E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quarta-feira, 23 de março de 2016

Inspiração

*continuando o raciocínio do post anterior.

Esse é o mês internacional da mulher. Muitas receberam flores, chocolates, li textos interessantes com um novo posicionamento, o que é esperado frente ao crescimento do conhecimento sobre a luta feminista, por que o dia internacional da mulher diz respeito a essa luta. Eu não sinto mais raiva como eu sentia quando primeiramente conheci o feminismo, ou melhor, quando me deram a pílula vermelha que me deixa enxergar o patriarcalismo em todas as suas formas, presente em tudo que nos cerca. Ele também vive em mim, e eu já entendi que vou passar uma vida retirando seus restos. Meu ideal nem é exterminá-lo, sei que não conseguirei a tempo nem mesmo para os meus netos e netas, sei também que essa é uma luta para mulheres e homens.

Estive no simpósio internacional de discussão de gênero na mídia no Google no dia 08, e lá, dentre mulheres que eu admiro muito, como a show runner da série Marvel's Jessica Jones,  a roteirista e diretora do filme "Que horas ela volta" Anna Muylaert,   e finalmente, minha mentora e amiga, a AP Catarino CEO da Oca Animation. Lá entendi um pouco mais da razão de ter escolhido comunicação social como profissão em 2003 no extinto terceiro colegial - bom, eu também prestei hotelaria e moda - por que agora sei que posso exercer um papel modificador nessa área e ajudar pessoas.

Pude compreender meu fascínio não somente pelo cinema, mas pelas relações públicas, internet, literatura, tudo que é mainstream. Muitas pessoas entendem esse oversharing geral das mídias sociais como uma perda da humanidade que existe no contato físico, e eu concordo que olhar uma tela 20 horas por dia não pode ser a realidade que buscamos, mas também vejo a comunicação com esperança no futuro, e também a respeito por que é informação, e informação é poder.

O Netflix disponibiliza agora a quarta temporada da série que o lançou como potência mundial, sobre a saga de Francis Underwood na corrida pelo poder. A terceira temporada mudou o rumo da conversa por que Claire Underwood, forte e dona de desejos profundos e complexos chutou pro alto o espaço que lhe foi concedido apenas como primeira dama por ser a mulher elegante que é, o esperado para essa função. A personagem que "completava" o marido como todas as mulheres são ensinadas a fazer, pediu mais e agora está colhendo o resultado disso. Sem SPOILER, em dado momento nessa última temporada, a mãe da personagem conta sobre como a filha quando pequena ansiando que a luz voltasse, pedia para a mãe acabar com a escuridão. A mãe dizia para que ela esperasse na janela, por que ela (a luz), voltaria, mas não dizia que o dia chegaria a despeito da vontade da filha. Mesmo assim, a menina grudava seus olhos na janela toda noite acreditando que faria a luz voltar. Nessa fala, a mãe Claire finaliza dizendo como a invejava por acreditar naquilo.

Essa fala foi uma das coisas mais poderosas e enigmáticas que já vi em um diálogo entre mulheres - ver mais sobre diálogos femininos na história do audiovisual: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_de_Bechdel -  sobre a possibilidade de sucesso de uma menina empoderada. Ao assistir esse diálogo eu era aquela menina, com a ferramenta da inspiração para acreditar que eu posso conseguir o que quiser nessa vida.

Claire Underwood não é propriamente uma mulher admirável ou bom caráter, mas no simpósio, durante um breve depoimento online, Geena Davis - Thelma herself  https://goo.gl/ytalpS - através do seu Geena Davis Institut, afirmou serem necessárias as representações complexas femininas no entretenimento,  por que apenas mostrando todas as nossas nuances, conseguimos nos aprofundar na questão, conhecer e nos identificar com essas personagens. É algo próximo do que a psicanalista, contadora de histórias e escritora, Clarissa Pinkola diz em seu livro "Mulheres que correm com lobos":

"Essas efêmeras 'provas da natureza' vêm durante a mística da inspiração - ah, ela está aqui, ai, ela já se foi. O anseio por ela surge quando nos encontramos por acaso com alguém que manteve esse relacionamento selvagem. Ele brota quando percebemos que dedicamos pouquíssimo tempo a fogueira mística ou ao desejo de sonhar, um tempo ínfimo a nossa própria vida criativa, ao trabalho da nossa vida ou aos nossos verdadeiros amores."



Aufwiedersehen!!

segunda-feira, 14 de março de 2016

A passagem do tempo

Confesso que ando meio perdida, meio como se tivesse sido colocada de standby pelas consequências. Completo um ano de emprego fixo nessa semana. Estou em um relacionamento sério pelo primeira vez em 30 anos de vida, e que vai completar quase um ano de existência à distancia. A minha realidade tem sido um desafio frequente e psicológico por mais que pareça conter todos os ingredientes do sucesso.

Eu comecei a pensar na luta feminista a um bom tempo já, quase cinco anos, e fico citando o tempo para mostrar como ele vai nos moldando no caminho, como ele muda tudo, até nossas maiores convicções. A maior mudança acontece dentro de mim, é como se eu estivesse sendo moldada em carne viva e sem anestesia para ser aquela pessoa que nasci pra ser. Eu penso muito sobre o meu lugar no mundo, sou leonina e já brinquei muito sobre a veracidade ou mesmo a plausibilidade da astrologia, encontro alento em juntar pontos no calendário do horóscopo, pontos que fazem sentido para as pessoas queridas que conheço. Talvez os signos só joguem luz a características que todos nós possuímos fazendo com que entendamos ser algo mais específico do que outro, como se fossemos mesmo especiais e diferentes. Pode ser mesmo um grande jogo de entendimento do cérebro, um placebo que vem nas revistas e jornais, nunca saberemos.

A nossa realidade é confusa hoje, principalmente no Brasil da crise econômica e política, não há muito o que dizer que acrescente à discussão, mesmo assim muito é dito todos os dias sem a mínima ponderação. Eu senti uma energia estranha esse fim de semana, do tipo que junto com o tempo cinzento e chuvoso de São Paulo, me colocou pra baixo e me deixou prostrada no sofá - outro placebo talvez, essa desculpa do tempo fechado. Eu me ponho pensando e ansiosa por diagnosticar o que sinto, "seria a saudade do meu parceiro?", ou "o cansaço dos últimos meses de trabalho", "seria a minha conta vermelha no banco"...eu não obtenho respostas, apenas o tempo que vem carinhoso depois de um dia ruim e me presenteia com um novo dia, com sorte ensolarado, com sorte com uma música boa tocando primeiro na lista do shuffle no caminho do trabalho.

Eu diminui bastante a frequência com que escrevo nesse blog no último ano, coincidentemente o ano subsequente ao lançamento do meu livro de bolso. Pessoas me perguntam se vai ter uma nova edição, e eu quase rio meio irritada por que não gosto mais do meu livro ou do que eu escrevi, tudo aquilo parece bobo depois da passagem do tempo por mim e por tudo à minha volta. Talvez hoje eu comece a olhar pra essa mudança com um pouco mais de boa vontade, talvez eu passe a enxergá-la com a atenção que merece, por que eu posso ser muito mais se eu tiver coragem.

Continua...