E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Uma mala que não foi perdida


Viajamos no final do ano para a casa da minha irmã em Lyon, e eu exagerei um pouco no tamanho da mala correndo um risco consciente de ter que pagar um extra caso fosse necessário despacha-la. Claro que o voo era low cost e só permitia mala de mão, pensava que esse conceito era totalmente abstrato a não ser que você estivesse com uma super mala de rodinhas, mas descobri na hora de embarcar que eles literalmente têm uma protótipo do compartimento superior do avião para que você tente fazer caber a sua mala que no seu entendimento seria de mão. Não era, mas consegui escapar dessa sem custo extra, glória a Netuno, ou ao deus do vento, do ar, dos voadores. Uma vez devidamente sentados em nossa poltrona, a minha ao lado da janela, relaxados por termos evitado outro gasto em nossas vidas já tão carentes de dinheiro, meu marido perguntou se havia algo de valioso na mala, porque “vai que…ela extravia”. E enquanto ele fazia a pergunta, acontece isso entre os casais algumas vezes, já imaginamos o que eles vão perguntar antes ou durante o momento em que eles fazem uma inquirição, e enquanto ele a fazia, um sorriso sereno perpassava meu rosto, porque o pensamento era sereno. Caramba, pensei, deve ser essa a sensação de desapego tão pregada pelos livros de auto-ajuda. Não é que não havia nada de valioso naquela mala, meu quimono vinho e azul marinho que comprei por trinta reais em um brechó coletivo plus size e que eu costumava usar para dar um ar dramático ao look, e nessa viagem levei só para usar como um tipo de roupão chique dos filmes enquanto estivéssemos dentro da casa da minha irmã com a devida calefação. Minhas botas caramelo de vinte euros e alguns anos estavam lá também, uma delas com a sola descolando de novo, mas que já me haviam protegido muito do frio. Fora isso um vestido antigo, algumas blusas de frio para usar embaixo, meias velhas, era resumidamente tudo velho mesmo, e muito querido. A própria mala era super velha, uma falsa mala de rodinhas que na verdade era uma mala mole normal, que parece ter sido artificialmente transformada em mala de rodinhas, com um zíper que não funcionava mais em um dos bolsos. A cor era um marrom de papel reciclável, uma mala de perdedores como nós, mas no bom sentido. Essa mala não somente não foi extraviada, como foi uma das primeiras a aparecer orgulhosa, a pobre, no rolo de malas. A segurei com carinho, como a um cachorrinho vira-latas muito velho que ainda consegue chacoalhar o rabinho. Eu era aquela mala, e acho que deve existir algum aprendizado no paradoxo que é nunca ser roubado ou perder coisas velhas e sem muito valor econômico. O universo deve valorizar os objetos despretensiosos. 

Aufwiedersehen!!

Nenhum comentário: