E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

sábado, 31 de dezembro de 2022

E lá se vai 2022

Deixa eu ver, a última vez que estive por aqui foi em junho, o que pode parecer pouco na cronologia adulta mas que em tempos de bebê são séculos! Em junho meu filho tinha três meses e acabava de aprender a virar, o que nos causou dores de cabeça por passar de um ser praticamente inanimado para um em ação. Sem contar quando ele caiu da nossa cama a despeito dos avisos do pediatra que sempre dizia para nunca deixa-lo na cama, e que resultou em um galo exposto em sua linda testa sempre nos recordando do fato. Na época até fiquei com medo de ser delatada para o conselho tutelar por ter deixado meu filho cair da cama, o que na verdade foi sob os cuidados do pai, eu mesma o deixaria cair uma outra vez dois meses depois de forma completamente idiota enquanto pegava uma fralda para troca-lo. Coisas que acontecem, pode-se dizer. É esperado! Mas mãe tem aquela coisa chata de sentir o coração em carne viva. Quando digo generalizando a palavra "mãe", quero deixar bem claro que me refiro a mim mesma em minhas idiossincrasias. Essa metáfora do coração como o centro dos nossos afetos faz muito sentido, porque o aperto que vem da queda de um filho pequeno da cama enquanto chora até ficar vermelho, justo o meu menino que nem chora direito, é muito bem e literalmente localizado no centro do peito. E então, venho tentando sobreviver desde março a este grande clichê que é quase morrer de amores e de medo por meu filho. Mas nem só de más notícias vive 2022, apesar das tantas perdas célebres, este ano trouxe esperança (brilha estrelinha!), e ser mãe tem dessas também. Minha vida ganhou perspectiva, de repente as coisas que sempre foram um tanto quanto abstratas, e quando digo coisas me refiro a planos do futuro, estudos, carreira, amor, todas estas coisas que aprendemos com a indústria cultural e a própria sociedade, ganham consistência. É simples, você precisa pensar em como oferecer o melhor para esta pequena criatura que vive nos seus braços, cujo relevo corporal praticamente se encaixa ao canto do seu corpo enquanto você anda pela casa catando pelo da cachorra, brinquedos ou arrumando a cama. Claro que agora ele engatinha profissionalmente, desde os seis meses e parece cada vez melhor nesta arte, dando pequenos saltos e depois engatando a quinta em velocidade surpreendente. Agora o menino escala mesas, cadeirinhas, tudo que estiver ao alcance dos seus 70 e tanto centímetros. E essa parte é chata, vamos ser bem honestos, estar sempre à espreita dos perigos em torno do nenê é cansativo, o tempo físico simplesmente para enquanto seu corpo de mãe madura 35+ padece. É um tal de agacha e fala "não" sem fim. Dizem que quando começa a caminhar piora, mas às vezes queremos apenas um desafio diferente para mudar um pouco os ares. Jurava que o pequeno caminharia ainda este ano, mas vai ficar pra 2023. 

Aquele momento maravilhoso. E sim, ele segue na cama, desculpe-nos Dr. Carlos!


Eu tenho levado para passear uma revista que comprei com um artigo especial sobre o Dr. Donald Winnicott que já foi pra Juqueí, São Paulo, e muitos lugares de Araras. Pra quem não conhece, o Winnicott foi um pediatra e psicanalista inglês responsável pelo termo "mãe suficientemente boa", que é um termo tão maravilhoso e acurado que dispensa explicações. Ontem meu irmão comentou como a psicanálise tende a nos aproximar ou nos relembrar de nossa origem animal. Minha cunhada, psicóloga e eu, uma profissional diversa de humanas muito interessada no tema, ficamos meio sem resposta, mas acho que faz sentido sua linha de raciocínio. De maneira didática e muito empática, o Dr. Winnicott nos apresenta um mundo infantil mais ou menos sob o ponto de vista biológico. No sentido de que mães são mamíferos com seus filhotes que são resultado de milhares de anos de evolução, e também sobre como guardamos dentro de nós mesmas os segredos para oferecer tudo que a nossa cria precisa. Eu que me considero uma pessoa muito resolutiva e assertiva, me vejo às voltas com a insegurança de não saber o que fazer com a rotina do meu filho. A tal da rotina que as coaches de amamentação/sono/introdução alimentar/peido, e tudo que o Instagram oferece vivem repetindo como a coisa mais importante do mundo. E que a deusa abençoe essas profissionais, em sua grande maioria mães que encontraram sua vocação entre um parto e outro, e que seguem ajudando outras mães. Mas algumas vezes o excesso de informação atrapalha muito, gera ansiedade e eu tento estipular um ritmo artificial em cima de algo que eu esqueço já estar funcionando na dinâmica que foi criada em nossa casa. Temos o pai dele que tem o seu jeito matinal rabugento próprio, e que até tem acordado mais sorridente graças ao pimpolho. Temos uma cachorra de 25 kgs que solta pelos que formam grandes bolotas brancas que servem de brinquedo ou até mesmo um possível alimento para o nenê enquanto tropeça neles no chão. A psicanálise talvez não somente nos lembre de nossa origem animalesca, mas esteja aí para apontar como sempre somos mais de uma coisa, e como o nosso ego é formado a partir da construção social que entra em choque com a criança que é puro inconsciente, inconsequente e livre. É necessário deixa-la assim, o máximo de tempo possível porque como diria Rousseau: O homem nasce bom, a sociedade que o corrompe".


 A pobi da revista do Winnicott


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