E tem mais...

(...)

Um monte de coisa misturada..

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Menos papo

No post anterior estava comemorando o fato de estar me conhecendo, e já vou pedir desculpas com antecedência pela relação de normatividade que farei na sequência, mas gostaria de falar mais sobre a extroversão compulsória brasileira. Percebi a felicidade real de estar só, ou ser deixada de lado no no bom sentido, quando fui morar em Munique, uma cidade que além de ser grande e ter todo tipo de coisa rolando, era na fria e distante Alemanha, onde ninguém vai puxar papo com você na rua, ou fazer perguntas íntimas só para passar o tempo. Antes de estar em Munique, eu vivia novamente em Araras recém formada e com meus pais, e tive uma briga meio chata com a minha mãe porque ela insistia em comentar com todas as pessoas que encontrava na rua sobre o fato de eu estar me mudando para a Alemanha. Claro que um milhão de coisas deviam estar passando na cabeça dela em um carnaval de orgulho pela filha que iria cair no mundo, e muito medo pela distância, mas aquela necessidade que ela tinha de compartilhar um fato sobre a minha vida me incomodava, chamava ainda mais atenção sobre mim. Vale dizer que eu sou leonina com ascendência também em leão, e que em teoria tudo que os leoninos querem é chamar atenção, mas talvez eu esteja simplificando o meu dilema. Não faz muito tempo que percebi que eu era introvertida, e foi graças a uma das tantas reportagens da saudosa Superinteressante que assinei durante muito tempo. Ser introvertida, aprendi com a reportagem, não significa necessariamente ser tímida, significa que você precisa estar só e recarregar as energias depois de certa quantidade de tempo de socialização. Foi um alívio enorme dar um nome para a minha quase pulsão por deitar na sala e assistir TV quietinha depois de algumas horas de um grande almoço familiar. Como boa católica essa necessidade sempre vinha cercada de culpa por talvez não apreciar de verdade o almoço em família, mas só eu sabia que precisava deo silêncio, e o quanto ele me nutria. O lance do som é uma coisa que pega muito, o ruído excessivo e contínuo, principalmente de conversas concomitantes tende a causar um desconforto enorme depois de horas, e as vezes uma saída de uma hora pode salvar tudo. Percebi que ficava muito nervosa e triste principalmente nas viagens históricas em galera, lá para o terceiro dia de convívio, e nunca compreendia que aquela sensação era apenas a de estafa psicológica mesmo. Sei hoje que o grupo ideal de parceiros de viagem são duas pessoas, no máximo quatro, e de preferência com um alto teor de intimidade. 

Algumas fobias específicas que vou fazer questão de denominar dessa forma, porque realmente me causavam muito nervoso, sempre foram as primeiras aproximações com pessoas que não tenho tanta intimidade mas que são do meu convívio. Um exemplo, em um dos meus primeiros trabalhos em que teria que ir a uma reunião com cliente, quando eu sabia que iríamos apenas mais uma pessoa e eu, costumava ficar super nervosa pensando em possíveis tópicos de conversa no carro a caminho da reunião, porque pela falta de intimidade isso não rolaria tão facilmente. Esse tipo de fobia melhorou com os anos, mas uma em especial se manteve firme, o almoço sozinha em dia de trabalho. Almoçar sozinha era o único momento do meu dia de publicitária/produtora em que teria a chance de não interagir com nenhum ser humano, mas sempre havia a pegadinha de almoçar em um lugar muito próximo da firma e topar com alguém, e o meu medo nesse caso seria ter que me sentar com o colega em questão. Não consigo explicar a aflição que eu sentia por considerar perder aquele horinha preciosa de limpeza mental, e nem vou entrar na temática de comer em frente a pessoas com quem não tenho muita intimidade, para mim esse lance de reunião de trabalho/almoço não faz o menor sentido, comer é celebrar, e reunião não combina muito com isso.

Não sei dizer ao certo o que acontece, mas me peguei relembrando essa questão da culpa porque hoje vivemos meu marido e eu com outro casal aqui em Barcelona, e ontem como já aconteceu outras vezes, ele ficou na sala conversando com o casal, enquanto eu continuava no quarto assistindo a uma série. A coceirinha da culpa por parecer talvez antipática veio dar oi, e acho que ela nunca vai me deixar. Fico cansada por constantemente lutar contra a minha introspecção, me forçar a sair e interagir, já me esforcei muito em relação a isso, há anos, mas se essa viagem me permitiu algo foi abraçar quem eu sempre fui, antes de tomar a decisão de me tornar comunicadora. Eu sou a criança que brinca sozinha o dia todo, para depois ter vontade de brincar com outras crianças quando elas chegam, porque está sempre renovada em sua introspecção. Escrever, ler, cozinhar são minhas festas particulares, e recentemente graças a um trabalho voluntariado, tenho feito traduções e descoberto outro mundo incrível. Me sinto bem contente com passatempos não normativos, como andar de ônibus durante horas sem falar nada, olhando a vida la fora passar, amo sentir o movimento, e assimilar o fato de apenas estar enquanto minha mente segue no seu ritmo. Esses dias conversando com uma amiga concluímos que isso de estar no ônibus quieta não deixa de ser um tipo de meditação, porque não?

Sobre os ruídos, eles seguem me incomodando, apesar de ser apaixonada por música, e principalmente ao jazz devo uma epifania: existe massagem para o cérebro.

 
Noite dos meus autógrafos no lançamento do meu livro de bolso baseado neste very blog - se eu escrever outro livro não gostaria de fazer isso novamente.


Aufwiedersehen!!

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