E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Devaneios de um dia de sol

Quando adolescente de cidade pequena, pensava o inferno de São Paulo. Cidade de lixo, transformadora cotidiana de almas de boa índole em duros individuais do clichê sem escrúpulos. Fumaça, mais carro, gente, cinza. Nessa vida a gente não deve pensar nada. Tocou o alarme hoje, sou cidadã ainda com índole boa, talvez um tico que seja obsequiosa. Na fumaça, nos carros, no xing ling, encontrei o verde, azul, amarelo, o pink por que não? A música cantada, o paladar peculiar de um mundo. No meio desse mundo, encontrei a mim mesma e a todas as delícias do pertencer. Não há onde não se possa estar. Vejo pela vida do dia o bom agouro que é o transporte coletivo, quando se chama Sacomã, reflexo da lembrança da floresta, dos índios que um dia fomos, e na bonança do homem cidadão, e de mim em minha jornada particular até a porta do meu apartamento, mais pra um sobrado dividido e antigo na Vila Mariana, quase chegando no Cambuci.

Aufwiedersehen!!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Um ano

Pequeno ou grande. Essa é a nossa medida geral desde crianças, quando fica aquela impressão de grandiosidade, aquele olhar pra cima, tudo em volta enorme, casa, adultos, cadeira de balanço, cachorro. Essa é a perspectiva de quem vê pela primeira vez, e aos poucos vai se acostumando. Nós não criamos experiência, são as coisas que diminuem. Lembrei-me do dia em que cheguei a estação principal de trem e metrô de Munique, capital da Bavaria e terceira maior cidade da Alemanha, e aquilo era gigantesco, eu não conseguiria me localizar, e que sensação maravilhosa essa, a do momento em que chegamos em um novo cenário, totalmente desconhecido, assim como as crianças, não sabemos por onde começar. Estou há um ano em São Paulo. Sou desse estado, minha cidade é há 200km daqui, posso dizer que morar aqui não é lá tão ousado e desbravador como eu queria/conseguiria, mas quando cheguei aqui, de verdade para morar, isso sim era enorme, essa cidade que é a sexta maior do mundo! Ônibus, metrô, caos, chuva, mas também cinema e livrarias e parques e museus pra todo lado. Hoje tenho meus cantos espalhados e aleatórios, que são como refúgios nos quais escrevi meu nome. Como uma senhorinha idosa, pego um cheesecake com cobertura de abóbora, um café com leite, já munida de um bom livro ao qual leio boas páginas de graça, sento-me em uma das mesinhas individuais ao lado de uma janela de vidro, assistindo à vida que passa lá fora, na Paulista, de dentro da cafeteria da Livraria Cultura, no Conjunto Nacional. Vejo, observo a tudo pequenininho, do jeito de quem conhece, acostuma-se. Faz bem. Conforta. Mas é um tempo pra curtir, curtir, até que chega a hora de tentar voltar a ver tudo grande, imenso, impossível!

Aufwiedersehen!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pra tentar explicar

Pra explicar o quanto eu amo vocês. Só assim, escrevendo, maneira inquilina de mim que se prontifica a querer mostrar, única faceta aberta, que sangra só por extremos, lugar puro, inabitado mas que canta ao coro de mil vozes, lugar temperado de superego ou seja lá o que Freud uma vez disse. Pra tentar entender o quanto eu amo vocês, só encarando bem fundo na superfície exposta que quase se toca, só alcançando o som inaudível dos pássaros que sem saber direito seu canto, imitam-se uns aos outros, e nunca sabem quem começou a cantar. Só mergulhando no fundo de um olhar de criança, que ainda não aprendeu que amar não é brega, que chorar em público constrange, e que abraçar sem sentido precisa ter sentido.
Para ter alguma noção que seja do amor, do orgulho que eu sinto por vocês, só me desconhecendo para depois conhecer melhor, só me apagando, para depois em uma rua qualquer e virgem me encontrar pura e simplesmente.
Pra explicar o quanto eu amo vocês, só deixando pra lá essa coisa de falar, só sentindo, olhando, retribuindo, agindo. Agir é amor. Palavras o são para organizar a vida, as idéias, que podem ser lindas e ocas. Palavras não provam. Pode-se dizer e desdizer, dizer por dizer, dizer sem querer dizer. Ação é amor, e então, para explicar o quanto eu amo vocês, eu ajo, eu ando, eu corro, eu faço.

Aufwiedersehen!