E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

É agora

O que a gente faz quando tudo pára? Quando tudo fica quieto, a família saiu, o emprego deu folga, e o tão sonhado encontro com o sofá descompromissado acontece? Aquele livro você já leu, todos os programas da TV já foram vistos, suas amigas foram embora para as respectivas casas. O único som que se ouve vem do seu peito, um som faminto que até então ficava abafado por todas as responsabilidades e horários e "prioridades". Esse som dá medo. O que será que ele quer? O que eu deixei para depois? Como em um desfoque de câmera, você enxerga em frente, mas não chega a reconhecer alguma coisa. Vem uma angustia diferente, não é aquela angústia do dia a dia, do stress, é um tipo mais sereno. De repente percebemos que mais assustador que o futuro é o presente. Esse não dá pra deixar pra depois. Como são bons os novos anos, as novas chances, já que a gente esquece que pode mudar tudo de novo e ser melhor mesmo em abril, julho, qualquer mês, temos janeiro que grita imperioso: você pode ser melhor!
Gosto de dizer que o trabalho faz nossos tempos de férias, feriados e afins terem a cor que eles têm, senão seria tudo despropósito. Gosto também de lembrar que é no ócio que temos boas chances de pensar. Parece óbvio, palavrinha ignorante que pretende pensar que uma coisa pode ser a mesma para todos. Não é óbvio. É agora.

Aufwiedersehen!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Dentro de uma caixa

Eu já havia ouvido falar dela, uma garota do interior de Santa Catarina que se misturava àqueles rostos germânicos. Ela morava na principal metrópole e capital da Bavaria, cidade que naquela época eu começava a chamar de lar. Eu já não me sentia sozinha naquele país e começava a ter conversas interessantes com aquelas pessoas que ia aos poucos descobrindo. Um dia eu conheci essa garota, e ambas éramos famintas pela vida, aquela vida que começava a se mostrar minha também. Ela conhecia todos os lugares, a língua e o jeito de viver por lá, e sem segurar nada pra si, dividiu comigo todos os segredos. Quando eu não pude voltar pra casa, ela me acolheu. E foi assim durante sete meses. Todo dia com a mesma alegria e carinho do primeiro dia. Ela ia comigo onde eu quisesse e me consolou por algumas vezes quando partiram meu coração. Naquela cidade que podia ser muito fria, ela foi minha família, já que eu não podia contar com a família que me hospedava. Juntas viajamos e dançamos e dividimos as maiores aventuras da minha vida.
Até o momento de partir ela me ajudou a arrumar as tantas malas e caixas que eu juntei durante aqueles 12 meses e um dia, segurou minha mão e foi a primeira a oferecer a carona que me levaria ao aeroporto. Pela primeira vez na vida eu não teria alguém para me levar, se não fosse por ela. Minha estadia na Alemanha foi mais doce e leve graças a essa catarinense.
Por não sei que razão, bem no final dessa história eu tive uma perda material, a última caixa com 20 kg de roupas, livros, sapatos e os objetos mais valiosos que não poderiam ir na carga total nunca foram enviados pelo correio como combinamos.
Eu nunca mais falei com ela.
Hoje eu não consigo lembrar o que havia naquela caixa, hoje eu só consigo lembrar que no frio e na noite ela me acolheu, e acolheu aos meus amigos.
Que em 2012 eu continue escolhendo a melhor parte do convívio com as pessoas, o resto pode ficar guardado dentro de uma caixa em algum lugar do mundo.

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Uma história contada por mim

Oi bebê, prazer te conhecer, eu te amo. Sabe por que eu te amo sem te conhecer? Por que eu já sei quem você é. Eu sonho com você há muito tempo, quando eu brincava de boneca com a sua mãe. Eu não gostava muito das brincadeiras de boneca, mas eu gostava da sua mãe, minha prima-irmã, o que faz de você meu primo-sobrinho. Sua mãe tinha a coleção mais linda da Barbie com todos os acessórios desejados pelas meninas, até por mim que não gostava de bonecas. Sua mãe vinha com as bonecas a tiracolo, toda orgulhosa e eu sabia que ela levava jeito pra essa brincadeira, e eu sonhava em um dia brincar com ela de verdade, e foi ai na nossa infância que eu comecei a te amar.
Sua mãe sempre esteve ao meu lado, com ela eu tentei dar um trago em um cigarro e não consegui, e rimos juntas. Costumava imaginá-la como a ovelha negra da família, transgressora e cheia de vontade, essa é sua mãe que ao contrário do que se poderia imaginar cresceu, amadureceu e pagou todas as suas contas, conquistou respeito em uma cidade gigante que nunca imaginávamos morar, e para a nossa surpresa ficou careta. Uma careta muito legal, que mesmo três meses mais nova que eu, até hoje puxa minha orelha e me pede juízo. Sua mãe é bem folgada.
Mas deixa eu voltar um pouco essa história. Aos 18 anos seguimos caminhos diferentes. O trajeto Araras/Campinas, Campinas/Araras, com férias maravilhosas e cheias de desfile, clipes e eventos realizados na infância, não era mais o único que habitávamos, cada uma foi pra um lado. Mesmo assim estávamos sempre juntas, e como nos divertimos nessa época. Vieram os temidos 22 anos e ai precisamos encarar a vida, e desde então eu e sua mãe apanhamos bastante, aliás, sua mãe começou essa luta antes da sua tia aqui. Nesse meio tempo ela conheceu seu pai. E lógico, ela me contou sobre ele. Ela não estava muito a fim dele no começo viu, mas ele não desistiu, e com muita gentileza e companheirismo conquistou o coração da sua mãe. E assim eles continuam até hoje.
Muitos podem pensar que agora as coisas vão mudar, que sua mãe vai seguir para um lado, e eu, sua tia vai por outro. Eu também tenho medo. Mas acontece que eu te amo bebê, e amo sua mãe, e juntos vamos finalmente brincar na vida real, é pra isso que você vai nascer, é pra isso que nascemos.

Aufwiedersehen!

sábado, 15 de outubro de 2011

Coisas que saem da análise

Eu tenho o dom de me esforçar, me esforçar muito mesmo para fazer tudo que eu faço da melhor forma e em todos os aspectos da vida, com a diferença que eu faço isso parecer natural. Tem pessoas que até me acham tranquila demais, zen demais, já fui definida até como desencanada. A verdade é que um medo me persegue, eu tenho muito medo de desaparecer. Eu até fico algumas vezes imaginando o meu velório, imaginando quais pessoas se importariam em aparecer por lá. Na infância eu sonhava em ser uma super heroína, primeiro a batgirl, antes é claro de apaixonar-me pelos mutantes do X-men. Toda a idéia da mutação genética fazendo com que eu me tornasse extraordinária sempre me fascinou, e eu sonhava em ter essa anomalia, em acordar um dia voando, ou com uma super força, ou com o poder de guiar a previsão do tempo. Algo nessa coisa de ser comum me enojava, e eu sempre busquei dentro dos meus limites de humana “perfeita”, me diferenciar. Eu não gostava de usar a roupa da moda, eu não gostava de escolher a mesma comida que o outro escolhia, e nem de ter a mesma opinião, até estar sempre com o mesmo grupo de pessoas me deixava desconfortável, eu precisava sempre de um lugar novo, um evento novo, uma nova data no calendário futuro. Durante esses vinte e poucos anos que eu vivi, tentado formar um modo de sobrevivência próprio, eu criei uma mutação psicológica que me fez capaz de distanciar das pessoas, para ao mesmo tempo observá-las. Eu consegui enfim realizar meu sonho de ser mutante. Eu sou a personificação do narrador onipresente da literatura, que vê toda a narrativa, mas dela não participa. Do meu próprio modo eu criei um mecanismo de controle, que desencadeou o meu fascínio pela comunicação e pelas relações públicas, pelos eventos e por juntar pessoas, debaixo desse alguém muito animado e integrador, havia na realidade um robô com medo de ser esquecido e desaparecer.
Agora com a maturidade eu não sou mais capaz de manter essa máscara, e como esse motor em curto circuito que recobra sua utilidade aos poucos, e começo a achar tudo muito injusto e algumas vezes apenas choro por não poder resolver na hora, para poder pensar novamente nisso no dia seguinte. E aí eu tento juntar um quebra cabeça de como gerir minha vida, juntando conceitos vomitados, desde catolicismo até a ética do bom cidadão, que não nos ensinam a lidar com sensações não previstas, de asco, desprezo, desespero, e solidão seguida de preguiça das pessoas, é tudo contraditório, é tudo irregular e não entra na minha lógica.
Eu sinto que vou desaparecer por que meu celular não toca mais aos feriados e fins de semana, eu sinto que vou desaparecer por que eu me tornei tão independente que meus pais confiam em mim a ponto de me deixarem só, exatamente do jeito que eu sempre quis. A ponto de minhas amigas não se preocuparem se eu entro e me prendo em meu quarto sozinha sem dizer nada, por que eu sempre fico feliz de novo. Eu me tornei um robô e agora tento com força retomar minha humanidade e descobrir como lidar com isso. Um coração que tenta se abrir demora até conseguir achar a chave geral.

Aufwiedersehen!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Obras do descuido

Sempre fui meio descuidada. Esses dias fiz a besteira de entrar em um link que o meu “banco” havia mandado, naquela ânsia de clicar e clicar invadiram minha conta. Ainda bem que tenho poucos recursos, pouco a perder financeiramente, impressionante como ser “pobre” traz tranquilidade. Pensei um pouco nos grandes descuidos de minha vida,eufemismo para dizer que eu sou um pouco desastrada, ou azarada. Tenho um historico digno de biografia de tombos, quedas, quebras, torcimentos e trombadas. Mês passado mesmo, nessa altura do campeonato da vida e na mesma semana, consegui estatelar-me de nádegas na rua e torcer o pé três dias depois. Eu já sofri tantos acidentes que posso até considera-los parte da minha formação, ei-los:
- em idade tenra, por volta dos 03 meses enquanto minha mãe trocava minhas fraldas,em um segundo que ela se virou para pegar uma nova, eu que nem me mexia ainda, cai no chão;
- por volta dos 9 anos, eu aprendia a andar de bicicleta com certa dificuldade (e veja que esse fato liga-se ao próximo item), e até tal feito, eu precisava da ajuda de rodinhas traseiras para equilibrar-me. Em um acesso de mecânica, sentei-me ao lado da bicicleta e comecei a tirar essas rodinhas extras, `a retirada da primeira, desequilibrei a bicicleta que caiu diretamente com seu guidon em minha cabecinha. O fato em si é tranquilo, o traumático (e meu medo de sangue se deve, segundo Freud a esse dia), foi meus irmãos que brincavam ao meu lado, e que ao ver que eu “expelia” sangue a lá Sexta-feira 13, saíram correndo do quintal gritando “Ela vai morrer!Ela vai morrer!”;
- 12 anos e um dia feliz na fazenda do amigo do meu pai. O sol se colocava no horizonte do campo, o cheiro da chuva breve que acabava de cair pairava no ar, na grama e na terra. Eu já andava de bicicleta nessa época, o que era a minha atividade preferida, e na hora de ir eu e meu irmão decidimos continuar no ciclismo pela estrada enquanto nossos pais nos seguiam no carro. A estrada de terra tinha pedregulhos, e na inconstância do chão, meu irmão que liderava a jornada começa a sambar até cair de cara, eu na sequência e no assombro da cena caí também só que para o lado esquerdo, quebrando meu braço em uma quase fratura exposta. Cena bonita e testemunhada pelos pais e primos logo atrás;
- 13 anos e meu braço finalmente estava livre do gesso, em um dia de outono, bem fresquinho, um belo dia para passear no lago da cidade com toda a família. O lago é conhecido pelos pedalinhos que dão vista para toda a circunferência do lugar, fomos diretamente ao deck para pegar um deles, e eu me adiantei para entrar no meu. Assim como apoiei meu pé para frente o pequeno barquinho se foi, se foi, até eu perder o equilíbrio e cair dentro da água, e depois o barquinho voltou, a tempo de eu bater minha cabeça tentando subir.
- 16 anos, a fase da eflorescência da juventude, já me tornava uma mocinha como diziam minhas tias, e vaidosa ia catolicamente com as amigas à aula de step às 19h no clube. Essa aula cheia de garotas atraia a vista dos outros rapazes também àvidos por descobrir essa coisa do sexo oposto, o que tornava as nossas aulas pequenos espetáculos assistidos por bons grupos de 20 moleques que subiam do campo de futebol para olhar o sobe e desce. Eu estava lá em uma quinta-feira, craque nas manobras radicais em cima da tão fadada caixinha, abaixa, bate palminha, vira v....só que na segunda virada eu me estatelei, em cima do step e bem como nos pesadelos o som parou, arranhou o disco, e todos pararam, a platéia parou e eu?eu corri...até o banheiro. Essa história foi crescendo no decorrer dos tempos, e não se falou de outra coisa nos dias seguintes por todo o clube.

Eu tomei alguma licença poética para as idades exatas e a época do ano, mas em suma é tudo verídico e ainda tem mais, que eu prefiro deixar pra outro dia.

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Encontros ilustres

Sempre me peguei pensando sobre os célebres encontros que já aconteceram. Logo na faculdade, há quase uma década dediquei-me como boa caloura inexperiente à dica de um professor, o tema que ele jogou de brincadeira no ar tratava-se da influência da psicanálise no surrealismo nos tantos da década de 20. Estamos falando de Sigmund Freud, o austríaco que usava da dissertação e investigações subjetivas para melhor conhecer o ser humano e literalmente suas entranhas, com Salvador Dali, aquele cara que desenhava com a maior desenvoltura um elefante equilibrando-se em pernas de aranha. Naquela época, assoberbada com as ideias de Freud e seus sonhos, e a sacanagem compensatória do complexo de Édipo, em tempos que eu não sabia que tais coisas eram tão sensíveis quanto o hímen da virgem, e que falar sobre isso era perigoso porque fácil de cair no erro tão próximo da teoria, eu olhava para os lados e pensava se algum de meus colegas seriam brilhantes, geniais, para depois olhar para mim mesma e sonhar em ser algo próximo de um Salvador. Woody Allen em seu último “Midnight in Paris” ilustrou isso tudo, uma divagação deliciosa em que teríamos a chance de beber e dançar com essas pessoas fabulosas. Foi delicioso ver o que seria a amizade entre os escritores Hemingway e Fitzgerald, o diálogo dos surrealistas, essas pessoas com perspectiva irrestrita, e como são deliciosas essas pessoas!
Uma dessas amizades aconteceu lá no final dos século XIX, entre Gaughin e Van Gogh. Os dois artistas teriam morado juntos durante três meses em uma cidadezinha na Holanda sob o intermédio do irmão e eterno preceptor de Van Gogh, Theo. Apenas Paul e Vincent na época, dois pintores de excentricidades diferentes tentando sobreviver na Europa pouco antes da primeira guerra e pós impressionismo. Paul Gaughin havia desistido da vida em família abastada com sua mulher norueguesa e seus cinco filhos, e atendendo ao seu eterno chamado selvagem, desistiu de tudo – fato criticado por Vincent em boa parte de suas brigas – e foi atrás de seu refúgio não civilizado, e como foi provado até o fim da sua vida, já inexistente naquela época. Vincent Van Gogh era o filho mal amado da mãe, um garotinho ruivo e esguio que vivia à sombra do irmão mais novo e bem sucedido, encolhido na pequena cidade de Orles. Paul era o cara cool daquele tempo, rei das festas, seguro e forte, daquele tipo que transforma em ouro o que toca, que nunca está sozinho e como todo popular, anseia mais que tudo à solidão impossível. Vincent sentiu-se bem perto do raio quente que emanava de Paul, ele finalmente chegava perto do sol, mas foi por pouco tempo que ele conseguiu lá ficar, já que vinha com uma bagagem cristã de culpa, vergonha, insegurança e chatice mesmo.
A loucura de Vincent Van Gogh é debatida por motivos contundentes, um homem nos seus trinta e poucos anos, um senhor para a época, corta por vontade própria a sua orelha a sangue frio e a entrega à uma prostituta. Dizem que o motivo do flagelo deve-se à auto punição proveniente de uma briga que teve com o amigo Paul, o cristão calvinista filho de pastor sofria por ter ameaçado, sofria por ter pecado e tentando o mal.
Paul morreu em um paraíso litorâneo afastado, em meio aos selvagens como sempre esteve durante a vida, Vincent suicidou-se e foi mal sucedido, ou teve sucesso apenas depois de sofrer e sangrar por dois dias depois do tiro da tentativa, e sofreu ao lado do irmão Theo até o fim, como em toda a sua vida.

Vincent Van Gogh com seus girassois "homenageado" pelo amigo Paul Gaughin.
Aufwiedersehen!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ontem pra hoje

Era começo do ano e curtíamos um fase deliciosa do verão paulistano que se caracteriza pelos melhores shows e baladas com as pessoas mais interessantes que alguém pode conhecer, em qualquer dia da semana. o Studio SP é palco de jovens promessas da mpb ou simplesmente de grandes talentos que acabaram ficando por lá, sem deixar de ser promessa, mas talvez sem a chance regulatória da sorte. Eles iluminam as noites dos jovens famintos por música boa e brasileira, buscando os ritmos da terra e do céu. Era um desses dias e um amigo tocava bateria com mais algum celebre emergente dessa nossa mpb...em meio à gente e ao som vejo um cara meio excêntrico, calçando tênis surrados, girando de um lado pro outro, uma pessoa diferentona mas natural àquele ambiente, aquele era o Criolo ao qual fomos apresentadas na sequência sob a alcunha de um conhecido rapper da periferia de São Paulo, que às vezes dava seus giros na mpb e em pequenas participações dos "brother" que ficavam pra esses lados da cidade.
Véspera de feriado e um galpão de shows no coração da zona oeste da cidade, alguns meses depois, eu recebia junto à mais de 1500 bons pagantes esse mesmo cara excêntrico galgando seus passos em direção à fama, ou quem sabe, já "dentro" dela. Não pude evitar e pensei naquela noite na Augusta e na concepção desse cara que de uns tempos pra cá ficou conhecido, bombando nos "likes" de muitos facebooks. Entre empurrões e cervejas que caiam, eu pergunto à minha amiga o que havia mudado de ontem pra hoje, e ela me diz, a fama ja ouviu falar?eu digo...nunca assim de perto.

Aufwiedersehen!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Rystionea Oleraceae

Esse é o nome científico da Palmeira Imperial. De sua história sei pouco, não sei o porquê do Rystionea, sei que essa planta nobre me emociona. Estive no Rio de Janeiro pela primeira vez, vergonhosamente adiando a viagem para a cidade mais linda do meu país, e não tão longe da minha casa. O turismo tem aquela coisa da agenda, dos lugares obrigatórios para se visitar. Felizmente nessa minha vida já fiz muito turismo, principalmente em um ano especial, reservado talvez quase que exclusivamente para essa atividade. Considero-me pouco talentosa para traçar os principais lugares a se conhecer, todos aqueles pontos importantes do guia básico. Já deixei de entrar em museus e memoriais e castelos históricos, já voltei pro hotel cansada abrindo mão da principal igreja da cidade, mas uma coisa me orgulha pensar, eu senti do fundo do meu coração todos os lugares onde estive.
Logo que cheguei no Rio, em um dia que sobreviveu ao tempo ruim que permanecia já há algumas semanas, presenciei o por do sol no alto do Pão de Açucar em uma exposição de rosa, azul e amarelo que fazia cenário atrás das montanhas e do oceano que recolhia os barcos em miniatura lá embaixo. Ainda na corrida turística, tomei muitas vans até o topo do Corcovado ao lado do Redentor, para depois chegar onde eu comecei a escrever, nas grandiosas Palmeiras Imperiais expostas em fila no Jardim Botânico. Lá sentada, olhei o céu, na sobreposição marrom e verde das cabeças das palmeiras sob um azul egoísta, conseguindo ainda lá atrás espiar o Cristo com seus braços abertos, pequenininho, de olho em nós. Agradeço enfim baixinho, à cidade e ao asfalto, que generosos abrem esse espaço para a natureza. O Rio com suas palmeiras, montanhas, monumentos,lagoas, e o mar, é a cidade mais linda do mundo.

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

As primaveras de agosto

E foi assim, em uma manhã fria ensolarada e com ares de primavera que eu fiz 26 anos. Pensar que eu já sou adulta seria só mais uma das repetições da vida, a verdade é que depois de tanto tentar eu acordei e percebi que nao estou sozinha. Alguns o chamam de inferno astral, eu chamo de fase de tristeza, confusão, dúvida muita dúvida, frustração. Mas afinal de contas, o sábio diria, você está apenas começando menina! Esse sentimento dura bem mais que 30 dias...
Eu simplesmente não consigo e também não quero atribuir tudo isso à fácil desculpa psicossomática do tal inferno. São as minhas dores do crescimento e eu gosto delas, e talvez eu precise de novo segurar bem forte a mão da minha mãe, não tem problema...

Aufwiedersehen!

domingo, 24 de julho de 2011

Amor

As vezes eu me irrito com a minha cabeça, com a minha constante analise do ambiente, e agora prestes a completar 26 anos, estou mais velha do que nunca, e por vezes penso já ter visto tudo...sábado a tarde fui me despedir do meu vô, do alto da minha quase inacessibilidade fui pega por uma corrente irrestível de dor, daquelas poucas que são impossíveis de conter, talvez a única...eu era de novo aquela menininha cercada de adultos incompreensíveis, mas através dos quais eu amava descobrir um pouco da vida. Meu vô sempre forte sentado em sua poltrona, portando um copo de Whisky em uma mão e seu cigarro fedorento na outra assistia ao Corinthians. Eu entrei sem aviso no quarto e o vi tão pequeno. Ele forçosamente respirava através de uma sonda como se quisesse beber a última gota de um néctar que já não existia mais no mercado. Ficamos lá a olhá-lo, e a dizer que ele já podia ir, e a agradecer, e a dizer que o amávamos e a pedir a benção pela última vez. Era sábado a noite e eu não gostaria de estar em nenhum lugar senão lá, ao lado da minha vó, o grande amor da vida dele que o olhava, aproveitando cada segundo, e eu teria forças para bater em alguém que dissesse que o casamento é uma instituição falida. Eu olhava meu avô, mas olhava também os meus tios, meus primos, minha avó, meus irmãos e meus pais. A palavra ensaio era funesta, e não saia da minha cabeça analítica, eu precisaria me preparar, se é que existe preparo para isso.
No velório beijei sua testa impecável e gélida, ele estava como há 15 anos, quando eu ainda conseguia sentar no seu colo...agora um véu o cobria, e as flores o acolhiam no conforto do eterno. Escolhi guardar aquela recordação, o enterro era mais do que eu precisava para seguir com a minha vida.

Aufwiedersehen...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Não se afobe não

Na falta de inspiração, e talvez na falta do que dizer, quando só se consegue sentir...fico com o Chico.

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Qualquer dia

Eugênio. Seu Eugênio, 62 anos e 8 meses, aposentado há 10, acorda em setembro, em um dia invariavelmente frio, porém ensolarado. Olha para o outro lado da cama e não vê ninguém. Procura suas chinelas meio que sem saber o porquê e as calça, pensa no sonho do dia anterior e lembra-se que não sonhou nada. Coça os olhos com prazer, levanta-se, sente vontade de espriguiçar-se, mas tem preguiça. Chama por Maria, que não responde. Vai até o banheiro, olha para a calcinha chocolate pendurada na torneira do chuveiro e sente asco. Depois do asco uma certa excitação meio que como uma lembrança de algo que não se lembra. Nostalgia!Nostalgia é a palavra. Ou talvez dejá vù. Pensa escovar os dentes, como recomendado pelo dentista, mas pensa que odeia o sabor da pasta de dente misturada com o café que logo vai tomar. Desiste de pensar e escova os dentes. Olha para a barba, já crescida e sujando seu rosto, incomoda-se mas não faz nada a respeito. Troca de roupa, penteia os cabelos, olha-se no espelho e percebe um pequeno amassado na manga direita, decide trocar de camisa. Ouve o som da porta, é a mulher que entra. Vai até a cozinha e encontra Maria arrumando as compras. Comprou pão francês? Não, achei que você ia preferir ir buscar você mesmo. Ela achou certo, mas ele continuou mal humorado, meio que se sentindo forçado a sair de casa. Olhou para Maria e pensou como ela tinha mudado, e não conseguiu se lembrar de como ela era bonita. Para um homem velho, o passado pode ser alguma coisa desnecessária, por causa de todo o senso do prático que vem com a experiência. Quando jovem, com seus recém completados trinta anos, gostava de se auto-afirmar pragmático. Conhecia em partes o significado da palavra, mas conhecia ainda mais o efeito que ela tinha nas pessoas. Sentiu de repente fome, ou simplesmente seu estômago roncar, apalpou os bolsos da calça, o bolso da camisa à procura de trocados, mas não encontrou nada, apenas um papelzinho antigo no bolso da camisa depois da que não estava amassada. Leu o papel e já o guardou amassado de volta no bolso, sem que eu conseguisse vislumbrar alguma coisa. Pensou por alguns instantes, deu uma forte fungada, e um meio sorriso perpassou seu rosto, ou somente o raio do sol que entrou pela janela o fez fechar os olhos. Sua mulher, Maria, estava sentada na sala, com a televisão ligada, tomando um chá e lendo uma revista. Querida, você precisa fazer tudo isso ao mesmo tempo? Se eu consigo, qual o problema Eugênio? Ela disse isso como um tom poeril, quase infantil. Eugênio lembrou um pouco dela, sob a luz daquele sol matinal, que entra tímido pelas frestas da janela. Ficaram os dois assim quietos por uns dois minutos. Que foi Eugênio? Ele foi até ela, ajoelhou-se no chão e delicadamente a beijou na boca. Maria ficou desajeitada. Ele desajeitado ao se levantar, pegou as chaves e saiu. Ela desligou a TV, sorriu e tomou um gole de chá.
Garoava na rua. Eugênio surpreendeu-se do fato, por não ter sentido o cheiro. Mirou a padaria a duas quadras de casa, e saiu ao seu encalço. Um quarteirão depois já podia sentir o cheiro de pão doce, que agora misturava-se com o cheiro da chuva e um tiquinho de fumaça dos carros. Escolheu os três pães franceses de sempre, e decidiu escolher mais duas carolinas que Maria tanto gostava. Apalpou seus bolsos e lembrou-se que não tinha trocados, e sentiu novamente o papelzinho. Sentou na cadeira, comeu uma carolina. Pensou mais um pouco e comeu outra carolina. Pediu para pendurar a conta e saiu. Já não garoava mais. Segurou seus pães no peito, sentindo que acabavam de sair do forno, encheu sua boca de àgua ao ver uma menina de saia passar. Atravessou a rua, automático como tinha procurado as pantufas mais cedo, não viu o ônibus que passou.
Três pães franceses cairam no chão, a moça da saia correndo para acudir. Seu Eugênio!! Eugênio.

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Interlúdio

Tenho feito muitas coisas ultimanente, comecei a ler quatro livros diferentes sem termina-los, ando brigando muito com a gata que mora em casa (inclusive agora, que sobe em meu teclado e suja meu colchoado novo com seus pêlos brancos), tenho trabalhado, passado frio, praguejado contra o frio, e também - como falamos no trabalho - tenho feitos alguns backups para a industria cinematográfica (baixado filmes da internet), fiz muita coisa, menos escrever, e eu sinto falta. Essa cidade te uma coisa acelerada que te pega, tem sempre algo acontecendo, algo muito interessante, e acho que é isso que me apaixona em São Paulo. Acontece que existem diferentes tipos de acontecimento, e com um pouco de experiência (cof cof), percebi que não precisamos nos movimentar, viajar, ou dar uma grande festa necessariamente, para que algo importante aconteça. Coisas alucinantes acontecem dentro de nós, na nossa eterna busca pelo auto conhecimento. Enfim...dos quatro livros, tenho batido um papo com Tim Maia e aquele talento monstruoso dele que vinha com um acessório também grande, seu temperamento. Além do Tim, tem o Washington, o Olivetto. Estou na publicidade há quase dois anos e ando curiosa com esse mundo. Washington também tem um talento enorme, mais palpável talvez, e um bom temperamento. Olho pra caras desse tipo e não consigo almejar menos. Sinto-me velha mesmo com 25 anos (quase 26). Sinto urgência, mas também sinto cansaço, por que cansa mesmo. Sinto frio.
Foi sempre pela escrita que eu consegui ficar vulnerável, entender um pouco o que se passa dentro dessa mente hiperativa que vive em uma moça tão sossegada. Em um desses filmes que eu baixei (tenho preferido os clássicos que separo por diretores: Bergman, Hitchcock, Truffaut),"Interlúdio" de Hitchcock, senti uma espécie de apoteose menos apoteótica, em relação a essa minha paixão avassaladora. Eu não amava o Cinema como arte, ou talvez um trabalho, eu amava (amo), o Cinema como contemplação de uma vida, e quanto mais estravagante e bela melhor. Algo que minha psicanalista afirmava com a sutileza que lhe é peculiar, e que eu entendia apenas como uma metáfora. Eu vivia o que Alicia, a personagem de Ingrid Bergman sentia por Duvlin na pele de Cary Grant. Eu viajava com eles de Miami para o Rio de Janeiro, planejava aventuras e sonhava com um mundo melhor.
Aquilo não me entristeceu, apesar de ser triste, aquilo de certa forma me fez pensar em começar a viver eu mesma a minha história. Uma menina sonhadora pode ter muitos problemas com a realidade.

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sombria

Quando eu acordo no frio não tenho vontade de acordar. Eu adoro dormir, mas adoro acordar. Uso muitos: "adoro", "amo", "sou apaixonada", poucas vezes penso no "apenas tolero", "até gosto", pra mim tudo é grande, voraz, faminto. Sinto falta de mim mesma nos meus dias. Eu amo as pessoas, minha família, mas eles também me irritam. Eu me irrito ainda mais com quem eu amo. Eu sou mais doce com que não me interessa. Eu invejo a quem desprezo. Eu torço pelo fim, eu amo a vida, amo a mim, mas por vezes penso não ligar para a minha morte, até penso quere-la, enfim. Tenho extremo amor e empatia pelas pessoas na rua, pelas pessoas em casa, mas as enxergo em sua mediocridade, ou simplesmente invento tal mediocridade para sentir-me superior a elas, superior a alguém. Outras vezes fico certa da minha sabedoria, por alguns instantes. Eu muitas vezes desprezo, não sinto compaixão, muito menos sensibilidade quando devo sentir. O "dever" da moral, da ética humana, da ética que aprendi logo no berço, da ética cristã. Mas mesmo assim continuo. Continuo a atrair amor, sensibilidade, compaixão e carinho. Sinto-me insegura e muitas vezes infeliz. Daquela infelicidade que não devia estar lá por que sem sentido. "Sem" em relação ao Brasil, para a moral da metrópole, sem sentido nenhum.
Sinto-me presa em minhas próprias escolhas, cansada de correr, de fazer-me de vítima, de não ganhar dinheiro, de odiar dinheiro, e muito mais sua necessidade imortal. Eu sorrio facilmente durante o meu dia. Não retruco e por muitas vezes odeio minha natureza. Dentro de mim guardo coisas horrorosas.
Minha mania é ficar sozinha e sentir remorso por querer isso, para então odiar a solidão e o porquê dela.

Aufwiedersehen!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Morada

Peguei o primeiro ônibus depois o segundo ônibus. Uma hora sem atraso depois estava em casa. Do ponto mais uns 100 metros no escuro da noite, eu vou ignorando a segurança, empunhando uma chave como escudo protetor placebo de menina na cidade grande. A rua escura me abraça e me empurra novamente e me salva pra dentro do prédio. Um prédio que mais parece um sobrado de cortiço arrumado. Esse cortiço que nos providenciou boa localização, bom preço e conforto por um ano. Dentro das paredes verdes bebê nos adaptamos mais uma vez nessa vida.
Na necessidade, a casa do sobrado foi perfeita. Tinha metrô, supermercado, amigas irmãs, e era grande de apartamento antigo como a gente queria. Tinha TV que nunca pegou bem e uma antena que se esforçava e quebrou nosso galho. Tinha também barulho de ônibus, claridade no rosto, um sono ruim que chegou uma hora que não deu mais.
E dai, como quem acorda exigindo champagne com queijo bree, não suportei mais a distância, as duas corridas de transporte coletivo, o moço vizinho que não fazia nada alem de ficar parado na frente da porta pra ver quem vai e volta, o menino parecido com o desenho do Pequeno Principe que cruzava comigo toda manhã voltando da natação, o supermercado mais próximo que era sujo, a locadora que funcionava no horário ruim, e tudo o mais me irritava.
Era vespera da mudança pra casa nova e pro quarto que só seria meu. Pela última vez eu peguei os dois ônibus, pela última vez eu subi os lances de escada, o mesmo lance que me derrubou por duas vezes a machucar meu popô. Pela última vez eu passei pela Igreja no sentido contrário ao metrô e cheguei na Academia de Natação, e abracei minha professora, falei da vida, da mudança e das finanças, e agradeci por ela ter deixado nesse quase um ano eu nadar sem pressão e sem série de oito.
Me despedi.
O comichão da mudança, aquela página vasta e em branco me consumiu e eu sorri.

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mana

Lembro que te conheci há sete anos, era março. Você era uma menina magrela com jeans altos meio antiquados pra época do cofrinho aparente, tinha os cabelos em um tom loiro escuro presos em coque, usava brincos delicados e dourados mais uma corrente de ouro por cima da blusinha comportada, onde balançava a metade de um rosto. Ao seu lado, outra corrente idêntica pendia com a parte que faltava. Seu escolhido de hoje, ontem te completava em um abraço. Aquela cena está gravada, assim como a evolução das impressões desse dia até nosso relacionamento na vida adulta.
Dificil pensar em alguma coisa que não fizemos juntas. Tantas vezes nas minhas repetidas histórias contadas, esqueço de te incluir no discurso, e você me chama a atenção e me diz “Eu tava junto!”. Inútil pensar que você estava, quando por boa parte desses últimos anos você se tornou um extensão de mim e vice e versa. Uma dupla, uma parceria, uma coisa fraternal. Duas irmãs grandes e muito jovens escolhendo uma casa para morar. Duas irmãs chorando ao perceber como o mundo é complicado, e como pagar contas dá trabalho, pra em seguida tomar uma cerveja assistindo à sessão da tarde. Duas irmãs se divertindo, e rindo, e dançando esquisito, e rindo mais um pouco. Duas irmãs procurando emprego, e trabalhando juntas pra ganhar nada.
Os conselhos antes de dormir, a ansiedade na época de ir embora, de deixar pra trás aquilo que se tornou o nosso sonho possível e realizado, a faculdade que pode não ter sido a certa, mas que no final das contas juntou os nossos caminhos. Matão, Araras, Alemanha, Estados Unidos, São Paulo.
Parece um presente, esse presente que fez do nosso medo maior em 2007, uma coisa que não deu certo. A nossa separação.
Sete anos se foram, e que orgulho, e que felicidade, e só um tiquinho de nostalgia ao pensar em tudo que a gente viveu.
Você escolheu um futuro lindo. Aquele que já estava traçado há 10 anos, ao lado do melhor homem. A mim agora, cabe dizer te amo e boa sorte, tudo de mais lindo no começo dessa nova caminhada.
Hoje te vi sair da casa que era nossa, perfumada e sofisticada com seus cabelos lisos, repicados e soltos. Agora continuamos, cada uma no seu quarto depois de seis anos juntas.

Aufwiedersehen!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os mesmos devaneios...

É uma manhã nublada com a garoa típica da Paulicéia desenfreada. Tenho medo desse trânsito que não anda. Acidente?Reforma na pista?Não...é muito carro.
Um paradinho atrás do outro no cúmulo dos nove milhões. Uma cidade de carros, uma cidade grande.
Do fim de semana trago bons fluídos...amigas, risadas, cerveja e espetinhos, nem o Faustão pra estragar tanta coisa boa e de qualidade.
Ah como seria bom se tudo isso bastasse!Mas bicho esquisito que somos, bicho nunca completo, ainda mais na qualidade feminina, sentimos alguma falta em algum
momento. A falta do Falo cochichou minha Psicanalista. Tá bom Freud, tá bom. Sentimos falta sim, de carinho, de cuidado, e de algo ainda mais simples,
mas que não pode ser encenado: interesse. Nossos amigos querem ajudar, nos aconselham, contam, pedem que tenhamos paciência, que não pressionemos ninguém que
seja, apenas solícitas, sem deixar de curtir a vida, que esperemos por eles ao modo das mulheres que esperavam com um prato de comida extra todas as noites por seus maridos
que lutavam pela Terra. Eu daria uma péssima mulher de soldado. Eu quero presença, por mínima que seja. O nosso conselheiro não sabe, que da falta de interesse alheia, surge a nossa. De repente tudo faz sentido. Eu posso querer mais. Eu posso não querer esperar até que surja um interesse. Eu quero querer mais!
As mídias sociais que nos separam de lados opostos e mecânicos, que na constante comunicação cria ruídos sutis que acarretam tardiamente em problemas maiores de mal
entendidos permanentes, também podem ser utilizadas para o bem. Um ex bonitão no msn, conversas de "catching up", besteiras necessárias de lisonja, ele acaba de contar do namoro e mesmo assim me convida pra uma cerveja qualquer dia desses, homens...tudo no vazio, tudo superficial, quanto mais melhor...
Eu não quero essa cerveja sem base, eu não quero esse interesse torto.
Eu quero mais.

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Existe cotidiano pra gente?

Eu sou uma pessoa cismada. Tendo a cismar com algo específico em determinada época, pode ser qualquer coisa, uma ideia, um filme, um livro, um lugar, a mesma coisa pra música. Posso ser considerada uma eclética de carteirinha, escutei na primeira adolescência ao rock do Kiss e Pantera, logo enjoei e peguei asco, passando uma boa temporada, talvez a maior parte da minha "formação musical" com o samba, aquele de raiz venerado pelo mundo todo, com Leci Brandão, Jorge Aragão, Fundo de Quintal e outros. No que se pode dizer de pós adolescência fui descobrindo o que se tornaria uma bela "crush" que ainda perdura com o indie rock do The Killers, Arctic Monkeys, The Strokes e todos esses moleques talentosos. Nesse ínterim também conheci os junkies americanos e pacíficos dos anos 70, que dentre todos os sons são os que menos risco correm de me enjoar, com Jimi Hendrix, The Doors, e Janis Joplin...Lá no velho continente seguem como um tipo de seita pessoal light, lógico The Beatles. Toda essa introdução que acabou se estendendo foi para contar que a minha atual obsessão é Chico Buarque. Ouvi quando era criança e meu pai tinha a mania irritante de colocar o som alto nas manhã dos fins de semana, e talvez por isso não me agradava. Cresci e li quase todos os seus livros, conheci uma banda pernambucana que toca seus som com uma pegada maracatu "Seu Chico", mas há duas semanas resolvi colocar o próprio mestre pra tocar no celular, no caminho do trabalho ou pra qualquer lugar, e pronto, cismei! Ando numa fase brasileira forte, acabo de me recuperar do Lobão, e agora só quero saber do Chico.
Tem uma coisa bem divertida que eu costumo fazer, discordar de gênios...sei lá, me sinto com personalidade, por que né?Quem sou eu mesmo? Tem uma música muito famosa do Chico, "Cotidiano", e é uma das minhas preferidas, pela melodia em si e por que Chicão é um escritor de mão cheia e escolhe as palavras como ninguém, retirando, como diriam os mestres literatos, o leite da pedra. Estava eu ouvindo à Cotidiano pela centésima vez na semana, cantando feliz da vida, quando pensei, que a história não me convencia. Ele fala da esposa que todo dia faz tudo sempre igual, como todos sabem. Fiquei pensando, que hoje desde a hora que eu acordei eu tive milhões de pensamentos opostos, o que eu penso sobre o segredo do universo numa hora, na outra se vira pelo avesso, nós mulheres somos complexas por demais...pensamos muito...imaginamos demais...impossível conceber alguma de nós que repita todos os dias a mesma ação. As vezes uma calça amarrotada pode estragar a nossa manhã, ou um olhar feio da vizinha tirar nossa fome, nosso humor não segue uma linha racional, nós nos metamorfoseamos em looping infinito para não entrar no marasmo, mesmo que o marasmo seja o nosso sonho por alguns instantes. Instantes e momentos, é disso que vivem as mulheres. Desculpa Chico, te amo.

Aufwiedersehen!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Cérebro nostálgico

"Olha bem o que você tá falando!"- alertava-me meu irmão em relação a algum assunto de extrema importância, que eu já esqueci o que era. Que coisa chata!Ele estragava minha oratória no ato..."deixe-me terminar pelo menos, que até eu posso mudar de ideia no final e negar tudo outra vez". Meu irmão não é como eu. Ele leva a sério, se aprofunda, se preocupa mais também. Sexta-feira ele se formou, terminou um ciclo muitos diriam, começou a tortura e acabou a mamata outros pensariam baixo. Eu voltei pro começo de 2008, na minha formatura. Como esse dia ficou distante, bem como todos os anos de universidade. Dizem que o cérebro é sábio ao priorizar as lembranças recentes às antigas, um modo prático de seguir com a rotina, o dia a dia, e focar no que realmente interessa para a nossa sobrevivência prática: a nossa realidade atual. Mas como lamento por não lembrar-me de tudo. Do cheiro da grama da Unesp de Bauru naquele ginásio quente de fevereiro..do nome da tia da cantina, do rosto do senhor da biblioteca e dos recados estranhos que líamos no banheiro inóspito da faculdade. Essa tristeza deve ser a tal da nostalgia batendo no peito. E se o cérebro escolhe por focar no presente, que orgão inventou a nostalgia que contradiz essa decisão em momentos como esse do fim de semana? Talvez seja um "chorinho" do cérebro mesmo ...um brinde para lembrarmos do que somos feitos, quando a gente pára e consegue um suspiro para olhar lá pra trás. Além dos objetos que se tornam queridos, ficaram pessoas que ainda hoje seriam amigas se não fosse o tempo. Às vezes nem mesmo distantes, nem mesmo fora de alcance, apenas por algum acaso separadas de nós, e ao reencontra-las sentimos por não conseguir, mesmo que com muita boa vontade, aquela intimidade solta de um dia.

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um dia

Seu Eugênio, 62 anos e 8 meses, aposentado há 10, acorda em setembro num dia invariavelmente frio, porém ensolarado. Olha para o outro lado da cama e não vê ninguém. Procura suas chinelas meio que sem saber o porquê e as calça, pensa no sonho do dia anterior e lembra-se que não sonhou nada. Coça os olhos com prazer, levanta-se, sente vontade de espriguiçar-se, mas tem preguiça. Chama por Maria, que não responde. Vai até o banheiro, olha para a calcinha chocolate pendurada na torneira do chuveiro e sente asco. Depois do asco uma certa excitação meio que como uma lembrança de algo que não se lembra. Nostalgia!Nostalgia é a palavra. Ou talvez dejá vù. Pensa escovar os dentes, como recomendado pelo dentista, mas pensa que odeia o sabor da pasta de dente misturada com o café que logo vai tomar. Desiste de pensar e escova os dentes. Olha para a barba, já crescida e sujando seu rosto, incomoda-se mas não faz nada a respeito. Troca de roupa, penteia os cabelos, olha-se no espelho e percebe um pequeno amassado na manga direita, decide trocar de camisa, sem saber direito por que. Ouve o som da porta, é a mulher que entra. Vai até a cozinha e encontra Maria arrumando as compras. Comprou pão francês? Não, achei que você ia preferir ir buscar você mesmo. Ela achou certo, mas ele continuou mal humorado, meio que se sentindo forçado a sair de casa. Olhou para Maria e pensou como ela tinha mudado, e não conseguiu se lembrar de como ela era bonita. Para um homem velho, o passado pode ser alguma coisa desnecessária, por causa de todo o senso do prático que vem com a experência. Quando jovem, com seus recém completados trinta anos, gostava de se auto-afirmar pragmático. Conhecia em partes o significado da palavra, mas conhecia ainda mais o efeito que ela tinha nas pessoas. Sentiu de repente fome, ou simplesmente seu estômago roncar, apalpou os bolsos da calça, o bolso da camisa à procura de trocados, mas não encontrou nada, apenas um papelzinho antigo no bolso da camisa depois da que não estava amassada. Leu o papel e já o guardou amassado de volta no bolso, sem que eu conseguisse vislumbrar alguma coisa. Pensou por alguns instantes, deu uma forte fungada, e um meio sorriso perpassou seu rosto, ou somente o raio do sol que entrou pela janela o fez fechar os olhos por causa sensibilidade. Sua mulher, Maria, estava sentada na sala, com a televisão ligada, tomando um chá e lendo uma revista. Querida, você precisa fazer tudo isso ao mesmo tempo? Se eu consigo, qual o problema Eugênio? Ela disse isso como um tom poeril, quase infantil. Eugênio lembrou um pouco dela, sob a luz daquele sol matinal, que entra tímido pelas frestas da janela, e lembrou como ela é bonita. Ficaram os dois assim quietos por uns dois minutos. Que foi Eugênio? Ele foi até ela, ajoelhou-se no chão e delicadamente a beijou na boca. Maria ficou desajeitada. Ele, do jeito que levantou-se, pegou as chaves e saiu. Ela desligou a TV, sorriu e tomou um gole de chá.
Garoava na rua. Eugênio surpreendeu-se do fato, por não ter sentido o cheiro. Mirou a padaria a duas quadras de casa, e saiu ao seu encalço. Um quarteirão depois já podia sentir o cheiro de pão doce, que agora sim misturava-se com o cheiro da chuva e um tiquinho de fumaça dos carros. Escolheu os três pães franceses de sempre, e decidiu escolher mais duas carolinas que Maria tanto gostava. Apalpou seus bolsos e lembrou-se que não tinha trocados, esentiu novamente o papelzinho. Sentou na cadeira, comeu uma carolina. Pensou mais um pouco e comeu outra carolina. Pediu para pendurar a conta e saiu. Já não garoava mais. Segurou seus pães no peito, sentindo que acabavam de sair do forno, encheu sua boca de àgua ao ver uma menina de saia passar. Atravessou a rua, automático como tinha procurado as pantufas mais cedo, não viu o ônibus que passou.
Três pães franceses cairam no chão, a moça da saia correndo para acudir o senhor, Seu Eugênio. Eugênio.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

10 minutos

Olho lá fora, o mundo. Faz sol e lá na frente passa um avião que eu não escuto. De cima avisto prédios que não têm pessoas, grandalhões objetos inanimados que dominam esse lugar. O que será que acontece lá dentro? Pouco me importo, moro aqui, melhor, vivo aqui. O que acontece aqui dentro talmbém pouco me suscita interesse. Olho lá fora, olho esse sol que logo vai descer pra chamar sei lá o que, esse sei lá o que me enlouquece! Ele vem depois do sol, bem depois, deve bem de ser preguiçoso, mas promete, sempre promete. É pra ele que eu vivo, enquanto posso. Barulhento, sempre rodeado de coisas e gentes e oportunidades. Ele tem essa coisa boa, essa coisa do inusitado, nunca sei o que ele vai trazer, e isso sim me interessa. Uma coisa que vai subindo, subindo pela garganta...o celular toca, ish já começou!Ainda não é hora, respira, olha pra essa tela sem graça, cabeçuda e repetitiva! A vida agora é essa tela. A vida que não me interessa, que não vale, para a qual eu não nasci. Os custos, preciso rever aquele custo, por que o dinheiro deve bater no final do mês, ai o final do mês, contas, será que eu consigo hoje?
Tic tac, .00. Disfarço minha felicidade, saio pela borda, dois passos e já nem penso mais naquela tela, elevador, tchau pra recepcionista, boa noite pro segurança, o paraíso, a rua! O cheiro da fumaça, o bafo que contrasta com o ar condicionado, o barulho do busão, é tudo delicioso.
O que vestir?Pra quem ligar?Ele vai?Sento, ligo a TV sem horário pra levantar, comer alguma coisa, tem que ser gostoso, gorduroso, por que hoje é dia pra isso, e que se dane a dieta. Uma estratégia se forma, o que eu quero hoje?Qual o meu público, qual o meu objetivo, projeto finalizado, coloco em ação, finalizo com um perfume que atenda ao pedido e enfim...O daqui em diante é o que vale, e agora é segredo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A geração do grampo

Somos amigas da correria, do barulho, da gente e dos homens. Somos parceiras, gostamos e entendemos de futebol, bolsa de valores então nem se fala! Viemos de longe, viemos daqui, de outro bairro e chegamos. No ensino superior beijamos na boca pra acordar com ressaca e vestidas de rosto limpo, ir trabalhar. Aguentamos muita coisa em muito pouco tempo. Não gostamos do que vem fácil, não confiamos na falta de interesse, confiamos umas nas outras. O amor? Esse nos amedronta, esse é difícil que só vendo, esse é o fim dos nossos meios todos globalizados.
Nosso cabelo é pouco prático pra tanta coisa, para facilitar usamos grampos aleatórios nas madeixas que se prendem com um charme inusitado. Somos a geração dos grampos, que seguram pouca coisa, mantém a aparência levemente arrumada e nos ajudam com sua sutileza. Se algo ou alguém nos machuca na auto estima, sempre temos um belo batom para nos recuperar e esperar pelo próximo dia. Não esbravejamos, tentamos não julgar, mas adoramos ver as outras mal vestidas, antes elas que nós. Somos enfim boas, mas não santas.

Aufwiedersehen!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

E a diversão?

Descobri esses tempos um talento impressionante que nós humanos temos. O talento de fazer as coisas divertidas tornarem-se chatas, ansiosas, um peso. Para tal, parto do principio do porquê do nosso nascimento ser a busca pela felicidade. Primeiro a felicidade de nossos pais, por que afinal de contas, eles têm ali de pronto a mistura deles mesmos em outro ser, que depende somente deles para viver. Por um tempo, claro. A felicidade. É em busca dela que viemos, para sermos felizes precisamos nos divertir. Antes de nos divertimos, vivemos em sociedade, e dentro desse local inóspito precisamos criar regras para bem viver. Pronto, lá se vai a felicidade. Não critico as regras, apenas lastimo a necessidade de te-las. Lá se vai a diversão. Mas calma, muita calma, dentro da sociedade, no meio das regras, no esconde esconde diário dos deveres, existem os relacionamentos. Aí sim!
Homens, mulheres, homens com homens, mulheres com mulheres, desde o começo foi tudo meio misturado. A amizade é a base. Dizem que a palavra amizade vem do latim, e sua raíz quer dizer amor. Essa é a relação mais pura e idealmente não deve haver interesse egoísta, a não ser a vontade de estar junto. Surge da afinidade, do bom conhecimento, do cativar daquela antiga e sábia raposa. Quando se fala em amor, ou melhor quando se sente, parecem perder o sentido as regras, a sociedade. E é divertido, e traz paz, e faz sentido.
A amizade começa também sem interesse sexual, e tá ai um ingrediente tinhoso, o sexo. Ele enlouquece. Ele ainda é, e duvido que um dia deixe de ser, o principal pensamento de todas as pessoas. Tirando dias que sucedem a jogos importantes de futebol. O que me leva a escrever sobre isso, e a pensar em toda essa questão da felicidade, é que as nossas relações amorosas deixaram de ser divertidas. Viraram jogos de poder. Ninguém se sente livre para agir naturalmente, seguir os impulsos, fazer-se de bobo. Quando foi que começamos a estragar tudo? Veja bem, não sou apocalíptica, não penso ser o fim, mas que tudo está pesado, está. Onde fica o disque me disque das meninas que cochicham e paqueram e sonham?
Nós mulheres já idealizamos um tipo ideal, desde o tênis que ele usa até o formato de suas mãos, sem contar os interesses específicos e as ambições econômicas. Tudo ficou mais complexo. O que fizemos com o dividir?O aprender?O lutar?Nós mulheres nos tornamos cínicas.
Somos cínicas, por que de alguma forma, desde o começo desse jogo de vai não vai amoroso, logo cedo na puberdade, batemos muito a nossa cara. Mais do que o normal, por que é tudo mais fácil. Encontrar com o carinha é fácil, trocar idéia, saber das fofocas que envolvem o nosso eleito do momento é fácil desde o advento do ICQ. Estragou um pouco. Os homens têm sua parcela de culpa no nosso diagnóstico atual. Eles ficaram ainda mais aéreos, têm muitas preocupações, e não muita paciência. Eles têm também a mania irritante de deixar as coisas no ar, de serem educados e cortezes. Eles ficaram mornos. Parece que não se apaixonam, não se entregam, e não conseguem ter a personalidade de querer uma mulher no meio de muitas, não importa qual seja.
Veja bem, é claro que eu estou generalizando, é claro que ainda existe esperança (?), e é claro que os homens conseguem sim se entregar e as mulheres não são totalmente cínicas, eu só desenho agora a imagem que eu vislumbro pessoalmente e na obervação e participação na vida das outras pessoas. Termino pedindo: Vamos voltar a nos divertir?

Aufwiedersehen!!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Impressões

Conversas com um personagem que eu não conheço bem, mas veio me contar coisas interessantes:
Que coisa essa da “primeira impressão é a que fica”. Aquele primeiro olhar para a pessoa, o teste se o santo bate ou não, se é bonito, feio, mal vestido, fede? Tudo isso devia ser melhor observado, por que eu vou te dizer meu filho, eu cansei de cair de cara com essas idéiazinhas superficiais de um primeiro conhecimento. Não vou tirar o meu da reta não, ô se já julguei, e é divertido por um lado, vira meio que um jogo de adivinhação, e enquanto eu sei que é um jogo, qual é o problema? Pensar que aquele cara mala que só falava dele mesmo, é hoje o amigo fiel e confidente de todos os anos. Aquela patricinha metida a besta (o que significava que ela era linda de doer e me esnobou), se apaixonou por um cara sem graça como eu, é a mãe que eu pedi a Deus pros meus filhos. Coisa louca...a gente vive batendo a cara, a vida fica gritando o quanto que a gente é burro. Por que sim, a gente é um bicho burro e orgulhoso ainda! Não é por mal eu sei, faz parte da nossa raça, a gente se sente o tal no meio dos outros animais por causa de dois dedinhos que têm o super poder de segurar uma colher. A colher gira pra adoçar o chá e a gente o que faz realmente de bom? Julga, critica, reclama e faz tudo do jeito errado. Eu não quero deixar vocês desanimados com a minha sabedoria e toda essa coisa, eu quero dar risada! Vou rir por que tô velho e só aprendi isso agora, senão teria rido antes. Estudei, me senti várias vezes um puta de um cara por causa de uma promoção no trabalho, olhei de cima para os subalternos, a faxineira, recepcionista, todos eu tratava com a polidez certa das pessoas superiores. Superior em que? Que eu tinha melhor que eles? Ah lembrei, um escorte conversível amarelo e zero, que agora nem tem mais linha, e era bem do brega. A gente se prende a um conceito que não existe mais daqui uma semana, a gente se prende a muita besteira! Eu vou sim é rir, já contei esse segredo pros filhos da minha patricinha (eu ainda chamo ela assim), aquela dondoquinha linda. Meu melhor amigo de hoje era o cara com bafo da repartição que eu trablhava há trinta anos. O cara consegue entender e rir das piadas que eu ainda nem contei. Tem problema de estômago, daí o mal hálito que eu já nem sinto.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Inércia

Com coragem olhou para o relógio. 11:48h. A TV ainda participava da trilha matinal, enquanto os olhos nem fechados nem despertos insistiam não tomar decisão alguma. O estômago roncou. Um emaranhado de fios e poeira alçava vôo do chão da sala. Chega. Ela colocava com força desnecessariamente enfática os móveis em cima dos sofás. Cadeiras eram jogadas com cuidado abrupto sobre a mesa. Vassoura, tosse, pano, e o cheiro reconfortante da hortelã brigava com o barulho dos ônibus incansáveis do lado de fora. As roupas sentiam-se amassadas. Ferro, fogo, dobras. Do quarto pessoas conversavam aleatoriamente na sala. A TV era posta pra dormir. Era ela agora que precisava ser arrumada. O interruptor do chuveiro dizia inverno, e ele estava certo, mas ela precisava do frio escorrendo, mudou contra a vontade para a função verão. Arrepios desagradáveis, os olhos decidiam-se, queriam despertar. Já provida de sua toalha nova, que por isso não sabia direito enxugar, pensou naquele vestido. Sua mãe o havia comprado para um casamento, ele tinha essa estampa geométrica, que ela achou levemente informal para tal cerimônia. O vestido era bonito, e com ele tentou sair para a rua num dia qualquer, só que ele aparecia-se muito formal para o dia a dia. Talvez ele servisse para um dia como aquele. Vestiu-o e do espelho não conseguia decidir quem era e se servia àquele lugar barulhento. Uma sirene qualquer passou rapidamente pela rua, ela sentiu que respirava, respirou fundo para conferir e saiu.

Aufwiedersehen!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

09 de janeiro em outro lugar

O viajante na maior parte de sua vida precisa trabalhar, e por isso acaba por perder a perspectiva do momento e por consequência a esquecer-se de onde está. Aí, em dado momento, ele retorna para o “no man's land” e começa a pensar o que quer da vida, mas o movimento o atrapalha como aquele vento que sacode o cabelo no rosto. Ele não é mais João, Pedro, Maria, de repente ele é brasilero. O viajante é sobretudo um malagradecido. Assim mesmo, tudo junto como dizem nossos avós MALA-GRA-DE-CIDO!Gosto de dizer que sou um desses, uma aventureira, que sinto claustrofobia, aracnofobia, cleptomania, ou seja lá o que for em lugares fechados, que me repugna a rotina. Tudo falácia! O malagradecido é antes de tudo um sujeito esquecido. Esquece que tem saúde, boa família, um teto. Que ele faz? Procura sarna pra se coçar! Estou na capital da Argentina, sentada na colorida sala de um prédio pintado em vermelho queimado, onde a luz entra sem pedir licença e aqui permanece até às 21h, veja lá que audácia! Daqui de minha cadeira, abóbadas de prédios antigos multicolores, todos têm um grande alfinete que aponta para o infinito sobre nossas cabeças. Conheci uma duzia de pessoas ou mais de todo lugar, conversei no meu inglês da adolescência, e até ensaiei alguns discursos no espanhol vizinho com aquele x ordinário argentino que vai no lugar do r, e que eu insisto em não aprender, por que parece que eles insistem em escrever o meu português errado! Sinto-me feliz por que viajo, percebo a saudade da intimidade muitas vezes incoveniente do cotidiano, das ligações de madrugada, das responsabilidades enfim...Dou um gole na minha Quilmes e preparo-me para mais uma noite de sofrimento em Buenos Aires, para tentar ser menos malagradecida.

Aufwiedersehen!!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um último suspiro do passado

2010. O que me aconteceu nesse ano? Nada praticamente. Na realidade, tudo. Final de ano se parece muitas vezes com uma soma de “mal agradecimentos”, pelo menos no meu caso. Existe ainda a comparação. Em 2009, só nesses 12 meses, boa parte deles, oito, vivi em outro continente, em um país que já se parecia muito com uma casa, daquelas bem arrumadas, com pessoas sóbrias e diferentes de onde você vem, mas um lugar ainda menor dentro desse continente foi conquistado a muito custo. Onde foi parar esse ingrediente físico da adrenalina, da luta contemporânea pela sobrevivência? Por que a nossa vida vale a pena? Eu penso que é por que não existe marasmo, o nosso organismo pede mais, daí nossa insatisfação perene, que nunca sai, ta sempre lá coçando por dentro, fazendo com que pareça que a gente não valoriza o que temos. Não tem essa de consciência. Somos assim.
Em 2009 tudo era magistral, evento generalizado, um acontecimento. Eu não me dou muito com pequenas reuniões, eu quero fogos de artifício, como os que vi brigando pelo espetáculo da passagem do ano com a neve em 2008, no inverno do outro lado do oceano. Aquela intuição de que aquele ano de 2009 ia ser maravilhoso se comprovou. Eu era a heroína (pelo menos de mim mesma), que regressava de uma jornada pessoal vitoriosa. Eu realizava o sonho de voltar e abraçar minha família e amigos de sempre e eu podia abraçar o mundo. Naquele mês de agosto, quando completava 24 anos nada era impossível, tentar um lugar em uma área que não era a minha de formação profissional era um chute, que depois de um mês foi concretizado, eu tinha um emprego!Depois de três meses eu morava em um apartamento exatamente como eu imaginava, com duas amigas amadas. Eu começava a minha vida.
2010. A passagem de ano dessa vez olhando o mar, sentindo a chuva e o calor, foi diferente. Eu sentia a tal da adrenalina se esvair aos poucos. Estabilidade. Essa é a palavra desse ano. Recolhi-me, trabalhei, estudei Cinema, estudei Literatura, voltei pra natação, inércia. Todo movimento tende a continuar o que começou sem mudar de direção, ou algo do tipo. Estabilidade que leva ao acomodamento, que leva ao conformismo, preguiça, conforto. Eu amadureci. Tem coisa mais chata que isso?

Aufwiedersehen!!