E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Eu tive carro por uma semana em São Paulo

Eu sempre disse a quem quisesse ouvir, ou melhor, afirmei peremptoriamente (adoro essa palavra), que nunca teria carro em São Paulo. Afirmação chique aqui no meio do nosso país de terceiro mundo em ascensão, economia forte, dos amigos Lula e Maluf. A verdade é que eu cheguei a um ponto que sim, eu posso de repente me dar ao luxo (palavra usada para descrever itens desnecessários para a nossa prima sobrevivência), de ter um automóvel. Eu seria no caso, uma das milhares de pessoas que sozinhas decidem dirigir pela metrópole xingando seres humanos aos quatro ventos, que orgulho! Combinei cá com meu velho de viver essa experiência tão corriqueira para tantos, porém tão espetacular para a grande maioria, de possuir um carro para locomoção durante uma semana inteira de dias úteis. Meus pensamentos eram do tipo: óbvio que eu vou amar e transformar toda a minha existência a partir do próximo sábado, ou vai ser dificil voltar pra a realidade (morar há 10 minutos de ônibus e/ou 30 minutos a pé do trabalho é dureza..). ou, vou ter que voltar a andar de metrô, ônibus, simplesmente na calçada vão se tornar experiências horrorosas depois de viver o paraíso de ter sua própria existência e intimidade e música e ar condicionado em cima dos próprios pneus. Como todos os primeiros pensamentos eu errei nesse. A vida com carro me decepcionou, além do "auto" (hã hã) fracasso, o fracasso sociológico pesou. Ficou difícil ter amor a qualquer próximo, seja ele a velhinha barbeira do carro ao lado, seja um marromzinho marrento na rua, sejam os pobres e meus ex parceiros de luta, os pedrestes, e por incrível que pareça, foi dificil ter amor aos motoboys, pessoas tão simpáticas. Engraçada é a mente dos inexperientes, seja a inexperiência escolhida o trânsito de São Paulo, o sexo, o trabalho, esse descobrir é sempre uma confusão de ideias que se contradizem, misturadas com pânico, medo, as vezes excitamento por alguns momentos. Como brinde - e quem foi que pediu a experiência pela metade - lá pro final da semana, eu me achando vitoriosa, acabei caindo no clichê de deixar o farol ligado, o que acarretou o fim da bateria, o que me deixou na rua a esperar por 40 minutos o moço da chupeta. Vou jurar até o fim que eu bati o joelhinho na luz do farol que ficou ligada por mais ou menos 6 horas. Por pontos positivos (e sim Polyanna, chegou a sua parte), eu recebi só nesses cinco dias de experimento uma aula de direção, com atenção (leia-se coração acelerado full time), e cidadania (mentira, isso eu não aprendi, aliás o lado a humano tende a diminuir proporcionalmente com aumento de horas de diração paulistana), fora os supracitados privacidade, e som próprio com músicas altas e cantoria para chamar de seu - afinal não é só o jow que deixa o funk ligado sem fone de ouvido no ônibus que tem esse sonho. Se eu ainda vou querer ter um carro, eu não sei, isso é decisão pra 2013, se o mundo, nós, a fumaça, os pedestres, e os motoristas ainda existirmos (os motoboys sobreviverão ao apocalipse e formarão uma nova raça), voltarei a pensar no caso. A experiência já tá valendo, como todas as experiências o são. Aufwiedersehen!

Um comentário:

Paulo disse...

Van,
sabe q eu cheguei em SP essa semana e acabei de tirar a cnh. Fiquei imaginando como deve ser dirigir em sp e conclui que, pelo menos no começo, prefiro continuar no transporte público msm.
Adorei o texto, como sempre.
Bjos