E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Sobre a feminilidade

Tem uma coisa muito louca e que atravessa gerações, conceitos, vidas, sonhos e relacionamentos: a noção do que é ser mulher/menina/feminina. 
Eu lá não sou muito fã do prefeito eleito de São Paulo, mas ele conseguiu, infelizmente, resumir o pensamento de uma galera no artigo abaixo:


Sim, o feminino é ligado à delicadeza, sensibilidade, carisma e tchan tchan tchannnnnnn: beleza.
Isso parece pouco, mas se levarmos ao pé da letra o que é ensinado às meninas sobre o como ser mulher, entramos em terrenos super complexos de autonomia, liberdade e espaço. A parte da beleza e do carisma vêm da noção de que mulheres são literalmente enfeites, digo literalmente por que mulheres são objetificadas a todo momento, vide abaixo.

                                            

Falar sobre as mancadas da publicidade merece outro post, queria dar um exemplo sobre um dia no ano passado que estava meio gripada, no frio, espirrei e...


Pesado? Nojento? Agora, imagina só se seu tio Betão, ou seu amigo Zé postassem exatamente o mesmo texto, aí a coisa seria super engraçadona né?
Eu sempre tive um caráter meio escrachado, gosto de falar besteira, jogar a conversa na lixeira e extravasar um pouco do que a vida adulta nos tira dessa liberdade de ser. Eu sei que têm coisas que não devemos e nem podemos falar em determinados ambientes, mas a timeline é minha :p
Existem casos e casos, mas a questão aqui é meu gênero. Isso é coisa de menina dizer? 

Desde muito novas entendemos como verdade o "fato" de sermos frágeis, que não podemos peidar, arrotar, etc...isso vai até a interpretação de que não podemos ter cheiro, a nossa menstruação nas propagandas é azul pelo amor de Deus!!

Então, além de sermos enfeites bonitos, simpáticos e sem cheiro, precisamos nos "poupar" de esforços. Eu lembro uma vez em que estávamos em um sítio, eu devia ter uns 12 anos, e os meninos foram fazer uma "aventura" na mata, eu pedi pra ir junto, mas claro, não eram permitidas meninas. Eu senti aquilo como um desafio e os segui até começar uma chuva torrencial e me perder no meio do mato. Ainda bem que aquela situação não me traumatizou e dali pra frente foram atitudes atrás de outras atitudes pra fazer exatamente o que eu pudesse querer fazer APESAR de ser menina. Hoje eu sei que essa coisa de "mulherzinha"é maravilhosa e que existe a possibilidade de subverter essa ideia como nessa campanha fantástica #likeagirl

Pra terminar, por que com essa nova onda de empoderamento feminino e a atenção que os grandes meios de comunicação e arte têm dado ao tema é muito engraçado ver o posicionamento dos homens  - muitos deles não aceitam nada bem - a ponto de reclamarem dizendo que o remake de Mad Max foi muito feminista por mostrar mulheres fortes e na luta, especialmente essa maravilhosa Furiosa S2 (rs rs rs).

No mais, é isso mesmo, estamos só começando a transpor essas barreiras do que é feminino e por que não, do que é masculino (num mundo superior e evoluído os gêneros nem existem), e é importante não esquecer de se auto desafiar e quebrar esses limites tão ruins pro nosso crescimento como ser humano.

Bom fim de semana, meninos, meninos, monas!

Aufwiedersehen!!

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Meu corpo primeiro

O feminismo trata de diversos temas relacionados ao empoderamento feminino dentro da sociedade patriarcal, um deles é a aceitação do corpo de forma ativa, entendendo quem você é como pessoa além da imagem.

O caminho é complexo por que primeiro precisamos entender nosso espaço como mulheres - spoiler: ele pode ser bem maior do que nos ensinaram - para depois aceitarmos, e eventualmente celebrarmos quem somos dentro desse todo, entendendo lugares de privilégio, lugares psicológicos e intrínsecos a cada uma de nós.

No nosso país por exemplo, somos "obrigadas" a ser sensuais, bonitas e simpáticas, isso nos é cobrado todos os dias. Tudo isso tem sido muito discutido no movimento feminista, até a globo tem falado um pouco mais sobre a aceitação dos cabelos das negras, sem os constantes alisamentos, muitas vezes nocivos para a saúde, mas ainda estamos bem longe do ideal. Quando ligamos a TV tudo o que vemos são corpos magros, na grande maioria das vezes brancos, algo problemático tendo em vista a importância da representatividade.
Um exemplo lindo é o de Leslie Jones, uma das protagonistas do remake de Caça Fantasmas, agradecendo à Whoopi Goldberg por mostrar que existia a possibilidade de uma mulher negra ser comediante e estar na TV.

Representatividade importa

Tem algo que tenho vivido no último ano e 10 kg atrás, sim, eu engordei bastante. Foi de forma gradativa que algumas das minhas roupas pararam de servir pra mim e de forma gradativa eu resolvi ir me livrando de algumas dessas roupas, desisti de ficar definindo minha vida e meus próximos passos em cima de uma calça jeans. Fora uma revolução que eu fiz nas escolhas dos meus biquinis depois de anos tentando servir em um modelo que não abraçava a forma do meu corpo, comprei uma daquelas calcinhas maiores e super estilosas e perdi toda o nervoso de ir à praia.
Importante levantarmos a questão psicológica da coisa, por que engordamos? Por que emagrecemos? Existem questões sérias de ansiedade, de preenchimento que precisamos entender dentro de nós mesmas além da balança e dos carboidratos. Antes de perder kgs precisamos manter a mente sã.

Hoje eu me deparei com um curta metragem documentário, da Luiza Junqueira entitulado "Gorda", assim sem desculpa e pra escancarar o tabu. Vale muito a pena assistir a essas histórias de superação e resistência, por que a gordofobia existe e está em todo lugar, são só 15 minutos.
E por favor pessoal, vamos parar de usar a expressão "Fiz gordice"? É pejorativa, dá a entender que os gordos são losers e isso não é verdade.

GORDA

É urgente a necessidade de enxergarmos humanas nas gordas, não apenas patologias.
Eu estou acima do peso mas ainda razoavelmente dentro de um padrão considerado "normal", e engraçado, depois que engordei percebi como é difícil encontrar a minha numeração nas lojas, isso por que eu procuro entre 44-46, fico pensando como deve ser para as mulheres que usam números acima de 46. E o grande problema é que quando elas encontram opções, os modelos são feios, largos, e com péssimo caimento. A roupa importa para a auto estima por que a moda comunica quem somos, e não pode ser considerada menos importante/responsável nesse sentido.

Eu estava lendo um artigo sobre as 15 startups mais quentes de Nova Iorque, e acabei parando na Dia&Co, que é um serviço de venda de roupas só para números maiores, que funciona como uma rede social com consultoria de moda e estilistas direcionados para esse público de forma individual, em cima da ideia "revolucionária"de que o corpo que deve moldar a roupa e não o contrário.
Elas têm esse video fantástico com a hashtag "meu corpo em primeiro lugar", vale a pena assistir também e repensar a forma como nos enxergamos e vemos essa questão.

#mybodyfirst

Aufwiedersehen!!

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A mostra e eu

A minha versão facebook sobre as mini férias que tirei para acompanhar massivamente à 40a mostra seria: "Maravilhosa semana realizando um sonho!"- mas como a maioria dos depoimentos públicos, essa não é a história real.
Já na abertura ouvi vários patrocinadores necessários dizerem mais ou menos as mesmas coisas desnecessárias só que em outras palavras por quase duas horas, para só depois (por volta das 23h - cheguei lá as 20:30h), assistir a um filme italiano de um autor que ainda não conhecia, como a maioria dos diretores com filmes na mostra. Eu curti o filme mas o rotten tomatoes (sempre olho o filme assistido lá), deu menos que 30% de críticas positivas :(

***créditos de todos os filmes abaixo.


O menino que cresce atormentado pela morte mal explicada da mãe em "Belos sonhos"- puro recalque e complexo de Édipo.

- No primeiro dia oficial assisti a um outro filme antigo do mesmo autor italiano e me peguei cochilando por três vezes até perceber que era hora de parar quando meu sonho começava a interferir na narrativa do filme.
Na sequência fui animada pegar a sessão aberta no vão livre do Masp, coisa mais linda de vista, mas resolvi desistir (essa sessão era gratuita), quando me peguei tremendo aos ventos primaveris de SP.
O fato do filme ser em preto e branco também não me ajudava muito a querer ficar.

*tenho essa questão séria com filmes p&b, acho que ficam lindos mas não sinto receber todas as informações necessárias para entender a história, cores são importantes!

- Meu segundo dia foi bom, uma dica legal pra quem quiser encarar essa maratona de filmes na mostra é ir direto pro shopping Frei Caneca que tem a maior quantidade de salas e variedades. Comecei com um filme dinamarquês e depois assisti a um russo. O legal é viajar para essas terras e pessoas pouco comuns ao nosso dia a dia.

Em "Amor e outras catástrofes", a amante tem a esposa como terapeuta, todo mundo engravida e a coisa fica complexa.

                                                    
O Estudante é um filme forte e sarcástico.

- No terceiro dia achei seria hora de procurar um filme brasileiro, o escolhido foi "Fica mais escuro antes do amanhecer", lá no cinesala de Pinheiros, uma das mais lindas de SP. Depois dele fiz uma corridinha que eu subestimei como rápida até o Cinesesc na Augusta para assistir ao Persona do Bergman, mas acabei me deparando com uma fila imensa e uma atendente assustada com a quantidade de suor escorrendo do meu rosto, dizendo que não tinham mais lugares disponíveis. Cuidado com essas sessões especiais, elas lotam!Eu aprendi da pior forma e fiquei puta, resolvi procurar um filme no cinema mais blockbuster da Paulista, o Center3.
O escolhido foi "Genius", que conta a história real do editor que descobriu caras como Hemingway, Scott Fitzgerald e Thomas Wolfe - o foco é no "bromance" do editor com Wolfe.

                              
"Fica mais escuro antes do amanhecer" tem essa cara meio gringa, meio excêntrica, uma fotografia lindíssima, trilha idem, mas peca no roteiro um tanto confuso, sempre nosso grande calcanhar de Aquiles no Brasil. Achei que o roteirista e diretor (com certeza um grande fã do Lars von Trier), pegou Melancholia, Antichristo e Donnie Darko e colocou tudo no liquidificador.

                                   
Colin Firth e Jude Law, dois ingleses com sotaque norte americano em Genius.

- No quarto dia voltei para o Frei Caneca e escolhi pra começar um filme antigo, dos anos 80, do famoso diretor Jim Jarmusch, tava a fim de ver algo mais mainstream, mas "Férias permanentes" não teve nada disso no bom sentido. Na sequência escolhi um filme por que se passava em Cuba. Estou meio obcecada pelo país e sua cultura a algum tempo, ainda não consegui conhece-la pessoalmente então me viro assistindo a seus filmes.

                                    
Férias permanentes e um adolescente classe média andarilho em NY.

                                    
Vinte anos é o retorno da diretora brasileira Alice Andrade para a Havana depois de vinte anos quando acompanhou o casamento de casais tecendo um paralelo entre a história deles no presente e o vislumbre dessa nova economia cubana que começa a se abrir.


- No quinto e último dia me encontrei com Tom Ford, Amy Adams e Jake Gyllenhaal, além de muitas participações chiquérrimas no deslumbrante "Nocturnal Animals". A abertura já te pega de cara em um shot estético de algo que não costumamos ver esteticamente. Não vou entrar em detalhes para não spoiler a experiência, mas deixo vocês com a visão de Amy Adams, divina e fantástica na pele de Susan.

Aufwiedersehen!!





Abertura
Belos sonhos (2016 - Itália) -Direção Marco Bellochio

Dia 1:

A china está próxima (1967 - Italia) - Direção Marco Bellochio
A grande ilusão (1937 - França) - Direção Jean Renoir - não consegui assistir inteiro

Dia 2:

Amor e outras catástrofes (2016 - Dinamarca) - Direção Sofie Stougaard
O estudante (2016 - Rússia) - Direção Kirill Serebrennikov

Dia 3:

Fica mais escuro antes do amanhecer (2016 - Brasil) - Direção Thiago Luciano
FORA DA MOSTRA -  Genius (2016 - EUA) - Direção Michael Grandage    

Dia 4:

Férias permanentes (1980 - EUA) - Direção Jim Jarmusch
Vinte Anos (2016 - Brasil/Costa Rica) - Direção Alice de Andrade

Dia 5:

Pássaros Noturnos (2016 - EUA) - Direção Tom Ford



sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Status

É meio difícil escrever sobre a própria vida.
Difícil por que existem pessoas dentro dela e também por que a intimidade, apesar da revolução das redes sociais, é estimada.
É difícil falar sobre si mesma e entender que você pode ser julgada na sequência, que você pode ser tachada por aquilo que você escreveu um dia.

Foi em um desses momentos de dúvida sobre compartilhar ou não o que eu estava sentindo que eu escrevi um dos textos mais libertadores da minha vida:

A fabulosa história da menina que nunca namorou

Era vergonhoso nunca ter tido um namorado por um lado, mas lá dentro de mim eu não entendia o porquê daquela vergonha. E então eu reconheci que sou criada dentro de um modelo patriarcal, que sabemos que existe de forma abstrata na sociedade, mas que depois de muita desconstrução e estudo entendemos existir também dentro de nós.

Esse grande monstro tem o poder absurdo de fazer com que mulheres perpetuamente - principalmente em momentos de vulnerabilidade e falta de atenção -  sintam-se mal: culpadas, feias, inapropriadas.

Hoje eu tenho um relacionamento sério e moro com o meu companheiro. Nosso encontro foi como muitos dos encontros que acontecem nos dias atuais, com alguns problemas de timing, mas no decorrer do tempo nos consolidamos, por escolha, como parceiros de vida, e eu agora não imagino a minha sem ele.

Eu não quero falar sobre o amor romântico, quero falar sobre como eu confirmei, vivendo a dois, que eu não sou mais feliz agora do que antes. Essa é a grande questão. Essa equação que o sistema introjeta - principalmente nas mulheres -  sobre: "ser feliz" + "estar em um relacionamento" não é a verdade.

Eu tenho convicção de que eu sou tão feliz hoje em um relacionamento amoroso quanto quando eu era solteira. Obviamente a situação e os programas são diferentes, continuo sendo humana e insegura, mas os momentos de tristeza acontecem nos dois status.

Acho importante dividir com as mulheres o que ninguém conta pra gente: nós nos bastamos sozinhas, nós podemos ser muito felizes fora de um relacionamento.
Era isso mesmo que eu queria dizer.



Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Descabimento

Eu estou brava com o mundo.
Mais especificamente com a sociedade.
Eu tenho uma amiga que há uma década decidi que é minha irmã. A gente se entende pelo fundo do cérebro, por entre neurônios que detectam sensibilidade. Nossa lógica é par. O nosso sentido é o mesmo, sempre foi.  Eu me sinto impotente por que não consigo ajuda-la, da mesma forma que ela não pôde me ajudar quando eu precisei.

Amigos não servem para nos ajudar, e apesar de andarmos em bando, não adianta fugir da grande realidade de que os nossos assuntos sempre vêm antes.
Nossa alegria vem antes. Nossa tristeza, nossa euforia, nossa preocupação sempre vêm antes da do outro. É natural.
É ilusório prometer qualquer tipo de relacionamento que fuja dessa premissa.

Amigos servem como aquele olhar distanciado que vê mais do que os reais envolvidos no negócio da alma interior. Amigos são aquela segunda opinião emocionada, por que por mais que sejamos seres humanos naturalmente egoístas, nós amamos. E muito - também por que precisamos de amor.

Minha amiga é cheia de vida. Ela é cheia de talento e muita, muita emoção. A sociedade não está pronta pra aceitar isso, ela - a sociedade - se sente encurralada, apreensiva e desconfortável diante disso. Na hora do "vamo vê" quem sofre são os sensíveis. São os suscetíveis, os vulneráveis pela emoção, por que veem mais do que os outros que seguem com suas vidas objetivamente construídas. E então eles percebem, para confirmar a nossa incompetência, que precisam também se moldar.

Precisam sentir menos. Precisam demonstrar menos. E então percebem que a eles só resta a reclusão, por que não sabem mentir, muito menos fingir. A risada alta com boca aberta se fecha. O cabelo jogado pra trás num movimento de descabimento de alegria dá lugar à cabeça baixa de quem não serve do lado de dentro, por que aqui dentro é pequeno. E mais ainda lá fora. A sociedade é pequena, restrita. E nós somos pequenos por que não conseguimos ajudar. Eu não consigo ajudar.

Aufwiedersehen

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Solidão compartilhada

Dizem que quando você encontra o amor você nunca mais fica sozinho.
Dizem que você tem alguém com quem dividir suas dores pra sempre.
Dizem também, que a pessoa vem pra completar algo que te faltava.

Eu por mim digo, você pode estar sozinho ao lado de alguém, não por vontade do outro, mas por que ele mesmo não está consigo. A solidão compartilhada é tão ou mais triste que a solidão original. Você vê uma carcaça que se parece com o ser amado, mas seu espírito não o acompanha, apenas palavras vazias de resposta branda. Nem um ódio derramado, apenas o vácuo do nada que tromba com a sua vaidade.

As dores podem aumentar com o amor, por que a sua felicidade e resolução de problemas não depende mais de você, há um ser muito especial andando por aí com seu coração. Parece brega, mas o fato de você ter alguém não só te coloca quentinho em noites de sexta-feira chuvosa, você também entrega um pouco ou muito da sua autogestão , além de precisar de qualquer forma dividir seus sentimentos, você precisa sim, falar muito. Não durma com assuntos mal resolvidos.

E por último, por favor, ninguém completa ninguém. Você sozinho já é demais, e não no bom sentido do termo. Todas as suas crises, mal entendidos, dúvidas, manias, chatices continuam existindo ao lado de outro mais do ser amado e vocês precisam diariamente sentar juntos e como em uma banda de dois, afinar os instrumentos para que a música saia melhor. E eu posso prometer, em alguns dias vocês são capazes de verdadeiras obras-primas.

Aufwiedersehen!!

Os perigos do emoticon

Não, não há nada de errado com os emoticons, sou apaixonada pelo poder de síntese que essas carinhas marotas têm, mas isso pode ser um problema quando se quer comunicar algo mais complexo, principalmente quando se tem um objetivo específico.

Ultimamente tenho me deparado com muitos conteúdos que fazem alusão a forma como a mulher é criada na nossa sociedade, em como somos educadas para ser perfeitas e não corajosas e ousadas, diferente da forma como os meninos são criados. Eu já falei sobre isso aqui: O fascinante mundo masculino, desde pequena eu percebia como as possibilidades dos meninos eram mais diversas para dizer o mínimo, enquanto eu permanecia cercada de proteção, cuidado e consciente de como estava agindo, me portando, me vestindo. Como sou branca, nunca fui pobre e sempre recebi muito carinho, acho injusto dizer que tive uma infância ruim ou um futuro super comprometido por conta do meu gênero, não acho que esse é o ponto aqui, apesar de ter plena consciência de que alguns dos meus potenciais poderiam ter sido mais bem explorados antes, estou aqui correndo atrás do prejuízo eterno que é o patriarcalismo em nossas vidas. Na palestra abaixo, a advogada e política Reshma Saujani diz algo na linha do que eu acabei de dizer, sobre como ela decidiu correr riscos e ser corajosa aos trinta enquanto isso poderia ter acontecido muito antes se não educássemos nossas garotas para serem perfeitas:

Sobre Bravura

Falo dos emoticons, por que eles me lembram da nossa constante necessidade de pedir desculpas, colocar panos quentes e sermos amáveis. Desde que parei para prestar atenção, é impressionante como em vários momentos do meu dia esse pedido tenta sair da minha boca ou para ser escrito em determinado e-mail quando eu não estou fazendo nada além do meu trabalho. Existe uma resistência, principalmente no Brasil do trato gentil, em sermos duras quando necessário, então quando essa necessidade é urgente, diminuímos a força do pedido com um "desculpa", ou um emoticon fofo ;)

No paralelo, estou lendo um livro que já se tornou o principal da minha vida até o momento, da poeta, analista jungiana e outras milhões de coisas essa mulher é maravilhosa, Clarissa Pinkola Estés, que percorreu o mundo ouvindo histórias e contos de fada nos diferentes lugares e culturas, encontrando entre eles nas representações arquetípicas, uma eterna busca pelo nosso eu selvagem, o instinto biológico/natural que é suprimido desde que nascemos pela civilização e pelos costumes. Algo como uma colonização de nós mesmos. Ela foca muito nesse retorno da mulher educada para casar, àquela menina que se ouve e que está sempre em busca do entendimento dos seus desejos mais íntimos. Tem sido uma viagem maravilhosa me enxergar nesses contos, e nas leituras que Clarissa faz da psiquê feminina principalmente, e em todos os limites que nos são colocados pela sociedade na forma como ela é construída pra nós.

Você pode encontrar o pdf desse livro maravilhoso completo aqui: Mulheres que correm com lobos

E no final das contas o feminismo é isso, é dizer que podemos mais, podemos ser o que quisermos, e é revigorante ter essa "permissão" de sermos quem somos, como fomos geradas em nossa essência.
A sociedade como um todo nos diz para ignorar nossos instintos por que somos "muito sensíveis", ou "estamos na tpm", ou "estamos exagerando". É um exercício maravilhoso reverter todos essas prerrogativas negativas e se perguntar: "será?", "será que eu não sei no que isso vai dar?", "será que eu não sei que estou investindo nesse relacionamento - seja ele amoroso, de amizade, profissional - sempre sabendo que ele é ruim para mim? Que ele me faz ser menor do que eu posso ser?"

Eu desejo que cada um de nós, todos os dias, consigamos exercitar essa procura constante por nosso eu selvagem e mais primitivo, ele talvez seja a resposta que sempre esteve em nós, e nem sempre ele é bonitinho, com carinhas fofas e sorrisos.

Aufwiedersehen!!

quarta-feira, 23 de março de 2016

Inspiração

*continuando o raciocínio do post anterior.

Esse é o mês internacional da mulher. Muitas receberam flores, chocolates, li textos interessantes com um novo posicionamento, o que é esperado frente ao crescimento do conhecimento sobre a luta feminista, por que o dia internacional da mulher diz respeito a essa luta. Eu não sinto mais raiva como eu sentia quando primeiramente conheci o feminismo, ou melhor, quando me deram a pílula vermelha que me deixa enxergar o patriarcalismo em todas as suas formas, presente em tudo que nos cerca. Ele também vive em mim, e eu já entendi que vou passar uma vida retirando seus restos. Meu ideal nem é exterminá-lo, sei que não conseguirei a tempo nem mesmo para os meus netos e netas, sei também que essa é uma luta para mulheres e homens.

Estive no simpósio internacional de discussão de gênero na mídia no Google no dia 08, e lá, dentre mulheres que eu admiro muito, como a show runner da série Marvel's Jessica Jones,  a roteirista e diretora do filme "Que horas ela volta" Anna Muylaert,   e finalmente, minha mentora e amiga, a AP Catarino CEO da Oca Animation. Lá entendi um pouco mais da razão de ter escolhido comunicação social como profissão em 2003 no extinto terceiro colegial - bom, eu também prestei hotelaria e moda - por que agora sei que posso exercer um papel modificador nessa área e ajudar pessoas.

Pude compreender meu fascínio não somente pelo cinema, mas pelas relações públicas, internet, literatura, tudo que é mainstream. Muitas pessoas entendem esse oversharing geral das mídias sociais como uma perda da humanidade que existe no contato físico, e eu concordo que olhar uma tela 20 horas por dia não pode ser a realidade que buscamos, mas também vejo a comunicação com esperança no futuro, e também a respeito por que é informação, e informação é poder.

O Netflix disponibiliza agora a quarta temporada da série que o lançou como potência mundial, sobre a saga de Francis Underwood na corrida pelo poder. A terceira temporada mudou o rumo da conversa por que Claire Underwood, forte e dona de desejos profundos e complexos chutou pro alto o espaço que lhe foi concedido apenas como primeira dama por ser a mulher elegante que é, o esperado para essa função. A personagem que "completava" o marido como todas as mulheres são ensinadas a fazer, pediu mais e agora está colhendo o resultado disso. Sem SPOILER, em dado momento nessa última temporada, a mãe da personagem conta sobre como a filha quando pequena ansiando que a luz voltasse, pedia para a mãe acabar com a escuridão. A mãe dizia para que ela esperasse na janela, por que ela (a luz), voltaria, mas não dizia que o dia chegaria a despeito da vontade da filha. Mesmo assim, a menina grudava seus olhos na janela toda noite acreditando que faria a luz voltar. Nessa fala, a mãe Claire finaliza dizendo como a invejava por acreditar naquilo.

Essa fala foi uma das coisas mais poderosas e enigmáticas que já vi em um diálogo entre mulheres - ver mais sobre diálogos femininos na história do audiovisual: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_de_Bechdel -  sobre a possibilidade de sucesso de uma menina empoderada. Ao assistir esse diálogo eu era aquela menina, com a ferramenta da inspiração para acreditar que eu posso conseguir o que quiser nessa vida.

Claire Underwood não é propriamente uma mulher admirável ou bom caráter, mas no simpósio, durante um breve depoimento online, Geena Davis - Thelma herself  https://goo.gl/ytalpS - através do seu Geena Davis Institut, afirmou serem necessárias as representações complexas femininas no entretenimento,  por que apenas mostrando todas as nossas nuances, conseguimos nos aprofundar na questão, conhecer e nos identificar com essas personagens. É algo próximo do que a psicanalista, contadora de histórias e escritora, Clarissa Pinkola diz em seu livro "Mulheres que correm com lobos":

"Essas efêmeras 'provas da natureza' vêm durante a mística da inspiração - ah, ela está aqui, ai, ela já se foi. O anseio por ela surge quando nos encontramos por acaso com alguém que manteve esse relacionamento selvagem. Ele brota quando percebemos que dedicamos pouquíssimo tempo a fogueira mística ou ao desejo de sonhar, um tempo ínfimo a nossa própria vida criativa, ao trabalho da nossa vida ou aos nossos verdadeiros amores."



Aufwiedersehen!!

segunda-feira, 14 de março de 2016

A passagem do tempo

Confesso que ando meio perdida, meio como se tivesse sido colocada de standby pelas consequências. Completo um ano de emprego fixo nessa semana. Estou em um relacionamento sério pelo primeira vez em 30 anos de vida, e que vai completar quase um ano de existência à distancia. A minha realidade tem sido um desafio frequente e psicológico por mais que pareça conter todos os ingredientes do sucesso.

Eu comecei a pensar na luta feminista a um bom tempo já, quase cinco anos, e fico citando o tempo para mostrar como ele vai nos moldando no caminho, como ele muda tudo, até nossas maiores convicções. A maior mudança acontece dentro de mim, é como se eu estivesse sendo moldada em carne viva e sem anestesia para ser aquela pessoa que nasci pra ser. Eu penso muito sobre o meu lugar no mundo, sou leonina e já brinquei muito sobre a veracidade ou mesmo a plausibilidade da astrologia, encontro alento em juntar pontos no calendário do horóscopo, pontos que fazem sentido para as pessoas queridas que conheço. Talvez os signos só joguem luz a características que todos nós possuímos fazendo com que entendamos ser algo mais específico do que outro, como se fossemos mesmo especiais e diferentes. Pode ser mesmo um grande jogo de entendimento do cérebro, um placebo que vem nas revistas e jornais, nunca saberemos.

A nossa realidade é confusa hoje, principalmente no Brasil da crise econômica e política, não há muito o que dizer que acrescente à discussão, mesmo assim muito é dito todos os dias sem a mínima ponderação. Eu senti uma energia estranha esse fim de semana, do tipo que junto com o tempo cinzento e chuvoso de São Paulo, me colocou pra baixo e me deixou prostrada no sofá - outro placebo talvez, essa desculpa do tempo fechado. Eu me ponho pensando e ansiosa por diagnosticar o que sinto, "seria a saudade do meu parceiro?", ou "o cansaço dos últimos meses de trabalho", "seria a minha conta vermelha no banco"...eu não obtenho respostas, apenas o tempo que vem carinhoso depois de um dia ruim e me presenteia com um novo dia, com sorte ensolarado, com sorte com uma música boa tocando primeiro na lista do shuffle no caminho do trabalho.

Eu diminui bastante a frequência com que escrevo nesse blog no último ano, coincidentemente o ano subsequente ao lançamento do meu livro de bolso. Pessoas me perguntam se vai ter uma nova edição, e eu quase rio meio irritada por que não gosto mais do meu livro ou do que eu escrevi, tudo aquilo parece bobo depois da passagem do tempo por mim e por tudo à minha volta. Talvez hoje eu comece a olhar pra essa mudança com um pouco mais de boa vontade, talvez eu passe a enxergá-la com a atenção que merece, por que eu posso ser muito mais se eu tiver coragem.

Continua...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Desconstruindo o amor romântico em três passos

Ontem foi dia de São Valentin, o dia dos namorados dos gringos na America do norte e na Europa. Acho um bom dia para pensar em toda a ideia construída de amor romântico e nos conceitos que englobam essa mágica construída nos filmes e livros, e em tudo que assistimos desde criança:

1- Cavalheirismo: o homem que abre as portas e paga as contas. "Aquele" que provém hoje em dia pode ser qualquer pessoa que trabalhe. A ideia de que o homem deve ter toda a responsabilidade de pagar as contas do lar é ultrapassada. Não existe mais dote, não existe mais um "bom partido";

2- Alma gêmea: aquilo que Fabio Jr. uma vez disse sobre as laranjas e o fato de sermos metades procurando pelo nosso todo está fadada ao fracasso. Precisamos conter tudo que é necessário para a nossa sobrevivência em nós, inclusive, vale se apaixonar todos os dias por você, seja criando novos hobbys, seja aprendendo algo novo para nos sentirmos mais interessantes e vivos;

3- Ciúmes:  "quem ama cuida", "aquela faísca que deixa o relacionamento mais picante". Procure no ciúme um resquício que seja de amor e só encontrará apego. Um apego por uma pessoa que normalmente você considera sua. Seu ciúme não demonstra nada além de imaturidade e insegurança. Não tenha dúvidas, o ciúme é desnecessário e nocivo;

O que sobra dessa ideia colocada de amor, no final das contas, é respeito, admiração e companheirismo, algo muito parecido com os relacionamentos de amizade. E o que torna uma grande amizade amor? Eu chutaria que uma disciplina bem básica: química. Dois corpos que precisam continuar juntos depois de um primeiro contato.  O resto é puro acaso. Ou não.

Aufwiedersehen!!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Onde eu estava a um ano

Eu lancei um livro há um ano. Faz quase três meses que eu não escrevo nadinha, nem um rabisco sequer. Sinto falta de elaborar sentimentos no papel, acontece que tem muita coisa acontecendo comigo. O Sinceros Devaneios foi um projeto possível de ser executado por que eu tinha um horário flexível, na época eu estava há dois anos pulando de freela em freela, tendo que aprender a lidar com coisas novas, pessoas e situações novas. Tem gente que curte esse tipo de emoção. Eu sei que não sou essa pessoa. E é isso que tenho feito constantemente durante esses 365 dias, entrado em contato profundo comigo mesma, e aprendendo a aceitar o que eu não sou capaz de fazer, algo como uma limpeza no guarda-roupa das habilidades possíveis da vida.


Eu arrumei um emprego fixo e tenho vivido desafios inimagináveis desde então, mas a melhor parte de tudo, é que eu fiz bons amigos nesse último ano. Descobri nesse ano também, que eu amo ficar em casa, Netflix se tornou a minha maior companhia e eu me joguei sem olhar pra trás em série depois de série. Teve outra coisa nesse ano, eu me apaixonei, e tenho quase certeza que foi a primeira vez que eu vivi isso até o fim, sem correr ou pedir arrego ou inventar desculpas. Como na primeira vez que eu consegui ficar embaixo da água quando criança, dessa vez eu mergulhei bem fundo e entreguei o meu coração a outra pessoa - o que pode parecer brega, mas é bem isso que acontece, um pouco do seu controle vai embora e isso é assustador.

Acontece que ele precisava ir embora, seguir um sonho antigo por um ano longe de mim. Engraçado que pouco tempo atrás eu fugiria dessa briga, eu entregaria a sorte pro mundo e diria boa sorte pra ele, diria como foi maravilhoso te-lo conhecido e esperaria o seu retorno acreditando que daria certo. Só que eu já sei que nessa vida não podemos entender como garantidas as coisas maravilhosas que encontramos, por que isso simplesmente não acontece sempre. Aliás, isso é raro. E então, eu mais uma vez mergulhei sem voltar à superfície e entendi que por mais difícil que pudesse ser, apostar nesse sentimento era a única sábia a se fazer naquele momento. E eu fiz, e toda essa coisa de namoro a distância vale um outro texto que eu ainda ainda estou tentando entender, talvez por que ainda não chegou ao fim. Um spoiler, tem sido uma das coisas mais difíceis que eu já fiz na vida!

Tenho pensado muito sobre escolhas, prioridades. No meu trabalho eu normalmente não tenho o tempo ideal, muito menos a situação ideal, aliás, produzir filmes tem tudo a ver com o imprevisto. Todo projeto subsequente se baseia em tentar evitar o erro cometido anteriormente, mas sempre sobra algum que escapa, e então, durante um ano eu venho acrescentando erros a serem evitados na minha lista de tropeços.

Outra das minhas grandes descobertas, é que as vezes a nossa não ação funciona melhor do que a pró-atividade tantas vezes pregada. Ela demanda maturidade, atenção e muito equilíbrio, e ela só é possível quando prestamos atenção nas pessoas, por que nada depende só de nós, nem mesmo a nossa própria vida. Vale escolher também não sofrer, não reclamar, muito menos falar mal dos outros. Não é questão de ser "bonzinho", é questão de energia, e tem a ver com a linha dos acontecimentos da vida, que são como uma maré, que segue um fluxo próprio. Nossos desejos podem ou não estar nesse fluxo, cabe a nós entender e comemorar quando sim, e deixar ir quando eles não estão na direção da maré. E é impressionante, ela, a maré, sempre trás de volta algo muito mais apropriado do que havíamos sonhado antes. Que 2016 nos trate todos bem.

Aufwiedersehen!!