E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ode à Bill

Ele nasceu hoje, há 59 anos, primogênito de uma fraternidade linda de seis homens no interior de São Paulo, seu nome originalmente seria Sergio. Filho de Cacilda e Dirceu, segurou seu irmão caçula no colo 19 anos depois, e cuidou dele como pai, mal sabia que já treinava para me receber 10 anos depois. Formou-se engenheiro civil com louvor, o primeiro da sala. É um desses caras boa praça, falador e piadista, dificilmente o ouvi sendo maldoso, e nas poucas vezes que o foi,  ficou vermelho por ter aquele tipo de pureza própria de seres humanos especiais, resquícios de anjos que ficam na terra para nos dar algum alento. Interessou-se por política pelos melhores motivos, aqueles que esquecemos que existem,  estampou seu rosto em santinhos que eu lembro segurar e distribuir quando criança, falou em showmícios quando esses ainda existiam, foi julgado, atacado e permaneceu firme até desapontar-se com os rumos do partido que escolheu. Nunca perdeu a fagulha da procura por um rumo melhor, uma atitude maior perante a vida. Não é apenas um otimista, é o otimista do mundo, muito por seu caráter de exatas, não enxerga apenas problemas, tateia entre eles as possibilidades e sempre as encontra e realiza.
Conheceu uma mulher, apaixonou-se e a conquistou com a força da delicadeza e do caráter. Viveu com ela, minha mãe, a maior história de amor que qualquer filme possa ousar contar, e ainda vive. Ele não se chama apenas Sergio, no final das contas seu pai o batizou também Evaldo por conta de um cantor famoso na época. Evaldo Sergio, uma composição de nomes questionável sem dúvida, mas o nome que sempre significou a rocha da minha existência, o lugar seguro pra onde eu posso voltar. O olhar sem julgamento de quem me ama, mesmo batendo seu carro algumas diversas vezes, mesmo quando me buscava nas festinhas e eu tinha bebido umas a mais, mesmo quando sabia que eu estava pegando um carinha novo, meu pai nunca me enxergou como posse dele, era e é ele a catapulta que me atira pro mundo, estimulando os meus sonhos mais loucos e os realizando comigo. E não importa quanto tempo eu fique fora sem retornar, na volta ele sempre vai estar com o seu abraço e beijo em cima da minha cabeça, a me chamar pra um papo sobre mil coisas, desde o enredo da última novela à política internacional. Difícil desmistificar a figura emblemática do pai herói, tive que faze-lo para o meu crescimento, para entender que eu precisava ir só, mas impossível mesmo é tentar traduzir o sentimento de orgulho e de imensa gratidão por ser filha de Evaldo.
Acho que nunca vou entender o que eu fiz pra ter esse privilégio, então sigo amando-o, e aproveitando todos os momentos possíveis ao seu lado.

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Um brinde às lembranças

Eu lembro da primeira vez em que eu senti o burburinho viciante de estar embriagada, tinha 15 anos, e misturado um drink baiano, o "capeta", com uma latinha de brahma suficientes para o alcance daquela sensação e do posterior anúncio orgulhoso do meu primeiro porre. Todas as ansiedades da adolescência pareciam sumir na passagem do líquido pela minha boca, a ascendência e a sensação de pertencimento eram intoxicantes. E aí veio a faculdade, e depois da faculdade a vida adulta com frustrações maiores do que eu poderia sonhar aos 15. A mistura do álcool com uma mente sensível e algumas bagagens a serem carregadas fazia com que eu me tornasse outra pessoa.
Aos 17 perdi um amigo, ex namoradinho afogado no mar, lembro de como sempre que eu bebia naquela época eu chorava chamando por ele. Eu não tinha maturidade, estava exposta aos meus sentimentos, e o álcool sempre lá como companhia, expondo o que existia dentro de mim e que eu não conseguia lidar. Hoje esses sentimentos escondidos não me assustam mais, aprendi a aceitar e a entender a pessoa que eu sou por inteiro, mas percebo também que na amnésia da festa do dia anterior, partes importantes da minha vida vão ficando pra trás, memórias que eu não estou pronta para perder entre casamentos, happy hours e aniversários, e conversas cheias de carinho com amigos, muitas que foram se perdendo ao longo desses quinze anos de bebedeira. Não sinto remorso ou falso moralismo pela minha história, sinto nostalgia por tantas palhaçadas improvisadas na bebedeira, quanta risada e histórias inesquecíveis não aconteceram? De qualquer forma, sinto mesmo que é hora de desacelerar, por que é muito divertido estar bêbado e fazer amizade e rir junto, mas também é muito divertido assistir à própria vida e ter consciência do que acontece naquele momento, e sobretudo, relembrar.
Não quero mais ver esse ciclo de esforço e esbórnia se repetindo, eu quero um tempo pra mim e para as minhas lembranças, e acredito que posso conceber não precisar mais de um líquido pra isso. O corpo humano vive de inércia, ele tende a perpetuar o movimento que está acostumado a repetir, demora para brecar a engrenagem, dói, mas uma vez que mudamos o percurso, mesmo que seja de forma abrupta e no meio do caminho, basta esperar que a engrenagem se readapte para continuar no sentido que se decide seguir. Uma cervejinha, uma taça de vinho, é decisão minha tomá-los, não quero mais concentrar a minha natural necessidade de extravagância no que bebo, tenho certeza que toda essa energia pode reverberar em outro sentido e com muito mais qualidade. Pelo menos por hoje.

Aufwiedersehen!