E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Pequeña compañera

Amigos, esse talvez seja o post mais bobinho da minha vida, mas por que não sermos (ainda mais) bobos nesse novo ano? À bobeira subentende-se a não pretensão, então, sejamos bobos por que não?

Nesse final de ano visito/reconheço minha família espanhola, e enfim, era noite e estava frio e ainda estava no fuso, quando me peguei com uma insônia específica e aproveitei para fazer um pequeno poema em espanhol e dividi-lo com vocês.
Aí está:


Mi compañerita, por que eres tan pequeña e me despierta cuando estoy haciendo lo que más amo

Pequeña, necesito descansar por que estoy de vacaciones, lo que no suelo tener a tiempos

Mi amiga que me acompaña e dame vida, a ti te agradezco, pero te pido que esperes hasta la mañana para despertarme

Vejiga mia, gracias a ti por darme el piss pero dejame dormir más um ratito.


Aufwiedersehen!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Radical

Eu não sou muito fã de falar. Gosto de pensar, escrever, escutar, mas conversar sempre foi um trabalho extra pra mim. Acontece que um dia descobri que para me relacionar e mais ainda, para conseguir me entender, eu seria obrigada a falar, e muito. E então comecei a falar, falar, e cada vez escutar menos. Sabe aquela coisa do equilíbrio? A gente pende de um lado, pende do outro, chega a cair, e depois volta pro começo do processo. Eu falei muito esse ano, demais, as eleições que o digam!

Depois de um período duro de falta de trabalho e reclusão,  fui ganhando novas forças de auto estima e segurança, o que é maravilhoso, mas tem uma coisinha básica que a gente nunca pode deixar de lado: a humildade. Foram muitas descobertas, coisas que estavam na frente do meu nariz e eu não enxergava e fui me permitindo ver, mas de novo o equilíbrio, e então como uma criança aprendendo a andar, eu tentava aprender sobre todo um movimento, o feminismo. A partir daí, quem acompanha esse blog sabe como continua a história.

Eu entrei em algumas discussões, algo que sempre odiei fazer por que tinha essa ambição louca de passar por essa vida numa nice e amando todos à minha volta, e vice e versa. Eu me desapontei várias vezes, chorei, perdi as forças, pra depois pensar: calma. Eu sou uma radical, acho que sempre fui, só tirei umas férias por um tempo. Eu sou aquela garotinha que a mãe levava para escolher um sapato e já o escolhia da vitrine, sem nem precisar provar. Essas minhas opiniões tão fortes mudam, costumo inquirir meus amigos com um constante: "não me peça coerência", e na boa seres humanos, não ambicionem a coerência!

Eu sempre precisei delas, dessas opiniões fortes em um lugar palpável, nos mais variados momentos da minha vida, mas decidi tirar um tempo para ouvir mais, mesmo que discorde do que está sendo dito, eu preciso ouvir, e ponderar. Temos costume de ouvir já pensando no que vamos responder, antes do nosso interlocutor concluir o pensamento. As pessoas são livres para pensarem o que quiserem, e eu sou livre para não querer no meu convívio alguém que incite o ódio, mas fora isso, posso fazer o exercício de relevar e conversar, e quem sabe, mudar a minha opinião ou a do outro.

Dito isso, existem algumas coisas que se apresentam imutáveis para mim e que eu gostaria de deixar claro: ninguém é feminista demais. Seria a mesma coisa que dizer que se ama demais. Ou que foi feito berinjela demais. Não faz sentido. O feminismo luta pela igualdade das pessoas e pelo empoderamento feminino, contra a opressão de décadas do sistema patriarcal. Só isso. Só amor. E gente, se tem uma coisa que eu posso falar tranquilamente com coerência é: amor nunca é demais.

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Duas

Era uma que se enchia com outra dentro de si.

Eram duas com a segunda no colo, e muita confusão na cabeça.

Eram duas e sorriam na mesa de café, uma olhava a outra com um dos olhos fechados, evitando a luz que dela emanava.

Era uma que dizia dizia, e a segunda nem tchum, olhava para o relógio na parede.

Era uma que queria tanta coisa que até doía no peito.

Era uma que tinha medo de perder a outra, que já não reconhecia como aquela outra parte que antes lhe cabia.

Era uma que conseguia o que queria e saia pra andar em lugares altos e perigosos.

Era outra que segurava forte no peito para não prever o que não podia ver.

Eram duas em um abraço depois de tempo demais separadas.

Eram duas que falam, que ouvem e falam novamente.

São duas que se escutam e se aconselham para depois brilhar os olhos de água.

São duas, são uma, somos nós. Mãe.


Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sonhar

Na primeira vez que você me definiu "sua namorada", eu fingi ser nada demais, só que essa palavra, vinda da boca de alguém que a gente gosta é mais do que demais. Guardamos pequenas meninas dentro do nosso corpo de mulher calejado pelos foras e sumiços, e por um momento eu tive a compreensão de que eu era correspondida, e sensação melhor não há. Aprendi porém, que ações dizem mais do que palavras, eu então já sentia o seu sentimento bater de encontro com o meu. Eu sabia ser sua namorada. Existe essa luta, esse embate abstrato contra o que me foi mostrado e entendido como relacionamento, como gostar. Não tenho esse tipo de experiência, mas sei de relacionamentos, e de homens. Você é um bom homem, e é parte de mim. Você nunca será meu, como eu nunca serei sua. Somos de nós mesmos, mas como fica difícil explicar isso para um sentimento que vai crescendo quando nos entrelaçamos e dizemos nossos sonhos à madrugada que silencia em nosso favor. Para que continuemos a fazer essa coisa sem sentido que é sonhar. Eu sonhei com você. Você existe.


Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Vida


Tem acontecido um fenômeno em minha vida e ele nada mais é do que pequenos sinais do teclado que em conjunto formam um símbolo emblemático: ¯\_(ツ)_/¯

Essa pessoinha acima representa tudo que a vida diz pra mim: ¯\_(ツ)_/¯

Estava tentando me lembrar de quando eu era pequena, ou melhor, quando era criança, em como costumava ser feliz, essencialmente feliz mesmo, e tudo pra mim eram flores e risadas e curiosidades e teatro e folia com os primos. E então a vida me dizia: ¯\_(ツ)_/¯

À medida que eu fui crescendo, essa alegria com curiosidade se transformou em um aparente desligamento do mundo, o que na verdade era uma ligação muito grande com todos os detalhes que formam esse planeta e as pessoas que nele vivem. O mundo era enorme, e eu começava a tentar ler os sinais, tantos sinais de fora. Eu olhava pra fora e ficava perdida, e então a vida me dizia:  ¯\_(ツ)_/¯

Mais tarde, eu percebi que não só do lado de fora, mas que dentro de mim havia outro mundo enorme de coisas para descobrir, essas coisas já não eram tão inspiradoras, elas me assustavam e entravam em colisão com o que acontecia pra fora. Eu tinha que respeitar o exterior muitas vezes em detrimento do que eu tinha urgência de ser, eu precisava me adaptar e tinha que me encaixar, até que depois de muitas tentativas e frustrações eu resolvi me fechar. Se a vida seria pautada pela parte de fora, que a parte de dentro silenciasse. Minha sensibilidade teria que ser organizada, essa coisa de encher os olhos de lágrimas, de se exaltar com algo que se vê e machuca muito com falta de gentileza, carinho, bondade, tudo isso tinha que ser fechado, não era da minha conta. E a vida seguia: ¯\_(ツ)_/¯

E era surpreendentemente mais fácil seguir assim, apática, pra fora. Só me bastava existir, cumprir minha meta de ser vivo na sociedade. Um dia eu senti uma tristeza muito grande, paralisante, era o meu interior pedindo para respirar. Foi quando a bagunça de dentro, silenciada e sem espaço entrou em colapso, e não pude mais seguir em frente do lado de fora, eu tive que me reformular toda para equilibrar essas duas dimensões opostas. Os outros e eu. E eu descobri, não sem muito alívio, que poderia honrar quem eu sou, e poderia seguir assim, e ainda com direito a estar satisfeita. A vida sorriu de volta e fez: ¯\_(ツ)_/¯

E então, como diria Clarice: "A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre" ¯\_(ツ)_/¯

Aufwiedersehen!!    






quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Os quatro P´s

Quando estudamos marketing, aprendemos sobre os 4 Ps, um lance muito didático embasado em palavras-chave que servem para entender a amplitude das formas de se divulgar uma marca: produto, preço, praça e promoção.

Eu me peguei pensando sobre os meus 4 Ps, ferramentas que utilizo para uma vida equilibrada, não como uma receita pronta para a felicidade, por que a felicidade assim como uma coisa ampla e estática não existe, ela é pequenos momentos de êxtase que vivemos e ainda viveremos se tivermos sensibilidade. O real objetivo da vida é o equilíbrio, isso significa, tal qual o equilibrista cantado por Elis, que vamos pender pra um lado, depois pra outro, vamos cair, subir novamente, sempre na eterna brincadeira de balançar e continuar a travessia.


Meus 4 Ps:
Paixão
Paciência
Psicanálise
Pilates

Paixão é aquele frio na barriga, aquilo que nos eleva. A minha é o cinema, a literatura e a música - nessa ordem. São os ingredientes que fazem minha vivência ser elevada, sair daquela realidade crua que eu tanto evito, o que me leva ao segundo "P", a paciência.

Paciência é segurar o primeiro impulso, é ponderar, diferente da paixão não se cria sozinha ou é descoberta, a paciência é um trabalho braçal de erro e acerto, um exercício diário de humildade, por que tem muito poucas coisas que a gente consegue resolver nessa vida, e a maioria (das poucas), que conseguimos resolver, estão na nossa esfera subjetiva. É uma arte que se conquista com os anos, um tesouro que nos é dado à medida que fazemos aniversário, e é surpreendente perceber que no final do dia, o não fazer nada é o maior feito.

E como uma forma de conciliar esses dois primeiros "Ps", eu me encontrei com a teoria psicanalítica, na investigação do inconsciente, das questões que deixamos escondidas para não ter de lidar, coisas que precisam ser entendidas, elaboradas no jargão, para não formarem uma bagunça enorme na nossa psique. Não existe uma definição de quem somos, por que nos metamorfoseamos em diferentes papéis, isso é humano, mas podemos procurar entender o nosso desejo. Esse é caminho para o verdadeiro sucesso da investigação, um caminho contínuo de descobertas diárias.

Por fim, eu entro no quarto "P", de pilates, o que na verdade foi um jeito de completar os 4 "Ps", por que foi uma atividade que funcionou para mim - insira aqui qualquer outra que te faça bem. O pilates me ensinou a prestar atenção no meu corpo, em cada parte dele, e consequentemente a deixar a minha cabeça descansar nesse ínterim. Foi algo muito revelador perceber que o comando da cabeça não dizia nada ao movimento que eu queria do corpo até que o próprio estivesse pronto para fazê-lo por meio da prática, o que foi mais uma das lições de paciência/humildade.

E então os "Ps" vão circulando ao meu redor enquanto eu tento me equilibrar nesse slackline louco que é a vida. Boa sorte a todxs xs equilibristxs!

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Considerações de um livro de bolso

Sinceros Devaneios - o livro de bolso será lançado mundialmente em janeiro de 2015, em São Paulo e depois na cidade de Araras, interior \o/

Estou correndo com todos os preparativos para oferecer esse que é o projeto de tantos anos, da melhor forma, para os amigos que acompanham o blog.

Como um "esquenta" do lançamento, queria dividir as doces considerações do meu amigo da Unesp de Bauru, o eterno Goiaba, colega, jornalista, leitor e escritor de mão cheia, espero que gostem!

Pra quem ainda não curte, o Sinceros Devaneios tem uma fanpage no facebook: http://goo.gl/wWcy7o

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“Eu só queria criar outra família, porque é assim que eu funciono, sou uma criadora de famílias, assim que cresci e aprendi a ser feliz, e talvez seja esse o sentido da minha vida”. (Famílias)


24 crônicas: 24 narrativas, 24 histórias recheadas de outras pequenas histórias. Em cada texto, as descrições, tanto espaciais quanto emocionais, dão noções diferentes para uma mesma autora de quem ela possa ser, narradoras que guardam entre si angústias e conquistas, alegrias e tristezas tão comuns ao gênero humano.
A forma como é colocado cada estado de espírito dá a certeza de que a autora é fruto de seu tempo, sabendo com as palavras de seu tempo (e com estilo próprio) reconstruir o grande problema que nos ronda: o “quem sou eu”, que invariavelmente deságua no “o que estou fazendo de mim”.
Como, para mim, a literatura é fundamentalmente diálogo, vejo muito de Virginia Woolf na angústia que move as narradoras-cronistas. Não à toa escolhi o trecho de Famílias para introduzir essas minhas impressões, isto porque ele me evocou “Os Anos”, da romancista britânica. Uma mistura de sensações, de experiências, de desalentos e esperanças.
Pode-se dizer que muito do que está ali escrito é comum a muita gente. Ora, quanto melhor se consegue apreender as angústias comuns às pessoas, mais universal se tornará a obra. É recomendável olhar para cada linha do livro de modo atento, assim, fatalmente, cada um de nós verá a si em algum momento.
Por fim, não por mérito menor, é de se admirar a capacidade com que se expõe a autora em suas tantas narradoras e como joga fluidamente alternando momentos que parecem saídos de uma conversa sobre o cotidiano e construções que beiram a poesia.
É, com toda a certeza, ainda que muitas vezes deveras angustiante, uma grata leitura!
Luiz Augusto Rocha

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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Uma pessoa melhor, pra um país melhor

Eu não voto no Aécio, essa tem sido a minha fala durante essas eleições. Votei com convicção na Luciana Genro no primeiro turno, no segundo, por não votar em Aécio, por acreditar que ele seja uma pessoa ruim, um exemplo dos piores para o Brasil, eu voto na Dilma.

Essa tem sido uma briga acalorada entre dois lados, e eu me incluo nesse grupo de pessoas que se deixou tomar por esse calor, por esse clima de copa do Brasil. Nunca aconselhei a alguém que votaria no Aécio para que votasse nulo, mas não 45. Meus muitos amigos que o fazem, argumentam pelo benefício da alternância de poder, ou por acreditarem que Aécio é a melhor opção para a economia brasileira. Legítimo, pessoal, intransferível.

Quanto aos outros argumentos, os de baixo calão, os que desferem xingamentos à Dilma de forma sexista, ou o argumento da compra de voto do povo pobre pelo bolsa família, ou aquele que acredita que quem vota na Dilma não tem instrução (feio FHC, feio), essas ideias são as responsáveis por me tirarem do sério, e por me empurrarem no mesmo patamar com os que baixam o nível do debate.

Percebi isso quando minha irmã caçula, sempre muito ponderada, sempre meio que me puxando a orelha, por que eu tendo a me posicionar rapidamente em relação a tudo no calor dos meus sentimentos, veio me falar como achava desrespeitosa a hashtag que eu criei para quem vota no Aécio #tiraacabeçadabunda, e eu tive que concordar com ela, e aquela afirmação de forma alguma se referia a todos que votam Aécio, eu peço desculpas por isso.

Tenho outra pendência no campo dos preconceitos e do que me distancia do objetivo de ser uma pessoa melhor, eu quero parar de falar mal dos "coxinhas" - gíria usada em São Paulo para falar dos garotos mais engomadinhos que curtem um tipo específico de som, frequentam baladas na vila olimpia/itaim/moema, e às vezes, quase sempre, vêm passear na Vila Madalena. Eu tenho sido ridícula, por mais que seja engraçado às vezes, e não quero mais usar esse termo de forma pejorativa (tirando alguma situação em que eu coma uma coxinha, o salgadinho, e ela não esteja gostosa).

Acho mesmo que foi linda a comoção do PSDB ontem no Largo da Batata, acho que vai ser linda a comoção de quem vota no PT hoje no mesmo lugar. Queremos a mesma coisa gente, sem brigas, mas sempre as discussões, essas são saudáveis e fazem esse país se movimentar. Vamos votar, vamos lembrar de cobrar em quem votamos, e vamos seguir todos juntos.

Aufwiedersehen!!

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Quando a beleza machuca

"Que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental.", disse Vinícius, e eu prometo que essa não vai ser mais uma postagem zoando o poetinha (http://goo.gl/Ql88dl).

Essa é uma afirmação célebre de um determinado contexto social, um clássico, sempre atual. O nosso contexto cultural que "sugere" de maneira pouco sutil, que as mulheres devem ser belas, por que isso é o mínimo que devemos fazer das nossas vidas. Somos embelezadoras do mundo, bibelôs transeuntes. Acontece que, esquecendo a questão de gosto pessoal estético, existe um padrão a ser seguido, que é indicado pelas revistas, novelas, todos os dias com suas mulheres longilíneas (cada vez mais), com cabelos lisos e loiros, desde a época das paquitas. Ah é! Agora já é mais aceito/indicado, um leve encaracolado bagunçado e despretensioso a lá Bündchen.

Pensando que a maior parte da nossa população é formada por mulheres morenas, com cabelos escuros e encaracolados, altura mediana, não é de se surpreender, que tendo em vista um modelo tão discrepante da realidade, o resultado seja catastrófico na auto estima e segurança das mulheres à medida que elas crescem.

Quantos os cabelos enrolados alisados até doer o couro cabeludo? Quantas intervenções cirúrgicas para um seio maior, um bumbum menor? Sem falar das dietas milagrosas e da fobia contra as gordas, um comportamento alarmante e em crescimento desenfreado.

A insegurança, a baixa auto estima, o ódio ao espelho, é o responsável pela maioria dos nossos problemas. Temos problemas para nos relacionar sexualmente, por que não aceitamos nossos corpos, não conseguimos amar, por que não aprendemos a nos amar primeiro, sem contar todo o higienismo que nos cerca.
Eu já pensei que deveríamos todas viver na convicção de sermos lindas, hoje eu gosto de encarar a beleza como apenas mais uma característica, tipo tocar violão. Algumas mulheres tocam bem violão, outras não, e tá tudo bem.

Essa é a maior das lutas internas, de um lado o que eu já estudei sobre feminismo, e em como eu devo me amar do jeito que eu sou, sem seguir qualquer outro padrão que não se encaixe ao meu, do outro, todos esses anos de sujeira presa no inconsciente, me dizendo que eu engordei, por exemplo, e que por isso eu não sou boa o bastante. É uma luta extremamente cansativa entre a razão (feminista), e a emoção daquela adolescente desengonçada e mal resolvida, ainda mais depois de tanto desconstruir esse modelo seguido. Eu ainda perco dias de ânimo por causa de uma calça apertada, ou de um vestido que caiu muito mal em uma foto. Não somos superficiais, somos traumatizadas. Isso não é se vitimar, isso é entender a complexidade das questões que temos de lidar, talvez pra sempre :(

Boa sorte, mais aceitação, e vamos aprender a tocar violão que é mais fácil!


Aufwiedersehen!!













http://goo.gl/ca3Bbh

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O desemprego e a perspectiva

Eu lembro da primeira vez que eu vivi a realidade do desemprego de forma real, foi no começo dos anos 90, quando meu pai foi despedido da empresa em que trabalhava, e que estava falindo. Lembro de entender que aquilo era algo sério, e do meu pai dizendo que sem emprego ele não ficaria, nem que fosse pra comprar um carro de lanche e vender cachorro quente. A atmosfera era leve e bem humorada, característica básica do meu pai, mas eu sabia que a situação era de alerta, teríamos que nos movimentar. O meu segundo encontro com o desemprego, já atribuindo desse status em primeira pessoa, foi a partir do momento em que eu entreguei o meu trabalho de conclusão de curso na faculdade, no final de 2007, quando eu passei, costumávamos brincar, de futuro do país a problema social.
A última, e não menos importante, foi no final do ano passado, nos idos e vindos da renovação de expectativas que é todo final de ano, eu como freelancer estava despedida e literalmente com uma mão na frente e outra atrás, sem a quem recorrer, nem ao governo, já que eu tinha inventado de sair do meu seguro primeiro emprego pra ir dar uma olhada no mercado, lá fora. No começo do ano,  eu ainda sustentava algumas esperanças a la geração Y, de trabalhar com algo mais próximo do que eu estudei na faculdade, algo que me suscitasse mais paixão, blá blá blá...impressionante como eu quase não reconheço aquela garota carregada de ideias em janeiro de 2013.
Eu tive um péssimo timing, a economia que começava as demonstrações de insuficiência naquela época, comprovou-se pior ainda nesse 2014 cheio de eventos e holofotes. Ninguém conseguiria contratar profissionais fixos, e então, eu engatei a segunda marcha e assumi a vida de freelancer, esse exercício contínuo de desapego. Desapego de salário fixo, desapego de plano de saúde, desapego até da galera da firma, já que a minha firma sou eu mesma, em homenagem ao querido Jimi Hendrix, através do Purple Haze Produções e Vídeos LTDA - ME, que eu sinalizo nos cheques esparsos recebidos mês sim, mês não.
Eu tive que rebolar, e muito nos últimos tempos, eu cheguei até a pensar, relembrando a ideia do meu pai, a trabalhar como garçonete, ou algo do tipo, enquanto eu não encontrava emprego, e as contas continuavam. Hoje eu tenho jobs, projetos. Hoje meu ambiente de trabalho somos eu, o computador, e um celular. Eu não tenho como reclamar do processo, eu apenas me adapto no tempo finito que são os jobs que pego. Minha vida que eu gostava de calcular toda certinha com seus dias e feriados, agora é uma grande surpresa que eu descubro por dia. Sou como que o alcoólico em tratamento, vivendo um dia de cada vez.
Eu não quero nada além de trabalho, algo que me movimente, e que me dê perspectiva. Tem sido solitário, como eu nunca imaginei que minha vida seria. Eu tenho passado um bom tempo comigo mesma, refletido, e resolvido os problemas do jeito que é possível resolver, tudo muito mais lógico, como uma equação atrás da outra.
Aproveito aqui pra falar, se souber de emprego, tenho um cérebro e duas mãos prontas pra ação.


Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A falácia do "homem lerdo"

À medida que crescemos e começamos a nos interessar por garotos, reconhecemos algumas das qualidades tidas como importantes nessa cultura dos machos, como o "cara com pegada", um ícone nesse desfile de estereótipos. O "cara com pegada" é aquele das novelas, das cenas e cenas em que assistimos a um rapaz e uma moça que conversam, e em que, sem aviso prévio a mocinha é agarrada. Beijos são "roubados" a rodo, como se fosse a coisa mais linda de se ver/fazer. Ela costuma resistir no começo, até que se rende e acaba cedendo ao amasso, reforçando aquele argumento de estuprador: "ela diz que não mas quer dizer que sim".

Não sei o quanto isso é sabido pelos meninos, mas pergunte a qualquer garota se ela já foi agarrada a força na vida, e com certeza ela vai dizer que sim. Eu já contei isso para um amigo e ele ficou bem assustado. Homens não têm que lidar com isso frequentemente. A ideia de que uma mulher está andando por aí querendo ser agarrada é totalmente estapafúrdia. O modo como muitos homens reagem à nossa presença evidencia a visão de que somos objetos que caminham e que "necessariamente" devem enfeitar o meio ambiente e servir a eles. Temos que lembrar todos os dias de reivindicar o nosso corpo como nosso, o que já é um absurdo por si só. Não estamos de forma alguma disponíveis nas ruas, esperando a "opinião" dos que nos observam, mas a coisa fica ainda mais perigosa na esfera particular, em festas, no trabalho, onde subentende-se uma intimidade/liberdade inexistente, não que intimidade real seja desculpa pra qualquer abuso.

Aproveitando o fim do orkut, lembro-me de uma das melhores comunidades: "sou legal, não tô te dando mole", e é bem isso, um sorriso, uma conversa um pouco mais longa, minha saia curta, minha terceira caipirinha, nada disso é um toque para que você me agarre. Meu mundo não gira em torno da sua piroca. Pode ser grosseiro dizer isso, mas ainda mais grosseiro é ser agarrada a força.

Não é novidade que as próprias mulheres, nós mesmas, também somos machistas. Um comentário corriqueiro até hoje entre as minhas amigas, era sobre como determinado cara que elas curtem é "lerdo". "Pô, conversei com ele um monte, saímos, e nada!Ele nem tentou me beijar!" - hoje em dia como réplica, eu abraço essa amiga e aviso que ela encontrou um homem realmente bom, ou pelo menos, com uma ótima característica. O "homem lerdo", na maioria das vezes, é aquele que respeita a mulher, que quer ter certeza de que ela está à vontade e quer ser beijada, ou seja, que respeita o corpo dela.
Nós podemos deixar claro o nosso desejo, nós podemos encontrar o beijo no meio do caminho, aí sim, claramente demonstrando que o queremos, junto com um abraço :)

Desejo e luto por um mundo sem agarramento, sem mão boba, sem liberdade alheia para com o meu corpo. Deus me livre desse "homem com pegada", eu quero e desejo mais "caras lerdos" para todas!

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sobre aquela pulguinha...

É inútil pensar como seria a vida se tivéssemos feito outras escolhas. É inútil calcular todas as consequências de uma decisão diferente. Mas e se for pra brincar de imaginar como teria sido? E se em um cálculo aproximado, você descobre que mesmo sem esboço, sem ensaio ou técnica, a sua atuação nessa sessão única que é a vida, foi exatamente a performance genuína que te levou até onde você está?

Vivemos de amores...seja por alguém, seja por nós mesmos. Uma constante descoberta de texturas, cheiros, e risadas despretensiosas na ressaca de um domingo desconhecido de manhã, quase tarde. Quantos flertes mal sucedidos e engraçados? Quantas roubadas imperdíveis, e eu nem vou falar dos beijos, todos eles nunca suficientes...

Você entende que não é especial, de maneira alguma, e que saber disso é a arma mais poderosa para acreditar que você não tem como prever aonde vai dar, mas você pode ficar extremamente atenta e fiel às suas urgências. Um incêndio por vez em uma pequena vida gulosa.


Aufwiedersehen!!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Sinceros Devaneios - o livro

Eu amo escrever, principalmente pela facilidade como faço isso, escrever pra mim é o melhor modo de organizar os meus pensamentos, que convenhamos, vivem em orgia desde o meu nascimento. Se alguém me perguntar o meu sonho de vida, seria ganhar dinheiro fazendo isso. Jogue qualquer tema aí, eu vou escrever sobre isso rapidamente. Pra quem segue esse blog, sabe que eu passei a escrever com maior frequência em 2008, da minha viagem para trabalhar como babá na Alemanha, não sem antes ter brincado um pouco na internet, com um fotolog, o falecido Super Pig.

Há uns dois anos mais ou menos, eu resolvi fazer uma cata dos meus textos preferidos do blog, algumas dessas "crônicas" que eu costumo fazer, e também contos que eu escrevi quando fiz um curso de criação literária. De lá pra cá, o livro já teve 90 páginas, foi levado para registro na biblioteca nacional, teve um subtítulo, foi enviado a várias editoras na tentativa de alguma se interessar, depois foi jogado de lado, para então, hoje, estar revisado e quase pronto para o forno. Eu resolvi realizar isso através de fornecedores diretos, via particular, pagando pelo meu livro, por que eu acho que essas histórias valem ser documentadas bonitinhas para a posteridade.

Como quando vou sair, e me olho muito no espelho e acabo encontrando defeitos, eu resolvi que não posso mais ler essa seleção de textos, vou acabar ficando insegura, encontrando problemas sérios e não vou realizar algo que eu acredito ser muito bacana. Não acho honesto pedir para que não esperem muito do livro Sinceros Devaneios, como em joguete com a expectativa que possa ser criada, e que não corresponda ao que será efetivamente lido, mas de qualquer forma, ninguém aqui está querendo propor uma reviravolta na língua portuguesa.

Permito afirmar que é um retrato curioso do crescimento de uma garota do interior que se apaixonou pela metrópole, privilegiada,e com problemas bem menores que a maioria das garotas brasileiras, mas que se permite falar sobre eles, e entendê-los como pessoa humana, até mesmo tomando como perspectiva o que acontece em torno dela. Descobrir-se mulher, como Simone de Beauvoir disse, é algo surpreendente e também muito sofrido até que você se aceita e não passa um dia sequer sem agradecer pela benção de carregar esse sexo.

Meus amigos me dizem que eu mudo muito de opinião. Eu realmente não consigo seguir um conceito único e linear pela vida, sempre fui meio esponja, querendo muito ser melhor, mais justa a partir do conhecimento, esse é o sentido da minha vida. Percebi que a gente aprende mesmo caindo, e pessoal, como eu caí nessa minha vidinha! Eu tenho boas intenções, mas eu duvido em até que ponto elas valem de alguma coisa na prática, e tá tudo bem. Esse blog e os problemas da vida me forçaram a aprender a dizer "Não sei", muito mais vezes do que eu gostaria, e eu continuo dizendo, esse livro é bom? Não sei, não sei, não sei...mas eu preciso fazê-lo e espero que vocês o comprem pelo preço camarada que eu vou propor.

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Silêncio, por favor

Hoje está sendo um dia cinzento, natural de agosto. Hoje choveu um pouquinho, um agravante para uma tragédia horrível que aconteceu logo aqui ao lado, no litoral paulistano. Um candidato à presidência, em um momento político crucial, havia morrido com mais pessoas em um acidente de avião. Um político e antes de tudo um ser humano, com recém completados 49 anos, pai, marido, filho. Não demorou 5 minutos para começarem a brincar a respeito dessa notícia: "Devia ser a Dilma!", diziam os mais simpatizantes da direita, ou "Erraram o alvo, era pra ser o Aécio!", diziam os esquerdistas...Memes começaram a circular pelos grupos de whatsapp, entre uma notícia, uma atualização dos amigos, eu via risadas e brincadeiras. Eu sou muito à favor do humor, fui criada assim, eu diria até que ele é um estado natural para mim, não tenho muito talento pra tristeza, mas o que eu vi foi a confirmação do que é esse tempo de opinião, do tagarelar, do compartilhar, do rir a qualquer custo.

Estava lendo um tratado do Alex Castro sobre empatia esses dias (http://alexcastro.com.br/uma-pessoa-boa), com propostas de exercícios de abertura ao outro, de ouvir e ver, antes de opinar e pensar em si, até mandei pra ele um e-mail, dizendo que eu nunca havia lido nada mais cristão, apesar de o próprio Alex ser ateu. Fazemos caridade, participamos como voluntários em ONGs e creches, vez ou outra nos fins de semana, doamos dinheiro, mas que tipo de ser humano somos na nossa rotina, nas atitudes mais simples? Esse é um momento de luto, pessoas estão sofrendo tremendamente, um homem ainda com muito a ser feito teve sua trajetória encerrada de uma hora pra outra. Eu não pretendia votar no Eduardo de Campos, mas ele merece silêncio. Todos merecemos um pouco mais de silêncio.

Tem aquela coisa de ser profissional no ambiente de trabalho, de não misturar emoções pessoais com resoluções importantes para determinado negócio, têm pessoas com quem precisamos conviver a despeito da nossa vontade, então, por que não levamos isso para a nossa vida em geral, em todas as 24 horas, vamos deixar nossas questões pessoais de lado, e lembrar que dividimos um mundo físico, mas mais ainda um mundo de sentimentos, de sensibilidades e de histórias alheias que nem imaginamos por que não ouvimos, não prestamos atenção, por que estamos sempre tagarelando sobre o que "achamos". Vamos nos guardar no silêncio, antes que seja tarde.

Aufwiedersehen!!

sábado, 9 de agosto de 2014

Poetinha, vamos conversar?

Eu sempre suspirei pela música: "Minha namorada", do Vinicius de Moraes e do Carlos Lyra. Sempre me imaginei recebendo essa canção como presente, um dia quiçá merecedora desse título! Trata-se de uma bela melodia, já a letra...bem, hoje eu tenho ressalvas.

Para relembrar, escuta: https://www.youtube.com/watch?v=j2zi6YkZECE

Tomei a liberdade de fazer algumas anotações, apenas tendo como ponto de vista que a tal da "namorada" é um ser humano com desejos, poder sobre o corpo e portanto, não pode pertencer a ninguém além de si mesma.



Se você quer ser minha namorada
Ah, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha (O condicional "se" aparece com frequência em um acordo de deveria ser de igual pra igual.)
Exatamente essa coisinha (eu nem vou entrar no mérito de que a moça não é uma "coisa", mas ela não vai ser essa "coisinha", seja lá o que isso signifique, pra sempre...da mesma forma que o moço não permanece aquela "coisona" pra sempre. Sabe o amor?Então...)
Essa coisa toda minha (essa parte da medo!)
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer um juramento  (Aqui ele introduz o verbo "ter" e dele não larga mais pra conversar com a moça)
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
 (Ela só pode pertencer a si mesma. Fim)
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho (Às vezes, na correria da vida, ela pode ter pressa, e falar bem rapidinho)
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho (carinho é bom, carinho tudo bem, entendendo que todos do casal fazem carinho né?)
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber por quê  (vou te contar, às vezes ela vai precisar esgoelar mesmo, a vida tem dessas, e as pessoas vão saber por que, sim!)
Porém, se mais do que minha namorada (sim, ela vai ser mais do que a sua namorada, isso não é, nem deve ser trabalho período integral)
Você quer ser minha amada (ser sua amada, isso é bom!isso tá valendo!)
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada (a menina quase tem que passar em um concurso pra ser namorada dele)
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
 (não precisa morrer se não tiver a moça, continua vivendo, tá tudo bem!)
Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho seja triste pra você (e tudo bem ela ser triste??Não tem meio termo?Uma encruzilhada onde os dois caminhos se encontram?)
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos (NOT!Apenas NOT!)
Os seus braços o meu ninho (isso é bonito!)
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira  (sem drama, sem derradeiro, sem usar o verbo "ter" - vou manter o final que eu acho fofo e digno :)
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O feminismo é um lugarzinho quente

Eu comecei a abrir o meu mundo para o feminismo tardiamente, mas nunca tarde demais. Tenho dividido as minhas descobertas com as minhas amigas, irmãs, por que quero que elas sintam a libertação que eu tenho descoberto nos últimos meses.

O feminismo é a luta pela igualdade dos sexos,  mas principalmente, pelo ideal de as mulheres serem vistas e tratadas como seres humanos. Parece extremo, exagerado, assumir que a nossa realidade não é essa? Eu concordaria com o extremo disso a pouco tempo atrás, mas como todo "achismo", precisei combater essa primeira impressão, comecei a prestar atenção, a ler textos, a ler atitudes, a ler o que a publicidade ilustra como deve ser o feminino. Sinto-me como que desperta, com os sentidos aguçados, é um novo mundo que se abriu.

Depois de olhar pra fora, e de ouvir e discutir com mulheres que estão nessa luta a mais tempo, comecei a olhar para mim mesma, e relembrei tantos e tantos momentos de auto sabotagem e tristeza pelos quais passei, por "achar"que eu estava errada, inapropriada, ou não me dando ao respeito, quando poderia focar toda essa energia tentando entender quem eu era. Inapropriado é um adjetivo de atitudes femininas, é inapropriado falar palavrão, é inapropriado transar sem compromisso, é inapropriado falar alto, é inapropriado ficar bêbada.

Eu falei sobre isso em (não sei tagear, clica aqui: http://goo.gl/VsmLB5), sobre as várias barreiras impostas às meninas, e em como eu enxergava os meninos como responsáveis por seus privilégios, quando na verdade eles os recebiam como regra ao nascerem com seus pintinhos. No mais, percebi que existe um mundo dentro de mim, e eu preciso aceita-lo e compreende-lo o quanto antes, mas existe também um mundo de diferenças e injustiças para fora de mim, Eu sou branca, mulher, heterossexual, tem ainda uma realidade menos privilegiada que a minha, a dos negros, das mulheres negras principalmente, dos homossexuais e dos transexuais.

Pessoas morrem por causa do racismo, pessoas morrem por causa do machismo e pessoas morrem por causa da homofobia. Eu descobri que não é não levar na boa, quebrar o clima, ser muito radical, não achar graça das piadas que tenham esses problemas sociais como base. De novo: pessoas estão morrendo, a piada não cabe aqui, ela é perigosa e perpetua esse problema.

No feminismo eu descobri a sororidade, uma palavra que não deveria ser desconhecida, por que muito importante. Sororidade é a irmandade entre as mulheres. O contrário do que acontece na vida real, onde somos encorajadas a competir umas com as outras, desde muito novas, eu consigo identificar essa competição na minha própria vida desde cedo, com 7 anos de idade eu já me sentia compelida a ser mais bonita para chamar a atenção do garotinho da minha sala, o mesmo garotinho que me chamou de gorda, e quebrou o meu pequeno coração em pedacinhos. Nunca passou pela minha cabeça que ele era, naquele momento, um layout de babaca, a minha certeza era que tinha algo errado comigo. Nós temos essa facilidade de abraçar nossas falhas, somos o erro, filhas de Eva que mordeu a maçã e cagou tudo, nós somos ensinadas a pedir desculpas qualquer coisa, antes mesmo de cogitarmos que não estamos erradas, e de novo, inadequadas. Somos isoladas em nossas pequenas ilhas, sem poder confiar umas nas outras, por que a outra pode roubar o "nosso homem". Nossas amizades crescem em cima dessa terra podre de desconfiança e competição, então seguimos soprando a vela da amiga, querendo nos sobressair como mais gatas na balada (!)

Estou chegamos nos 30, assim como a maioria das minhas amigas, percebi há pouco, que hoje nos elogiamos de forma sincera e com frequência, isso não acontecia na adolescência, ainda estávamos naquele triste ciclo vicioso. Percebi como juntas somos mais fortes, juntas nos defendemos, nos empoderamos. A feminismo é um lugarzinho mais quente, juntemos-nos irmãs!


Eu dedico esse post ao meu grupo de irmãs do Papo de Mulherzão <3 p="">
Aufwiedersehen!!

terça-feira, 22 de julho de 2014

9 dicas para conquistar uma mulher

* De um texto que não vai sair na Men's Health ou na Playboy. Todas essas dicas só funcionam se você realmente gostar da pessoa em questão, dito isso:

1- Seja educado - não precisa ser cavalheiro, ela não é uma dama, os tempos são outros, hoje ela é capaz de abrir a porta do carro, dividir a conta, sobreviver sem flores - a real educação é afrodisíaca, e ela vai além do casal, vai no modo como você trata o garçom, ou como você conversa com os amigos dela;


2- Falando nisso: tenha amigos - é super sexy quem tem uma vida além do relacionamento, amigos de longa data e amigas também, por que você consegue conviver com pessoas de outro sexo, você entende um pouco do nosso mundo;


3- Olhe-a nos olhos - mesmo quando ela está contando uma história longa, exige-se muito interesse para não perder o foco e olhar para outro lado - basta interessar-se realmente por ela, é importante que seja legítimo;

4- Escute o que ela diz - não precisa lembrar do dia do aniversário da irmã dela, ou da data do primeiro beijo que vocês deram, mas lembre-se dos valores que ela te mostra, lembre-se e respeite o que ela acredita;

5- Fale tudo que tiver vontade perto dela - exatamente o que você quiser. Ela quer que você se sinta livre, e nada é mais excitante que a liberdade;

6- Seja bem humorado - não precisa ser um palhaço extrovertido, mas encare o mundo de forma positiva, inclusive a si próprio;

7- Confie em você - conhece-te a ti mesmo, saiba que você é bom, e se ainda não for realmente bom, lute todos os dias para melhorar. A admiração não é conquistada por quem se auto-proclama bem sucedido, bonito e magro, você pode ser muito mais que isso;

8- Desafie-a! Ela pode ter momentos de fragilidade, como todo ser humano, mas ela também é forte e cheia de si, ela teve que aprender a ser assim para se afirmar, desafie-a, faça com que ela se conteste, reveja pontos de vista, é sexy ser desafiada;

9- Deixe que ela tome a iniciativa. Ela vai ansiar pelo seu toque, aguarde esse momento, ela te mostra o caminho - não existe nada mais excitante que um homem que respeita o timing, e o que uma mulher quer fazer com seu próprio corpo.

Aufwiedersehen!

terça-feira, 24 de junho de 2014

Dos perigos de estar presente


Sabe os acontecimentos cotidianos da vida adulta?Um fornecedor que não cumpre prazo, um e-mail carregado de má educação, um encontro planejado a semanas que acaba não rolando, coisas, diárias. Eu sofro por elas, esse é o meu modo de conviver com o mundo. Dizem que a comédia é o lado avesso da tragédia, e vice e versa, entre os dois, eu sempre recaio para o drama, não aquele mexicano, cheio de lágrimas e fel, um drama mais nuclear, composto por pequenas implosões seqüenciais, melhor denominadas como gastrite nervosa. 

Não foi sempre desse jeito, quer fizer, meu caráter sempre foi claro, eu crio expectativas em série, eu espero muito, costumo até brincar que isso é um tipo crônico de otimismo burro, o que nunca funciona, e paw!Quando menos se espera, a iminente queda e o correr tresloucado atrás do prejuízo. Eu tentei fugir desse meu aspecto, pagando entrada em um ciclo contínuo de apatia (vide post anterior), um tipo de mecanismo de distanciamento programado, dessa forma você sofre menos sim. Comprovadamente. Não preciso completar, entretanto, e não sem água nos olhos, que dessa forma você também não sente as alegrias insensatas do vulnerável. Do estar presente. A minha vida (como a vida da maioria dos seres humanos que chegam na idade adulta), ficou séria de repente, é tudo ao vivo, pá pum!Mas eu jamais seria capaz de voltar integralmente ao que eu era antes, eu estou acordada demais para isso.

Aufwiedersehen!

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Sobre a apatia

"Eu trabalho com comunicação". Toda vez que digo isso, sinto-me como que contando uma piada. Minha interlocutora, uma senhora no ônibus, brilhava seus olhos alegres por trás de suas bifocais, dava pra ver que ela ansiava por uma conversa profunda, ou até mesmo um bate papo casual com aquela jovem "comunicadora", que a respondia monossilábica e sem ânimo.

Eu estava sentada na parte da frente do ônibus, prestes a mergulhar no meu estado ensimesmado, uma prática de anos, desde que descobri as metrópoles, um estado de total contemplação, que guarda lugar cativo nos ônibus. Eu adoro ver a paisagem passar lá fora, e a ideia de que eu vou chegar no meu destino apenas estando sentada. Eu moro em São Paulo, mas a minha experiência é uma exceção, por que eu não tenho horários tradicionais de expediente como o resto das pessoas de bem, e também por que eu moro na arborizada zona oeste, e no máximo me movimento até a vila mariana. Enfim, essa senhora, tentava com muita dificuldade, e ainda segurando uma bengala, subir no ônibus pela escada, quando eu fiz menção de me levantar para ajudá-la, mas o próprio motorista se adiantou e o fez. Foi apenas uma pausa no meu estado vegetativo contemplativo, mas esse pequeno gesto mecânico acendeu uma simpatia instantânea nela, que sentou no banco à minha frente.
Eu olhava pra fora, quando ela me chamou, e agradeceu pela tentativa de ajudá-la, e então iniciou, ou pelo menos tentou, iniciar o diálogo acima.

Depois de algumas tentativas mal sucedidas contra a minha apatia deliberada, a senhora virou-se de volta para o seu lugar, vencida, deixando-me menos como uma vitoriosa e mais como alguém digna de pena. Eu lembrei da vó que eu perdi no ano passado mais ou menos com a mesma idade da senhora que falava comigo. Eu pensei em como eu gostaria de bater um papo furado que fosse com ela naquela momento. Senti o tradicional líquido imaginário fervente descendo pela minha garganta até a boca do estômago, um companheiro dos dias de stress, que descia nesse momento carregado de desaprovação.

Lembrei dos quadros do Edward Hopper, que eu tanto admiro, e das suas ilustrações de pessoas sozinhas em lugares públicos, apáticas e patéticas, mesmo que pintadas sob as luzes mais lisonjeiras.


Ao me aproximar do meu ponto, levantei-me e meio que esperançosa para me redimir, sacudi um até logo para a senhora, que agora me respondia à altura, com um ausente: até.

Aufwiedersehen...

quarta-feira, 11 de junho de 2014

A fabulosa história da garota que nunca namorou

Sabe aquele relacionamento tradicional, o teste antes do casamento, aquele convívio próximo e monogâmico para entender se aquela pessoa é a indicada para entregarmos a nossa vida e criar uma família? Eu nunca tive isso.

O namoro sempre foi um tabu pra mim, e como todo tabu, algo muito distante que acabou tomando uma proporção maior do que a real de importância. Como solteira meio convicta, eu acabava escutando coisas do tipo: “Você está escolhendo muito”, “Você não deve estar prestando atenção direito”, “Mas você é tão bonita”, ou o meu preferido “Não fale ou faça isso ou aquilo, assim você assusta os homens”. Eu costumava acalmar a todos contando que tinha tal carinha...e sempre teve, mas né? Eu costumava utilizar boa parte do meu tempo e energia para organizar e gerir esses carinhas, alguns deles duravam anos entre idas e vindas em um acordo não dito de "liberdade", com os envolvidos "conscientes" da decisão. 

Depois de um tempo, comecei a comprar a idéia da necessidade do namoro e a pensar que tinha alguma coisa muito errada comigo, e então, quase prestes a me auto-diagnosticar como algum tipo de retardada sentimental resolvi procurar a psicanálise.

Eu tinha 25 anos e uma sensação de não pertencimento, afinal, todos namoravam, era a coisa mais comum do mundo, tinha amigas que já tinham namorado sério e por anos, e costumava pensar que "eu simplesmente não era capaz de conseguir isso por algum problema psicológico".

O que a analise fez foi indagar: "Ok, você nunca namorou, mas por que isso te incomoda tanto?", e então, quem já fez análise sabe a caixa de Pandora que se abre na sequência, e a questão do namoro passou a ser algo irrelevante dentro das minhas construções psicológicas e de como eu enxergava a vida. Engraçado como a análise te grita na orelha o quanto não somos especiais, mas ao mesmo tempo o quanto é importante saber que somos seres particulares, e que não faz sentido algum essa comparação externa em relação a outros seres particulares. Resumindo: você não é especial, mas você é você.

Hoje, depois de mais de três anos de frustração, angústia, apatia, alívio e felicidade (exatamente nessa ordem), eu sei que eu nunca namorei simplesmente por que eu não quis. Eu quis viver a vida que eu tinha escolhido, total liberdade de escolha, de ir e vir - não que não existam relacionamentos maravilhosos que permitam tudo isso, eu só não queria ter que me preocupar com outra pessoa além de mim mesma. E sim, o egoísmo pode ser algo positivo, por que a culpa, essa coisa totalmente sem serventia, a análise me tirou. 

Apesar de entender na análise que eu queria ficar sozinha, eu também consegui reconhecer uma dificuldade, talvez mesmo por falta de hábito, de me abrir para as pessoas, de guardar minhas frustrações para mim mesma - essa atividade tem um nome científico: recalque, que é um mecanismo do nosso inconsciente usado para guardar sensações que não elaboramos, deixando pra depois. Um tipo de bola de neve psicológica que mais tarde volta de diversas maneiras, doenças, alergia, depressão, e por aí vai.

Hoje, depois de me dar uma “auto-alta” da análise, entendi que além de Freud, posso contar com a minha família e amigos para colocar toda a sujeira pra fora, e que eu teria que fazer um exercício para voltar a me deixar vulnerável, por que eu finalmente queria me envolver com alguém. Por escolha, não por pressão externa.


Aí inventaram o tal do tinder. Pesquei esse nome pela primeira vez em uma conversa entre amigas, uma delas começou a me explicar que seria um aplicativo para pessoas solteiras encontrarem seu par romântico. Outra amiga contestou dizendo que o tinder era a versão heterossexual do grinder, este usado e praticado com ênfase pelo seu amigo gay, e ela concluía: "o tinder não é um aplicativo de paqueras, as pessoas o acessam só pelo sexo!" Eu parei, refleti, e respondi como que me indagando em voz alta: "existe paquera sem fins sexuais?" Silêncio. 

Aquela indagação me fez pensar e da decorrência dela eu senti um certo alívio, chacoalhei minha educação empoeirada e machista, coisa difícil de se fazer depois de anos, e concordei comigo mesma: nós procuramos sexo no pares amorosos. Engraçado como normalmente separamos um do outro, como se a mulher, a esposa, a namorada, tivesse que ser essa pessoa assexuada, a mãe dos seus filhos. 
A premissa de que a procura pelo sexo subtrai o interesse amoroso é furada. O amor, no mundo real, de adultos, e não aquela ideia do conto de fadas, dos vampiros do Crepúsculo e da Malhação, não vem depois do casamento, ou em menor grau, da paixão avassaladora, ele vem mesmo da combinação de interesses complementados com a atração física que fecham o ciclo do companheirismo. Algo muitas vezes banal e cotidiano, com pequenas asas de borboletas batendo no estômago (own...)
E então, pra fechar o assunto, eu cheguei em um ponto em que eu não vi mais sentido em “ficadas”, e “rolos” casuais, simplesmente parei, até brinquei que eu tinha perdido meus poderes. Eu queria um relacionamento, uma parceria, queria dividir a minha vida com alguém, e o que antes era um passatempo interessante começou a gritar alto como perda de tempo. Foi aí que eu vi no tinder uma oportunidade de me colocar a disposição, mas não somente isso, na virada de páginas de homens e consequentemente, na minha imagem estampada no aplicativo, eu mandava uma mensagem geral, e principalmente para mim mesma de que eu finalmente estava disponível, algo muito maior que estar apenas solteira. 
Eu nunca encontrei (fisicamente), com ninguém que eu conheci no tinder - estou inativa no aplicativo até o fechamento desse post - e no momento prefiro jogar a minha pequena sorte no offline ar de todo dia.


Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Não somos Malala

Quando eu fico triste ou revoltada com alguma coisa em minha vida, minha mãe costuma me dar um exemplo totalmente oposto ao meu, de maior tragédia e dor. Eu ponderava por um tempo, para depois dizer que sentia muito, mas que esse tipo de estratégia não ajudava, já que eu não podia fazer nada pela pessoa sofredora longe de mim, e continuava triste por aquele momento. Sofrendo por mim mesma.

Em uma loja de conveniência de um posto, eu encontrei um livro bonito, com duas cores em contraste com uma bela menina do oriente na capa. Eu já tinha visto essa imagem antes, trata-se de um best-seller, tem até um comentário do Luciano Huck na contracapa. Eu nunca torci o nariz para bestsellers e coisas famosas, sempre me interessou saber do que se tratavam os grandes sucessos, por que algo interessava tanto a tanta gente?

O livro autobiográfico em co-autoria com a inglesa Christina Lamb, conta a história de MalalaYousafsai, uma garota com hoje 16 anos, muçulmana, pachtun, nascida no antigo Swat atual Paquistão, hoje radicada em Bermingham/Inglaterra: "Eu sou Malala: a história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã."

                                               

O subtítulo resume a história do livro.
O que aconteceu comigo, no decorrer da leitura desse livro, foi uma pequena revolução interna, aquilo que acontece quando abrimos o nosso horizonte de perspectiva e entendemos que existe um mundo pra fora de nós mesmos e de nossas ambições.
Nós temos o costume de olhar para cima: o transporte público, a saúde, a educação, tudo é muito melhor na Europa e nos Estados Unidos, que merda de país vivemos.

Esse livro me fez olhar pra baixo, para os países mais pobres, e eu não me senti melhor, eu me senti pior, e eu valorizei o que tenho aqui, no meu país, onde:

Nós podemos casar com quem quisermos.

Nós podemos sair sozinhas em público.

Nós podemos estudar.

Parecem coisas simples? Pois Malala levou um tiro pelo terceiro item.
Malala me inspira, não só por sua coragem e inteligência, mas pela compaixão com que ela ainda olha aqueles que maltrataram e dizimaram seu povo, e que a obrigaram a sair de sua terra tão amada. Em nenhum momento no livro, há uma palavra de ódio, de ressentimento. A heroína é ela, mas eu criei uma admiração enorme também pelo seu pai Ziauddin Yousafzai, um líder entusiasta da educação, um intelectual pai de família que em meio às tradições tribais muçulmanas comemorou o nascimento de uma filha mulher primogênita, e não fez nada, além de permiti-la voar até onde fosse necessário no sentido de suas ambições políticas e sociais. Um crédito enorme para a mãe, analfabeta, mas phd na mais profunda fé. Ziauddin dá seu testemunho na palestra do TED abaixo (você pode colocar legenda clicando em subtitles no canto inferior direito):

https://www.ted.com/talks/ziauddin_yousafzai_my_daughter_malala

Impressionante alguém tão diferente, e tão esclarecido em um meio que não lhe oferece nenhuma ferramenta para tal. Ziauddin foi atrás de todo o seu estudo, até criar a sua escola com admissão de meninas. Ele me lembra muito meu próprio velho, um cara que poderia ser qualquer coisa, menos esse o humano mais feminista que eu conheço, assim, por natureza, ofereço esse post ao Bill, e um obrigada a ele e a minha mãe, um mulherão de fibra e fé, que não cortaram as minhas asas, nunca.

Abaixo o discurso de Malala na ONU, em prol da educação mundial. (só encontrei com legenda em espanhol).

https://www.youtube.com/watch?v=UJZHFlao88Y

Um trecho do livro, assim, bem explicadinho para ficar claro: "Nós seres humanos, não percebemos como Deus é grande. Ele nos deu um cérebro extraordinário e um coração amoroso e sensível. Abençoou-nos com a capacidade de falar e expressar nossos sentimentos, dois olhos para ver um mundo de cores e beleza, dois pés que caminham pela estrada da vida, duas mãos que trabalham para nós, um nariz que aspira fragrâncias deliciosas e dois ouvidos para escutar palavras de amor. "


Aufwiedersehen!

terça-feira, 20 de maio de 2014

Esperando por Malu

"O troço deu positivo. F%$#*"

Essa foi a mensagem que eu recebi pelo bom zap zap em um sábado de manhã.
Essa foi a mensagem que me acordou e me deixou feito um zumbi durante o dia. A minha grande amiga estava grávida.
Eu não lembro o que respondi na hora, mas deve ter sido alguma das bobagens que eu gosto de falar para acalma-la, para que ela saiba que eu vou estar lá, ao lado dela.
Eu a acalmei, mas meu coração estava em polvorosa, aquilo era novo, real, e muito, muito próximo.

Morávamos juntas até pouco tempo antes dessa mensagem, eu tinha decidido me mudar, sozinha. Estive com ela nos últimos anos, muito próxima, mas ao mesmo tempo, mais distantes do que nunca, em comparação ao começo de tudo, há 10 anos, quando éramos universitárias bobas.
Eu tirei aquele sábado pra pensar nisso, para projetar o futuro dessa criança, e em quais circunstâncias ela viria e viveria.

A mãe da Malu estava muito apaixonada na época que a concebeu. Uma paixão daquelas que eu só ouvi falar, uma paixão que vinha e dominava todos os espaços, em muito pouco tempo,  e se isso não for o bastante para que Malu venha abençoada pelo maior dos atos de entrega, eu já não sei de mais nada.

A mãe da Malu, poucos meses antes dessa mensagem, estava como que em estado latente, e eu já não reconhecia mais a minha amiga, senão por raros momentos de relaxamento e leveza. Ela estava em um lugar ruim, e como consequência disso, nós duas, a nossa amizade ia mal. Muito por isso e por uma vontade enorme de introspecção, eu resolvi morar sozinha. Para que esse encontro de almas perpetuasse, era necessário que eu me afastasse também.

Acho difícil, senão chato, acreditar no acaso. Eu gosto de duvidar das coincidências, como as que fizeram a mãe da Malu, poucos meses antes daquela mensagem, voltar para um lugar de luz, um lugar em que ela se permitia ser, um lugar próximo aos que amava, seus sobrinhos lindos, sua família, e suas amigas corujas que a esperavam voltar. Ela voltou, mais forte do que jamais a vi, e eu me dei conta disso mais tarde, naquele sábado do dia da mensagem. Eu percebi a mulher que ela tinha se tornado, e eu não pude evitar um sorriso e a certeza de que melhor mãe a Malu não poderia ter.

*a árvore dos desejos do chá de fraldas, onde os convidados colocaram seus votos e mensagens para, em uma viagem pelo tempo, a adolescente Malu poder ler.


Aufwiedersehen!!

sexta-feira, 16 de maio de 2014

O fascinante universo masculino

Eu tive por muito tempo, uma atração, um quase endeusamento dedicado aos homens. Eu sempre gostei muito de estar perto deles, nunca entendi porque, mas tinha lá minhas teorias, talvez por ter nascido entre tantos tios, ou por ter um irmãozinho, meu primeiro amigo...talvez por ser uma menina heterossexual?

Eu tentei lembrar da cabeça daquela criança fofinha do interior, que olhava o mundo concebido para os garotos, seus primos, irmão, amigos. Um mundo onde não existia: "isso não é coisa pra você", "senta quiném menina", "isso não é bonito", "ajude a sua vó a lavar a louça". A minha leitura naquela época era de que os homens faziam por merecer aquele lugar mágico a que tinham direito. O lugar da liberdade pura. Eles podiam se sujar, esparramar-se no chão, andar sem blusa, eles podiam tudo. O que eles recebiam era diferente do que eu tinha, e eu queria aquilo tudo. Eu entendia que segui-los como mestres me levaria para a liberdade, então eu tentei aprender a ser mais agressiva, despojada, independente, eu só não sabia até então as maravilhas de ser mulher, e que eu podia ter tudo o que eu quisesse, se eu o reivindicasse como direito.

Eu renegava esse "mundo feminino" cheio de rendas, cor de rosa e fadas, interessavam-me os desenhos de super heróis, com seus mundos fantasiosos. Eu jogava para o time dos meninos, pretendia andar ao lado deles, e na adolescência achei ser possível continuar as aventuras no bosque, quando a chuva vinha e eu ficava perdida pra trás dos moleques, só que eu não imaginava que a adolescência viria com a puberdade e outros desejos sem controle.

Eu mantive o meu ponto de vista, mas tive obviamente, desilusões geradas pelo desencontro da expectativa da antiga admiração, versus a realidade homem x mulher, e então depois de muito defendê-los, resolvi voltar pro meu time.

Até pouco tempo eu torcia o nariz para o feminismo, hoje eu o abraço e carrego comigo. São esses valores arraigados em mim, esses limites inventados, que eu tento mudar, nem sempre com muito sucesso. O mais difícil porém, é tirar o gosto amargo de lembrar daquela  vontade de ser outra coisa, mas principalmente, pelo tempo grande que eu perdi desprezando o meu gênero. Não existe um "mundo feminino" e um "mundo masculino", é isso que eu tenho aprender todos os dias.

Eu voltei para o temido lado feminino, tenho grandes amigas mulheres, fortes e independentes, cada uma a seu modo, e eu tenho muito orgulho de ser uma delas, com todas as dificuldades que possamos encontrar pelo caminho.

Aufwiedersehen!!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Reinterpretando o que eu sei sobre mim


Importante saber: sou do interior de São Paulo, tenho quase 30, não consigo me enxergar adulta apesar do sufoco e da auto afirmação da idade, sou alta, mas não desenvolvi a perspectiva necessária para que me movimente no espaço como tal, por isso coleciono roxos. Fiz faculdade de relações públicas por chute, e lá vivi o que eu gosto de repetir como a melhor fase da minha vida (e eu desafio o universo que me apresente a algo melhor). Morei um ano na Alemanha e viajei pela Europa, trabalhei com publicidade e RP e cinema, que na verdade é a minha razão de viver, o que me inspira a ser melhor e sonhar, e vice e versa. Gosto de me procurar e muitas vezes me encontrar na escrita, adoro cantar em público, mas sou péssima em apresentações e seminários. Descobri recentemente que posso ser extrovertida e introspectiva ao mesmo tempo. Gosto de saber disso. Sou essencialmente gulosa, por comida, beijo na boca, sono, cerveja, vinho, risada, livro, viagem, cidade, e outras cositas más...Tenho feito um esforço para mudar esse fato, pelo menos um pouco, pessoas gulosas passam fome com muita frequência. Sou extremamente romântica e (como consequência), cafona, nunca tive um relacionamento amoroso sério, talvez seja por isso. Tenho uma familia doriana, com irmãos malhação e pais estilo âncoras do jornal nacional, mas eles são muito mais que isso. Perdi algumas pessoas importantes, pela morte ou pela vida mesmo, e agora contento-me em ser uma porcentagem de mim sem elas, misturado à tudo o que foi citado acima. 

Aufwiedersehen!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A nostalgia de viver


Sabe aquelas pessoas que apreciam o presente que é o presente? Bem, eu não sou uma delas. Eu sou uma nostálgica, uma romântica que vira e mexe se vê embutida em algum pensamento com filtros coloridos e bela trilha sonora de alguma cena banal do passado. Isso é um modo pouco prático, contraproducente até de se viver. Isso eu já aprendi, então há algum tempo eu venho sufocando esse dèjá vú constante, morar em São Paulo ajuda muito, apesar de depois de quase cinco anos eu já ter alguns lugares especiais para os quais eu volto, mas hoje, hoje especificamente eu me deleitei em nostalgia, como quem se deleita com três pedaços de pizza com cerveja no regime sem culpa, eu estive na minha cidade natal, no clube em que eu passei boa parte da minha infância/adolescência. As crianças que eu via descendo para a piscina no verão, tardes inteiras dentro da enorme piscina com vista para a plataforma (e vice e versa), ahh a plataforma...o lugar mágico dos encontros, das paqueras, das primeiras vezes em que nota-se e é notado, como esquecer? Eu na verdade era uma dessas crianças que curtem a infância, minhas amigas se arrumavam para passear pelo clube e paquerar, enquanto eu e meu shorts cotton com camiseta do pernalonga, andava pra cima e pra baixo com uma bola ora de basquete, ora de vôlei. Eu fui extremamente feliz naquele belo clube, e eu sabia! Hoje, enquanto eu andava por lá, depois da aula de spinning em direção à sauna, eu ia relembrando tudo como um recorte imaginário, eu era muitas, 12, 14, 17 anos como projeto de mulher. A escada ao lado das quadras, onde eu obviamente já caí algumas vezes, a escada do toboágua na piscina grande, outro lugar onde eu caí empurrada por mais uns 30 moleques em uma cascata de crianças no lado errado, fora da água. Lá em cima da sauna, a sala de ginástica, quanto fazer step, e dançar, e fazer jazz, e cair no step e cair no jazz! Foi uma infância/adolescência privilegiada, eu aproveitei tanto que não conseguiria volta para viver de novo, assim como tudo na minha vida, daí a nostalgia fica como que um chorinho e também um empurrão para cessar o lamento de todo dia.

Aufwiedersehen!!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

All that jazz

Não nos conhecíamos, estávamos lá afinal, para isso.
Juntos, caminhamos pelo estacionamento que escondia a casa de jazz.
Lá tudo respirava noir, mistério. Era um lugar que pretendia isso, e conseguia.
Ao chegarmos à casa, eu tentava me decidir, deveria deixá-lo escolher a mesa? Eu entro antes ou depois? Nunca sei se existe jeito de mulher agir.
Ele mostrou um lugar, a uma boa distância do palco.
Ambos buscávamos palavras para iniciar a noite, e elas foram surgindo.
O jazz obrigava que nos calássemos enquanto era a vez dele falar.
Estávamos encostados na parede, ele, uma mesa redonda e eu. Enquanto a música tocava, eu observava seu peito que subia, para depois descer. Ele também sentia.
Ele talvez quisesse beijos para aquele primeiro encontro e meio, mas contentou-se com a música que nos separava, junto com a mesinha, durante a hora que eu não senti passar.
O silêncio era recheado de sensações, e eu o ia conhecendo através delas. Eu que pensava que para tal, palavras eram imprescindíveis.
A música, seu peito que arfava, sua nuca, suas mãos sob as pernas, a visão dele e da sua sensibilidade mexiam com algo em mim, e não era o coração.
Aquela mesa redonda que nos separava aumentava a minha vontade de estar perto, de provar dele, vulnerável pela música.
Em um impulso orquestrado depois de alguns minutos de timidez, eu saltei para a cadeira ao seu lado.
A casa ia esvaziando. Ele nada fez, além de sorrir e continuar prestando atenção à música.
Queria mudar a posição, queria ser a observada dessa vez. E ele o fazia, com o jazz ao fundo. Eu estava de saia, as pernas cruzadas ora de um lado, ora de outro, minhas mãos agora pousavam sob elas.
Ele apoiou seu braço no encosto da minha cadeira. Agora eram minhas costas que ele tocava, levemente. Eu sentia arrepios, era o contato quente da pele dele, com a minha.
Aquele quase não se tocar era meu corpo totalmente no dele. A música permanecia como energia que ligava nossas almas, era intimidade pura. Era o presente, e se fora.