E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Solidão compartilhada

Dizem que quando você encontra o amor você nunca mais fica sozinho.
Dizem que você tem alguém com quem dividir suas dores pra sempre.
Dizem também, que a pessoa vem pra completar algo que te faltava.

Eu por mim digo, você pode estar sozinho ao lado de alguém, não por vontade do outro, mas por que ele mesmo não está consigo. A solidão compartilhada é tão ou mais triste que a solidão original. Você vê uma carcaça que se parece com o ser amado, mas seu espírito não o acompanha, apenas palavras vazias de resposta branda. Nem um ódio derramado, apenas o vácuo do nada que tromba com a sua vaidade.

As dores podem aumentar com o amor, por que a sua felicidade e resolução de problemas não depende mais de você, há um ser muito especial andando por aí com seu coração. Parece brega, mas o fato de você ter alguém não só te coloca quentinho em noites de sexta-feira chuvosa, você também entrega um pouco ou muito da sua autogestão , além de precisar de qualquer forma dividir seus sentimentos, você precisa sim, falar muito. Não durma com assuntos mal resolvidos.

E por último, por favor, ninguém completa ninguém. Você sozinho já é demais, e não no bom sentido do termo. Todas as suas crises, mal entendidos, dúvidas, manias, chatices continuam existindo ao lado de outro mais do ser amado e vocês precisam diariamente sentar juntos e como em uma banda de dois, afinar os instrumentos para que a música saia melhor. E eu posso prometer, em alguns dias vocês são capazes de verdadeiras obras-primas.

Aufwiedersehen!!

Os perigos do emoticon

Não, não há nada de errado com os emoticons, sou apaixonada pelo poder de síntese que essas carinhas marotas têm, mas isso pode ser um problema quando se quer comunicar algo mais complexo, principalmente quando se tem um objetivo específico.

Ultimamente tenho me deparado com muitos conteúdos que fazem alusão a forma como a mulher é criada na nossa sociedade, em como somos educadas para ser perfeitas e não corajosas e ousadas, diferente da forma como os meninos são criados. Eu já falei sobre isso aqui: O fascinante mundo masculino, desde pequena eu percebia como as possibilidades dos meninos eram mais diversas para dizer o mínimo, enquanto eu permanecia cercada de proteção, cuidado e consciente de como estava agindo, me portando, me vestindo. Como sou branca, nunca fui pobre e sempre recebi muito carinho, acho injusto dizer que tive uma infância ruim ou um futuro super comprometido por conta do meu gênero, não acho que esse é o ponto aqui, apesar de ter plena consciência de que alguns dos meus potenciais poderiam ter sido mais bem explorados antes, estou aqui correndo atrás do prejuízo eterno que é o patriarcalismo em nossas vidas. Na palestra abaixo, a advogada e política Reshma Saujani diz algo na linha do que eu acabei de dizer, sobre como ela decidiu correr riscos e ser corajosa aos trinta enquanto isso poderia ter acontecido muito antes se não educássemos nossas garotas para serem perfeitas:

Sobre Bravura

Falo dos emoticons, por que eles me lembram da nossa constante necessidade de pedir desculpas, colocar panos quentes e sermos amáveis. Desde que parei para prestar atenção, é impressionante como em vários momentos do meu dia esse pedido tenta sair da minha boca ou para ser escrito em determinado e-mail quando eu não estou fazendo nada além do meu trabalho. Existe uma resistência, principalmente no Brasil do trato gentil, em sermos duras quando necessário, então quando essa necessidade é urgente, diminuímos a força do pedido com um "desculpa", ou um emoticon fofo ;)

No paralelo, estou lendo um livro que já se tornou o principal da minha vida até o momento, da poeta, analista jungiana e outras milhões de coisas essa mulher é maravilhosa, Clarissa Pinkola Estés, que percorreu o mundo ouvindo histórias e contos de fada nos diferentes lugares e culturas, encontrando entre eles nas representações arquetípicas, uma eterna busca pelo nosso eu selvagem, o instinto biológico/natural que é suprimido desde que nascemos pela civilização e pelos costumes. Algo como uma colonização de nós mesmos. Ela foca muito nesse retorno da mulher educada para casar, àquela menina que se ouve e que está sempre em busca do entendimento dos seus desejos mais íntimos. Tem sido uma viagem maravilhosa me enxergar nesses contos, e nas leituras que Clarissa faz da psiquê feminina principalmente, e em todos os limites que nos são colocados pela sociedade na forma como ela é construída pra nós.

Você pode encontrar o pdf desse livro maravilhoso completo aqui: Mulheres que correm com lobos

E no final das contas o feminismo é isso, é dizer que podemos mais, podemos ser o que quisermos, e é revigorante ter essa "permissão" de sermos quem somos, como fomos geradas em nossa essência.
A sociedade como um todo nos diz para ignorar nossos instintos por que somos "muito sensíveis", ou "estamos na tpm", ou "estamos exagerando". É um exercício maravilhoso reverter todos essas prerrogativas negativas e se perguntar: "será?", "será que eu não sei no que isso vai dar?", "será que eu não sei que estou investindo nesse relacionamento - seja ele amoroso, de amizade, profissional - sempre sabendo que ele é ruim para mim? Que ele me faz ser menor do que eu posso ser?"

Eu desejo que cada um de nós, todos os dias, consigamos exercitar essa procura constante por nosso eu selvagem e mais primitivo, ele talvez seja a resposta que sempre esteve em nós, e nem sempre ele é bonitinho, com carinhas fofas e sorrisos.

Aufwiedersehen!!