E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Cérebro nostálgico

"Olha bem o que você tá falando!"- alertava-me meu irmão em relação a algum assunto de extrema importância, que eu já esqueci o que era. Que coisa chata!Ele estragava minha oratória no ato..."deixe-me terminar pelo menos, que até eu posso mudar de ideia no final e negar tudo outra vez". Meu irmão não é como eu. Ele leva a sério, se aprofunda, se preocupa mais também. Sexta-feira ele se formou, terminou um ciclo muitos diriam, começou a tortura e acabou a mamata outros pensariam baixo. Eu voltei pro começo de 2008, na minha formatura. Como esse dia ficou distante, bem como todos os anos de universidade. Dizem que o cérebro é sábio ao priorizar as lembranças recentes às antigas, um modo prático de seguir com a rotina, o dia a dia, e focar no que realmente interessa para a nossa sobrevivência prática: a nossa realidade atual. Mas como lamento por não lembrar-me de tudo. Do cheiro da grama da Unesp de Bauru naquele ginásio quente de fevereiro..do nome da tia da cantina, do rosto do senhor da biblioteca e dos recados estranhos que líamos no banheiro inóspito da faculdade. Essa tristeza deve ser a tal da nostalgia batendo no peito. E se o cérebro escolhe por focar no presente, que orgão inventou a nostalgia que contradiz essa decisão em momentos como esse do fim de semana? Talvez seja um "chorinho" do cérebro mesmo ...um brinde para lembrarmos do que somos feitos, quando a gente pára e consegue um suspiro para olhar lá pra trás. Além dos objetos que se tornam queridos, ficaram pessoas que ainda hoje seriam amigas se não fosse o tempo. Às vezes nem mesmo distantes, nem mesmo fora de alcance, apenas por algum acaso separadas de nós, e ao reencontra-las sentimos por não conseguir, mesmo que com muita boa vontade, aquela intimidade solta de um dia.

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um dia

Seu Eugênio, 62 anos e 8 meses, aposentado há 10, acorda em setembro num dia invariavelmente frio, porém ensolarado. Olha para o outro lado da cama e não vê ninguém. Procura suas chinelas meio que sem saber o porquê e as calça, pensa no sonho do dia anterior e lembra-se que não sonhou nada. Coça os olhos com prazer, levanta-se, sente vontade de espriguiçar-se, mas tem preguiça. Chama por Maria, que não responde. Vai até o banheiro, olha para a calcinha chocolate pendurada na torneira do chuveiro e sente asco. Depois do asco uma certa excitação meio que como uma lembrança de algo que não se lembra. Nostalgia!Nostalgia é a palavra. Ou talvez dejá vù. Pensa escovar os dentes, como recomendado pelo dentista, mas pensa que odeia o sabor da pasta de dente misturada com o café que logo vai tomar. Desiste de pensar e escova os dentes. Olha para a barba, já crescida e sujando seu rosto, incomoda-se mas não faz nada a respeito. Troca de roupa, penteia os cabelos, olha-se no espelho e percebe um pequeno amassado na manga direita, decide trocar de camisa, sem saber direito por que. Ouve o som da porta, é a mulher que entra. Vai até a cozinha e encontra Maria arrumando as compras. Comprou pão francês? Não, achei que você ia preferir ir buscar você mesmo. Ela achou certo, mas ele continuou mal humorado, meio que se sentindo forçado a sair de casa. Olhou para Maria e pensou como ela tinha mudado, e não conseguiu se lembrar de como ela era bonita. Para um homem velho, o passado pode ser alguma coisa desnecessária, por causa de todo o senso do prático que vem com a experência. Quando jovem, com seus recém completados trinta anos, gostava de se auto-afirmar pragmático. Conhecia em partes o significado da palavra, mas conhecia ainda mais o efeito que ela tinha nas pessoas. Sentiu de repente fome, ou simplesmente seu estômago roncar, apalpou os bolsos da calça, o bolso da camisa à procura de trocados, mas não encontrou nada, apenas um papelzinho antigo no bolso da camisa depois da que não estava amassada. Leu o papel e já o guardou amassado de volta no bolso, sem que eu conseguisse vislumbrar alguma coisa. Pensou por alguns instantes, deu uma forte fungada, e um meio sorriso perpassou seu rosto, ou somente o raio do sol que entrou pela janela o fez fechar os olhos por causa sensibilidade. Sua mulher, Maria, estava sentada na sala, com a televisão ligada, tomando um chá e lendo uma revista. Querida, você precisa fazer tudo isso ao mesmo tempo? Se eu consigo, qual o problema Eugênio? Ela disse isso como um tom poeril, quase infantil. Eugênio lembrou um pouco dela, sob a luz daquele sol matinal, que entra tímido pelas frestas da janela, e lembrou como ela é bonita. Ficaram os dois assim quietos por uns dois minutos. Que foi Eugênio? Ele foi até ela, ajoelhou-se no chão e delicadamente a beijou na boca. Maria ficou desajeitada. Ele, do jeito que levantou-se, pegou as chaves e saiu. Ela desligou a TV, sorriu e tomou um gole de chá.
Garoava na rua. Eugênio surpreendeu-se do fato, por não ter sentido o cheiro. Mirou a padaria a duas quadras de casa, e saiu ao seu encalço. Um quarteirão depois já podia sentir o cheiro de pão doce, que agora sim misturava-se com o cheiro da chuva e um tiquinho de fumaça dos carros. Escolheu os três pães franceses de sempre, e decidiu escolher mais duas carolinas que Maria tanto gostava. Apalpou seus bolsos e lembrou-se que não tinha trocados, esentiu novamente o papelzinho. Sentou na cadeira, comeu uma carolina. Pensou mais um pouco e comeu outra carolina. Pediu para pendurar a conta e saiu. Já não garoava mais. Segurou seus pães no peito, sentindo que acabavam de sair do forno, encheu sua boca de àgua ao ver uma menina de saia passar. Atravessou a rua, automático como tinha procurado as pantufas mais cedo, não viu o ônibus que passou.
Três pães franceses cairam no chão, a moça da saia correndo para acudir o senhor, Seu Eugênio. Eugênio.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

10 minutos

Olho lá fora, o mundo. Faz sol e lá na frente passa um avião que eu não escuto. De cima avisto prédios que não têm pessoas, grandalhões objetos inanimados que dominam esse lugar. O que será que acontece lá dentro? Pouco me importo, moro aqui, melhor, vivo aqui. O que acontece aqui dentro talmbém pouco me suscita interesse. Olho lá fora, olho esse sol que logo vai descer pra chamar sei lá o que, esse sei lá o que me enlouquece! Ele vem depois do sol, bem depois, deve bem de ser preguiçoso, mas promete, sempre promete. É pra ele que eu vivo, enquanto posso. Barulhento, sempre rodeado de coisas e gentes e oportunidades. Ele tem essa coisa boa, essa coisa do inusitado, nunca sei o que ele vai trazer, e isso sim me interessa. Uma coisa que vai subindo, subindo pela garganta...o celular toca, ish já começou!Ainda não é hora, respira, olha pra essa tela sem graça, cabeçuda e repetitiva! A vida agora é essa tela. A vida que não me interessa, que não vale, para a qual eu não nasci. Os custos, preciso rever aquele custo, por que o dinheiro deve bater no final do mês, ai o final do mês, contas, será que eu consigo hoje?
Tic tac, .00. Disfarço minha felicidade, saio pela borda, dois passos e já nem penso mais naquela tela, elevador, tchau pra recepcionista, boa noite pro segurança, o paraíso, a rua! O cheiro da fumaça, o bafo que contrasta com o ar condicionado, o barulho do busão, é tudo delicioso.
O que vestir?Pra quem ligar?Ele vai?Sento, ligo a TV sem horário pra levantar, comer alguma coisa, tem que ser gostoso, gorduroso, por que hoje é dia pra isso, e que se dane a dieta. Uma estratégia se forma, o que eu quero hoje?Qual o meu público, qual o meu objetivo, projeto finalizado, coloco em ação, finalizo com um perfume que atenda ao pedido e enfim...O daqui em diante é o que vale, e agora é segredo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A geração do grampo

Somos amigas da correria, do barulho, da gente e dos homens. Somos parceiras, gostamos e entendemos de futebol, bolsa de valores então nem se fala! Viemos de longe, viemos daqui, de outro bairro e chegamos. No ensino superior beijamos na boca pra acordar com ressaca e vestidas de rosto limpo, ir trabalhar. Aguentamos muita coisa em muito pouco tempo. Não gostamos do que vem fácil, não confiamos na falta de interesse, confiamos umas nas outras. O amor? Esse nos amedronta, esse é difícil que só vendo, esse é o fim dos nossos meios todos globalizados.
Nosso cabelo é pouco prático pra tanta coisa, para facilitar usamos grampos aleatórios nas madeixas que se prendem com um charme inusitado. Somos a geração dos grampos, que seguram pouca coisa, mantém a aparência levemente arrumada e nos ajudam com sua sutileza. Se algo ou alguém nos machuca na auto estima, sempre temos um belo batom para nos recuperar e esperar pelo próximo dia. Não esbravejamos, tentamos não julgar, mas adoramos ver as outras mal vestidas, antes elas que nós. Somos enfim boas, mas não santas.

Aufwiedersehen!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

E a diversão?

Descobri esses tempos um talento impressionante que nós humanos temos. O talento de fazer as coisas divertidas tornarem-se chatas, ansiosas, um peso. Para tal, parto do principio do porquê do nosso nascimento ser a busca pela felicidade. Primeiro a felicidade de nossos pais, por que afinal de contas, eles têm ali de pronto a mistura deles mesmos em outro ser, que depende somente deles para viver. Por um tempo, claro. A felicidade. É em busca dela que viemos, para sermos felizes precisamos nos divertir. Antes de nos divertimos, vivemos em sociedade, e dentro desse local inóspito precisamos criar regras para bem viver. Pronto, lá se vai a felicidade. Não critico as regras, apenas lastimo a necessidade de te-las. Lá se vai a diversão. Mas calma, muita calma, dentro da sociedade, no meio das regras, no esconde esconde diário dos deveres, existem os relacionamentos. Aí sim!
Homens, mulheres, homens com homens, mulheres com mulheres, desde o começo foi tudo meio misturado. A amizade é a base. Dizem que a palavra amizade vem do latim, e sua raíz quer dizer amor. Essa é a relação mais pura e idealmente não deve haver interesse egoísta, a não ser a vontade de estar junto. Surge da afinidade, do bom conhecimento, do cativar daquela antiga e sábia raposa. Quando se fala em amor, ou melhor quando se sente, parecem perder o sentido as regras, a sociedade. E é divertido, e traz paz, e faz sentido.
A amizade começa também sem interesse sexual, e tá ai um ingrediente tinhoso, o sexo. Ele enlouquece. Ele ainda é, e duvido que um dia deixe de ser, o principal pensamento de todas as pessoas. Tirando dias que sucedem a jogos importantes de futebol. O que me leva a escrever sobre isso, e a pensar em toda essa questão da felicidade, é que as nossas relações amorosas deixaram de ser divertidas. Viraram jogos de poder. Ninguém se sente livre para agir naturalmente, seguir os impulsos, fazer-se de bobo. Quando foi que começamos a estragar tudo? Veja bem, não sou apocalíptica, não penso ser o fim, mas que tudo está pesado, está. Onde fica o disque me disque das meninas que cochicham e paqueram e sonham?
Nós mulheres já idealizamos um tipo ideal, desde o tênis que ele usa até o formato de suas mãos, sem contar os interesses específicos e as ambições econômicas. Tudo ficou mais complexo. O que fizemos com o dividir?O aprender?O lutar?Nós mulheres nos tornamos cínicas.
Somos cínicas, por que de alguma forma, desde o começo desse jogo de vai não vai amoroso, logo cedo na puberdade, batemos muito a nossa cara. Mais do que o normal, por que é tudo mais fácil. Encontrar com o carinha é fácil, trocar idéia, saber das fofocas que envolvem o nosso eleito do momento é fácil desde o advento do ICQ. Estragou um pouco. Os homens têm sua parcela de culpa no nosso diagnóstico atual. Eles ficaram ainda mais aéreos, têm muitas preocupações, e não muita paciência. Eles têm também a mania irritante de deixar as coisas no ar, de serem educados e cortezes. Eles ficaram mornos. Parece que não se apaixonam, não se entregam, e não conseguem ter a personalidade de querer uma mulher no meio de muitas, não importa qual seja.
Veja bem, é claro que eu estou generalizando, é claro que ainda existe esperança (?), e é claro que os homens conseguem sim se entregar e as mulheres não são totalmente cínicas, eu só desenho agora a imagem que eu vislumbro pessoalmente e na obervação e participação na vida das outras pessoas. Termino pedindo: Vamos voltar a nos divertir?

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Impressões

Conversas com um personagem que eu não conheço bem, mas veio me contar coisas interessantes:
Que coisa essa da “primeira impressão é a que fica”. Aquele primeiro olhar para a pessoa, o teste se o santo bate ou não, se é bonito, feio, mal vestido, fede? Tudo isso devia ser melhor observado, por que eu vou te dizer meu filho, eu cansei de cair de cara com essas idéiazinhas superficiais de um primeiro conhecimento. Não vou tirar o meu da reta não, ô se já julguei, e é divertido por um lado, vira meio que um jogo de adivinhação, e enquanto eu sei que é um jogo, qual é o problema? Pensar que aquele cara mala que só falava dele mesmo, é hoje o amigo fiel e confidente de todos os anos. Aquela patricinha metida a besta (o que significava que ela era linda de doer e me esnobou), se apaixonou por um cara sem graça como eu, é a mãe que eu pedi a Deus pros meus filhos. Coisa louca...a gente vive batendo a cara, a vida fica gritando o quanto que a gente é burro. Por que sim, a gente é um bicho burro e orgulhoso ainda! Não é por mal eu sei, faz parte da nossa raça, a gente se sente o tal no meio dos outros animais por causa de dois dedinhos que têm o super poder de segurar uma colher. A colher gira pra adoçar o chá e a gente o que faz realmente de bom? Julga, critica, reclama e faz tudo do jeito errado. Eu não quero deixar vocês desanimados com a minha sabedoria e toda essa coisa, eu quero dar risada! Vou rir por que tô velho e só aprendi isso agora, senão teria rido antes. Estudei, me senti várias vezes um puta de um cara por causa de uma promoção no trabalho, olhei de cima para os subalternos, a faxineira, recepcionista, todos eu tratava com a polidez certa das pessoas superiores. Superior em que? Que eu tinha melhor que eles? Ah lembrei, um escorte conversível amarelo e zero, que agora nem tem mais linha, e era bem do brega. A gente se prende a um conceito que não existe mais daqui uma semana, a gente se prende a muita besteira! Eu vou sim é rir, já contei esse segredo pros filhos da minha patricinha (eu ainda chamo ela assim), aquela dondoquinha linda. Meu melhor amigo de hoje era o cara com bafo da repartição que eu trablhava há trinta anos. O cara consegue entender e rir das piadas que eu ainda nem contei. Tem problema de estômago, daí o mal hálito que eu já nem sinto.