E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Enxoval moderno

Eu fui morar sozinha.
Era um sonhinho, como eu gostava de dizer há alguns meses na primeira vez que o reconheci, aquela coisa muito almejada, uma resposta para o que se procura em determinado momento, uma promessa de um começo. Eu morei com meus pais e irmãos no interior durante 18 anos. Aos 18 caí em uma outra cidade do interior um pouco maior. De Araras para Bauru, que pra mim, há 10 anos era o mundo, algo que me aconteceu sem muito, ou nenhum planejamento. O meu anseio escondido de independência era saciado com bebidas nas tardes de segunda-feira, novos paqueras, irmãos que eu fui encontrando em amizades loucas, naquele desbravamento da pura liberdade rodeada de atributos interessantes. Aos  22, formada, voltei para a casa dos pais. Aquela independência extravagante já estava distante, vinha outro tipo de responsabilidade com quê de melancolia, essa melancolia que se tornaria tão presente, quase uma segunda pele na vida adulta. Lá não tinha cerveja na segunda a tarde, uma cerveja que eu nem queria mais. Querer era um verbo que eu reaprendia por que o tradicional plano educacional traçado estava cumprido, na medida do possível, o superior tinha passado e eu me perguntava, como tantos outros, o que fazer na sequência, momento para o qual pouco se prepara para viver.
Aquele era somente um dos muitos perrengues e rebolados que eu teria que fazer na vida, como os equilibristas que somos, sempre em busca de um eixo, de um ponto fixo para nos manter eretos na travessia. Ao tomar essa grande decisão hoje, ao mudar o rumo, ao comprar o enxoval que era só pra mim, eu comecei a entender melhor o que eu queria para cada momento. Eu comecei a valorizar as pequenas conquistas e aprendizados que não se perdem, que aprendemos na prática com o corpo, e que por isso permanecem marcados. Uma tatuagem doída, que demora para ser concluída, mas que vale a pena mostrar e se orgulhar mais tarde. Esse meu grande ritual de passagem aconteceu assim, sem alarde, meio que só pra mim mesma. Era o meu momento, a minha escolha de sofá, e só eu sabia a importância de finalizar aquele pequeno detalhe que eu esperava encontrar ao lado da porta. Por sobre a cama. Aquela panela para refogar legumes. Tudo tinha uma graça da concretização, do sonho que sai do papel e vai acontecendo.
Vivenciei outra coisa nova, descobri que até mesmo a realização gera ansiedade, e mais uma vez, quando eu achei que tinha tudo o que eu precisava, eu tive que parar, respirar fundo, para entender que aquilo era só o começo, um problema resolvido que dava lugar a outro problema, um problema sonhinho. Talvez estejamos mesmo fadados a resolver problemas fantasiados de sonho. Talvez não tenha problema, enquanto saibamos qual o sonho e de onde ele veio. Se veio de dentro, lá do âmago, o negócio é curtir a ansiedade que logo passa, e assim a vida continua.

Aufwiedersehen!!