E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Minha postiça

Há uma situação recorrente nos meus sonhos em que eu me preparo para ir a algum lugar, e sinto uma ansiedade crescente de ficar pronta, mas nunca consigo chegar a tempo. Nesse em particular, eu procurava um vestido dourado para usar em um baile, era como se eu fosse a Cinderela e os cavalos mágicos da minha fada madrinha bufassem do lado de fora esperando para que eu saísse. Fui acordada antes de encontrar o vestido pela voz da minha mãe: “Van, a tia Gan morreu”.

Estava na casa dos meus pais para o fim de semana e as comemorações do aniversário de sessenta anos da minha mãe, mas logo veio a notícia sobre a piora da minha tia - diagnosticada com câncer há menos de dois meses - e então a festa se tornou um jantar meio estranho, afinal, tínhamos que comer de qualquer forma, com minha família tentando conversar sobre amenidades, e eu sem conseguir parar em nenhuma das rodas para falar de algo que não fosse minha tia. A piora acabou na morte e no anúncio do dia seguinte.

É tão estranho o luto, parece que o cotidiano não foi feito pra ele, tem tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, cada ser humano com sua questão pessoal, é como se fosse um zumbido incômodo que te lembra que a inércia engana que a vida tá passando. Minha memória buscava por momentos com a minha tia, na infância, adolescência, tudo que vivemos, mas eu nunca chegava neles, como no baile do sonho, como se essas lembranças não fosse mais necessárias para a vida atual.

Nos dias de hoje minha tia Gaino seria considerada empoderada, mas na época ela era só meio extravagante. Fui criada com ela sempre por perto, dando pitacos e falando palavrões enquanto fumava e bebia cerveja. Seu cabelo mudava sem parar, desde o comprido e enrolado obedecendo a moda do formol dos permanentes nos anos 90, até o liso, curto e loiro do final, mais fácil para disfarçar os cabelos brancos. Minha tia foi casada com meu tio, o irmão mais velho da minha mãe, durante mais tempo que a minha contagem pessoal no mundo, então desde que nasci convivo com o som da sua gargalhada e a vergonha pelas besteiras que ela dizia ao lado das minhas amiguinhas nos aniversários. Quem diria que eu me tornaria um pouco Gaino, graças a Deus!

E então ela morreu, uma semana antes de completar 63 anos, e de infecção geral, apesar de estar com câncer. Poucos anos antes ela havia terminado uma pós graduação em Sexologia, viajado para a França na casa do seu filho, meu único primo mais velho, para ficar por meses ajudando a cuidar do filho recém nascido dele, o Dante. Também participou do jeito que dava e da forma mais intensa, da vida da Nina, a mais velha, e depois da Heloísa, filha da minha prima/irmã. As crianças sempre foram loucas por ela, não existia ninguém mais divertida do que a vovó Gan. Engraçado como as pessoas vão acumulando títulos durante a vida, para minha ela sempre vai ser a tia Gaino.

Ela conseguiu ir ao casamento da minha irmã mais nova, com dificuldade para parar em pé por causa da radioterapia que tentava matar o tumor. Pude presenciar à Helô puxando a vovó Gan, o vovô Dito, seus pais, tios e nós, seus primos/tios, para fazer uma roda e para girarmos todos cantando e sorrindo, como se não fossemos todos mortais, ou pior, adultos. É piegas dizer que essa é a imagem que quero guardar dela, mas foda-se, como ela mesmo diria!

Tenho trinta e dois anos completos colecionados de Gaino, e fico feliz porque pude mostrar pra ela alguns modelos do meu futuro vestido de noiva a tempo de ouvir seus palpites, além de encontrar uma garrafa de Paulaner sem álcool com praticamente o sabor de uma cerveja normal para que ela pudesse beber apesar da medicação pesada.
A mim resta esperar passar esse tipo de refluxo que é entender que ela não existe mais nessa dimensão, que não vou poder dar risada de suas besteiras, e que ela não vai poder enxergar o quanto eu peguei dela pra mim, toda essa força e irreverência. Que mulher! Resto aqui anestesiada e inconformada.

Aufwiedersehen!!

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

FOME

A manga é um tie die
laranja
e rosa
O morango vermelho
óbvio
Nada como kiwi
Verde de poás negros
O efeito faz o prato
As frutas e seus cacos

Caqui
Ca
Qui
Aqui

A rotina é maçã
e pêra
xuxu da sobremesa
fruta lanche
fruta cor
Furta meu pavor

fome.

Aufwiedersehen!!