E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

quarta-feira, 11 de junho de 2014

A fabulosa história da garota que nunca namorou

Sabe aquele relacionamento tradicional, o teste antes do casamento, aquele convívio próximo e monogâmico para entender se aquela pessoa é a indicada para entregarmos a nossa vida e criar uma família? Eu nunca tive isso.

O namoro sempre foi um tabu pra mim, e como todo tabu, algo muito distante que acabou tomando uma proporção maior do que a real de importância. Como solteira meio convicta, eu acabava escutando coisas do tipo: “Você está escolhendo muito”, “Você não deve estar prestando atenção direito”, “Mas você é tão bonita”, ou o meu preferido “Não fale ou faça isso ou aquilo, assim você assusta os homens”. Eu costumava acalmar a todos contando que tinha tal carinha...e sempre teve, mas né? Eu costumava utilizar boa parte do meu tempo e energia para organizar e gerir esses carinhas, alguns deles duravam anos entre idas e vindas em um acordo não dito de "liberdade", com os envolvidos "conscientes" da decisão. 

Depois de um tempo, comecei a comprar a idéia da necessidade do namoro e a pensar que tinha alguma coisa muito errada comigo, e então, quase prestes a me auto-diagnosticar como algum tipo de retardada sentimental resolvi procurar a psicanálise.

Eu tinha 25 anos e uma sensação de não pertencimento, afinal, todos namoravam, era a coisa mais comum do mundo, tinha amigas que já tinham namorado sério e por anos, e costumava pensar que "eu simplesmente não era capaz de conseguir isso por algum problema psicológico".

O que a analise fez foi indagar: "Ok, você nunca namorou, mas por que isso te incomoda tanto?", e então, quem já fez análise sabe a caixa de Pandora que se abre na sequência, e a questão do namoro passou a ser algo irrelevante dentro das minhas construções psicológicas e de como eu enxergava a vida. Engraçado como a análise te grita na orelha o quanto não somos especiais, mas ao mesmo tempo o quanto é importante saber que somos seres particulares, e que não faz sentido algum essa comparação externa em relação a outros seres particulares. Resumindo: você não é especial, mas você é você.

Hoje, depois de mais de três anos de frustração, angústia, apatia, alívio e felicidade (exatamente nessa ordem), eu sei que eu nunca namorei simplesmente por que eu não quis. Eu quis viver a vida que eu tinha escolhido, total liberdade de escolha, de ir e vir - não que não existam relacionamentos maravilhosos que permitam tudo isso, eu só não queria ter que me preocupar com outra pessoa além de mim mesma. E sim, o egoísmo pode ser algo positivo, por que a culpa, essa coisa totalmente sem serventia, a análise me tirou. 

Apesar de entender na análise que eu queria ficar sozinha, eu também consegui reconhecer uma dificuldade, talvez mesmo por falta de hábito, de me abrir para as pessoas, de guardar minhas frustrações para mim mesma - essa atividade tem um nome científico: recalque, que é um mecanismo do nosso inconsciente usado para guardar sensações que não elaboramos, deixando pra depois. Um tipo de bola de neve psicológica que mais tarde volta de diversas maneiras, doenças, alergia, depressão, e por aí vai.

Hoje, depois de me dar uma “auto-alta” da análise, entendi que além de Freud, posso contar com a minha família e amigos para colocar toda a sujeira pra fora, e que eu teria que fazer um exercício para voltar a me deixar vulnerável, por que eu finalmente queria me envolver com alguém. Por escolha, não por pressão externa.


Aí inventaram o tal do tinder. Pesquei esse nome pela primeira vez em uma conversa entre amigas, uma delas começou a me explicar que seria um aplicativo para pessoas solteiras encontrarem seu par romântico. Outra amiga contestou dizendo que o tinder era a versão heterossexual do grinder, este usado e praticado com ênfase pelo seu amigo gay, e ela concluía: "o tinder não é um aplicativo de paqueras, as pessoas o acessam só pelo sexo!" Eu parei, refleti, e respondi como que me indagando em voz alta: "existe paquera sem fins sexuais?" Silêncio. 

Aquela indagação me fez pensar e da decorrência dela eu senti um certo alívio, chacoalhei minha educação empoeirada e machista, coisa difícil de se fazer depois de anos, e concordei comigo mesma: nós procuramos sexo no pares amorosos. Engraçado como normalmente separamos um do outro, como se a mulher, a esposa, a namorada, tivesse que ser essa pessoa assexuada, a mãe dos seus filhos. 
A premissa de que a procura pelo sexo subtrai o interesse amoroso é furada. O amor, no mundo real, de adultos, e não aquela ideia do conto de fadas, dos vampiros do Crepúsculo e da Malhação, não vem depois do casamento, ou em menor grau, da paixão avassaladora, ele vem mesmo da combinação de interesses complementados com a atração física que fecham o ciclo do companheirismo. Algo muitas vezes banal e cotidiano, com pequenas asas de borboletas batendo no estômago (own...)
E então, pra fechar o assunto, eu cheguei em um ponto em que eu não vi mais sentido em “ficadas”, e “rolos” casuais, simplesmente parei, até brinquei que eu tinha perdido meus poderes. Eu queria um relacionamento, uma parceria, queria dividir a minha vida com alguém, e o que antes era um passatempo interessante começou a gritar alto como perda de tempo. Foi aí que eu vi no tinder uma oportunidade de me colocar a disposição, mas não somente isso, na virada de páginas de homens e consequentemente, na minha imagem estampada no aplicativo, eu mandava uma mensagem geral, e principalmente para mim mesma de que eu finalmente estava disponível, algo muito maior que estar apenas solteira. 
Eu nunca encontrei (fisicamente), com ninguém que eu conheci no tinder - estou inativa no aplicativo até o fechamento desse post - e no momento prefiro jogar a minha pequena sorte no offline ar de todo dia.


Aufwiedersehen!!

3 comentários:

Kolomi disse...

Vanessa, sempre gosto de ler os seus textos, tem um pouco de humor, um pouco de crônica, um pouco de depressão, um pouco de autocrítica, uma pegada de aceitação, e sempre um final bem definido. :-) como dizem os membros de associações de anonimos "obrigado por compartilhar"

Emily disse...

isso foi maravilhoso, adorei, parece minha vida :) lindo,

Thatá Costa disse...

Super sincero, divertido e sensível! Retrata a história de quem sente igual em certos aspectos! A falta de um final traz uma uma realidade que a aproxima de nós! Ainda bem que existem outros dias, texto e algo a nos surpreender e ensinar! Ensinando-nos a vida melhor levar..