir que acredito que esse blog já teve sua fase áurea, e que ele perdeu muito do que seria sua identidade. E quando digo isso não me refiro ao fato de não estar mais viajando linda e feliz pela Europa, mas pq eu perdi o apelo do blog, poder falar mal das pessoas livremente, pq elas não podem entender minha língua!Pronto contei!

Brincadeiras à parte...lógico que o fator idioma me dava uma boa brecha para escrever livre do medo de magoar alguém ou ser mandada embora da casa onde eu morava, e é exatamente sobre esse "medo" q eu quero falar.
Esses dias conversava com o meu amigo alemão sobre essa nossa personalidade brasileira tão...tão...em cima do muro. Ele havia me dito algo, como sempre, extremamente direto e forte sobre outra pessoa, e aquilo de imediato doeu nos meus ouvidos e me chocou, apesar de ser a mais pura verdade. Essa sensação me lembrou muito de algo peculiar a nós brasileiros, quando colocados à prova ao modo de relacionar-se alemão. Eles simplesmente "atiram" certos assuntos tabu com a maior cara lavada e muitas vezes (com toda a verdade), de forma dura e insensível na nossa cara.
Mas então, seríamos nós brasileiros muito sensíveis, ou realmente covardes?Pq essa necessidade de estar sempre "bem" com todos, essa coisa de sempre elogiar, a fim de não magoar? Quantos de nós, por exemplo, não convivemos com pessoas incapacitadas para determinado trabalho, incompetentes dentro do serviço, que continuam empregadas exatamente por esse "medo" intrínseco de ser objetivo, claro, "ficar mal".

Falo isso de forma genérica, pelo que observo, comparando essas duas culturas. Não quero idealizar os alemães, longe de mim, muito menos afirmar que todo brasileiro fica em cima do muro. É apenas algo flagrante em nossa cultura, aquela coisa simples de chegar na casa de alguém e te oferecerem algo para beber: "bom dia senhora fulana, aceita um cafézinho, suco, cerveja?" - recebendo normalmente a resposta: "O que te der menos trabalho." Mas a pessoa está oferecendo tudo isso, então subentende-se que ela PODE te servir qualquer um dos itens. Pra que tanta "gentileza".
E o engraçado é a contrapartida. Quando alguém nos deve dinheiro, e já o cobramos algumas vezes, na terceira vez sentimos aquele nó no estômago. "Nossa, que chato eu ficar enchendo o saco de beltrano pra me pagar." Mas é o BELTRANO que está te devendo!Ele deve sentir vergonha!

Só a modo de ilustração, ontém no Big Brother, houve uma "prova" que consistia nos participantes dizerem, assim de súbito, quem eles consideravam o mais falso da casa. A pergunta é simples, não tem como ter uma segunda interpretação, mas a maioria deles titubeou na resposta...chocou-se, assim como eu me choquei muitas vezes na Alemanha. A idéia da pergunta era apimentar os ânimos na casa, gerar a discórdia, e pelo jeito funcionou.

Penso comigo, até que ponto essa nossa mania, esse covardismo que nos coloca recorrentemente em cima do muro, nos atrasaa vida, tanto profissional, quanto pessoal.
As pessoas não crescem, não melhoram, elas apenas continuam em paz com sua vida mediana e falsa, pq não.

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 9 de março de 2010

Nostalgia parte 1 milhão e cacetada...

Se tem uma coisa que eu gosto de dividir com vocês por aqui, esses são os momentos em que eu caio do cavalo. Assim, não literalmente, faz tempo que eu não cavalgo, atividade que eu adorava antigamente, mas quando a minha boca fala através do meu eu lírico, que é de uma pretensão sem tamanho. E não adianta me esforçar, pq palavras estão ai mesmo para ser ditas, normalmente não têm o peso da escrita, ou da palavra filmada, ou gravada de alguma forma, pq o falar é assim informal, espontâneo e muitas vezes improfícuo. Já devem estar imaginando que eu falei mal do Lula pra Dilma, mas não, não foi tudo isso não.

Eu não falei nada que pudesse machucar alguém ou pudesse ter maiores consequências. Eu só aprendi mais um vez, e olha que eu não só lá uma daquelas pessoas que falam demais, prefiro observar, viver, e comentar o fato em questão de maneira descompromissada, que nunca somos melhor agora do que antes, e a vida ainda está sendo escrita.

Estive nesse fim de semana de volta para a minha segunda cidade, Bauru. A cidade que me acolheu, uma piveta de 18 anos recém completados por quatro anos. A cidade onde eu vivi os melhores anos da minha vida (isso sim é fato absoluto e incontestável). A cidade da minha faculdade. No caminho, no carro com um casal querido, ambos colaboradores dessa vida anterior, presentes em vários momentos engraçados e especiais, afirmei que não me sentia mais tão balançada com aquele cenário...falei falei, que havia voltado mais duas vezes se eu não me engano, desde a minha formatura, e aquela cidade realmente tornara-se algo indiferente à minha pessoa. Ledo engano. Foi só adentrarmos aquelas ruas do interior do centro-oeste paulista, para sentir como que um filme dentro da minha cabeça, um filme que começou, entre flashbacks e zoons in e out, e que só foi terminar no domingo a tarde, na hora de voltar pra nossa querida selva de pedra, que na verdade eu continuaria ligada aos lugares que eu passei.

Um intensivo dia deja vu, quase que misturados com a realidade, os mesmos rostos, outros interesses, o mesmo carinho. Deu pra dar uma mexida naquela que antes afirmava ser indiferente, senão à melhor fase de sua vida, mas ao cenário de todo esse acontecimento.

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Bipolar na metrópole

São Paulo dança dentro dos meus altos e baixos de humor. Ou seriam altos e baixos de São Paulo?
Ultimamente tenho me reconhecido como alguém um tanto quanto bipolar, vivo altos e baixos q oscilam drástica e bruscamente em minha maneira de ver o mundo (pq não sou do tipo q reage, costumo me rearrumar internamente mesmo, comigo mesma, adaptação latente), mas São Paulo continua sendo uma ênfase em potencial, tanto para bem quanto para o mal. Quando digo São Paulo, digo as pessoas de São Paulo, as situações, a chuva, o trânsito, o barulho, e por outro lado, a maravilhosa vida noturna, a variedade, o agito, as milhares de salas de cinema, o acesso praticamente irrestrito: São Paulo.

Ontém sai do trabalho com a cabeça a mil, pensando nos acontecimentos do dia, tentando puxar a minha mente para um lugar mais calmo, fora do expediente, liguei o mp3 no shuffle (modo aleatório de escolha de músicas) e recebi como um presente, uma das minhas músicas preferidas dos Titãs : É preciso saber viver. Fui como q flutuando para o ônibus, sentei na janela e senti a brisa no meu rosto. Adoro me lembrar de como posso ser feliz por simplesmente nada. Volto pra casa e cruzo rotineiramente com o pessoal descolado da facul, q se acotovela e se junta no bar da esquina ao lado da faculdade, bem no meio do meu caminho! (Quem me vê muitas vezes esbarrando "de leve" com umas e outras meninótas folgadas, quase não acredita q há não muito tempo atrás, eu era um deles...). É aquela sensação rídicula q toma conta da gente por nos considerarmos superiores ou mais importantes para o mundo, por causa de "n" fatores de julgamento subjetivo. Eu sou no caso a trabalhadora querendo ir pra casa descansar, enquanto aqueles jovens se empilham no meio da minha passagem e me atrasam pra assistir à novela das 8. Patético. Mas como disse, são momentos, e normalmente no minuto seguinte dou risada de mim mesma e me coloco no meu próprio lugar: Pára de ser rídicula!
Pra terminar, hj estou pendendo para o lado negro da força, então me permito a mais dois desabafos. Situação entrada no trem do metrô: Por que simplesmente não se espera o pessoal q está dentro do metrô sair primeiro, ao invés de se trombar com os mesmos, a fim de entrar no metrô o quanto antes?! Todo mundo vai ficar de pé e sair no mesmo horário de qualquer forma!Isso me irrita todo santo dia, tentarei me conter. Último comentário, se o pessoal sobe a escada, subentende-se q se está com pressa, então por favor, ou sobe pela rolante, ou sobe rápido pela escada, oras!

Aufwiedersehen!
PS: prometo voltar menos azeda na próxima postagem.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Estudante novamente

Segunda-feira passada foi a aula inaugural do meu curso de Cinema. O curso integral abrange todas as áreas da produção e pós produção cinematográfica. Eu optei por me restringir a duas. O roteiro, minha grande paixão ligada a escrita (pra descobrir se sai algum talento nesse formato) e a edição.
Todos foram convidados, num clima bem informal para se apresentarem. Eram mais de trinta pessoas, fora professores em uma sala apertada. Eu revivi meus tempos escolares e de faculdade. Como boa ego-excêntrica q sou, adoro falar de mim mesma (vide esse blog), mas tenho sérios problemas com a comunicação oral. Veja bem...consigo me comunicar muito bem com um grupo de pessoas próximas, em um bate papo tranqüilo entre amigos...mas quando me passam a palavra a coisa complica, gaguejo, falo rápido e errado e capiria (sim, as raízes interioranas retorrrrnam nesse momento), e pulo fatores importantes. Normalmente preparo-me mentalmente para explicar o básico (“vai ser muito metido falar q voltei há pouco da Alemanha?”, “então falo q fui ser babá” “falo da minha formação e de como cai de paraquedas na faculdade” “falo da minha paixão fulminante pelo cinema, e de como eu muitas vezes, e por muito tempo não soube muito bem como lidar com isso”...etc), e sempre soltar uma piadinha de leve pra acalmar o clima. A última parte muitas vezes diminui o desastre anterior.

Bom, depois de um aceleramento cardiaco básico durante a apresentação de meu vizinho fotografo, contei mais ou menos nesse ordem e compexidade: q eu estudei na UNESP, RP, fui pra Alemanha, babá, são Paulo, produtora de animação, mercado, área a fim, roteiro, paixão, o q eu quero escrever e edição. Ufa....engolindo assim...No finalzinho contei q pensei em fazer o curso de edição, alem do de roteiro q é o que eu quero, “para tentar fazer amizade com as máquinas”. Riso geral...ufa...não fui tão ruim assim.
Muitos dos meus colegas falaram de como amam cinema, e de como isso os animou a ir fazer o curso para aprender na prática, alguns até vão no cinema sozinhos e contaram isso como se fosse algo diferente. Pensei comigo mesma: eu faço isso sempre, normalmente duas vezes por semana, por mim iria todo dia...não é normal? Enfim...o normal é relativo, e parece q eu encontrei meus semelhantes.
Requisito final do professor: “Se alguém aqui realmente não ama cinema de paixão, por favor não faça esse curso.”
Eu me afundei na cadeira, meu currículo era extenso nesse setor.


Aufwiedersehen!

Quero ser normal!

Era sábado de carnaval...meus amigos já estavam em seus respectivos destinos festejando o maior evento brasileiro do ano, ou encaminhando-se pra ele. Euzinha encontrava-me em São Paulo, mais especificamente em uma sala de cinema, às 13h em ponto, pronta para assistir a um filme alemão de duas horas e meia. Ao sair tomei um bom café sozinha tbm, e encaminhei-me para a livraria do cinema. Lá encontrei vários posters pops de celebridades q iam de Chaplin a Gandhi. Tenho paixão por posters do tipo ou de cenas famosas de clássicos. Olhando ao lado encontro DVDs à venda, a um preço pouco camarada, fui logo coletando três, uma edição do documentário Munique, sobre o atentado terrorista das Olimpiadas na cidade q eu morei por um ano. O filme biográfico do The Doors, de Oliver Stone, e mais um filme antigo do Almodóvar, A lei do desejo, q eu nunca assisti. Ao me dirigir ao caixa, um dos balconistas, nos seus 17, 18 anos, exaltou-se elogiando o meu gosto: “The Doors!!!Demais..na minha escola o pessoal só ouve Fresno e NXZero...pra onde foram os clássicos?!”. Ele era no mínimo diferente..e q comparação esquisita com a minha pessoa...na idade dele provavelmente eu curtia Axé nas reminiscências afetivas de Porto Seguro. Leva-se um tempo para criar um bom gosto musical muitas vezes....Brincadeiras a parte..longe de mim ser uma dessas pessoas q torcem o nariz pra qualquer tipo de música q não seja a q ela curte, é chato, e me dá preguiça..não quero ser assim nunca. Ao abrir minha carteira para pagar, o mesmo menino exclamou: “Nosssa!!Carteira dos Beatles!Demais!” – Começava a mudar a minha opinião em relação a ele, de bonitinho e entusiasta, para chato intrometido (não sou curiosa, é uma característica minha, as vezes acho uma qualidade, as vezes acho um defeito), mas enfim, não aceito bem intromissões em minha vida, muito menos por pessoas q eu não conheço, talvez algo de rancor de tititi da cidade pequena q eu cresci. Começamos a falar dos Beatles, (meu assunto preferido desde X-men na pré-adolescência, há alguns anos já, tirando Cinema e Big Brother no momento). Quando saio de lá meio frustrada depois de não conseguir passar meu cartão de crédito, porém satisfeita por a viabilidade e necessidade real de minhas compras, me dou conta q visto uma camiseta estilizada do Laranja Mecânica. Eu não agüentaria um acesso entusiasta Cult do meu novo amigo pela terceira vez.
Fui embora pensando, eu sou bem diferentona né....talvez até mesmo um estereótipo ambulante...mas tbm...quem não é?


Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Começa a sexagésima edição da Berlinale!

Há um ano exatamente eu estava lá em Berlin, sentindo a energia do segundo maior evento cinematográfico da Europa.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dor da cura ou algo do tipo...

Hoje comecei a pensar nessa sensação de impotência q nos acomete frequentemente...essa coisa de pensar q não possuímos o mínimo controle sobre as coisas ao nosso redor, sobre nossa própria vida, e muito menos sobre nossos sentimentos, ou pensamentos, ou sobre o inconsciente q tanto gere os nossos caminhos..como queiramos chamar.
Uma coisa marcante pra mim, q eu posso pensar como ilustração disso q eu quero dizer hj sobre essa dor sentimental, essa coisa da mudança, da direção q a nossa vida toma, é o lance do merthiolate®. Eu nunca me esqueço de qdo eu ralava alguma parte do meu corpo qdo criança (leia-se todo dia), e minha mãe vinha desinfetar o machucado com o tal do remedinho transparente. Era batata! Aquela embalagem significava nada mais nada menos q a dor em um frasco. Minha mãe sempre me dizia q eu devia aguentar aquela leve efervência, q na época era uma dor lancinante, pq aquilo significava a cura e a certeza de q a minha pele voltaria a ficar igual.
Não sei como funciona hj em dia para as crianças, depois q tiraram a "dor" do merthiolate...mas eu chegava até a sentir um certo "prazer" naquela dor, pq ela era a resposta q eu buscava pra me sentir literalmente remediando aquela situação, era como ser um agente dentro da minha história, fazer algo a respeito e não ficar chorando pelos cantos até q aquele machucado parasse de sangrar...enfim.

Ontém dormimos pela primeira vez no apartamento novo, aleluia! Descobrimos na prática q o nosso quarto (eu divido o meu quarto com uma grande pessoa, grande cabeça, coincidentemente a mesma "roomie" dos tempos de faculdade, até ai não poderia ter uma colega de quarto melhor), não possui uma janela anti ruído, pra dizer o mínimo. Os ônibus de São Paulo, todos eles sem exceção, resolveram começar o expediente na nossa humilde avenida, um barulho dos infernos...e pra ajudar, dentro da minha cabeça doente, o enredo do samba q eu ouvia na baladinha mais cedo, voltava fazendo coro com o barulho de fora da minha cabeça...foi tenso, uma reviravolta de sons e sonhos bizarros...espero q não seja assim toda a noite...esperaremos..
A nossa casinha vai tomando aos poucos a forma de um lar..conseguimos dar um bom corre na decoração, e agora é só esperar aquela sensação de estranhamento passar, até q essa nômade que vos fala, sentir-se em casa novamente. Aquela efervência incômoda do metrhiolate vai passar,como sempre, pq o problema já está remediado, até q eu invente outro "tormendo da vida moderna" vir me acossar novamente...

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Enquanto isso, no país do carnaval...

....essa brasileira pendura as sapatilhas da fantasia da avenida.
Parece até um sacrilégio, depois de um carnaval em terras frias e no meio de neve, e mesmo deixando isso de fora, aos 24 anos alguém simplesmente abrir mão de pular carnaval. Pois eu truco, eu abri mão de pular carnaval!E com gosto.
Resolvi me resguardar em casa, lá no interior paulista, e assistir a muita TV e um zilhão de filmes no mínimo.
Falta uma semana e agora, aqui no Brasil, é como q a celebração de final de ano...rola uma estranha sensação de q o pontapé inicial do ano novo ainda não aconteceu, q ele espera por algum evento especial...o q será?óóó....
Logo mais nossos votos não serão de final de ano, mas sim de pós carnaval...espero q a gente lembre das coisas q realmente importam antes disso, e q tentemos nos encontrar, sem grandes produções, sem purpurina ou confetes, ainda hj, no máx amanhã, pq 2010 já começou...

Aufwiedersehen!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Getting Better...

Como diriam os Beatles..Eu tenho q admitir q está melhorando...tudo está melhorando. O difícil é conter a ansiedade, e pq somos assim tão anciosos? Parece que estamos sempre correndo atrás de algum tipo de melhora, para depois, um pouco lá na frente sentir saudade da vida que levávamos antes. Tenho certeza que não estou saindo do lugar comum, mas algumas obviedades, (óbvio. Que termozinho mais ambíguo), precisam ser reavaliadas frequentemente. Que fixação é essa que temos com futuro, pra depois olharmos para o passado? Qual o problema com o presente? Essa angustia, essa intoxicação da corrida em direção a um pretenso fim?
Eu pessoalmente me encontro presa dentro da minha própria urgência. Eu sinto uma urgência enorme, a maior que já senti na vida. E não sei se fruto da idade, dos mecanismos pessoais de gerir a própria vida, tenho agido em vários momentos como uma total bitch. Tento chegar ao resultado desejado, da forma como eu sonho, e qdo não consigo o esperado, fico realmente frustrada e desconto nas pessoas q mais me amam. Problemáticos todos somos, esse é o meu consolo.
Achei finalmente o apartamento procurado, não é o ideal, não é um palácio, mas eu não desisto de torná-lo um, mesmo que seja modesto e acolhedor, como as novas moradoras queridas. É um apartamento antigo, q fica em um prediozinho escondido em uma grande avenida, e a sensação que tive quando o visitei pela primeira vezi foi de identificação. Senti que aquele apartamento podia ser uma importante personagem na minha vida, dentro dessa fase nova na cidade grande, ele simplesmente tem personalidade. Sinto a urgência, depois de quatro meses, de sentir-me realmente uma cidadã da metropóle, o complexo de garota do interior persiste, e é uma forma irrevogável de me encontrar. Tudo é conectado, pelo menos para mim.
Volto a realizar meu hobby preferido, ser anfitriã, receber as pessoas. São quase dois anos morando na casa dos outros, para finalmente viver o meu way of life. E que venha um lindo ano para todos nós!

Aufwiedersehen!

ps: I've got to admit it's getting better (Better)
A little better all the time (It can't get more worse)
I have to admit it's getting better (Better)
It's getting better since you've been mine

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

In Memorian

Um fato, um acontecimento, ou seja lá como pode ser devidamente enunciada a morte de alguém querido, me fez voltar para esse blog com certa urgência.
Em um tempo distante, praticamente esquecido, por volta de 2002, eu convivi mais de dois anos com uma senhorinha adorável, chamada carinhosamente por todos de D.Carminha. Eu era uma menina de 16 anos, q mesmo moleca, posso concluir hj, era um tanto precoce. Eu pensava em trabalhar com Moda, então fui atrás de um curso de Desenho de Moda no Senac, que era ministrado toda sexta a noite em Limeira, e na mesma sexta, toda semana depois do almoço, eu passava as tardes na cia da D. Carminha e as minhas colegas (senhoras) de curso de Corte e Costura.
Eu era como q um mascote pra elas, e eu me divertia muito na cia daquelas mulheres q tinham idade para serem minhas avós (muitas delas realmente amigas das minhas verdadeira avós), e principalmente com aquela figura, a professora, com seu jeitnho doce, o andar decidido, e o corte preciso, aquela Senhora Costureira é ainda o personagem mais memorável dessa época tão querida. Existia uma sintonia entre mim e essa mulher já nos seus 70 anos. Eu começando a imaginar o q queria da minha própria vida, com a urgência de viver, de aprender, como me é caracterísita, ela com a calma e a paciência necessárias a uma verdadeira costureira. Sofri com as máquinas e os moldes, faltava-me uma boa dose de perfeccionismo, e me sobrava objetividade pra inventar modelos inexistentes, e mesmo na ousadia das minhas maluquices, D. Carminha me acompanhava, e conseguia tirar resultados realmente interessantes dessa nossa parceria.
O auge de todo esse experimento aconteceu na minha formatura de Terceiro Colegial, quando resolvi desenhar e "costurar" o meu vestido de Formatura (isso ainda é piada entre as minhas amigas). Pra resumir a história, eu consegui sim realizar o feito, (um feito muito mais da D. Carminha do q meu), e até recebi alguns elogios à minha criação.
Nesse fds, qdo voltei pra minha cidade, encontro o resto do corte desse mesmo vestido rosa escuro, e o meu nome sob a sacola, com a letra dela....Parece q o encontraram depois do acontecido, e mandaram para a dona do nome.

Ela morava na mesma rua q eu, alguns muitos quarteirões a frente...Eu já não moro mais naquela rua, a D.Carminha tbm não. E qdo pessoas desse tipo se vão, sinto dentro de mim uma certeza enorme de q o céu existe, pq esse é o único lugar q poderia receber alguém como essa senhorinha costureira de mão cheia. Vá em Paz vovó postiça, saudades eternas...

Aufwiedersehen!