E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

40 meses...

Eu nunca vou esquecer o meu primeiro dia de trabalho, no primeiro emprego sério da minha vida. Eu fui recebida por uma moça muito simpática que me mostrou minha sala, que eu dividiria com minhas duas chefes, mulheres que naquela altura da vida eu via com um medo enorme banhado de respeito. Uma delas tinha acabado de ter uma filha, e a outra era uma daquelas cidadãs do mundo, com um currículo enorme e estrelado, que curiosamente na vida pessoal assemelhava-se muito a essa caipira, na época uma menina de 24 anos, que vos fala. É sempre chato o começo. Você não conhece as piadas por que internas, você não conhece as ironias, as frases nas entrelinhas. Você não tem aliados. Você está sozinho. Eu tenho poucas reservas na vida, mas uma em especial é o receio de ter refeições com pessoas com as quais eu não tenho muita intimidade. Nesse primeiro dia eu fui chamada para almoçar, e resolvi aceitar muito nervosa o convite, ficaria chato não faze-lo, eram meus chefes, cinco sócios no total, e eu no meio deles, toda trêmula e medindo minhas palavras. Eu tenho dificuldade para medir as minhas palavras, mal sabia eu que de três anos pra frente daquele almoço, medir palavras, e saber lidar com sentimentos extremos seria uma habilidade conquistada com muito stress e alguns choros abafados no banheiro. Nesse almoço do primeiro dia, a cara de pau, a moleca travessa de Araras, recém saída da faculdade de relações públicas no centro-oeste paulista, tinha isso mais uma vida na Alemanha no currículo. Nada ruim para aquela altura da vida, mas eu deseja mais, eu queria poder dizer mais, como sempre, eu pensava que podia ser bem melhor. O que eu teria pra falar? Eu me lembro que peguei o meu prato, e tive a permissão de sentar à mesa com os adultos, e como no primeiro ato de um filme, fui sendo apresentada àquelas personagens. E como no primeiro ato de um bom filme, eu fui me afeiçoando completamente por cada um deles. Eu lembro de ter pensado, rezado baixinho talvez, para que aquele trabalho desse certo, para que eu conseguisse ficar amiga daquelas pessoas. Engraçado pedir isso com esse fim, era um trabalho afinal de contas, algo profissional, sério. Eu ainda não tinha a ambição da carreira, a ambição de São Paulo, de pagar por roupas e restaurantes finos. Eu estava chegando nesse mundo, a pequenina Vila Madalena era grande e glamourosa na época, inalcançável. Eu só queria criar outra família, por que é assim que eu funciono. Eu sou uma criadora de famílias, assim que eu cresci e aprendi a ser feliz, em meio à família, e talvez seja esse o sentido da minha vida. Hoje eu percebo que esse filme que desde o princípio me pareceu tão promissor, é realmente uma daquelas séries com muitas temporadas, daquelas séries tão maravilhosas que o público clama para que nunca acabe. Se eu consegui ficar amiga deles... Aufwiedersehen!

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