E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Um brinde às lembranças

Eu lembro da primeira vez em que eu senti o burburinho viciante de estar embriagada, tinha 15 anos, e misturado um drink baiano, o "capeta", com uma latinha de brahma suficientes para o alcance daquela sensação e do posterior anúncio orgulhoso do meu primeiro porre. Todas as ansiedades da adolescência pareciam sumir na passagem do líquido pela minha boca, a ascendência e a sensação de pertencimento eram intoxicantes. E aí veio a faculdade, e depois da faculdade a vida adulta com frustrações maiores do que eu poderia sonhar aos 15. A mistura do álcool com uma mente sensível e algumas bagagens a serem carregadas fazia com que eu me tornasse outra pessoa.
Aos 17 perdi um amigo, ex namoradinho afogado no mar, lembro de como sempre que eu bebia naquela época eu chorava chamando por ele. Eu não tinha maturidade, estava exposta aos meus sentimentos, e o álcool sempre lá como companhia, expondo o que existia dentro de mim e que eu não conseguia lidar. Hoje esses sentimentos escondidos não me assustam mais, aprendi a aceitar e a entender a pessoa que eu sou por inteiro, mas percebo também que na amnésia da festa do dia anterior, partes importantes da minha vida vão ficando pra trás, memórias que eu não estou pronta para perder entre casamentos, happy hours e aniversários, e conversas cheias de carinho com amigos, muitas que foram se perdendo ao longo desses quinze anos de bebedeira. Não sinto remorso ou falso moralismo pela minha história, sinto nostalgia por tantas palhaçadas improvisadas na bebedeira, quanta risada e histórias inesquecíveis não aconteceram? De qualquer forma, sinto mesmo que é hora de desacelerar, por que é muito divertido estar bêbado e fazer amizade e rir junto, mas também é muito divertido assistir à própria vida e ter consciência do que acontece naquele momento, e sobretudo, relembrar.
Não quero mais ver esse ciclo de esforço e esbórnia se repetindo, eu quero um tempo pra mim e para as minhas lembranças, e acredito que posso conceber não precisar mais de um líquido pra isso. O corpo humano vive de inércia, ele tende a perpetuar o movimento que está acostumado a repetir, demora para brecar a engrenagem, dói, mas uma vez que mudamos o percurso, mesmo que seja de forma abrupta e no meio do caminho, basta esperar que a engrenagem se readapte para continuar no sentido que se decide seguir. Uma cervejinha, uma taça de vinho, é decisão minha tomá-los, não quero mais concentrar a minha natural necessidade de extravagância no que bebo, tenho certeza que toda essa energia pode reverberar em outro sentido e com muito mais qualidade. Pelo menos por hoje.

Aufwiedersehen!

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