E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Simonal

Acabei de ler “Nem vem que não tem: A vida e o veneno de Wilson Simonal”, de uma prosa deliciosa escrita por uma autoridade na questão musical riquíssima do Brasil, o diretor de redação da revista Época Ricardo Alexandre. Na nossa geração o nome Wilson Simonal soa invariavelmente como um eco de um nome conhecido da atualidade, mas nem tanto assim, Simoninha. Wilson Simoninha, cantor e irmão de Max de Castro um cantor inventivo da nossa MPB Cult atual que se mistura e reinventa com Seu Jorge, Maria Rita, Luciana Melo, dentre outros. Curioso ver os frutos atuais dos cantores do passado, Maria Rita e Pedro Camargo Mariano filhos de Elis, Luciana Melo e Jair de Oliveira filhos de Jair Rodrigues, dentre outros, e o mais curioso ainda, como tudo que envolve o show business é entender que por mágico ou glamouroso que seja, o mercado musical e artístico nada se difere desse mercado no qual trabalhamos, sem os holofotes, todos os dias. Wilson Simonal foi o pai de Simoninha, Max e Patricia, crioulo de família humilde e mãe solteira (o pai foi viver sua vida), como a maioria dos crioulos do começo da década de 40, foi o maior cantor que o Brasil já teve. Não digo isso pelo meu gosto particular, mas pelos diversos depoimentos desse livro, fora o documentário lançado há pouco tempo por um caceta Claudio Manoel e os irmãos Conspiração Filmes “Ninguém sabe o duro que dei". Surpreendi-me ainda mais ao conhecer sua participação na criação do que se conhece hoje por samba rock, um estilo pós nhem nhem nhem da bossa nova (eu amo bossa nova!), resultado de um pedido calórico de “veneno” no ritmo acústico dos samba canções. Simonal, o Simona era parceiro de Jorge Bem Jor, que todos conhecemos, por que contina vivo e não teve o azar de cair no ostracismo como seu amigo, cuja história eu li perplexa, sobre uma idéia que surgiu de suposições e algumas rixas, em relação a um cara abertamente folgado (conhecido como rei da pilantragem na época). A "idéia" que destruiu sua carreira e como sequela sua vida, era uma suposta relação que ele tinha com os órgãos opressores da Ditadura, tido como delator de artistas. Esqueci que lia a algo que realmente aconteceu e pensei que lia a mais um conto fictício que pretende imaginar o que os piores sentimentos da humanidade são capazes de cometer como mazelas. Fico triste, decepcionada, enfurecida por que isso acontece todos os dias. Não da forma como aconteceu com Simonal, começando com uma “piadinha” de “O Pasquim”, jornal esquerdista da época da Ditadura, acusando-o de dedo-duro e fazendo uma charge dele suicidando-se em público e ai sim finalmente conseguindo aplauso novamente, mas com o escracho, com que o responsável pelo jornal, mais tarde comentando a repercussão da charge, disse que “Eles haviam destruído a carreria de Simonal”, de forma irônica, como se eles não fossem capazes de sozinhos, acabarem com a carreira de um artista desse porte. Não vou entrar na questão da Imprensa e de seu enorme poder, mas sim levantar a questão para nós reles mortais no nosso dia a dia pouco noticiado, quando passamos informações não comprovadas, fofocamos besteiras para impressionar, temos inveja e complexo de inferioridade do outro, esses sentimentozinhos que permeiam a nossa vida, todas as horas, e evitamos aceitar que existem, tudo começa ai, nessa sensação transitória de grupo, de ideologia, como eu já disse antes. Vocês do departamento financeiro, vocês da produção, vocês da assistência técnica, vocês sócios da empresa, as subdivisões com suas questõezinhas vão enfraquecendo não somente nosso julgamento racional, como também nossa capacidade de empatia humana, por que não. Sinto-me triste, por que um Simonal poderia facilmente hoje, ser novamente julgado e colocado no ostracismo por uma fofoca, campos de concentração poderiam ainda ser criados, tudo começando a partir da cabeça de alguns, e de uma idéia mal concebida ou muito bem concebida, que encontra em nós eco, todos juntos e sem personalidade, e acaba por seguir em frente.

2 comentários:

Carol Pin disse...

Tem um documentário do mesmo nome, agora que já leu o livro vale a pena conferir...

Fábio Babo Grigoletto disse...

"Eu era neném, não tinha talco, mamãe passou açúcar em mim!"
Muito talento, muito sucesso e muito deslumbramento...receita perigosa!
Ainda assim, Salve Simonal!
Quem não tem swing vai acordar com a boca cheia de formiga!