E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ode à Bill

Ele nasceu hoje, há 59 anos, primogênito de uma fraternidade linda de seis homens no interior de São Paulo, seu nome originalmente seria Sergio. Filho de Cacilda e Dirceu, segurou seu irmão caçula no colo 19 anos depois, e cuidou dele como pai, mal sabia que já treinava para me receber 10 anos depois. Formou-se engenheiro civil com louvor, o primeiro da sala. É um desses caras boa praça, falador e piadista, dificilmente o ouvi sendo maldoso, e nas poucas vezes que o foi,  ficou vermelho por ter aquele tipo de pureza própria de seres humanos especiais, resquícios de anjos que ficam na terra para nos dar algum alento. Interessou-se por política pelos melhores motivos, aqueles que esquecemos que existem,  estampou seu rosto em santinhos que eu lembro segurar e distribuir quando criança, falou em showmícios quando esses ainda existiam, foi julgado, atacado e permaneceu firme até desapontar-se com os rumos do partido que escolheu. Nunca perdeu a fagulha da procura por um rumo melhor, uma atitude maior perante a vida. Não é apenas um otimista, é o otimista do mundo, muito por seu caráter de exatas, não enxerga apenas problemas, tateia entre eles as possibilidades e sempre as encontra e realiza.
Conheceu uma mulher, apaixonou-se e a conquistou com a força da delicadeza e do caráter. Viveu com ela, minha mãe, a maior história de amor que qualquer filme possa ousar contar, e ainda vive. Ele não se chama apenas Sergio, no final das contas seu pai o batizou também Evaldo por conta de um cantor famoso na época. Evaldo Sergio, uma composição de nomes questionável sem dúvida, mas o nome que sempre significou a rocha da minha existência, o lugar seguro pra onde eu posso voltar. O olhar sem julgamento de quem me ama, mesmo batendo seu carro algumas diversas vezes, mesmo quando me buscava nas festinhas e eu tinha bebido umas a mais, mesmo quando sabia que eu estava pegando um carinha novo, meu pai nunca me enxergou como posse dele, era e é ele a catapulta que me atira pro mundo, estimulando os meus sonhos mais loucos e os realizando comigo. E não importa quanto tempo eu fique fora sem retornar, na volta ele sempre vai estar com o seu abraço e beijo em cima da minha cabeça, a me chamar pra um papo sobre mil coisas, desde o enredo da última novela à política internacional. Difícil desmistificar a figura emblemática do pai herói, tive que faze-lo para o meu crescimento, para entender que eu precisava ir só, mas impossível mesmo é tentar traduzir o sentimento de orgulho e de imensa gratidão por ser filha de Evaldo.
Acho que nunca vou entender o que eu fiz pra ter esse privilégio, então sigo amando-o, e aproveitando todos os momentos possíveis ao seu lado.

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Um brinde às lembranças

Eu lembro da primeira vez em que eu senti o burburinho viciante de estar embriagada, tinha 15 anos, e misturado um drink baiano, o "capeta", com uma latinha de brahma suficientes para o alcance daquela sensação e do posterior anúncio orgulhoso do meu primeiro porre. Todas as ansiedades da adolescência pareciam sumir na passagem do líquido pela minha boca, a ascendência e a sensação de pertencimento eram intoxicantes. E aí veio a faculdade, e depois da faculdade a vida adulta com frustrações maiores do que eu poderia sonhar aos 15. A mistura do álcool com uma mente sensível e algumas bagagens a serem carregadas fazia com que eu me tornasse outra pessoa.
Aos 17 perdi um amigo, ex namoradinho afogado no mar, lembro de como sempre que eu bebia naquela época eu chorava chamando por ele. Eu não tinha maturidade, estava exposta aos meus sentimentos, e o álcool sempre lá como companhia, expondo o que existia dentro de mim e que eu não conseguia lidar. Hoje esses sentimentos escondidos não me assustam mais, aprendi a aceitar e a entender a pessoa que eu sou por inteiro, mas percebo também que na amnésia da festa do dia anterior, partes importantes da minha vida vão ficando pra trás, memórias que eu não estou pronta para perder entre casamentos, happy hours e aniversários, e conversas cheias de carinho com amigos, muitas que foram se perdendo ao longo desses quinze anos de bebedeira. Não sinto remorso ou falso moralismo pela minha história, sinto nostalgia por tantas palhaçadas improvisadas na bebedeira, quanta risada e histórias inesquecíveis não aconteceram? De qualquer forma, sinto mesmo que é hora de desacelerar, por que é muito divertido estar bêbado e fazer amizade e rir junto, mas também é muito divertido assistir à própria vida e ter consciência do que acontece naquele momento, e sobretudo, relembrar.
Não quero mais ver esse ciclo de esforço e esbórnia se repetindo, eu quero um tempo pra mim e para as minhas lembranças, e acredito que posso conceber não precisar mais de um líquido pra isso. O corpo humano vive de inércia, ele tende a perpetuar o movimento que está acostumado a repetir, demora para brecar a engrenagem, dói, mas uma vez que mudamos o percurso, mesmo que seja de forma abrupta e no meio do caminho, basta esperar que a engrenagem se readapte para continuar no sentido que se decide seguir. Uma cervejinha, uma taça de vinho, é decisão minha tomá-los, não quero mais concentrar a minha natural necessidade de extravagância no que bebo, tenho certeza que toda essa energia pode reverberar em outro sentido e com muito mais qualidade. Pelo menos por hoje.

Aufwiedersehen!

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Ela tinha tanto potencial...

Soube da triste história daquela menina?Qual menina?Aquela, acredito que na época tinha por volta de 30 anos, veio do interior, viajou pela Europa, aprendeu alemão, entrou para o mercado publicitário em São Paulo, mas não deu certo, você sabe quem é! Não, não estou lembrado, explique melhor sua vida. Ok, ok, lá vai.
Ela nasceu primogênita de uma família amorosa do interior de São Paulo no mês de agosto e por isso gosta muito de pensar em si mesma e em suas decisões. Muito por isso também inventou de escrever e até lançou um livro sozinha, já que nenhuma editora a aceitou. Essa menina, você tinha que vê-la, difícil encontrar alguém mais confiante, não existia um "não" que a segurasse, ela fazia simplesmente tudo que tinha vontade no limite da obediência apreendida na sua família católica dentro do lar amoroso em que vivia. Nenhum homem conseguiu tirar muito mais do que um dia de lágrimas dela, sempre entendeu, por si só, que poderia seguir em frente, muito mérito da sua mãe que ensinava que "se não está te dando a atenção que merece é por que não vale a pena!", e nessa lógica fantástica ela seguiu sem perder muito tempo com nenhum deles, aproveitando cada um dos segundos de oportunidades, e risadas, e viagens, e amigos que encontrava como possibilidades pelo caminho. Essa menina sempre foi gulosa, nada bastava! Comida, leitura, filme, bebida...eita vida boa que ela construiu. Agora precisa ver que judiação, tem amigas a décadas, um bom emprego, paga suas contas e mora em um apartamento confortável com uma amiga de infância, tem um bom cérebro até, mas engordou, uns 10 kgs do ano passado pra cá. Uma judiação ver uma menina com tanto potencial acabando assim, acima do peso. Ontem mesmo ela resolveu várias questões em seu trabalho em um curto espaço de tempo, questões bem complexas aliás, mas de que adianta se o vestido aperta, sua barriga aparece proeminente...triste fim.

Imagem: Picasso – Mulher ao Espelho


Aufwiedersehen!

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Precisamos falar sobre mansplaining

"Querida, veja bem..." 
"Não linda, é assim..."
"Fica calma, deixa eu te explicar..."

Essas são algumas das expressões mais caricaturais para demonstrar o mansplaining, que é um termo existente somente em inglês e denomina uma atitude que os homens têm em relação às opiniões femininas, julgando-se superiores na comparação de gênero especificamente, não tem nada a ver com experiência, estudo, nada disso. É algo que acontece muito nas universidades, vide imagem abaixo.

Foto de uma escultura no campus da universidade do Texas que se tornou viral como o conceito perfeito de mansplaining.

Se eu pudesse traduzir porcamente para o português, o mansplaining seria um tipo de condescendência, uma atitude parecida com pena, quando você subjuga o seu interlocutor, algo muito contraproducente em qualquer circustância.
Nessa caso, como já dito, há um recorte de gênero, e que acontece há séculos. O Mansplaining parte do princípio de que a mulher é inferior, por ser mulher, um ser humano incapaz no momento em que recebe o seu segundo X genético.

Essa é uma atitude muito pouco falada e conhecida, em contraponto ao quanto ela acontece, e soa como algo comum por que é comum mesmo, infelizmente.
Eu quis trazer esse assunto a partir do momento em que comecei a ver homens que me são queridos, e que têm um coração generoso fazendo mansplaining com suas companheiras e amigas. Assim como no patriarcalismo, o mainsplaining que é um produto desse mesmo sistema, é o que deve ser combatido e não os homens. É importante reconhecer a existência dele para que na próxima vez em que a sua esposa/namorada/amiga/colega emitir a opinião dela sobre qualquer tema, você homem, possa fazer um esforço extra construção social de ouvi-la como a um igual, parece simples, mas não é não! Acredito na competência de vocês, vamos parar com essa porcaria de mansplaining.

Para maiores informações: http://mansplained.tumblr.com/

#ficaadica e Aufwiedersehen!!

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Empoderamento

Empoderamento é não somente uma palavra que eu descobri junto com o feminismo, mas também uma sensação que todos os dias tento restabelecer dentro da minha frágil construção social humana.

Em um mundo competitivo onde a comparação é a ordem do dia desde o nascimento, empoderar-se acaba se tornando uma das mais complicadas ações. Vindo do termo em inglês, empowering é uma mistura louca de sensação real de poder, não aquele tipo de poder com o fim de exercer força e/ou medo sobre outro ser humano, mas um tipo de sentimento que responde a determinada ação, um exemplo bom seria o empoderamento que um discurso do Martin Luther King a bradar o seu famoso: "I have a dream...", pode dar a um negro nos anos 60, ou aquele que acontece com uma dona de casa tradicional oprimida pelo marido brocha no começo dos anos 90 assistindo a "Telma e Louise" fazendo coisas abomináveis and maravilhosas no filme homônimo.


A busca pelo empoderamento é continuamente tentar reconhecer quem você é ao invés de correr a vida tentando se adaptar aos lugares e pessoas que você encontra pelo caminho. Ele faz com que transcendamos ao que se espera de nós, por que, supresa, o ser humano é surpreendente. Ele normalmente acontece com sorte depois de muito aprendizado, na maturidade,  no momento em que aprendemos que o educado "foda-se" interno pode ser utilizado 24 horas por dia dentro dos limites da responsabilidade e das normas sociais, o "foda-se" aqui é utilizado contra esse inimigo invisível e perene do status quo, da sociedade que demanda certo tipo de padrão e realização na vida. É quando entendemos finalmente que cada um é cada um, e que literalmente a equação posta do que é ser bem sucedido dentro dessa sociedade ou de qualquer outra, não serve para todos. A grande ambição é tentar ensinar as nossas crianças sobre isso, sobre como é importante que elas se reconheçam como seres humanos que são, sempre mutáveis, mas únicos em sua essência, por que a felicidade que resulta disso é inexplicável :)

Engraçado que o que realmente buscamos não é a felicidade propriamente dita, por que ela se limita a momentos especiais,  deve até cansar sentir felicidade a todo momento por que a gente precisa de perspectiva, acredito mesmo que o que precisamos realmente é de paz. Seja paz na melancolia, paz na rotina, paz com o que você conquistou até agora. Importante dizer que os momentos de insegurança sempre vêm e devem ser esperados, o grande truque é entender como retomar ao estado ideal de auto-poder. Eu costumo ouvir Whitney Houston, por que eu já entendi que o meu verdadeiro eu é cafona.


Pra finalizar, uma ótima dica para as meninas que se sentem um lixo desde muito cedo, cada vez mais cedo, por que a opressão é mais violenta pro nosso lado: "beyonceze-se".

Beyoncezar

E sabem o que é mais maravilhoso sobre o empoderamento?As vezes basta tomar essa decisão interna de se amar, repeti-la internamente várias vezes, e pode esperar que ele vem.

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Vestígios

Como evitar o drama se eu preciso correr dos teus vestígios enquanto você ainda está? Enquanto você me pede calma e brada por "menos"? Eu não sei lidar com "menos" e não saberia dizer se realmente o que ofereço é mais ou melhor. Sei apenas ser meu tudo, ou quase tudo o que deixo a seu dispor, minha alma entreaberta por que se a escancaro você foge e eu não me engano quanto a sua natureza apesar de amá-lo intensamente. Em um mundo onde amar é um pesar. Eu não o idealizo, eu nem mesmo te admiro a todo momento, eu te vejo como você é, e isso pra mim é natural. Saiba que até mesmo os seus subterfúgios não me escapam, suas tramas pra me esconder o amor que sente se revelam na meia luz, no brilho do olho que se direciona a mim em um meio sorriso de quem observa algo querido por ser peculiar e por reconhece-lo em sua peculiaridade. Eu sempre preferi as coisas não ditas, sempre fugi da verbalização, da poluição sonora, mas confesso que já duvido que nós humanos possamos viver sem ouvir o que deve ser dito. Eu padeço por querer respirar e seguir sem você, enquanto o próprio respirar longe do teu me asfixia. Eu sinto falta de mim sem nem mesmo me despedir. Nunca pensei ser tão dura a certeza de que tudo vai dar certo. Essa promessa vazia do sucesso a distancia depois de tudo que está por vir não me serve de nada.
A mim apenas resta o drama que aquece por me reconhecer vivendo em excelência, fazendo histórias que ainda serão ditas. A mim resta realizar a utopia de estar feliz pelo outro, mesmo que o egoísmo que é tão natural me impeça de não chorar a tua falta, por não alcançar seu cheiro e pela impossibilidade de fazer um comentário bobo de um dia qualquer por um whatsapp de distância, a qualquer momento.
Enfim vai ficar tudo bem, nós humanos nos adaptamos, mas só depois de sofrer pra renascermos cicatrizados.

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Garrafa quebrada

Quinta-feira eu consegui terminar o dia de trabalho antes do feriado as 18:30h. Quem trabalha com publicidade, ainda mais com produção, sabe que isso é mais do que uma benção. Apesar do dia cinza e frio e daquela garoinha típica e chata de São Paulo, eu estava reluzente, peguei meu busão que veio logo, outro bom agouro, e resolvi passar antes no supermercado que fica há umas cinco quadras de casa para me abastecer da tapioca e do sal que tinham acabado, além da cerveja de amanhã, um vinhozinho pra hoje e de quebra uma frigideira para dignificar ainda mais minhas omeletes.

A chuvinha continuava a cair fina, mas mesmo assim úmida de chata, mas nada tirava meu ânimo, nem mesmo a sacola pesada que levava nas mãos. Andei, andei, parei para checar o whatsapp, e continuei até a porta de casa, quando uma pequena intuição do trauma perpassou minha memória, "já pensou se essa bolsa caísse?", e como mágica, não sei se antes ou depois do pensamento, ela foi ao chão com o vinho quebrado e esparramado, além de uma das latinhas de cerveja com um mini furo que espirrava o líquido no meu rosto. Olhei para o chão sujo, para os vidros e pensei, agora não. Retirei o sal e a tapioca da sacola, por que eles não poderiam molhar com a cerveja, e subi as escadas até a minha casa. Tirei todo o conteúdo do que restava da sacola da desgraça, preparei meu peixe no forninho, fiz xixi, e só então desci novamente com um balde de água e uma sacola para recolher os vidros e aguar o chão.

Nessa epopéia uma reflexão surgiu, e é por isso que eu vim correndo escrever para não perdê-la: 1. Eu já não me desespero com crises. 2. merdas acontecem. 3.mesmo passando por isso pela segunda vez (sim, já aconteceu comigo e outra garrafa de vinho e sacola, em outra "sexta-feira" feliz e cansada, há uns três anos), eu continuo acreditando que as coisas vão dar certo no final.

Eu sempre tive essa crença cega, e por esse motivo já me dei muito bem e também muito mal, mas o resultado do que acontecia não alterava a ordem das minhas decisões, eu continuava acreditando. Ultimamente eu buscava sem muito êxito retomar essa sensação, mas nada vinha, nenhum tiquinho de fé, a amargura me tomava e eu quase xingava o brincalhão lá em cima.
Eu era descrença pura, e também percebi que não adiantaria forçar outra sensação, somos fases, entramos em períodos de maturação para algo diferente até a mudança de estação em frente. Eu me senti feliz por reencontrar esse meu eu antigo, percebi que mesmo que não tenhamos algo concreto nas mãos, precisamos acreditar para seguir, é o impulso necessário de todos os dias, senão não somos mais que seres acorrentados andando passo a passo. Um certa ingenuidade há de ser nutrida para seguirmos.

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Dois anos

"Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício, aproxima-te o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciador mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo o mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos, Amém."

Carta de São Paulo a Timóteo.

Foi com essas palavras que a minha vó deixou o mundo que conhecemos, e hoje, depois de exatos dois anos da sua passagem, eu já não sinto mais dor, apenas uma saudade e uma necessidade enorme dela. Por vezes me esqueço que eu não posso mais a encontrar pessoalmente, e quando na minha cidade natal, passo por sua casa crente de ve-la me esperando na porta, com aquele bondoso sorriso no rosto.

Minha avó enxergava a vida com bondade e simplicidade, talvez um valor aprendido em uma época que já passou, bem antes da geração Millenium. Talvez um dom particular daquela mulher tão cheia de talentos. Ela me diria que para vencer na vida não basta ser bom, ela me diria que precisamos lutar, rezar, confiar em Deus e sempre estarmos perto de quem nos ama de verdade. Para minha avó era simples, ela sabia que ia dar certo em algum momento.

Um brinde a simplicidade e a Cacá.

Aufwiedersehen!


quinta-feira, 16 de abril de 2015

Navegadora

Essa menina tem tanto talento, desde pequena distribui sorrisos e conquista admiradores. Seus tios e avós, pai e mãe tinham certeza de seu sucesso, era fato: ela venceria na vida.

A menina não tinha como não crer em sua sorte, seu destino era tão certo que não importava muito por qual caminho seguir, ele a levaria para o êxito.

A mulher que saiu da menina encontrou maiores dificuldades e por vezes a vida adulta lhe parece uma piscina de areia movediça. Ela tenta se movimentar e de fato progride, para depois voltar ao mesmo lugar. Tudo é desconforto, mas o lado otimista da menina a rememora sobre como é importante desafiar-se.

A mulher madura que começa a sair da mulher primeira pede arrego ao universo, planeja voltar a ter fé e a sonhar, tentando dia após dia realmente entender o que é isso que tanto quer. A oscilação lembra um barco que balança ao sabor do vendo, ela é o barco que não se navega sozinho, ela cansou de tentar usar seus remos que parecem inúteis na maioria das vezes. Ela tenta aprender a usar o leme que a direciona para determinado caminho que ela ousa pensar ser o ideal, sem saber quão longe ela pode ir, mas ainda sonhando com novas terras onde ela possa se sentir em casa finalmente.

Os dias são cada vez mais longos, mas a semana curta não se basta no fim de semana que passa sem se ver. Os planos dela ficam pra depois enquanto a vida segue urgente. Sua experiência não é extensa, mas o grande problema é que ela é tampouco curta, um caminho já foi percorrido para decidir começar de novo do zero.

Os líderes mundiais bradam a mulher madura que é possível viver seu sonho, seja lá o que a ela queira fazer. Os líderes mundiais inspiram uma realidade sem aluguel.

Qual é o ponto limite entre seguir devagarinho ou voltar pra trás para pegar impulso?
Boa sorte tentando.

Aufwiedersehen!

sexta-feira, 27 de março de 2015

Talvez


Faz um bom tempo que eu não escrevo, e não me refiro somente aos posts de Aufwiedersehen, mas tampouco tenho escrito minhas memórias impublicáveis - por que sou muito mais conservadora do que gosto de assumir. 

Engraçado que logo depois de publicar o livro, eu me encontre nessa situação de pouca atividade. Não posso dizer que não estou inspirada, tenho vivenciado coisas fantásticas e assustadoras, voltei a trabalhar e a estudar, tentando cutucar um lugarzinho na USP em um mestrado no final do ano, na mais nova paixão redescoberta, a Antropologia. 

A verdade que eu ouso suspeitar é que infelizmente o método de devaneios não tem se encaixado nesse momento, no meu estado atual,  já faz seis anos afinal, que eu devaneio nessa mesma ordem de especulação sincera. 

Eu não deixei de pensar, mas talvez eu tenha cansado de tatear solos antes nunca caminhados. Talvez eu esteja pronta para a expedição propriamente dita. Continuo com minhas crises de melancolia, mas assim,  meio quieta e observando do meu canto. Silenciada jamais. 

Talvez eu me demore na ausência, talvez não.

Aufwiedersehen!

segunda-feira, 9 de março de 2015

Seguro de vida


Eu tenho o costume de relembrar memórias de naftalina, mas ontem eu peguei esse exercício e o elevei ao status profissional ao "backupear" fotos antigas para o computador novo. Apesar da minha realidade hoje se assemelhar muito a um slacklining em looping, por estar sem emprego ou projeto, mesmo sendo algo que tem se repetido mais do que eu gostaria nos últimos dois anos na entre-safra de freelas e na nossa economia, o que eu vi nessa tarde em slide show foi uma vida plena e cheia de amores e sorrisos e descobertas :)

É uma não perspectiva que pode enlouquecer: não rotina, não responsabilidade e o sentimento de inutilidade. Eu engano todas essas sensações fazendo minha comida nas experiências da cozinha, arrumando a casa ou nadando, é impressionante como as atividades manuais ajudam a descomprimir a cabeça. Eu gostaria de ler tudo o que eu tenho de bom em uma estante abarrotada, fora o acúmulo na mesa de cabeceira com as "prioridades", mas fica muito difícil se concentrar.

Foi no meio de uma dessas minhas travessias diárias na slackline, que eu resolvi atacar minha estante e centro cultural, artístico e espiritual da casa, fazendo uma boa limpa por que a vida é curta demais para se esforçar por livros que não te despertam, e se você leu um livro até a página 30 e ainda não sentiu nada, tá na hora de partir para o próximo (qualquer semelhança com as relações humanas não é mera coincidência). Tem muita coisa boa pra ser lida/linda - inclusive um certo livro de bolso recém-lançado...

Eu vou fazer trinta anos e não tenho um tustão furado, nada guardado para a posteridade, na mistura do backup das tantas fotos de viagem e na limpeza geral dos livros e dvds, entendi para onde todo o meu dinheiro tinha ido, e quer saber, por mim tudo bem. A cada Dostoievski, a cada Stendhal ou Clarice Lispector que eu manuseava relembrando as sensações vividas, eu podia confirmar que eu tinha uma herança sim! Não tenho filhos, mas engraçado em como ao olhar para o livros eu penso nele(s) que nem nasceram, eu penso em como eu gostaria de apresenta-lo(s) ao velho Kundera, a Saint Exupery, a tantos caras e minas maravilhosos.

Finalizei o dia em casa com a velha melancolia doce, agradecendo pela vida que tive, pelos tesouros que juntei, e imaginando as próximas cenas que virão.

Aufwiedersehen!!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Sobre aquela palavra

Eu o amo!Eu o amo!Amo!Amo!

Essa não é uma garotinha suspirando por um sentimento recém descoberto. Isso é uma mulher gritando abafado pra dentro de si o grande amor que sente.

Estar apaixonado é provar filé mignon depois de uma vida de coxão mole. É andar de primeira classe depois de uma vida de busão. É um abraço longo ao sair da solitária, é a água do sedento, o sono dos cansados, o perdão dos arrependidos. Estar apaixonado é quando a vida te fala: Daqui pra frente você não tem mais poder sobre si mesmo.

É como se outra pessoa manejasse o controle remoto que configura as cores e a iluminação das imagens da sua vida. A ação continua acontecendo, você consegue distinguir os personagens envolvidos, mas algo da cor, algo da luz pode a qualquer momento se desvanecer, deixando a imagem menos feliz. É desconforto e inutilidade, seu controle remoto em outras mãos.

É quase como estar drogado e a dependência é o primeiro sintoma que aparece para nos desequilibrar, por isso que a moça grita seu amor pra dentro, ela não pode, nesse mundo de medo de sentimento, assumir algo tão devastador nem pra ela, nem para o seu outro tão significativo. O perigo é eminente, a felicidade é palpável, vulnerabilidade a define.

Spoiler: é também maravilhoso.

Aufwiedersehen!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Você não é especial

Depois dos dois lançamentos do livro de bolso, e agora, da repercussão das pessoas amigas que vêm me contar o que sentiram ao ler meus textos, tenho comprovado uma teoria que há pouco tentava elaborar: nós não somos especiais.

Eu sempre me imaginei transpondo obstáculos peculiares "como a pessoa diferente que eu sou", "com a personalidade única que eu tenho", mas não, nossas vidas se tocam e se repetem. Essa conclusão quase me frustra, por que a gente fica tentando achar uma antídoto para uma vida que consideremos boa, em uma equação só nossa, quando todos nós em nossos mundinhos batemos cabeça pelas mesmas questões. Somos imperfeitos e não somos especiais.

De repente, aquelas memórias palpáveis de uma vida, pensamentos que eu tinha desde criança, tornaram-se públicos e eu soube que eles não eram só meus a partir do momento em que eu os libertei. Toda ansiedade de não ser aceito ou de ser amado sem sentir-se merecedor desse amor, todos os foras, os desapontamentos, tudo isso agora não me pertence, mas ao mesmo tempo é o que me construiu como sou. De repente lembro-me da dialética que aprendi na aula de Sociologia, 11 anos atrás. De como eu mal sabia que existia um estudo da sociedade como um todo e de como aquela professora abria os meus horizontes dizendo que a vida é contraditória, que as coisas contém paradoxos, e que talvez enquanto estamos indo já estamos voltando.

A dialética é a arte do diálogo e da refutação de ideias - se me permitem dizer - infinitamente enquanto estamos aqui. Nós não vamos entender pra quê existimos, mas podemos discutir todos os dias sobre. Aprendi que a discussão faz parte da vida, mas mais importante que a discussão, são nossos sentidos, então atenção a eles: ouça, enxergue, cheire, toque. Precisamos lembrar do nosso corpo, ele é mais sábio que a nossa mente que muitas vezes cai em algumas armadilhas do ego e da ameaça.

Eu diria (hoje estou dizendo), que talvez,  a ideia de que não somos especiais seja o único conceito equivocado ensinado pelas nossas mães. Não somos especiais mas somos únicos. Seria o equilíbrio entre se entender como ser humano, sem pensar que as suas necessidades podem vir antes do próximo. Nada novo aí.

Resumindo my friend: você não é especial, mas você precisa aprender a se amar.

Aufwiedersehen!

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Mágica

A mãe que segura a filha bebê peladinha dentro de uma piscina. As duas sorriem e o tempo pára.

Amigos que tomam cerveja em mais um dos tantos dias que o fizeram, mas por um momento percebem o movimento do tempo que os leva para outro lugar. Eles param e sentem uma gratidão imensa por estarem mais uma vez juntos. Ainda.

Mulheres que se conheceram um dia ao acaso de um vestibular nos caminhos escolhidos na graduação, e cujas escolhas vão para outro lugar fora do ponto de partida, e sentem que tudo passa, toda a dor, todo o ressentimento, menos elas. Elas não passam.

Em meio a um tipo de neblina com textura emocional, eu vivi esses últimos dias que permearam os preparativos para o casamento de uma irmã com seu escolhido, agora também e oficialmente meu irmão, em um daqueles parêntesis na linha do tempo, como se a nossa ignorância desse lugar a um conhecimento profundo e esclarecido do que realmente importa. Sabemos que é o amor, mas em um rompante de esclarecimento nós o sentimos em carne vida, e num átimo de segundo nossa consciência é plena.

Obrigada a todos os envolvidos e um especial salve para Ana Paula e Rafael. Eu amo vocês!

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sobre a riqueza

E então eu resolvi lançar um livro. O sonho de conquistar o interesse de alguma editora caiu depois de muitas tentativas ao longo de um ano. Várias cópias do original Sinceros Devaneios - naquela época com 66 textos ao invés dos 24 finais, e ainda um subtítulo "a vida em uma nuvem de palavras - foram enviadas para editoras do país e os retornos chegavam na caixa do e-mail dizendo que o conteúdo não fazia parte da linha editorial deles, ou outras respostas muito educadas mas também muito desanimadoras. Eu resolvi deixar o livro de lado e fui trabalhar em uma nova área, foi quando eu comecei a atuar como freelancer, dei adeus ao 13o, ao conforto da rotina e da segurança, e então a vida se tornou um dia que chega depois do outro, sem saber direito como. Tem sido uma aventura esses últimos dois anos de "gravidez" do Sinceros Devaneios, e hoje, depois de uns bons meses de divulgação, eu lanço o livro junto com muitos amigos, música, cerveja e o calor delicioso da noite de verão, no meio de um bairro que me é muito querido, Pinheiros.

Amigos, tá aí um tópico primordial para tocar no que se refere a esse pequeno e despretensioso livreto de bolso: a amizade. Como eu disse, não houve editora ou qualquer profissional gabaritado no ramo literário que me dissesse que esses pequenos textos faziam jus a uma publicação,ou que seriam merecedores de dinheiro em retorno, eu não tive o selo profissional, e isso me deixa insegura, mas as demonstrações de carinho e entusiasmo que eu venho recebendo nos últimos tempos, tudo por causa desse livreto, têm sido dignas de um resto de vida satisfeito de energia boa e amor. Eu demorei, mas percebi ontem, relendo algumas partes, no que seria talvez a milésima vez que o faço, que esse livro contém a minha vida, as exatas três décadas que eu completo nesse ano tão especial. São pensamentos que eu não dividia com ninguém, e que já tinha desde muito nova, além das inspirações para tocar em temas atuais, formando uma saladona inspirada por conversas com amigos durante esses anos, coisas que eu li ou assisti na TV ou no cinema, temperada com amor e confiança que vêm das palavras de vocês, amigos.

Eu acho que a questão não é realmente se eu mereço tudo isso. Isso não é algo mensurável e eu que não vou ficar aqui evitando a lisonja não. O amor, a alegria e as boas energias que você oferece, você recebe de volta e ainda repercute ao redor, esse é o ciclo da vida.  Somos elos que se ligam formando uma grande força, seja para o bem quanto para o mal, infelizmente, então, no final do dia o que importa, como meu pai bem me disse, é que apesar de ser freelancer, com muitas contas pra pagar, e de viver na muleta do cheque especial, eu sou MILIONÁRIA.

Até mais tarde!

HOJE: Lançamento do livro de bolso - Casa Brasilis: Rua Amália de Noronha, 256 - 19h - São Paulo23/01: Lançamento do livro de bolso  - Centro Cultural "Leny de Oliveira Zurita" - 20h - Araras                                               

Aufwiedersehen!

sábado, 10 de janeiro de 2015

Evasão

Começa com um flerte: um trailer, uma indicação de umx amigx, uma propaganda na página de umx diretorx queridx, a adaptação de um livro que eu amo. De variadas maneiras descobre-se que existe um filme para ser visto. Esse tempo até a realização do fato serve como preliminar e pode começar muito cedo, na produção, como também no finalzinho, minutos antes da sessão no cinema, quando alguém te faz um resumo da história. Assistir a um filme é sempre uma viagem pra fora daqui, é mergulhar em outro mundo onde você pode escolher ser o que quiser, protagonista, antagonista, coadjuvante, narrador...é a expansão das possibilidades humanas.

Tenho tatuado no braço os dizeres do provérbio alemão que eu roubei emprestado do livro de Milan Kundera em "A insustentável leveza do ser",  que diz: Einmal ist Keinmal,  na tradução tosca e literal: "uma vez é nenhuma vez", filosoficamente é a ideia de que para as ações e decisões da nossa vida não há ensaio, tudo é improvisado naquele momento específico, fazendo com que cada uma das nossas tentativas não sejam válidas como experiência propriamente dita, então, essa vez não vale, ela é nula por que não se repetirá tal como foi no futuro. O cinema me dá a ilusão de viver alguns ensaios nas situações mais inusitadas, não que eu ache que um dia eu possa me tornar a Exterminadora do futuro, mas para o meu gênero preferido, o drama, essa premissa começa a parecer de alguma forma possível. O cinema forja uma vida que ainda não vivi e talvez nem viverei, ele me faz cortar a fila dos acontecimentos. 

Essa coisa da evasão, de não estar aqui, como ela me atrai, e os filmes fazem isso de forma literal, muito por reunirem a maioria das formas de arte, ou pelo menos as mais poderosas para mim, como a música, a arte, a fotografia, a literatura, e o nosso corpo fica lá como acessório decorativo, enquanto a mente viaja para onde queira ir ou ser levada. 

Como retorno a esse gesto de confiança com o filme, de deixa-lo entrar em mim e vice e versa, não quero que o meu corpo retorne arrumadinho, quero uma bagunça, uma charada na cabeça, alguma ideia que fique durante a semana, para que eu subverta alguma questão, para que eu olhe a realidade de forma diferente. É muita responsabilidade, e eu me pongo loca quando essa responsabilidade não é levada em consideração, quando há ambição e vaidade, e a mensagem fica lá no meio, perdida. Existem alguns filmes que mexeram muito comigo nos últimos tempos e eu queria deixar de dica para a posteridade:

Ninfomaníaca - Lars von Trier 
A delicadeza do amor - David Foenkinos 
Boyhood - Richard Linklater 
Malévola - Robert Stromberg 
Her - Spike Jonze 
X-men: dias de um futuro esquecido - Bryan Singer
Clube de compra Dallas - Jean Marc Vallée
Violette - Martin Provost

Boa evasão a todos, essa é a viagem da boa e sem contra indicação.

Aufwiedersehen!