E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O certo

Eu queria voltar a escrever. Sinto o desanimo tomar conta de mim, e pior do que o desanimo, sinto a covardia que me abraça languidamente com a compaixão que vem de tudo que não nos faz bem. Escrever é enxergar-me por dentro e isso pode ser cruel. Eu saberia que eu não acredito em muita coisa que eu costumava acreditar. Eu de repente ficaria sem o ópio para continuar a rir e isso é triste e eu não quero. Eu volto a sentir a urgência de mudar dentro da coerência infundada do ser humano. Fixação essa que temos de seguir, de nos sentirmos extremamente felizes e satisfeitos. A verdade é que a satisfação e a alegria vêm mesmo da procura. Veja bem que verdade profunda e bonita eu acabei de escrever. Dessa afirmação vem o meu desânimo e um sorriso cético perpassa meu rosto. A amargura dedicada aos velhos já me pegou, sinto-me então velha e cansada, querendo aposentar-me. Ai, como me parece doce a vida daqueles aposentados, e como os velhos e aposentados multiplicam-se nos tempos atuais do verdadeiro progresso. Afinal de contas precisávamos mesmo de colo, o povo brasileiro não conseguiu crescer na luta, na educação conservadora do pai bravo. Nós crescemos da papinha que mamãe deu na boca. Num súbito me vem a vontade de sentar no banquinho e comer a papinha, enquanto um ventilador sopra meus cabelos em um doce dia de verão. Uma comichão dentro do estômago me interrompe de minhas lamúrias gostosas enquanto mamãe me faz cafuné, um empurrão surrupia todo meu corpo do estado de latência e me faz sair à luta. Dizem que essa urgência vem do espírito, outros que vem dos livros uma vez lidos, eu realmente não sei, não sei se é bom, se é ruim, se é isso mesmo que nos resta da vida, trabalhar fechados em um escritório, por que para nós mortais o trabalho fechado em um escritório com ar condicionado é o que traz o real sustento, e como precisamos de sustento quando nos acostumamos com certo nível de vida. Todos nós brasileiros nos acostumamos a certo nível de vida, mas será que isso é certo? Então me resta pesar por não poder mais ter a doce ilusão de regressar, de precisar de menos, por que de menos já precisamos, só não conseguimos mais entender. Aufwiedersehen!