E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Date

Ele já estava sentado há quase cinco minutos naquele café super charmoso naquela rua escondida quando percebeu que não havia mexido no smartphone. O aparelho postado em cima da mesa ao lado da long neck suspeita para as 14h de uma terça-feira em um café, encarava Rui como se não acreditasse naquele lapso: “Você realmente não precisa ver nada em mim?” Rui por outro lado, como tentando entender aquilo como uma subversão, foi tomado da certeza de que aquela não ação tinha motivos muito mais psicanalíticos. Ele queria levar um fora. Fazia um mês desde que seu namorado o tinha deixado. Marcelo, o primeiro relacionamento de Rui desde que tinha se assumido gay para a mãe, não sentia mais amor por ele. Depois de uma paixão tranquila e quase engraçada - os rapazes costumam rir muito juntos - e do subsequente amaciamento do casal em um mesmo cômodo durante três anos, sentença dada é cumprida. Rui nunca imaginou um término nesses termos, seria mais fácil a traição, o ciúmes exacerbado, ou o alcoolismo, nunca a falta de amor. O mês que se passou da conversa final que fechou o ciclo de quase quatro meses de muitas trocas aprofundadas sobre o futuro, foi de grande anestesia. Não por que Rui não sentisse. Sentia e muito, sentia o vazio. Tristeza, raiva, todos esses sentimentos naturais de uma separação pareciam demandar energia demasiada. Rui não havia derramado uma única lágrima desde o último abraço que deu em Marcelo, o que era estranho para ele que chorava assistindo ao Vídeo Show. Rui não sabia como seguir, mas suas amigas, sim. “Foi maravilhoso o que aconteceu com você!”, “Você precisa olhar o mundo, tem apenas 30 anos!”, “Você não tem ideia como eu gostaria de ser gay e solteiro nesse momento!”, até a segunda sentença final no menor espaço de tempo na vida de Rui: “Você precisa entrar no tinder”.
A foto de Marcos era despretensiosa. Via-se o rosto em mau ângulo e a luz do flash estava estourada. Notava-se apenas a barba espessa e o nariz fino. Rui queria alguém bem diferente de Marcelo. Não por atração necessariamente, mas muito por curiosidade que Rui marcou um café com Marcos. O local havia sido escolhido pelo convidado, e lá estava Rui.
Tomou coragem e destravou a tela do celular no aplicativo. Já tinha passado três minutos que Marcos havia mandado uma mensagem: “Não vou conseguir ir bonito, work work work. Marcamos outro dia?” Era a melhor coisa que Rui poderia ter lido. Depois do alívio lembrou como se sentir, e chorou.



*esse é um exercício de ficção.
Aufwiedersehen!!