E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Encontros ilustres

Sempre me peguei pensando sobre os célebres encontros que já aconteceram. Logo na faculdade, há quase uma década dediquei-me como boa caloura inexperiente à dica de um professor, o tema que ele jogou de brincadeira no ar tratava-se da influência da psicanálise no surrealismo nos tantos da década de 20. Estamos falando de Sigmund Freud, o austríaco que usava da dissertação e investigações subjetivas para melhor conhecer o ser humano e literalmente suas entranhas, com Salvador Dali, aquele cara que desenhava com a maior desenvoltura um elefante equilibrando-se em pernas de aranha. Naquela época, assoberbada com as ideias de Freud e seus sonhos, e a sacanagem compensatória do complexo de Édipo, em tempos que eu não sabia que tais coisas eram tão sensíveis quanto o hímen da virgem, e que falar sobre isso era perigoso porque fácil de cair no erro tão próximo da teoria, eu olhava para os lados e pensava se algum de meus colegas seriam brilhantes, geniais, para depois olhar para mim mesma e sonhar em ser algo próximo de um Salvador. Woody Allen em seu último “Midnight in Paris” ilustrou isso tudo, uma divagação deliciosa em que teríamos a chance de beber e dançar com essas pessoas fabulosas. Foi delicioso ver o que seria a amizade entre os escritores Hemingway e Fitzgerald, o diálogo dos surrealistas, essas pessoas com perspectiva irrestrita, e como são deliciosas essas pessoas!
Uma dessas amizades aconteceu lá no final dos século XIX, entre Gaughin e Van Gogh. Os dois artistas teriam morado juntos durante três meses em uma cidadezinha na Holanda sob o intermédio do irmão e eterno preceptor de Van Gogh, Theo. Apenas Paul e Vincent na época, dois pintores de excentricidades diferentes tentando sobreviver na Europa pouco antes da primeira guerra e pós impressionismo. Paul Gaughin havia desistido da vida em família abastada com sua mulher norueguesa e seus cinco filhos, e atendendo ao seu eterno chamado selvagem, desistiu de tudo – fato criticado por Vincent em boa parte de suas brigas – e foi atrás de seu refúgio não civilizado, e como foi provado até o fim da sua vida, já inexistente naquela época. Vincent Van Gogh era o filho mal amado da mãe, um garotinho ruivo e esguio que vivia à sombra do irmão mais novo e bem sucedido, encolhido na pequena cidade de Orles. Paul era o cara cool daquele tempo, rei das festas, seguro e forte, daquele tipo que transforma em ouro o que toca, que nunca está sozinho e como todo popular, anseia mais que tudo à solidão impossível. Vincent sentiu-se bem perto do raio quente que emanava de Paul, ele finalmente chegava perto do sol, mas foi por pouco tempo que ele conseguiu lá ficar, já que vinha com uma bagagem cristã de culpa, vergonha, insegurança e chatice mesmo.
A loucura de Vincent Van Gogh é debatida por motivos contundentes, um homem nos seus trinta e poucos anos, um senhor para a época, corta por vontade própria a sua orelha a sangue frio e a entrega à uma prostituta. Dizem que o motivo do flagelo deve-se à auto punição proveniente de uma briga que teve com o amigo Paul, o cristão calvinista filho de pastor sofria por ter ameaçado, sofria por ter pecado e tentando o mal.
Paul morreu em um paraíso litorâneo afastado, em meio aos selvagens como sempre esteve durante a vida, Vincent suicidou-se e foi mal sucedido, ou teve sucesso apenas depois de sofrer e sangrar por dois dias depois do tiro da tentativa, e sofreu ao lado do irmão Theo até o fim, como em toda a sua vida.

Vincent Van Gogh com seus girassois "homenageado" pelo amigo Paul Gaughin.
Aufwiedersehen!

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