Comecei a ler um artigo escrito pelo recém contratado
colunista da Veja, Felipe Moura Brasil e senti o meu estômago revirar. Eu tive acesso ao texto: "Beleza e pegação", através do facebook de uma
das minhas melhores amigas, que também estava perplexa com a ignorância daquelas palavras publicadas em um veículo de grande visibilidade. Imagino que
essa minha amiga, por sua vez grávida de uma menina, deva ter se sentido ainda pior que eu, pensando que entregaria sua garota a um lugar
onde se publicam ideias como aquelas que lemos. Eu fiquei preocupada com a gravidade, a frivolidade com que o senhor Felipe colocou a questão sexual feminina e
masculina, tratando de simplismos como coeficiente de beleza, ou termos como "mulher para casar". Temos uma bela safra
de escritores, homens pela causa feminista, ainda tão cheia de lutas
a serem travadas, homens que iluminaram o meu modo machista de ver o mundo, e
principalmente, a mim mesma. É uma libertação enorme saber-se mulher, saber-se
dona de si, e melhor ainda, saber que existem homens e homens, e que esse tipo
que enxerga mulheres por categorias, não merece nem um segundo do nosso tempo,
Deus me livre ser uma dessas "mulheres para casar" desses homens.
Então eu leio,
Leonardo Sakamoto (https://www.facebook.com/leonardo.sakamoto?fref=ts),
e Alex de Castro (https://www.facebook.com/AlexCastroEscritor),
e brindo esses homens que vão pouco a pouco quebrando paradigmas antigos.
Eu não quis odiar o
Felipe, fiquei aqui comigo pensando, quantos anos será que ele tem? Será que
ele ainda não sabe?Ninguém contou pra ele? Então eu lembrei que a idade muito
pouco tem a ver com a humildade. Há muitos babacas por aí, eu já fui babaca
algumas vezes na minha vida, assumo. O problema está nos babacas com voz. Os
babacas que se fazem ouvir. Esses babacas são perigosos.
Eu queria que algum dos ótimos meninos do Papo de Homem (http://papodehomem.com.br/), um dos
melhores blogs da atualidade, pudessem escrever uma resposta ao Felipe, com
todo o embasamento que eles têm sobre isso, mas eu fiquei tão nervosa, que eu
resolvi voltar, e ler, à despeito de todo o meu enjôo moral, social, e
patológico mesmo, o texto do Felipe, tentando ser imparcial, tentando entender
seu ponto de vista, afinal de contas, ele tem direito de ter a sua visão
das coisas, de falar sobre isso, e ainda assinar seu nome embaixo, e a liberdade de expressão vem tanto para o bem quanto para o mal, tratam-se de visões, e isso é conquista nossa. (Em tempo, troquei e-mails com o Alex de Castro, e ele sabiamente me aconselhou a deixar esse assunto quieto a dar ainda mais voz pra esse tipo de ideia, mas aqui entre nós, no meu tímido blog, eu quis deixar marcada minha insatisfação).
Felipe começa assim: "Há um coeficiente mínimo de beleza
física que o desejo de cada homem impõe para que ele se relacione com uma
mulher."
A primeira frase é
sempre muito importante nos textos, e essa frase determina toda o ponto de
vista que Felipe dá ao seu artigo. O desejo do homem, e como a mulher pode
girar em torno disso, conseguindo o que quer. O sujeito é claro nesse caso, a
mulher sobra como mero complemento de frase, um ser em forma de adjetivo: feia,
gorda, bonita, periguete.
À medida que eu relia o texto, meu enjôo ia dando
lugar a uma tristeza enorme, a uma vontade de chorar, por que, como ele diz: “Este coeficiente aumenta de acordo com o
grau de compromisso da relação a ser estabelecida. Para dar um estalinho em
micaretas, por exemplo, normalmente é baixo; para casar, o maior de todos
(ainda que, em alguns casos, o maior seja o para trair).” Esse
pensamento é concreto, a tristeza é saber que ele ainda faz parte da
mentalidade da maioria dos homens e mulheres. Essa é a
parte triste da história. Um babaca fala por outros babacas. A grande sacada
disso tudo, como o Sakamoto gosta de colocar, não é ter raiva, ou xingar essas
pessoas, por que elas na verdade são dignas de pena, a ignorância que as leva a
enxergar a sexualidade e os relacionamentos dessa forma, é mais nociva ainda
pra elas, e também pra eles, por que os homens também perdem muito com o
machismo.
Aí Felipe coloca uma cereja no bolo, com o que é dito
e redito no decorrer de nossas vidas, e vale lembrar, um aconselhamento
estritamente direcionado ao sexo feminino, os meninos estão livres dessa: “Valorizar-se, diga-se, não é esnobar, como
se pensa, mas conhecer e deixar-se conhecer sem se entregar fisicamente.”
Felipe termina, concluindo o que eu já suspeitava, ele
não faz ideia da premissa que ele queria defender no texto, além de ignorante,
ele é irresponsável, por que joga ao vento as maiores idiotices que fazem parte
da nossa educação, e depois sai de fininho pedindo que todos ponderem sobre
suas escolhas. Felipe: cuidado com o que você diz, e nunca mais cite Milan
Kundera. Você claramente não leu, ou entendeu errado o que ele disse.
“Nada
contra quem se pega, nem contra a pegação. Mas há um coeficiente mínimo de
discernimento e responsabilidade pelas próprias escolhas que pegadores e
recalcados de ambos os sexos poderiam ter, em nome de uma convivência mais
saudável.”
Não vale a pena ter raiva e
divulgar um cara como esse, vale a pena contra atacar com mais Sakamotos, Alex
de Castro, e também na nossa luta diária, por que isso não é engraçado, isso é
perigoso.
Aufwiedersehen!!
Aufwiedersehen!!
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